Volume 1

Capítulo 69: Desconhecidos no Fim do Mundo

Onurb abre os olhos, com dor de cabeça e confuso.

Hmmm... O que houve?

Ele olha ao redor e se vê em uma pequena sala escura, iluminada apenas por uma luz vinda do corredor. A sala está suja, não tem janelas. Nos cantos, alguns móveis quebrados.

Depois que os olhos de Onurb se acostumam com o ambiente, ele consegue enxergar Ray deitado de mau jeito no canto, se aproxima e tenta acordá-lo.

— Ray? Ei! Acorda, rapaz!

Ray está vivo e aparentemente bem, mas não acorda.

— O que será que houve? Minha cabeça dói, não consigo lembrar…

Onurb sai da sala e vê um corredor circular que leva a outras salas e escadas para níveis mais baixos e altos. A luz do sol entra pelo topo e desce por uma abertura que liga todos os andares. Espelhos quebrados refletem a luz, melhorando a iluminação.

O lugar parece abandonado por séculos, há móveis quebrados, paredes rachadas, a pintura está totalmente gasta, deixando só um rastro do que foi um dia. Onurb analisa e suspeita que está no Templo de Libra, por ver alguns rastros de símbolos e quadros associados.

Nos cantos, alguns insetos e plantas crescem e tomam conta de uma boa parte do lugar. Algumas poças de água indicam que choveu recentemente. Onurb ouve barulho de Ray se mexendo e volta.

— Ray? Você está bem?

Ray acorda, olha ao redor, fica nervoso, saca sua espada e aponta para Onurb.

— Quem é você? Por que me trouxe aqui?

Onurb se assusta e se aproxima.

HA?! O quê? Como assim? Não é hora de brincadeira.

Ray o ataca com sua espada. Onurb saca Nagga e apara os golpes.

Oohh! Ray? O que há com você?

— Como sabe meu nome? Onde eu estou?

Onurb fica nervoso também.

— Eu não sei, mas tenho certeza de que a culpa é sua!

— Para de mentir! Suas roupas e a postura de luta me dizem que você é um ladrão! Deve ser um mercenário!

— Olha lá! Não julgue sem saber.

— Estou errado?

Hmmm... Não…

Onurb consegue jogar Ray para trás. O jovem consegue usar a técnica que Onurb ensinou, amortece a queda dando impulso com seus membros e volta à luta rapidamente, surpreendendo Onurb e jogando-o longe. Ele cai, rola pelo chão e levanta.

Ray continua atacando, e Onurb apara e esquiva dos golpes, sem ferir o outro. Tenta empurrá-lo, desarmá-lo e continua a dialogar com ele.

— Ray, pense… Você é aprendiz de Maxmilliam, mora em Pronuntio, está procurando seus amigos Rupert, Doug, Júlio e Meena…

— Como você os conhece? Onde eles estão?

— Pelo Criador! Você não se lembra de nada? Coniuro? Caelum? Ducem? Citizen? Regem? … Espere, você não foi para Citizen… Prince? Detroit?

— Você é louco?

— Sou! Por ter aceitado esta missão, eu sabia que você nos traria para o fim do mundo, seu aziago suicida.

Onurb consegue distrair Ray com a conversa e o desarma. Ray pega sua funda e tenta prender Onurb, que, com uma boa flexibilidade, consegue reverter e prendê-lo com sua própria funda.

— Para! Já deu… Ray, pense… Úrsula te mandou para você ir para Libryans.

— Nada do que você está dizendo faz sentido para mim, eu nunca fui a nenhuma missão…

Onurb expressa ânimo:

— Sei! Você está mentindo, você me disse que fazia missões inúteis em Coniuro de pegar suprimentos e treinar com a guarda de lá e ficou chateado quando ficou doente e não pôde ir na missão com seus amigos pelo Grande Continente.

Ray fica mais calmo, pensativo e observa Onurb, que continua a falar.

— Diga-me que sua memória lembra pelo menos dessa missão… Seus amigos foram e você ficou se recuperando.

— Como sabe de tudo isso?

— Eu estou tentando te dizer, somos amigos, você foi chamado pela Úrsula e foi até Libryans. Não se lembra da rainha? Erèm?

— Não… Não lembro…

— Olha sua técnica de luta… Você luta bem assim normalmente?

— Sim…

— Não, não lutava, você treinou comigo, com Baltazar, com… Cadê eles? Por que não estão aqui…?

— Um momento…

Onurb perde a linha e grita:

— Espera você! Cansei de seguir vocês doidos por aventuras e missões de morte certa.

Ray fica calado. Onurb fica aliviado por ter gritado e conversa com um tom mais baixo e calmo.

— Bom, precisava disso… Ray, você tem um sentido natural de saber em quem confiar…

Onurb se aproxima de Ray e o olha nos olhos.

Ei! Olhe para mim, você pode confiar em mim?

Ray olha e, mesmo achando tudo estranho, concorda:

— Sim… Sinto que posso confiar em você.

— Sério? Eu falei sem pensar…

— Como?

— Deixa… Viu? Você pode confiar.

— Certo. E você é…?

— Eu sou Onurb, você se encontrou comigo no caminho da sua missão, você formou um grupo.

— Grupo?

— Sim, deixa eu terminar de falar, tá? Não me interrompa, já estamos perdendo muito tempo aqui e estou ficando nervoso de novo…

— Tá…

— Tá! Maxmilliam, seu mestre, Baltazar, um grandão fortão, Anirak, uma metida à acrobata, Alexia, a figurante do grupo, e você. Certo? Está entendendo?

— Sim… E por que estamos aqui? Cadê esses outros?

— Viemos em busca do Templo de Libra, devemos estar nele.

— Templo de libra? Mas isso é do outro lado do mundo e escondido, como achamos o templo?

— Eu não sei! Eu falei desde o começo… Bom é que você ficou mais consciente com essa perda de memória, pena que esse bom senso vai passar. E não sei onde estão os outros, acho que minha memória também se foi, não lembro como chegamos aqui.

Ray se solta e, de pé, se arruma olhando ao redor.

— Este é o Templo de Libra?

— Não sei também, eu acho que sim, pois estávamos a caminho dele.

— Qual é a última coisa de que você se lembra?

— Que deixamos seu namorado descansando e… Não lembro mais…

— Namorado?

— Foi um choque para todos, você descobriu que é um Yaoi.

— Yaoi?

— Desculpe, um descendente de Ivo.

Ray fica espantado e coloca as mãos na cabeça.

— Como?

— Ninguém escolhe, Ray, você nasceu assim. Mas depois deu tudo certo, dois dos seus amigos também são, não lembro quais são.

— Sim, Júlio é um descendente.

— O outro também, o Dougo.

— Doug?

— Sim, esse também é, várias descobertas nessa sua missão.

— Como pude me esquecer de tanta coisa… Eu beijei esse namorado?

— Sim, e não parou por aí, fez muitas coisas… Enfim, não quis ouvir muito quando você se descobriu e ficou falando para todo mundo dos seus feitos nessa área.

— Estranho… Não me sinto bem.

Ray demonstra estar espantado e com a pressão sanguínea baixa. Onurb esconde o riso e olha ao redor.

— Pense nisso depois, seu homem e seus amigos te esperam lá fora. Você já aceitou isso, Ray, seja forte!

— Certo…

Ainda desorientado, Ray segue Onurb, que olha o lugar.

— Ótimo, um recrutado… Mas será que os outros também estão assim como você?

— Não sei.

— Ray, você é inteligente, treinou magia, lembra de algo que pode afetar a memória?

— Sim, tem algumas magias de mestre de maldição que podem fazer isso, tem também venenos, plantas…

— Mestre de maldição? Seu namorado é um, será que ele nos traiu?

— Será que eu briguei com ele?

Onurb ri alto e, por impulso, diz, fechando a boca:

Ah! Desculpa!

Ray fica sem entender, e Onurb continua:

Nah, vocês não brigaram, pode ser um novo inimigo… E você, Ray, qual é a sua última lembrança?

— Eu estava em Pronuntio…

— Nem continue, não ajuda em nada, faz muito tempo que você saiu de Pronuntio… Dia, você se lembra do dia?

Ray pensa, sente uma dor de cabeça e lembra:

— Sim, era dia treze de setembro.

— Ano?

— Mil quinhentos e noventa.

— Pelo menos estamos no mesmo ano… Mas é claro que estamos, seus amigos saíram em missão nesse ano e você se lembra disso. Viu? Estou ficando louco já, não sou o lado pensante do grupo, precisamos achar os outros.

— E você, que dia era?

— Não lembro, pegamos o barco voador do seu namorado dia dez ou onze de outubro e chegamos por volta do dia vinte ou vinte e três, eu acho.

— Final de outubro! Esqueci de muitos dias, então… Você disse barco voador? Meu namorado tem um barco voador?

Onurb ri de novo e comenta baixo:

— Isso nunca deixa de ser engraçado.

Segura o riso e responde:

— Sim, viemos para cá nele… Olhe!

Onurb entra em uma sala grande que parece um dormitório com camas quebradas, colchões velhos, armários e barris. Em uma cama, ele vê Maxmilliam deitado com as pernas e os braços juntos, o cajado ao lado no chão e a bolsa caída do outro lado da cama.

Quando Ray o vê, ele corre, agitado.

— Mestre? Mestre?

Onurb entra com cautela e pede para Ray:

Ei! Calma, Ray, não fale alto, não sabemos se estamos sós.

— Mestre? Acorde.

Ray examina Maxmilliam e certifica-se de que ele está vivo.

— Ele está bem, eu acho, só está desacordado.

— Você conhece magia, Ray, sabe usar algo para lembrança ou achar os outros?

— Posso tentar.

Onurb se aproxima de Maxmilliam e senta na cama.

— Bom, então tente, precisamos de toda ajuda possível.

Ray fecha os olhos e se concentra, enquanto Onurb pensa alto.

— Estranho, chegamos aqui, estamos separados e estamos com os nossos pertences, pelo menos não levaram nada meu… Ray? Alguma coisa?

— Paciência, estou tentando.

— Então tente mais.

— Preciso me concentrar, se puder fazer silêncio…!

— Certo, certo… Vou fazer silêncio… Fim do mundo… Templo de libra… Não?

Onurb fica com medo.

— E se foram os demônios?

— Assim você não ajuda.

— E se foram os demônios que fizeram isso?

— Que demônios?

— Você falou do conto delas, as arribadas, erridiadas, erradicas…

— Erráticas?

— Não sei! Você é o cabeça-de-ferro do grupo, diga você!

— Calma, é só um conto, não deve ser nada.

ÉH! Você é igual ao seu mestre! “Não tem nada de mais”, e depois, mortos! Tudo acaba em sangue e muita, muita dor.

Ray e Onurb ficam em silêncio por uns segundos e ouvem barulho. Onurb faz sinal para Ray fazer silêncio e se aproxima da porta, falando baixo:

— Que seja amigo. Que seja amigo!

Onurb olha para fora da sala e não vê ninguém. Ele sente Nagga em sua mão irradiar energia e fica desanimado.

— Não acredito…

Chama Ray fazendo sinal com a mão. O jovem se aproxima, Onurb faz sinal para ele sair. Ray desconfia que tem algo ruim e comenta baixo para o outro ouvir:

— E se tiver inimigos?

— Tem não, é sua amiga Anirak…

Onurb empurra Ray para fora e termina a frase:

— Mas provavelmente ela não se lembra disso.

Ray quase cai e fica em postura de luta. O ar ao redor começa a ficar distorcido. Ray estranha.

— Minha visão… O que está acontecendo?

Onurb diz:

— Se defenda! Atrás de você, Ray.

Ray se vira atacando o ar. Um ataque surge por suas costas. Onurb intervém aparando e socando o inimigo, que está com a maior parte do corpo invisível, podendo se ver só a região dos olhos e algumas partes do tronco.

Nagga ressoa com Ikarus, revelando Anirak como sua inimiga. Ray questiona:

— Ela é Anirak?

— Sim, a Sombra de Alfor.

— Alfor? O antigo…

— É! É! Sem estender a história, por favor.

Anirak interrompe a conversa dos dois lançando lâminas neles. Onurb, por lutar contra e junto com ela várias vezes, consegue prever os seus movimentos e apara e esquiva dos golpes. Ele afasta Ray da luta e avança contra Anirak.

No início, demonstra superioridade, conseguindo desarmar Anirak várias vezes e acuá-la. Todas as vezes, com sua acrobacia e boa flexibilidade, ela recupera Ikarus e volta a atacar Onurb, e a situação começa a piorar para ele.

Anirak fica mais inteligente e ágil com a luta, mudando a tática e acrescentando chutes e socos para derrubá-lo. Onurb consegue se envolver em eletricidade, e Anirak em fumaça. Parece que cada um tem cinco braços e cinco armas.

O som deles se batendo toma conta do andar, podendo se ouvir dos outros lugares. Ray fica olhando de longe e se aproxima para tentar ajudar. Em um momento, Anirak o ataca, e Onurb o defende.

Em seguida, ela joga Onurb longe e avança contra Ray, que mesmo assustado consegue se defender e aos poucos demonstra estar à altura da luta, conseguindo usar tudo que aprendeu. Ele fica surpreso com seus próprios movimentos, por não se lembrar de sua evolução.

A luta fica com a autodefesa de Ray cansando Anirak. Onurb aproveita uma brecha e acerta Anirak em cheio. Ela usa acrobacia para não cair de mau jeito. Onurb prevê esse movimento e intervém, acertando-a novamente e tirando Ikarus dela, que demonstra ficar com raiva e avança contra ele

Ray entra na briga e derrota Anirak. Onurb bate nela para que desmaie. Ray não gosta da sua atitude.

— Não precisava disso, ela não é nossa amiga?

— Éh. Eu disse que ela é sua amiga, não disse que ela era minha amiga, e ela também não lembra de nós. Certo? Ela é uma assassina, e assim é melhor… Vamos desarmá-la, amarrá-la e depois a interrogar, para ver do que ela se lembra.

— Vamos.



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