Volume 2
Capítulo 125: O Jardim Electi
Einar acorda na grama no chão, ela está confusa, sua mente está falhando tendo algumas perdas em sua memória, ela se levanta e olha ao redor, percebe uma imensidão de cores formando um enorme jardim, os olhos de Einar ofuscam com tantas cores, brilho e tranquilidade.
O céu está lindo, com poucas nuvens, deixando o sol fazer todo o seu trabalho, ilumina grandes elevações de terra, gramas, pequenos e grandes lagos, muros e cercas vivas revestidas com plantas e matos, corredores com vários tipos de flores, pequenas estradas de tijolos vermelhos, bancos, vasos para flores diversas, arcos de flores, fontes, chafarizes mágicos, vários arbustos cortados em formas geométricas e de mamíferos, o local tem poucas árvores próximas, mas belas árvores no extremo do jardim podendo se ver uma floresta ao longe, algumas elevações de terra formam pequenas colinas com algumas nascentes de água pura e cristalina que formam um rio pequeno que passa por todo o jardim.
Há pedras pequenas e grandes espalhadas parecendo estarem lá de propósito, pilastras em vários pontos variando entre segurar vasos com flores e fontes para passarinhos, grandes portões feitos de árvores vivas, um pequeno labirinto de flores e arbustos grandes, algumas imagens lapidadas nas pedras, pilastras, bancos e fontes, pequenos barcos flutuando nos lagos cheios de flores e plantas exóticas, pequenas pontes bonitas e bem detalhadas nos pequenos rios e nos lagos ligando também uma pequena ilha no centro do lago maior.
Einar anda pelo grande jardim admirando cada detalhe, observando e sentindo o vento passar, o sol iluminar, os insetos em suas vidas rotineiras, abelhas, vespas, percevejos, borboletas, libélulas, formigas, minhocas entre outros, um pequeno mundo longe das guerras, ressentimentos e maus pensamentos, ela respira fundo e sonha acordada, ela vê ao longe uma grande estufa forrada de planta, ela senta em um banco e fica admirando uma gema Summa sobre uma pilastra diferente, ela nota uma aura rosada que toma parte do jardim.
Depois de um tempo ela ouve a voz de Ray que diz triste:
– Lili... Lili... Me desculpe...
Ela se vê feita de raiasses, galhos e folhas, no susto ela acorda apavorada.
– Meu Deus? Como?
Ela se vê no mesmo lugar, mas não em forma de planta como havia sonhado.
– Meu Deus quanto tempo eu estou aqui?
Ela olha para a gema e lembra-se de tudo o que aconteceu antes de ser puxada pela magia de Ray, sendo ainda um mistério como ela chegou ao jardim.
– Ray?... A missão dos Electi...
Alguém vê Lili pensativa e admirando a gema e comenta para ela sobre a gema:
– Linda não? Se perceber há quatro delas aqui.
Lili se assusta, ela se levanta e procura de quem é a voz, ela vê que vem da ilha do meio do lago maior, enquanto ela anda até lá a voz continua a falar como se estivesse ao lado dela:
– Quatro delas, uma para manter cada estação ativa e constante, claro que alternando entre elas, pois todos tem que passar por esses períodos, outono, verão, inverno e primavera... Modéstia parte eu amo a primavera... Um segredo que posso lhe contar, na maior parte do tempo as gemas reproduzem a primavera.
– Quem é você? Por que está falando comigo assim?
– Eu sou Jason, Electi regente de Amici Mei, e eu estou só respondendo você... Você não deve se lembrar, você estava sob o feitiço e falava enquanto sonhava, você também comentou sobre um plano, você discordou e depois foi junto com alguém chamado Max até uma guerra para ver seus amigos, depois disso parece que você não sabe mais, ficou um bom tempo se perguntando o que houve várias vezes.
– E você sabe o que houve?
– Até onde eu sei você e seu grupo usaram uma magia poderosa, poderosa demais para pessoas mortais.
– Onde eu estou?
– Jardim Collins, modéstia parte o lugar mais belo de Arbidabliu.
– Eu estou dentro da magia?
– Sim...
– Você consegue me ajudar? Ou melhor, nos ajudar?
Lili chega até a ilha, no meio dela tem ossos de um animal antigo e grande, os ossos estão cobertos por grama e algumas flores, sentado no crânio está um homem, Electi, aparenta ter uns quarenta e cinco anos, estatura alta passando dos dois metros, porte físico forte, a cor de sua pele é escura, sem cabelo e barba, aparência agradável, bonito e com um belo sorriso.
Ele está usando um colete leve e simples com tranças feitas de plantas enroladas em uma parte do colete, braceletes de prata em suas mãos grandes e dois anéis em sua mão direita, a parte inferior de seu corpo está protegida por uma armadura que começa na cintura e se estende até suas pernas e pés, a armadura parece ser simples, mas é brilhante, é ainda mais no sol forte que ilumina o jardim no momento, nas mãos dele tem uma tesoura dourada e grande.
Lili se aproxima e quase pisa em uma árvore em miniatura, Jason demostra se assustar por achar que ela mataria a árvore e comenta enquanto se aproxima:
– Uma bela criação... Vi artesões fazerem itens comuns em tamanhos menores e fiz o mesmo com árvores, gastei um pouco de tempo e magia para isso, eu me senti até um criador, até descobrir que uma parte do Antigo Mundo chama isso de Bonsai, e eles fazem isso sem o uso de magia... É, nós Electi não somos plenos ainda... Quem sabe algum dia.
Lili anda com cautela e demostra preocupação, Jason responde a pergunta que ela havia feito com um sorriso:
– Eu consigo ajudar...
Ele fica sério e termina a resposta:
– Mas não devo...
Lili para de andar e suspeitando de algo ruim ela tentar voltar para a ponte, mas sente seu corpo paralisar sem responder suas vontades, o homem se aproxima calmamente e ainda em tom sério dialoga:
– Vocês ousaram invadir o território dos Electi, então serão tratados assim, pelo menos por mim.
Mesmo paralisada Lili consegue falar com um pouco de dificuldade.
– E por que não me matou logo?
– Mas era para você estar morta... Só que alguém lhe acordou do poder que faria você dormir por toda eternidade.
Lili pensa bem e diz baixo;
– Ray...
– Por esse motivo eu resolvi me revelar, vim pessoalmente ver quem é que entrou em meu jardim para usar o poder dos Electi.
– Seu jardim?
– Você não deve saber, mas você está em uma “réplica” mágica da minha ilha, esse jardim originalmente é auxiliado por meus súditos, mas a maior parte fica assim, vazia e tranquilo, servindo para meditação e relaxamento.
Lili se concentra e lembra que Ray comentou sobre pedir aos Electi o poder para destruir o Império de Cristal, ela pensa bem antes de elaborar uma conversa e finalmente inicia:
– Se você sabe o que eu vim fazer e o porquê, então por que não me ajuda?
Jason prende sua tesoura na cintura, se aproxima de Lili, pega um pequeno inseto da roupa dela e comenta enquanto admira e passa o inseto de uma mão para a outra:
– “Coleópteros”, você deve conhecer como “Joaninha”, ela é linda, não é?
Lili tenta falar, mas sua voz não sai, Jason continua.
– Sabia que há lugares no Antigo Mundo que as chamam de “bichos de Deus” ... Pode ser por serem bonitas e por ajudar muito no jardim, ou melhor, na flora.
Jason anda, faz sinal com a mão e Lili o segue andando atrás dele sem controle de seu próprio corpo.
– Veja... Esse é um grande jardim, uma pequena joaninha não daria conta de proteger um jardim dessa proporção...
Lili faz um esforço e fala:
– Não queira me dizer que você é uma pequena joaninha?
Jason vira e olha para ela bravo, ela se intimida, mas continua a falar mesmo com medo:
– Mesmo que fosse, você tem meios para fazer mais agora... Então eu peço que faça.
– Verdade... Se você não fosse tão precipitada, eu ajudaria, no final da minha bela história de insetos, flores e jardins eu iria lhe ceder o poder que você veio buscar, mas a sua ousadia me mostra que os humanos devem ser tratados igualmente... Mesmo os transformados.
Lili se assusta com as afirmações de Jason, mesmo não achando que foi insolente com o Electi ela tenta se desculpar e reparar o erro que fez, seu corpo volta ao seu controle e ela se aproxima dele se ajoelhando no chão, sua voz não sai, mas ela puxa o braço de Jason pedindo que tenha a oportunidade de se comunicar, ele olha para ela e cochicha em seu ouvido:
– Está na hora da poda!
Lili é puxada por uma energia que arrasta ela pelo jardim até próximo do labirinto vivo, ela se recupera do puxão que causou pequenos ferimentos, se levanta e vê Jason encostado na parede viva do labirinto, ele coloca a joaninha nas folhas e faz um sinal com sua mão.
Entre as folhas da parede surgem alguns homens, cinco com vestes do Império de Cristal e dois do grupo Koètuz, eles estão dormindo, presos na parede vida e com uma aparência bem abatida como se a energia deles estivessem sendo sugadas pouco a pouco, Jason olha para eles e diz para Lili.
– Era para você estar assim, a magia que protege o poder que você veio buscar fez isso com todos... Aquela voz que ainda estou tentando identificar tentou ajudar dois deles, mas eles não foram tão fortes como você foi... Por isso eu vou te dar mais uma chance.
Lili demostra gratidão e diz se aproximando dos homens presos.
– Obrigada... Eles podem ir comigo?
Jason pega sua tesoura e a joga no chão na frente de Lili, que para assustada:
– O que é isso?
– Sua missão... Sei que você passou por muitas coisas ruins e hoje lhe dou o poder... Pegue a tesoura e limpe esses arbustos... E quando eu digo “limpe” é para que você mate eles.
Lili fica paralisada com a proposta e Jason se aproxima:
– Certo, vou lhe ajudar, sei que dois desses são dos seus, eles vieram de uma cidade famosa então devem ser merecedores de misericórdia.
Jason aponta para os arbustos, as plantas cobrem os corpos dos dois conhecidos de Lili, rapidamente parece que eles são absorvidos, abaixando o volume das plantas e deixando só os homens do Império expostos, Lili demostra tristeza, Jason pega a tesoura do chão e a coloca nas mãos de Lili:
– Pegue! Se não, será pior.
Ela pega a tesoura e se aproxima dos homens, ela respira fundo e Jason diz:
– Você disse tanto para nós Electi agirmos, então me mostre o que você em sua dimensão de poder pode fazer?
Lili levanta a tesoura e olha um por um, em sua mente passam várias imagens que a lembram de seu passado, Jason continua:
– Você já sofreu nas mãos de homens como esses... Sabe o que esses homens já fizeram? Garanto-te que eles já fizeram pior do que todos aqueles que já lhe causaram mal.
Lili usa a tesoura e corta os galhos, raízes e plantas que prendem os homens, soltando-os da parede viva, um a um, cada um que ela liberta Jason fica mais bravo e sério, ela termina e entrega a tesoura para Jason.
– Não sou como aqueles, e nem como esses, eu acredito no arrependimento e na mudança do ser.
– Muitos Electi ficariam orgulhosos dessa sua atitude, mas para alguém que veio buscar um poder de morte, não usar a base dela é estranho... Você está muito contraditória, por que não usa esse mesmo discurso e atitude lá de onde você veio no lugar de nos incomodar?
– Não é tão simples assim...
Jason fala alto e bravo:
– “Não é tão simples assim!!!”
O céu escurece um pouco, Lili sente um vento gelado, e percebe que algumas flores ao redor se fecham, Jason olha para os homens no chão e diz mais calmo:
– Você sabe a importância da poda?
Lili fica triste com a situação, analisando que tudo está caminhando errado, ela abaixa a cabeça e responde em um tom baixo:
– Sim...
Jason anda até os homens e continua:
– Deve concordar comigo que é interessante, você corta partes “inúteis” para favorecer a planta ou até mesmo a árvore, veja esses homens, a magia que protege esse lugar qualificou eles como inúteis, “cortá-los” seria mais benéfico para a área que habitam, mas você diz que não, que eles podem ser reaproveitados... Vamos ver!
Jason pega na cabeça de um dos homens e o ergue até ficar de pé, o homem fica ereto, Jason também faz isso com os outros e depois do último, Jason diz olhando para Lili:
– Espero que eles sejam como você, assim todos sairão livres e bem.
Lili fica confusa e se afasta um pouco, Jason sorri e olhando para os homens fala:
– Acordem homens do Império, vocês estão presos em uma magia poderosa e a única forma de saírem será se vocês sacrificarem algo.
Eles abrem os olhos, seus corpos demostram terem um pouco de seus vigores de volta e Jason finaliza dizendo:
– Antes de decidirem o que sacrificar, vocês precisam saber de alguns detalhes.
Jason usa seu poder e acrescenta na memória de Lili e dos homens informações de cada um deles, Lili vê alguns crimes que os homens cometeram e eles veem que Lili era chamada de Einar e que passou por uma transformação que fez de um corpo masculino se tornar feminino, Lili fica com medo e tenta dialogar com os homens, que demostram hostilidade em ataca-lá e usá-la para sair da magia.
– Esperem... Há outras formas de sairmos...
Lili tenta explicar a situação, mas não é ouvida, no avanço deles ela corre, eles correm atrás até alcançá-la, eles batem nela com socos e chutes, com um pouco de conhecimento de autodefesa Lili consegue se defender e a recuar, mas contra os cinco e sem uma arma ela fica vulnerável, um deles a derruba deixando-a indefesa.
Todos a cercam e iniciam um espancamento, a ação é breve, em segundos Lili fica muito machucada tendo várias lesões e hematomas por todo o corpo, no momento antes de desmaiar ela vê que eles pararam, ela se esforça e se arrasta se afastando deles, logo ela vê Jason em pé a sua frente, ele está sério e diz olhando para os homens que estão paralisados pelo poder dele:
– Realmente... Eles não são como você, e você os pouparia mesmo assim?
Lili demostra dificuldade para responder, mas conforme ela fala sua dicção melhora:
– Sim... Sei que em muitas situações a morte é o melhor caminho, mas se seguirmos o desejo de Deus..., o amor..., o amor a ele e a tudo o que ele criou podemos também consertar e ensinar.
– Espere... Deixe-me ver se eu entendi o que você quer me dizer... Se alguém, um “ser” que rejeita “você”, se for mostrado a ele que você é como ele só que de uma forma diferente ou até mesmo peculiar, esse ressentimento e até preconceito, é eliminado?
Lili balança a cabeça concordando com Jason, ele fica pensativo e olha ao redor, ele repara nos homens paralisados e comenta:
– O assunto ficou tão interessante que me esqueci deles.
Jason aponta sua mão para cada um, eles diminuem de tamanho e se transformam em um grupo de insetos prejudiciais para jardins, esses insetos se espalham e chamam a atenção de joaninhas e outros insetos que têm eles como presa. Jason admira um pouco e comenta:
– A vida animal é tão bela... E estou vendo só uma pequena parte dela, imagine o todo.
Lili demostra dor, Jason se agacha e se aproxima dela:
– Certo, então sua afirmação será sua missão oficial... Quero acreditar mesmo no que você falou, se for verdade, você está livre e libero o meu poder para vocês.
– O que eu devo fazer?
– É real o que você falou? Uma mente sem o devido conhecimento não terá o amor ao próximo?
– Sim.
– Veremos.
Jason pega na cabeça de Lili e a ergue junto dele, ele olha para os olhos machucados dela e a leva para um lago distante, ela sente dor e se debate com raiva.
– Você não é um Electi! Você deve ser um demônio contra a criação.
Jason fica com raiva e fala com os olhos penetrantes, como se quisesse matar Lili:
– Vocês humanos são os “demônios” aqui, se proliferando e tomando o lugar de muitos outros seres, seres que também fazem parte da criação que você diz que quer proteger...
Jason fica mais tranquilo e continua a falar enquanto segura e leva Lili para algum lugar:
– Sinto lhe informar, mas os Electi não existem para servirem só os humanos, estamos aqui por toda a criação... No meu ponto de vista a guerra ajuda no meu trabalho, pois muitos de vocês morrem e voltam a ser recurso para a terra que tanto exploram.
Lili tenta debater, mas não consegue suspeitando um efeito da magia de Jason, eles chegam a um lago pequeno e Jason a joga dentro dele.
– Essa água vai restaurar um pouco suas feridas e até a sua vitalidade, mas depois... Não vou estragar dizendo o seu final, você mesmo verá.
Lili fica paralisada, mas por sentir que pode respirar na água ela não se desespera, ela afunda um pouco, sente todo o seu corpo formigar e em pouco tempo uma parte de suas feridas são curadas e ela se sente melhor.
Quando ela acha que concluiu sua missão a água começa a congelar criando uma camada fina de gelo impedindo-a de sair, ela volta a se mexer um pouco e tanta quebrar o gelo que fica mais grosso com o tempo, mas não tem sucesso, ela percebe que não respira mais na água e se desespera ficando fraca a cada tentativa de sair, fora do lago Jason diz para ela:
– Estou esperando, mostre-me o Desejo de Deus no coração daqueles que um dia só lhe queriam mal... Você não tem muito tempo...
Lili demostra mais força e determinação ultrapassando seus limites, Jason demostra um pouco de esperança e se aproxima mais, mas balança a cabeça decepcionado ao vê-la parar e a sucumbir à morte.
– Infelizmente muitos iguais a você só me mostram a morte...