Volume 1
Capítulo 73: O Templo Esquecido
Tarde, 29 de novembro de 1590. Mar de Outubro, Templo de Libra.
Templo de Libra. Toda a sua estrutura é feita de tijolos amarelados e marrons, e a maior parte do chão também é feita de tijolos quadrados e terra. O templo é grande, parece um castelo, com algumas torres, salas externas, muitos pilares, quase todos quebrados ou no chão. Com as ondas do mar, as bordas estão deterioradas e molhadas.
A ilha que mantinha o templo flutuando quase não existe mais, dando a impressão de que está flutuando por magia. O templo tem vários andares, com várias escadas de diversas direções e tamanhos.
Ao longe e no lugar mais alto, um grande salão que parece ser de gigantes, cheio de pilares e imagens de animais marinhos. É o lugar menos deteriorado pelo tempo e a chuva. Esse salão principal é onde residia o Electi. Sobre a entrada, dá para se ver uma grande balança aparentemente feita de ouro.
Nos cantos do templo, há rastros de antigos exploradores, como algumas armaduras e armas enferrujadas, destroços de barcos e de móveis e ossos de criaturas marinhas de porte médio. A tarde está ensolarada, há poucas nuvens no céu e o mar está calmo.
Todos se recompõem, torcem suas vestes, veem o que foi perdido com a fuga dos tubarões e descansam um pouco. Olham ao redor, admirando o templo. Ray apresenta:
— Este é o Templo de Libra…
Onurb olha com desânimo.
— Já começou…
Anirak o empurra, e Ray continua:
— As primeiras “residências” dos Electi eram templos e santuários. São fortificados com magia do próprio Electi ou de algum item poderoso para manter a magia ativa. Hoje os Electi vivem em castelos que também são protegidos…
Maxmilliam olha com preocupação para o salão principal.
— Estranho, essa magia ainda está ativa.
— Mestre, como?
— Não sei dizer… Desde que avistamos o templo, eu estou usando magia para ver dentro dele ou até localizar Doug ou qualquer outra coisa, mas a magia protetora do templo está ativa, me bloqueando.
Onurb olha para Maxmilliam e Ray e diz:
— Eu sabia, vocês disseram que este lugar estava abandonado, e olhem só! Tem algo defendendo aqui, além das monstruosidades que estão nas águas.
— Calma, Onurb, é impossível o Electi estar aqui, no máximo algum item mágico está ativo…
— Item mágico?
— Sim, e para manter uma magia poderosa dessa ativa, deve ser de grande valor.
— Bem… Se vocês estão dizendo e se seu amigo está lá, vamos logo ver, não? Vamos?
Todos se olham sorrindo, e Alexia comenta, olhando as carcaças e os ossos dos animais nas bordas do templo:
— Esses rastros são bem antigos… Devem ter sido comida dos Megalodontes.
Onurb também observa e olha para o oceano:
— Então eles jogam tudo aqui? Somos rastros dessas desgraças também?
Ray adentra mais no templo.
— Sinto Doug, ele está caminhando por dentro para o salão principal, aquele lá em cima.
Onurb reclama:
— Éh claro, ele não poderia estar aqui nos esperando, não? É sempre no lugar mais longe e mais alto.
Anirak fica com raiva.
— Onurb, chega… Cadê o novo Onurb? Vamos logo e sairemos logo, o que acha?
— Ótimo… Vamos!
Ray questiona Maxmilliam:
— Mestre, por que sua visão mágica é bloqueada e meu sentido não?
— O poder que o Guardião de Pando lhe deu é a mesma essência dos Electi, lembra que ele foi criado por um? Então, o poder é divino.
Onurb questiona:
— Divino? Tem diferença do seu poder, Max?
— Sim, o poder dos Electi é divino, primário, veio direto do Criador quando criou os mundos. As magias criadas depois são de essência mais fraca.
— Entendi.
— Ray teve uma aula especial com meu mestre sobre magia, se quiser ele pode explicar melhor.
— Não, não… Ray se empolga muito, e para mim não fará diferença saber desses detalhes, vamos logo.
Todos caminham, entrando em alguns cômodos externos, torres e pequenas salas. Baltazar comenta:
— Sinto algo bom aqui.
Maxmilliam responde:
— A magia que protege o templo é amigável, ela dá essa sensação de tranquilidade.
Todos andam com cautela, procurando vestígios e rastros por onde Doug andou, pois o lugar parece um labirinto, muitos destroços atrapalham o caminho e os obrigam a dar voltas. O tempo destruiu escadas e passagens, alongando o caminho do grupo. Anirak e Alexia acham alguns rastros.
— Tem rastro de alguém que passou recentemente… Por que não nos dividimos?
Onurb interrompe, preocupado:
— Nunca! Vocês não aprendem? Não faremos mais isso, vivemos nos separando e só complicou as coisas, vamos juntos desta vez. O templo não é tão grande assim, se Doug é a única coisa viva aqui então será fácil achá-lo.
— Certo, fique calmo…
Onurb grita:
— Doug! Doug!
Ray interrompe:
— Onurb, a magia bloqueia som alto, não adianta gritar o nome dele, ele não vai ouvir.
— Como assim? Até o som é bloqueado?
— Sim, Libriano gostava de silêncio e tranquilidade, por isso o templo dele é no meio do oceano, os outros são todos em terra firme.
— Legal, então temos que procurar mesmo.
— Sim, se ele estiver perto ele vai ouvir, mas longe assim não.
— Já entendi, essas magias são estranhas.
Todos conseguem subir, entrar em salões, quartos, cozinhas e até achar passagens secretas. Tudo está bem velho e deteriorado, mostrando que faz séculos que alguém não mora ou fica ali. Baltazar sente uma presença enquanto passam por um corredor enorme, e Onurb questiona:
— O que foi, touro velho?
— Sinto que não estamos sós.
Onurb se arma.
— O que você viu?
— Não sei ao certo.
Alexia demonstra tranquilidade.
— Calma, rapazes, não deve ser nada, este templo pode ter bichos ou animais pequenos, isso pode dar a impressão…
Alexia é atingida na cabeça e cai desmaiada. Todos se armam e olham ao redor, ouvindo risadas de mulheres. Anirak corre para ajudar Alexia, e Onurb diz:
— Deixa ela aí, ela já fez a parte dela, figuração.
— Para de piadas, não é a hora.
— Vocês estão ouvindo? São os demônios?
Maxmilliam vai à frente do grupo.
— Sim…
Ele faz seu cajado emanar uma aura forte, aponta para onde se ouvem os risos e diz, em um tom forte:
— Erráticas! Apareçam!
Uma voz de mulher responde:
— Erráticas? Que nojo, esse foi o boato que se espalhou de nós?
Outra voz de mulher se pronuncia:
— É o que dá, culpa de vocês, promíscuas e feias.
Elas riem e surgem saindo de quadros velhos com a pintura rasgada. As três têm aparência de mulher de 30 anos, porte físico médio e a beleza comprometida, dentes tortos e amarelados, cabelos mal cuidados e bagunçados, nariz e bocas desproporcionais ao rosto, com verrugas e espinhas.
— Eu sou Luana… a protetora…
Luana tem olhos e cabelos castanho-escuros, crespos, pele escura, estatura média, usa uma armadura corporal enferrujada e bem gasta. Alguns detalhes da armadura lembram um cavalo-marinho. Ela está com duas espadas curtas com o cabo no formato de cavalo-marinho.
— Eu sou Layra, a heroica.
Layra tem olhos e cabelos castanho-claros, lisos e volumosos, pele clara com sardas e estatura baixa. Também está com uma armadura corporal enferrujada em ruínas, com detalhes que lembram uma cobra-de-água igual ao cabo da espada de duas mãos que ela empunha.
— E eu sou a imaculada, Karina para os amigos e inimigos…
Karina tem olhos escuros, cabelos ondulados e claros e estatura média. Também está usando armadura corporal enferrujada, com detalhes que lembram uma tartaruga marinha. Ela usa uma espada de lâmina larga.
Ray avança pacificamente.
— Eu sou Ray, e estamos aqui para levar meu amigo embora, devem tê-lo visto.
Elas se olham e questionam:
— Você o viu?
— Não me lembro, e você?
— Também não… Esperem… Não teve um rapaz que passou pela passagem secreta para chegar até o pedestal? Lembram?
— Não, não lembro.
Elas riem e se aproximam de Ray.
— Podemos levar você para lá.
Ray pressente perigo e se posiciona para o combate. As três avançam contra ele. No trajeto, elas lançam uma onda de energia que passa pelos lados de Ray mirando nos outros.
Anirak defende Alexia, que está impossibilitada, Baltazar firma forte seus pés no chão e aguenta o impacto, Onurb se posiciona atrás de Baltazar e o usa como escudo, e Maxmilliam se defende com magia. Essa onda os segura por um tempo, dando chance de elas atacarem Ray.
Ele calcula os golpes delas e se posiciona em uma posição vantajosa, apara os golpes e esquiva de uns que parecem encantados com magia. Consegue contra-atacar vários golpes, fazendo-as recuarem. Elas levantam a mão, o teto treme e uma parte é destruída.
Maxmilliam usa magia para proteger todos do grupo dos destroços, usando alguns pedaços para arremessar nas três. Com a destruição de uma parte do teto, caem três escudos grandes encantados que as protegem, ficando próximo de seus corpos como se tivessem um terceiro braço segurando o escudo.
Com esse escudo, elas se defendem do ataque de Maxmilliam. Karina avança e joga Ray longe. Sem perceber, ele passa por uma porta e entra em uma sala. Karina entra atrás dele e o ataca. Ela demonstra estar mais agressiva e com mais precisão, dificultado a esquiva de Ray, que consegue aparar e levar alguns cortes que o deixam em alerta a revidar com tudo.
Aos poucos, ele vai destruindo partes da armadura enferrujada, mas muitos golpes são aparados pelo escudo. Uma sequência de golpes de Karina faz Ray se preocupar em morrer. Ele encanta sua espada e mira no escudo, focando o desarme dele. Consegue tirar o escudo dela e atravessar seu peito com sua espada. Ela ri.
— Sou um demônio, acha que vai me matar assim?
Ray encanta sua mão dando um beijo nela. Uma aura dourada a envolve e ele coloca na cabeça de Karina.
— Sou filho de Ynascar e Raquel, heróis que mataram hordas de demônios… Você é insignificante comparado ao poder que eu herdei deles!
Ela sente sua cabeça queimar e seu corpo enfraquecer.
— Maldito! O que é isso?
— Nunca achei que meu treinamento contra demônios serviria para algo.
Ela consegue empurrar Ray e correr para o salão com a testa queimada. Layra avança contra Maxmilliam. A presença dela de alguma forma neutralizou a extensão das magias dele, obrigando-o a atacar corpo a corpo.
Os dois entram em uma batalha só com armas. Ela, com sua espada de duas mãos, desfere golpes fortes que fazem Maxmilliam ficar recuado. Ele defende com o cajado e consegue acertá-la poucas vezes.
Onurb avança para ajudá-lo, mas o escudo dela defende todos os golpes de Onurb, socos, chutes, golpes com a adaga e até projéteis, e parece que o escudo tem vontade e habilidades próprias. Baltazar chama atenção de Luana, que corre em sua direção.
— Você é meu grandão! Faz muito tempo que não sei o que é um homem assim.
Luana dá várias investidas, fazendo Baltazar recuar. Anirak ameaça ajudar o grupo, mas Luana ataca o escudo, prensando-a contra a parede e imobilizando-a da batalha.
Baltazar aproveita a brecha e ataca Luana. Inicialmente, ela consegue aguentar os golpes de Baltazar, mas com o tempo ele fica mais furioso e mais forte, obrigando-a a usar golpes mais fortes.
Ele é ferido, e ela é jogada longe e quase é atingida várias vezes pelo machado dele. Onurb vê que não consegue ajudar Maxmilliam, então decide ajudar Baltazar. Luana imobiliza Onurb quando ele se aproxima, e ele diz para Baltazar:
— Ela não é humana, não é pecado matar ela, Baltazar!
Baltazar mira seu machado na cabeça de Luana. Ela coloca Onurb na frente para levar o golpe, por pouco Onurb não é acertado. Onurb reverte a imobilização de Luana, dando oportunidade de Baltazar golpeá-la.
Ela esquiva tentando saltar, mas ele corta uma de suas pernas e a joga longe com uma investida. Karina surge um pouco desnorteada, mas logo entra na batalha, lutando contra Baltazar e Onurb. Maxmilliam consegue usar magia e tira o escudo que está prendendo Anirak. Karina é derrotada por Onurb e Baltazar com um combo de golpes de machado e da Nagga.
Maxmilliam derrota Layra com uma sequência de golpes com o cajado e finaliza com uma explosão mágica no tronco dela.
O grupo se agrupa, tentando reanimar Alexia, que ainda está desacordada. Ray chega, e as três demônios se juntam. O corpo delas se regenera um pouco, elas não demonstram dor dos golpes, só Karina, que demonstra dor do poder que Ray usou em sua cabeça.
Elas riem e avançam contra eles novamente. Anirak e Onurb conseguem bater em Luana, Baltazar consegue jogar Layra longe com um encontrão e Maxmilliam paralisa Karina com magia. Elas não demonstram fraqueza e continuam a avançar.
Ray aproveita que Karina está paralisada e usa a mesma habilidade com que a feriu antes. Uma aura dourada toma suas mãos, ele coloca suas mãos no rosto dela e beija sua testa.
A magia de Maxmilliam cessa e Karina é envolvida pela aura da mão de Ray, seus olhos ficam mais claros, os traços que a deixavam feia somem, dentes, boca, nariz, entre outros, uma silhueta preta e vermelha sai dela e, com um grito estranho, se desfaz. Karina ajoelha em frente a Ray e, com uma voz doce, diz:
— Obrigada…
Seu corpo e suas roupas viram pó, ficando só a espada no chão. Luana e Layra veem aquilo e têm uma dor de cabeça. Todos param de atacar.
Ray corre em direção de Layra e faz o mesmo ritual. A silhueta sai do corpo de Layra e depois de um grito se desfaz. Ela tem a mesma transformação que Karina teve, fica bonita e jovial. Pega nas mãos de Ray e agradece:
— Achei que nunca mais veria o brilho do Criador novamente… Obrigada.
Layra vira pó enquanto cai no chão. Luana corre, mas Baltazar a segura. Ray se aproxima e faz o ritual em Luana, que se debate para fugir.
— Não, não… Desgraçados sejam…
Ray faz a aura tomar Luana. A silhueta sai e se desfaz com uma explosão pequena. Baltazar a solta, ela cambaleia e olha ao redor.
— Deus… perdoe-me… Fomos levadas pelo mal…
Luana cai e, chegando ao chão, vira pó junto com sua arma. Roupas e armadura somem em seguida com a pequena brisa que passa pelo corredor. Todos se recompõem, e Baltazar questiona:
— O que foi isso, Ray?
— Essa aura que saiu delas era a essência dos demônios que se fundiram a elas, eu só quebrei esse laço.
— Mas esses demônios… fugiram?
— Não, foram destruídos. Uma coisa que ninguém sabe é que com o final da Guerra-D nosso mundo Arbidabliu foi purificado e todo demônio é destruído ao nascer ou aparecer nele… Eles se mantinham longe dessa “lei” porque estavam dentro do corpo delas… Quando quebrei esse laço, eles foram destruídos, e o corpo delas foi libertado e voltou à consciência humana.
Onurb interrompe:
— Ótimo, foi lindo ouvir e ver isso, você fez as mulheres virarem pó, agora vamos indo.
— Vamos…
Todos continuam seu trajeto, e Onurb continua a conversa:
— Você poderia fazer isso com todos os nossos inimigos que enfrentamos?
— Não, é uma técnica que funciona só contra demônios.
— Entendi, menos mal, só o que faltava você saber algo tão poderoso e só usar agora… Apesar de que você deveria ter tentado, para mim todos que enfrentamos eram demônios.
Ray sente que está próximo de Doug e corre. Todos ficam preocupados e correm atrás dele, com Alexia gritando:
— Ray? Calma! Espere! Cuidado!
Ray se aproxima do salão principal, chega a um grande portão de metal e se desespera ao ouvir de dentro do salão uma voz conhecida.
— Doug, seu tolo! Afaste-se!
Um som de explosão vem em seguida da fala. Ray bate e tenta abrir o portão. Ao abrir uma pequena fresta, ele ainda ouve:
— Eu falei para você não fazer isso, e agora? Terei que tomar medidas drásticas.
O grupo alcança Ray. Baltazar, ao chegar, abre o portão de metal. Todos entram e se deparam com o salão principal do antigo Electi de Libra, um enorme salão com vários metros de largura e comprimento.
Ele é branco, com vários símbolos no chão, paredes rachadas, uma abertura no formato de um círculo no teto no centro, de onde sai a luz do sol, vidraças nas extremidades com imagens de cidades do Grande Continente, cada uma com uma cidade ou vila diferente, desenhada e com o seu respectivo brasão heráldica, algumas cadeiras de madeira, baús, mesa e um pedestal de pedra no centro com uma pedra redonda no topo.
Doug está usando armadura leve típica do Império de Cristal e está desmaiado ao lado do pedestal. Perto dele, Magnus Leafar, que olha para o grupo e fica surpreso.
— Pobres almas infelizes… o que fazem aqui? Como se eu não soubesse da resposta...
Ray fica em fúria ao ver seu amigo no chão e avança para atacar Leafar.
— Afaste-se dele, maldito!
— Sabia que você seria um problema…