Volume 1

Capítulo 71: O Touro Indomável

— Já vi tanto, que nada mais me surpreende, vamos todos morrer…

Baltazar avança contra Anirak, que se envolve em fumaça, mas no primeiro golpe de Baltazar a técnica cessa, ela fica atordoada e é jogada contra a parede de uma casa em ruínas. Alexia atira flechas, e Baltazar responde atacando seu machado.

Ela consegue esquivar, e, antes de se recompor para continuar seus ataques, Baltazar a agarra e a ergue segurando firme em seu pescoço. Com a outra mão, ele puxa e a desarma bruscamente, puxando seu arco, facões e adagas de suas vestes. Ela usa técnicas para se livrar das mãos de Baltazar, porém não consegue, mesmo com técnica própria para se libertar, a força de Baltazar, que agora é sobrenatural, a deixa sem escapatória.

Onurb se aproxima para ajudar usando golpes na virilha, canela e em outros pontos que são frágeis no corpo humano. Baltazar revida batendo nele. Alexia o empurra para trás, e ele aperta mais o pescoço dela.

— Por favor, Baltazar…

Onurb também tenta conversar com ele:

— Baltazar, não! Solte-a…

Alexia perde o fôlego. Baltazar está cego pela luta e fica sem consciência, só a fúria age e controla suas ações. Uma pequena frase o deixa um pouco consciente. Onurb joga Nagga no chão e diz, de braços abertos:

— Eu que trouxe você aqui, solte-a e me pegue no lugar dela…

Alexia desmaia na mão de Baltazar. Antes que ela morra, ele a solta e agarra o pescoço de Onurb com as duas mãos.

— Eu sabia, desgraçado… Vai pagar por isso e por ter mentido para mim.

Baltazar se aproxima de seu machado, pega-o e o joga em Anirak, que se preparava para atacar. Ela esquiva e se posiciona para atacá-lo.

Ele pega o corpo de Alexia e joga em alguns destroços perto de Anirak, que corre, pula e salva a amiga, rolando as duas em uma parte segura sem pedras pontiagudas. Baltazar volta e segura o pescoço de Onurb, que não reage ao sentir seu fôlego indo embora.

— Vou esmagar seu pescoço!

— Me desculpe… Baltazar…

Antes de Onurb desmaiar, todos ouvem a voz de Maxmilliam, que parece vir do céu, seguida de um trovão, mesmo sem nuvens.

— Baltazar! Pare agora!

Baltazar olha para os céus procurando quem fala com ele. Maxmilliam sai da torre apontando seu cajado emanando energia.

— Solte-o!

Uma energia faz Baltazar perder o controle de seus braços e largar Onurb, que vai ao chão e recua, mas desmaia depois de se distanciar. Baltazar anda para trás e logo recupera o sentido de seus braços.

— Magia… O que querem comigo?

Ray surge de trás de Maxmilliam.

— Ele está mais consciente, será que…

Baltazar avança contra os dois. Maxmilliam se põe à frente e para a sua investida com magia. Um estrondo é ouvido. Baltazar começa a empurrar Maxmilliam para trás. O mestre faz a força invisível aquecer para queimar Baltazar, que resiste pouco, mas consegue jogar Maxmilliam para trás.

Ele corre para pegar seu machado e volta a atacá-lo. O mestre apara com o cajado energizado, e uma luta entre cajado e machado começa. A magia iguala a luta e deixa os golpes do cajado surtirem a mesma força e impacto do machado e da força de Baltazar.

Maxmilliam é ágil e o desarma. Bate o cajado no peito dele, jogando-o contra a parede e destruindo-a. Maxmilliam avança e acerta na barriga de Baltazar e depois em seu rosto, fazendo-o rodopiar no ar e jogando-o no chão cansado.

— Pare, Baltazar, não queremos feri-lo.

Baltazar joga areia, atrapalhando a visão de Maxmilliam, e o acerta com um soco. Maxmilliam defende com um campo de força, mas mesmo assim é jogado para trás, começa a demonstrar raiva e que usará mais poder.

Baltazar o olha querendo matá-lo. Antes que ele avance, Ray entra na frente dos dois e diz para Baltazar:

— “Do jeito que você o devora rápido, eu nem sentiria dor, morreria na hora”.

Maxmilliam para por ver que Ray está tentando algo. Baltazar para de atacar, mas ainda demonstra hostilidade e aponta seu machado para Ray.

— Está brincando comigo?

— Por quê? … Traga outro frango para mim, igual ao que vai trazer para ele, vou lhe mostrar como um homem come.

A cabeça de Baltazar dói e ele fica mais consciente.

— Quem são vocês? O que está acontecendo?

— Ótimo, está mais calmo.

— Não se aproxime… Responda-me, e depois vejo se confio em você.

— Certo, vamos nos reunir todos, sem armas, sem luta, vamos só conversar e entender, pode ser?

— Acho que... Sim…

Um tempo passa. Onurb e Alexia se recompõem e sentam junto com os outros, formando um círculo com todos distantes um dos outros, desconfiados e com Ray no meio.

— Ótimo, estamos todos aqui. Onurb?

— Sim… Mas vocês ainda não se lembram?

— Não… Acho que não.

Ray olha para todos e sente que estão com olhares perdidos, pensativos, tentando encontrar alguma solução. Eles aproveitam, comem e bebem com os suprimentos que acharam. Enquanto isso, Onurb questiona:

— Mas como Maxmilliam sabia meu nome?

— Eu me lembro de que pegamos o barco em Coniuro e estávamos indo para o forte com Houri.

— Houri? Não acredito! Bem, pelo menos você se recorda de que estamos juntos.

— Sim.

— Alexia e Anirak, por que me ajudaram? Do que se lembram?

Alexia pensa um pouco e diz:

— De vocês nada, mas quando acordei e falei com Ray e Maxmilliam, eu acreditei neles.

— Por quê?

— Porque identificamos essas flores que nasceram aqui na vila e na torre, junto com magia elas se tornam poderosas, e isso explica a nossa perda de memória.

— E Anirak acreditou nisso também?

— Sim, sou perita em toxina, e já ouvi falar dessa que afeta a memória… Mas como você não foi afetado?

— Ótimo, porque eu também quero saber… Vocês estudaram essa magia, veneno, ou seja lá o que for, por que eu fui pouco afetado?

Maxmilliam se pronuncia:

— Eu tenho uma ideia do porquê… Você, Onurb, deve ser mais resistente por ter tomado vitaminas ou vacinas contra esse tipo de toxina.

— Sim, faz sentido. Meu pai, digo, meu líder faz alguns experimentos assim e nossos grupos tomam vitaminas para ficarmos mais fortes e resistentes a venenos e doenças… Mas, Maxmilliam, você é um mestre da magia, não consegue fazer a gente se recuperar?

— Não, é algo poderoso que une magia e elementos naturais, não consigo fazer algo contra sem itens necessários e não me preparei para algo assim… Mas posso fazer algo que ajude. Por favor, todos se deem as mãos.

Todos se olham com desconfiança, e Ray pede:

— Por favor, pessoal, lá no fundo vocês sentem que não somos inimigos.

Antes de seguir o que Maxmilliam pediu, Onurb questiona:

— Um momento, como você disse aquelas coisas para Baltazar? Você se lembrou?

— Não, eu vi o início de um diário que conta como conheci vocês e pensei que algo assim abrisse a memória dele.

— Entendi. Esperto, devo dizer…

— Certo, vamos?

— Vamos.

Todos se dão as mãos, e Maxmilliam faz uma aura que envolve a todos.

— Hipocampo, memória, límbico, emoção…

Ele diz outras palavras em um tom mais baixo, mas todos entram em transe, seus sentidos são desligados um a um, de em tempo em tempo. Com tudo desligado, eles dormem profundamente, só Maxmilliam fica alerta para defendê-los de algo externo.

Um bom tempo passa e eles voltam com seus sentidos sendo ligados um a um, despertando aos poucos como se o corpo de cada um se reiniciasse. Todos abrem os olhos e se sentam mais próximos, mas ainda com a perda de memória. Onurb questiona:

— Então? Alguém se lembra de algo a mais?

— Não, tentei, mas… Espere, Onurb? Tem algo nesta aventura que todos nós passamos juntos? Algum acontecimento com todos os presentes? Isso que eu fiz nos conectou e deixou nossa mente mais suscetível à informação e a raciocinar melhor, deve ter algo “chave” entre nós.

Todos pensam em algo que poderia ser, e Onurb tenta:

— Pensem nas cidades em que passamos, Coniuro? Caelum? Ducem? Citizen? Regem? Prince? Detroit?

Ninguém reage a nada, e ele continua:

— Tem Pando… Alexia, você amou a Floresta de Pando.

— Desculpe, não lembro.

— Tem os inimigos, os amigos… Úrsula, Gayko, Roury, Billy, Liader…

Ray o interrompe:

— Nomes estranhos.

Éh. Nunca foi bom com nomes…

— Nomes… Qual é o nome do meu namorado?

Todos ficam surpresos, Onurb segura o riso, e Maxmilliam questiona:

— Como assim?

— Sim, mestre, pelo que Onurb disse…

Onurb abraça Ray e diz em seu ouvido:

— Todos estão sem memória, não abusa disso colocando mais informação.

— Mas talvez esse nome possa…

— É Jhon, mas primeiro vamos fazer eles lembrarem que somos amigos, depois lembrar dos amores da vida, certo?

— Certo…

Todos olham estranho, enquanto Onurb sorri para eles. Ray pensa e questiona:

— Nós somos um grupo, certo?

— Sim.

— Qual é o nosso nome?

— Para que isso agora?

— Deve ser importante!

Nah! Coisa besta… Éh… Coé... Ko... Koètuz.

— Koètuz?

— Sim. Ei. não me olha assim, a ideia foi sua.

Todos se olham e sorriem.

— Eu me lembro!

Todos se recordam de suas memórias e ficam muito felizes, abraçam uns aos outros dizendo os nomes de quem eles abraçam. Todos demonstram estar aliviados, e Onurb fica com raiva.

— Como assim? Eu não lembro…

Anirak ri e explica:

— É claro que não, quando chegamos à vila você estava reclamando falando que estávamos no fim do mundo e coisas do tipo, foi picado por um inseto e desmaiou, medicamos você, entramos na vila procurando um lugar para dormir e colocar você para descansar.

Ray continua:

— Sim, tudo é claro agora… Nos separamos, e eu fiquei com Onurb. Quando entramos na torre, Alexia comentou de um cheiro estranho, que o ar tinha algo. O mestre usou magia, mas só ajudou no efeito dela.

— Sim, perdoem-me. Lembro que depois que usei magia eu entendi que essas plantas foram potencializadas com o poder dos três demônios que brigaram aqui há muito tempo, por isso não consegui conter e só ativei mais o poder desse efeito.

Baltazar olha para os lados e comenta:

— Eu lembro, esse cheiro me deu muita vontade de dormir e caí no sono. Quando acordei, procurei vocês, ouvi barulho dentro da torre e esperei que algo saísse… Me desculpem por ter atacado vocês.

Anirak põe a mão no ombro de Baltazar.

— Tudo bem, todos nós fizemos isso e nos arrependemos, afinal estávamos sem memória e achamos que éramos inimigos.

Ray se aproxima de Onurb e o elogia.

— Onurb foi ótimo, provou ser o novo Onurb, ajudou a todos…

Enquanto Ray o elogia, ele estufa o peito se achando o herói do dia.

— Lutou para nos ajudar, não fugiu e até se colocou no lugar de Alexia para salvá-la.

— Claro! Eu fiz minha parte, não…

Ray bate na cabeça de Onurb e o joga no chão, tentando imobilizá-lo. Onurb se debate e se defende.

Ei! Você está doido, Ray?

— “Namorado”?

Onurb dá um sorriso forçado sem graça, e Ray continua a repreendê-lo.

— Em uma situação caótica como esta, você arrumou tempo para piadas, e ainda comigo, que fui o único que acreditou em você.

— Desculpe, Ray, se coloca na minha situação, se fosse para morrer, pelo menos teria uma graça, entendeu?

— Não! Não teve graça.



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