Volume 2

Capítulo 126: As Provas de Baltazar I

Baltazar ataca com toda sua força, matando os inimigos a sua frente, ele está enfurecido e impulsivo, ele avança em um após outro sem piedade, ele é atingido algumas vezes, mas os golpes sofridos não lhe surtem danos graves. Baltazar está empunhando seu grande machado e com ele apara golpes e corta partes de seus inimigos facilmente.

Todo o lugar está tomando por uma neblina densa, podendo se ver só as pessoas que estão por perto, a iluminação está baixa por causa de nuvens escuras que fecham o céu, som e flash de trovões ao fundo dão um clima mais sombrio e tenso, o lugar é montanhoso e com várias pedras pontudas, os inimigos parecem ser ilimitados, surgindo vários cada vez que Baltazar mata e anda, esses inimigos são divididos em alguns homens com trajes do Império e outros lembrando demônios com várias deformidades no corpo e no rosto, com um cheiro ruim e uma aura estranha que às vezes atacam uns aos outros, essas criaturas balbuciam, fazem gestos estranhos e soltam gritos estridentes quando sofrem danos graves ou quando estão prestes a morrer.

Baltazar está encorajado e excitado com a batalha, ele se sente jovem e imbatível, ele está seduzido pela batalha e luta por vários minutos sem parar, Baltazar não parece se cansar e nem fadigar-se, está focado em matar as criaturas, por não ser mais atacado pelos homens comuns ele os identifica como aliados e os ignora em suas investidas, por um momento Baltazar ouve a voz de Ray:

– Baltazar... Pare!

Baltazar tem um pequeno momento lúcido, achando estranho lutar sem parar, sem motivo e sem cansar, ele fica na defensiva e começa a analisar tudo ao redor:

– O que está havendo?

Baltazar tem um pouco de sua memória de volta, ele pensa um pouco, mata uma criatura e a identifica.

– Um demônio? Eles não existem mais... Onde eu estou?

A área ao redor de Baltazar se distorce e ambiente muda um pouco, ele sente um vento forte, o lugar fica mais plano e com a grama baixa, as pedras pontiagudas desaparecem, a neblina ainda persiste, mas ela fica mais fraca tornando possível enxergar à distância.

Baltazar se afasta da luta e analisa mais ao longe, observa um grupo de guerreiros lutado contra os demônios e os homens comuns, muitos raios caem do céu perto e dentro dessa luta, chamando ainda mais a atenção de Baltazar, que enfrenta alguns demônios no caminho até chegar perto daquele combate.

– Esses raios... Alguém está conjurando-os.

Baltazar fica surpreso ao ver o líder do grupo lutando contra os demônios, uma mulher, Electi, idade aparente 50 anos, estatura baixa, robusta de porte físico forte, olhos claros, cabelos compridos e ondulados, um belo sorriso com covinhas nas bochechas.

Ela está usando uma armadura leve com pele de urso pardo que protege e cobre todo seu corpo, botas de salto alto, diadema dourada e um grande machado de bronze escuro, o machado é de duas mãos, mas ela o manuseia facilmente com uma só, alternando de uma mão para outra quando ela ataca seus inimigos, ela está séria e focada, seus movimentos são frios e calculados, matando facilmente quem entra em sua frente, ela grita e urra para seus guerreiros dando-lhes moral e ordens entre suas defesas e ataques.

Baltazar identifica o grupo da Electi, guerreiras de várias etnias e de alturas diferentes, tendo só as armaduras semelhantes a da líder, todas usam armas de contusão entre martelos de guerra, maças, porretes entre outros, Baltazar vê a líder chamando raios do céu que matam seus inimigos quando eles caem, a eletricidade dos raios se espalham e causam grandes danos aos inimigos próximos e ao invés de ferir suas guerreias a eletricidade vira energia que é canalizada nas armas delas, o que as permitem causar mais danos com seus golpes. Baltazar se aproxima mais e sua memória vai clareando.

– Guerreiras... Alexia... Anirak... Estou lembrando, onde estão vocês?

Baltazar é visto e vira alvo, guerreiras avançam atacando-o e cercando-o, com a memória quase toda recuperada Baltazar muda sua forma de luta, no lugar de golpes mortais ele usa golpes para afastar e desarmar suas oponentes.

Ele fica recuado pensando em como chegou nessa situação, algumas mulheres abrem brecha na defesa dele e o acertam, causando-lhe danos cada vez mais graves. Baltazar se enfurece e foca na batalha, com sua força e com suas investidas ele desequilibra as guerreiras e as desarmam jogando suas armas longes, armas que acabam acertando demônios próximos, com seu machado ele as intimida, ameaçando ataques mortais e fazendo algumas recuarem . Baltazar grita indignado:

– Por que estão me atacando?

Num susto Baltazar é atingido por um raio, por reflexo ele se defende colocando seu machado na frente, seu corpo que é treinado para resistir a magia, ajuda-o a resistir a eletricidade, mas por ser um raio originalizado pela própria natureza e não só por magia ele fica debilitado e vulnerável aos ataques das guerreiras.

Baltazar vê a líder se aproximando, os olhos dela demostram frieza e pouco caso, ela corre e dá uma investida em Baltazar, ele tenta resistir, mas é jogado longe, ele levanta rápido e vê outro raio caindo do céu, ele coloca seu machado na frente e se concentra para resistir, o raio dessa vez para em seu machado e libera uma quantidade de eletricidade grande ao redor, as guerreiras se afastam demostrando terem sido afetadas negativamente pelo raio, a líder olha desconfiada para Baltazar e diz baixo:

– O que houve?

Baltazar cambaleia, demostrando ter sofrido um golpe forte, mas ainda persiste de pé, a líder o olha de cima a baixo e diz:

– Estranho... Vamos ver se você é bom mesmo.

A líder ergue seu machado, trovões são ouvidos por todos os lados, as guerreiras se afastam, demônios correm de medo e Baltazar libera toda sua a fúria, seus músculos se tonificam, dentes rangem, pelos arrepiam, veias saltam, a mente se apaga e ele urra, tendo só seus amigos em mente.

– Pelo Grande Continente! Por Arbidabliu! Eu vou vencer!

A líder chama do céu raios poderosos, um atrás do outro, o primeiro cai reto, Baltazar o apara com seu machado, a arma é destruída e a energia se expande pelas laterais em pequenos raios elétricos, o segundo cai em diagonal, Baltazar apara com sua mão, ele fica com algumas queimaduras e novamente a energia se expande, no terceiro, Baltazar usa as duas mãos para se defender e deixa a líder impressionada por ele conseguir aparar o terceiro raio, o dano é grande, mas ele se mantém em pé dizendo:

– Eu tenho que resistir...

A líder muda de expressão, ela olha para os lados, admira Baltazar e sorri.

– Incrível!

Ela surpreende Baltazar conjurando um raio que sai do chão para o céu, o raio passa pelo corpo de Baltazar eletrocutando-o, ele ajoelha, seu corpo fica dormente e cheio de queimaduras, para não cair no chão Baltazar coloca suas mãos na frente e se apoia com os joelhos e as palmas das mãos no chão, as mãos estão trêmulas, ele tenta levantar, mas não consegue, a única força que ainda o resta ele usa para não cair e para não se esquecer de seu objetivo:

– Ray... A missão Electi... Eu preciso achar o Electi.

– Electi?

Baltazar vê a sua frente as botas de salto alto da líder, o tom de voz e o jeito dela está despojado e simpático, diferente de momentos antes.

– Você está me procurando?

– Você?

Baltazar está fraco não conseguindo falar direito, ele usa suas últimas forças para olhar a líder que se identifica:

– Oi, eu sou Melissa, Electi de Aeterna...

Baltazar desmaia, depois de um tempo ele acorda deitado em um monte de almofadas no chão de uma cabana grande, na cabana estão algumas guerreiras comendo em um canto, algumas mulheres com roupas comuns conversando e a líder sentada em uma cadeira bonita e detalhada perto de Baltazar, ele se sente melhor e tenta se levantar, mas permanece sentado no chão, a líder então o aborda:

– Baltazar Thur... Um Guerreiro Náutico...

– Você me conhece?

– Você não deve ter associado o que eu falei antes de você desabar. Eu sou Melissa, Electi de Aeterna amante de esporte, batalhas e trovões.

Baltazar está um pouco confuso e com muita fome, ele olha para seu corpo e não vê as queimaduras que havia ganhado da luta, Melissa nota a dúvida dele e diz:

– Você está fora da Magia Electi, eu curei seus ferimentos por achar você um homem digno disso, espero que eu não me arrependa do meu bem feito.

– Digno?

– Sim, o último que resistiu a tantos raios foi...

Melissa fica pensativa enquanto Baltazar tenta se recompor mentalmente, ele se sente confuso por tudo, por estar em um lugar hostil e acordar em um lugar amigável em pouco tempo, ser curado por aquela que o feriu, ver essa mulher dotada de grandes poderes e se dizer Electi, falando de uma forma comum e humilde. Melissa se lembra do homem que mencionava e continua a falar:

– Não lembro o nome dele, tem a ver com Sullivan, se não me engano é o sobrenome, ele era chamado de "Para-raios Humano", enfim, ele foi atingido por sete raios e sobreviveu a todos, incrível não?

– Sim...

– Claro que ele ficou com algumas sequelas, na verdade muitas sequelas, mas na época eu não interferi como fiz com você, não pense que eu não o ajudei por antipatia, eu não estava no auge como estou hoje.

– Se você é a Electi, então eu estou no lugar certo, eu preciso de sua ajuda...

– Sei, quem entrou naquela magia com certeza precisa de ajuda, se você não sabe, você entrou em um lugar muito restrito, ainda mais para mortais como vocês.

– Vocês? A senhora sabe onde estão meus amigos?

– Sim, vocês fizeram algo que nem nós Electi sabíamos que era possível.

Baltazar se aproxima de Melissa, a reverencia e pede de cabeça baixa:

– Por favor, nos ajude.

– Infelizmente não posso falar em nome dos outros Electi, mas se você passar no meu teste eu o ajudarei com a minha “chave”.

Baltazar ergue a cabeça e se levanta questionando:

– Teste? Mas eu passei pela luta...

– Não, eu falei que você é digno de passar da primeira parte ileso, aquilo que você vivenciou foi só um aquecimento, muitos não sobrevivem àquilo... Bem, na verdade eu suspeitei que depois de sair de lá você escolheria ir embora, mas pelo que posso ver você está determinado em concluir essa “Missão Electi”.

– Sim!

– Ótimo, faz tempo que eu não me divirto.

Melissa ri alto e demostra muita animação, parecendo uma criança inocente indo brincar, ela meche os braços e pernas ainda sentada, ela puxa a cadeira para perto de Baltazar aproxima o seu rosto próximo ao dele e diz;

– Faz muito tempo que não me divirto com um homem grande como você. Por favor, não me decepcione.

Baltazar se levanta e questiona desconfiado:

– O que eu devo fazer?

– Vamos aos jogos!

Melissa se levanta rápido com os braços erguidos, antes que Baltazar perceba ele é sugado para a Magia Electi novamente, ele se vê em uma cabana do mesmo estilo da que estava anteriormente, mas essa é maior e com menos pessoas, ele está sentado ao lado de Melissa, ambos estão usando roupas leves de aldeões sem armadura ou armas, na frente deles uma mesa enorme com uma quantidade grande de comida, poucas frutas, pães e saladas, muita carne, vinho e água. Baltazar estranha tudo e questiona a Electi, se segurando para não comer:

– O que vamos fazer?

Melissa vê através dos pensamentos de Baltazar e diz:

– Não se preocupe, a comida não está em envenenada e nem nada hostil, tudo do bom e do melhor está aqui para nós desfrutarmos.

Melissa pega um cutelo e bate forte na madeira da mesa entre eles, um corte se forma na mesa dividindo a quantidade exata de comida para ambos os lados, antes que Baltazar questione Melissa responde animada e faminta:

– Quem comer mais ganha. Vamos!

Ela usa o cutelo para cortar um javali assado, larga o cutelo para o lado e usa as mãos para tirar pedaços grandes de carne para comer, Baltazar deixa a fome falar mais alto e começa a comer também, inicialmente ambos devoram rápido uma quantidade grande de comida, por ser um lugar mágico Baltazar sente que pode comer um pouco mais que o habitual.

Ele evita tomar vinho e bebe pouca água, depois de saciar a fome ele diminui a impulsividade e a velocidade, comendo devagar passando para a parte de saciar a gula. Melissa ainda demostra estar saciando a fome comendo muito e muito rápido, ela come uma grande quantidade de comida e depois bebe uma quantidade grande de vinho e termina com um grande arroto, ela repete esse processo até saciar sua fome e dar início a gula, ela respira fundo e com satisfação:

– Incrível, como é bom comer.

– Realmente, a comida é uma grande dadiva.

– Um brinde!

Melissa pega um canecão com vinho e dá para Baltazar e faz um gesto pedindo para que ele brinde com ela, ele é tomado pelo impulso do momento e comemora com ela bebendo e comendo, ambos comem mais devagar e Melissa começa a puxar assunto com Baltazar questionando sobre seu passado e grandes batalhas em alto mar.

– Eu não tive muitas batalhas, são histórias humildes de aventura e luta.

– Conte-me mais, tenho certeza de que são boas histórias.

Baltazar é seduzido pelo clima da Magia Electi e esquece-se do seu objetivo, ele se empolga e conta tudo sobre seu passado, infância, treinamento, encontro com sua tripulação, aventuras em terra, aventuras no mar, contos náuticos que ouviu e os que ele próprio já fez, grandes batalhas e emoções entre outras coisas de sua antiga vida.

Melissa fica encantada e feliz pelas histórias de Baltazar, que leva horas para conta-las, os dois sentem um pouco da emoção das histórias contadas, rindo alto em grandes situações cômicas, urram nas histórias de batalhas marcantes e de quedas de inimigos poderosos, cantam e bebem com as histórias tranquilas e de farra.

Melissa fica muito emocionada junto com Baltazar quando ouve a história que mudou a vida e as atitudes dele, as crianças no barco e a menina que morreu no mar, ele comenta sobre o alívio que teve com o guardião de Pando que tirou o peso da culpa de seu coração, Melissa lembra sobre Pando e comenta:

– Eles são incríveis, sempre tento deixar meus assuntos em dia para tentar ir lá passar um verão ou uma primavera, mas nunca consigo...

Baltazar fica pensativo lembrando de Pando e Melissa continua:

– Aquele grupo “Kabedon”, esses são duros na queda, não queira enfrentar eles sem ter se alimentado direito antes... Ainda por cima são muito bonitos... Pena que não gostem de uma mulher robusta e voluptuosa como eu.

Melissa pisca charmosamente, ri alto, bate nas constas de Baltazar e comenta:

– Apesar de que tem aquelas “filhas de Adéa”, mas aí foge do meu gosto de mulheres robustas e voluptuosas, queria ter esse prazer com algo bem semelhante...

Baltazar fica lucido por alguns instantes ao se lembrar da Floresta de Pando e de seu grupo, ele sente uma dor de cabeça e Melissa continua falando:

– Não que eu já não tenha experimentado, você sabe não? Quando se bebe, algumas coisas fogem do controle e até da realidade.

Ela ri, aprecia a mesa e se surpreende.

– Nossa! Você ganhou!

– Ganhei?

A mente de Baltazar volta a ficar falha, ele olha para a mesa e vê que ele comeu mais do que Melissa, tendo só pequenos restos de comida na parte dele e um pouco mais na parte dela, ele fica feliz e pergunta:

– Acabou?

– Claro que não, só comemos para dar início aos melhores testes!



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