Volume 1

Capítulo 70: O Raposo, a Gata e o Touro

— Éh. Eu disse que ela é sua amiga, não disse que ela era minha amiga, e ela também não lembra de nós. Certo? Ela é uma assassina, e assim é melhor… Vamos desarmá-la, amarrá-la e depois a interrogar, para ver do que ela se lembra.

— Vamos.

— Apesar de que, mesmo ela se lembrando de algo pequeno, não vai ajudar, ela é teimosa, intolerante e feminista, vai achar que somos inimigos. Alexia deve ajudar quando acordar.

Ray e Onurb arrumam os pertences de Anirak na mochila que ela mesma tinha deixado de lado antes de iniciar a luta e a deixam só com roupa leve e amarrada a um colchão no chão perto de Maxmilliam. eles demonstram cansaço da luta, e Onurb pede:

— Ray, volta a meditar, vê se você consegue usar magia para nos ajudar.

— Está bem, mas vê se faz silêncio desta vez.

— Tá!

Onurb revista as coisas de Maxmilliam e acha uma fruta, come e olha Maxmilliam abrir os olhos, tomando um susto com isso.

— Demônio!

Ray se assusta e se vira armado para atacar. Maxmilliam desperta aos poucos e fala, demonstrando preocupação:

— Onurb? Ray?

Antes que continuasse, Onurb o golpeia, fazendo-o desmaiar. Ray reclama:

— Por que você fez isso?

— Você viu o que Anirak fez! Não quero um mestre de magia louco por aqui, não quero morrer… ou… Ei. Espere… ele disse meu nome?

— Disse!

Hmmm... Ah... Mas ele me assustou! O que você queria? A situação já está tensa.

— Será que ele está bem?

Ray se aproxima, e Onurb o interrompe:

— Não vem, continua usando sua magia, ele só está dormindo de novo.

Ray olha feio, mas volta a se concentrar para tentar algo mágico para ajudar. Onurb sacode o corpo de Maxmilliam e fala baixo em seu ouvido:

— Max? Acorda, precisamos de você, por favor… Ray se confundiu e acertou sua cabeça.

— Eu ouvi isso! Foi você!

— Você tem credibilidade com ele, volte a fazer magia.

— Me sinto um escravo mágico.

— Ray?

— Espere…

Ray fecha os olhos novamente e sente.

— Sinto algo se aproximando.

Onurb levanta, se arma e se aproxima de Ray.

— Consegue ver quem ou o quê?

— Acho que não… É alguém poderoso…

— Deve ser Baltazar, a luta com Anirak deve ter chamado atenção dele. Cuidado, Ray, ele é grandão.

Onurb se aproxima da porta e fica escondido esperando Baltazar passar para atacá-lo. Uma sombra indica alguém se aproximando. Onurb se prepara, e Ray intervém.

— Espere!

Ray entra na frente entre Onurb e Alexia, que entra na sala. Onurb fica indignado.

— O que você está fazendo?

Alexia saca seu arco e toma distância.

— Quem são vocês? Sequestradores!

Alexia mira em Ray. Todos ouvem um barulho ao longe seguido de um tremor. Ray perde o equilíbrio e sua perna fica presa entre os tijolos quebrados do chão, impossibilitando sua esquiva.

Por impulso, Onurb entra na frente do jovem para defendê-lo. Alexia também perde o equilíbrio, cai para trás, bate a cabeça e desmaia. Onurb comenta, baixando a guarda:

— Tem coisas que não mudam…

Onurb se vira para ajudar Ray. Ele está surpreso.

— Nossa, você entrou na minha frente para me salvar?

— Não se anime, estou fazendo um tratamento para me livrar desse impulso suicida.

Ray ri e consegue se soltar da fresta. Onurb fica animado em rever os outros rirem de suas piadas e, olhando para Alexia, diz:

— Essa é nossa outra integrante… mais uma no grupo.

— Sim.

Ray e Onurb fazem o mesmo que fizeram com Anirak, a desarmam e a amarram em uma cama quebrada, mas com colchão fofo. Eles ficam um tempo pensando. Em um momento, Onurb pensa alto:

— Não sei em que dia estamos, onde estamos, às vezes até não sei quem eu sou. Será que não nos conhecemos mesmo ou colocaram memória em mim… Isso é possível?

— Calma, Onurb, você está ficando doido.

— Vocês me deixam doido! Quando o grupo se completar, eu estarei perdido, se vocês sãos já me deixam louco, imagina retardados assim.

Ray sorri e propõe:

— Vamos nos separar, ver como sair daqui e chamar ajuda, será que meu namorado está perto para nos ajudar?

Onurb ri novamente quando ouve a palavra “namorado” e concorda.

Éh uma boa, podemos fazer isso… Espere!

— O que foi?

— Separados… Por isso estávamos separados, a gente deve ter entrado e nos separamos para achar algo, e alguma coisa aconteceu… Aquele tremor, o que será que foi?

— Não sei, mas muita suposição está deixando você estressado, melhor pensar com calma e aguardar para ver o que realmente aconteceu.

— Certo.

— E você deve ir procurar ajuda enquanto eu cuido deles aqui.

— Certo, qualquer coisa eu aviso.

— Espere! O novo Onurb tem que fazer o certo…

— Novo Onurb?

— Longa história… Maxmilliam conhece você e se sentirá mais seguro em ver você bem, e vocês dois podem tentar convencer ou entender o que houve com Alexia e Anirak. Se um grandão aparecer, cuidado, ele é bem resistente, use tudo para derrubá-lo… Vou subir e ver se acho a saída ou ajuda.

— Certo, cuidado…

Onurb pega Ikarus e, olhando para Nagga e Ikarus juntas em suas mãos, responde a Ray com ousadia:

— Não, cuidado para quem me encontrar…

Onurb sorri e sai vasculhando o local todo. Ray fica alerta. Ele acha comida nas bolsas de Alexia e Anirak, come, faz uma reserva para todos comerem depois e senta na cama de Maxmilliam. Onurb passa de sala em sala, e não acha nada de interessante, vendo no máximo mais insetos e rastros por onde Anirak e Alexia andaram.

Todas as salas têm o mesmo ambiente e aspecto, rachaduras, água, plantas, insetos, sujeira e móveis velhos e deteriorados pelo tempo. Depois de subir alguns andares e chegar perto da saída, ele vê rastros de alguém diferente e suspeita serem de Baltazar.

Onurb fica mais cauteloso e em alerta, preparado para encontrar o touro náutico. Ele comenta baixo:

— Cadê você, touro velho? Será que está com a memória boa?

Onurb chega a um andar em que há a saída, analisa o local e chega a uma conclusão:

— Estamos na torre! Que ódio, ainda estamos na Torre de Outubro?

Ele se aproxima do buraco que liga todos os andares e em sua mente monta a planta do lugar, lembrando por onde passou e suspeitando como são os outros andares. Ele vê que a torre tem entre dez e doze andares, a maioria subterrânea.

Agora no térreo, ele consegue ver que o lugar é cilíndrico e bem comprido. O térreo é maior do que os outros andares por ter estrutura para manter a torre em pé por séculos. Onurb se desanima um pouco e sente que há alguém olhando para ele.

Com postura de luta, ele procura olhando ao redor. Baltazar aparece na porta que leva à saída. Está com seu machado em mãos olhando com um tom sério e hostil. Onurb baixa a guarda e diz:

— Baltazar? Lembra de mim?

Baltazar caminha lentamente em direção a Onurb, que continua a questioná-lo.

Ei! Baltazar? Sou eu, Onurb, viemos junto com Ray… Alexia, Anirak e Maxmilliam… Você está bem?

Baltazar aumenta a velocidade dos passos e avança contra Onurb, que esquiva fácil, mas Baltazar continua dando investidas, acrescentando golpes com seu machado. Onurb esquiva dos golpes e sempre que é recuado na parede usa salto e acrobacia para sair e não ser encurralado.

Ele tenta algo diferente, contra-atacar Baltazar com chutes e socos, tentando cansá-lo ou até nocauteá-lo. Golpes são acertados no tronco, peito e cabeça, fazendo-o sentir mais dor do que Baltazar.

— Que miséria, é como bater em uma parede…

— Muito fraco, homem de mão pequena.

— Para me insultar você fala, não? Touro velho!

Baltazar fica mais rápido e seus golpes, mais fortes. Onurb ainda é mais ágil e consegue esquivar. Ao aparar um dos golpes, Onurb é jogado longe.

— Péssima ideia, preciso ganhar no que sou bom.

Baltazar avança, e Onurb, sorrindo, diz alto:

— Em fuga!

Onurb corre, levando Baltazar para o lado de fora. Ele se depara com a vila da Torre de Outubro. Ela está na mesma situação que a torre, mas mais avançada, muito mais plantas tomam conta das construções que um dia foram casas, insetos maiores, gosma, lama, até árvores crescendo em alguns pontos, uma grande quantidade de cogumelos e plantas exóticas que ele não consegue identificar de primeiro momento.

Baltazar sempre chega perto de pegá-lo, porém ele consegue correr, saltar e pular nos destroços para fugir e cansar Baltazar, que reclama:

— Para de pular, não tem coragem de me enfrentar?

— É claro que não… E não estou aqui para enfrentá-lo, nós somos amigos…

— Mentiroso, você deve ser um mago ou um ilusionista. Como me trouxe aqui? Estou do outro lado do mundo…

— Você veio por vontade própria… Lembre-se: Ray, esse nome não te lembra nada?

— Você está tentando me enganar, seu maldito.

Baltazar fica com raiva e começa a destruir tudo que Onurb usa para ficar em cima ou para fugir. Baltazar também arremessa grandes pedras e troncos que encontra no caminho e consegue se aproximar de Onurb, que escorrega em musgo, dando chance para Baltazar segurá-lo firme em seu braço e jogá-lo contra uma parede velha, destruindo-a.

Depois o joga contra o chão, fazendo-o sentir uma grande dor. Onurb contra-ataca, fazendo cortes no braço de Baltazar com Nagga. Baltazar o larga e volta a atacar com o machado. Onurb rola, esquivando dos golpes que Baltazar usa com toda a sua força, e faz Nagga liberar eletricidade, melhorando os movimentos e seus golpes.

Ele consegue causar um pouco de dor em Baltazar, mas só aumenta a fúria do touro náutico, que consegue acertar socos em Onurb, que o joga para trás sempre e causando dor no local, perna, peito, costas e até na cabeça.

— Não vou mais pegar leve, não.

— Pode vir!

Onurb se envolve em eletricidade e fumaça, consegue dar vários golpes em Baltazar e esquivar de todos os golpes dele. Baltazar é acuado e fica só na defensiva. Com mais raiva, ele urra, e parece que a natureza ao redor o apoia. Onurb olha para os lados sentindo como se o urro tivesse ecoado de volta de todas as direções.

Baltazar ataca, em fúria. Onurb volta com sua técnica, mas agora seus ataques não surtem efeito nenhum. Baltazar consegue empurrá-lo contra uma viga, apara o golpe de Onurb com a mão, machucando sua própria mão, segura Nagga e recebe choque dela. Olha nos olhos de Onurb e diz:

— Se não vai me contar… vou te matar…

— Eu estou dizendo a verdade…

Onurb está imobilizado, com uma das pernas de Baltazar sobre as suas. Baltazar ameaça atacá-lo, mas para ao ouvir a voz de Alexia, que chega saindo da torre.

— Ele está dizendo a verdade, mas você está mentindo.

— Como? Quem é você?

— Baltazar, faz muito tempo que você não mata ninguém, você está blefando.

— Só porque é mulher, não pense que não vou feri-la.

— Não precisa, porque sou sua amiga, assim como ele.

Onurb fica mais aliviado.

— Você lembrou, Alexia?

— Não…

Ah? Então como…?

Baltazar joga Onurb para o lado. Com sua técnica, ele rola e não se machuca. Baltazar avança contra Alexia, que corre para dentro da torre. Ele entra e logo é empurrado por Anirak, que dá uma investida nele seguida de uma voadora.

Ela volta a atacá-lo com outra voadora, ele segura sua perna e joga-a para o lado para cortá-la com seu machado em seguida. Alexia atira flechas no machado, interrompendo o ataque dele. Anirak se afasta e se prepara para a luta.

Onurb se recompõe e olha a briga. Baltazar ataca Anirak, que faz a mesma tática de Onurb, esquiva seguido de golpes, torcendo para acertar um ponto fraco do corpo rígido e forte de Baltazar. Alexia fica ao longe atirando flechas para atrapalhar Baltazar, que se sente incapacitado por ser acertado várias vezes e não conseguir acertar ninguém. Ele para e solta outro urro.

Todos olham e se lembram do status de fúria quando Baltazar lutou contra Questtis. Seu corpo tonifica com pura adrenalina, seus olhos saltam, dentes rangem e com o sangue que escorre do corte de sua mão ele marca seu rosto, sujando metade dele. Anirak demonstra preocupação, Alexia medo e Onurb pura tranquilidade.

— Já vi tanto, que nada mais me surpreende, vamos todos morrer…



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