Volume 1

Capítulo 68: Arraia do Céu

— Clã de ladrões e assassinos!

A pipa é um conjunto de várias outras. Ela se desfaz, revelando essas pipas menores, e em cada uma há alguém preso voando e seguindo em direção ao Montgolfier. Todos passam voando e lançando projéteis diferenciados, lâminas, adagas, pontas de metal e frascos que ao quebrarem soltam um gás estranho, aparentemente nocivo.

Muitos focam o balão para que todos caiam. Jhon ergue seu cajado por cima de sua cabeça, uma energia toma o cajado e uma aura envolve o Montgolfier, formando escamas mágicas iguais às do cajado de Jhon, defendendo o Montgolfier dos projéteis.

Ele ainda tenta proteger seus amigos, mas não consegue, por se sentir fadigado. Cambaleia, e antes de cair Kyran o segura. Ele fica em posição defensiva para defendê-lo e usa seu poder para manter a fadiga de Jhon estável para que mantenha o controle do balão.

Os inimigos percebem que não conseguiram atacar a embarcação voadora e partem para atacar os tripulantes, contornando a rota e voltando a lançar os projéteis. Alguns saltam e invadem o convés, atacando qualquer um mais próximo. Mesmo com o braço ruim, Ray consegue esquivar e aparar os projéteis.

Os frascos, ele consegue pegar com sua funda e arremessar para fora, para que não atinjam seu grupo. Ele tenta atingir os atacantes, mas eles conseguem esquivar. Onurb consegue pegar alguns projéteis no ar e lançar de volta, cortando e furando algumas pipas, o que faz os inimigos caírem. Alguns caem no convés, e outros morrem por caírem de uma altura grande.

Alexia usa seu arco e flecha e consegue acertar alguns. Ela é ferida algumas vezes por lâminas. Baltazar consegue aparar muitos projéteis, os que o acertam não surtem efeito. Ele é o que menos acerta os inimigos, mas quando consegue pegar alguém na pipa, o derrota em um ou dois golpes, deixando seu oponente muito ferido, mas não a ponto de matá-lo.

Anirak se envolve em fumaça e dá suporte para todos correndo pelo convés e ajudando um a um a atacar e a defender. O convés enche de inimigos. Baltazar se posiciona na porta para que não entrem, assim ele defende Maxmilliam, que ainda está se recuperando, e Lili. Com seu machado, Baltazar intimida a todos, mas é atacado.

Todos aparentam serem homens, estatura entre baixa e média, porte físico médio, usam roupas leves sem armadura, luvas de couro, um pano enrolado na cabeça, deixando só os olhos à vista. Todos usam armas diferentes e incomuns, lâmina presa em correntes, espada de quatro a seis pontas, bastões com lâminas, espadas de lâminas tortas ou bem maleáveis.

Todas as armas são diferentes do comum, porém mostram ser capazes de ferir e matar como qualquer outra. Baltazar consegue derrubar alguns, fazendo os outros mirarem em outros alvos. Onurb, com sua Nagga, consegue aparar, esquivar e ferir vários sem sofrer nenhum arranhão.

Alguns parecem ter um nível de luta maior do que os outros e conseguem acuar Onurb para que não ataque os mais fracos. Alexia luta com um, mas é empurrada por outro que vem voando na pipa voadora e a joga longe. Ela usa a técnica que aprendeu antes e consegue cair sem sofrer danos, orgulhosa de si mesma.

— Que alívio! Antes essa queda seria feia.

Ela volta a atacar e toma um frasco na cabeça, que estoura e faz uma nuvem de gás em torno dela, que cai desmaiada. Anirak, depois de derrubar alguns do Montgolfier, vê Alexia precisando de ajuda e vai ajudá-la.

Ainda envolvida em fumaça, Anirak dá grandes saltos e acrobacias, dificultado ser acertada e dando impulso para seus golpes, ganhando o destaque na luta e a atenção de inimigos de níveis maiores.

Kyran coloca Jhon em uma posição confortável e que ainda conduza o Montgolfier sem problemas e com seu martelo de guerra nocauteia e joga para fora do Montgolfier vários inimigos, deixando a área do leme vazia e protegida.

Ray é cercado, e usa magia para encantar sua espada e parte para cima de todos. Consegue recuar os inimigos, demonstrando muita maestria e determinação. Inimigos de níveis maiores se aproximam e são derrotados. Ray usa tudo que aprendeu com seus professores de luta.

Em um momento, um dos inimigos alerta os outros:

— Cuidado, ele é um Praeteritum.

Ray se anima com o elogio e continua mostrando suas habilidades, unindo golpes fortes, agilidade, defesa, esquiva e até magia em sequências de golpes impressionantes, não dando chance de os inimigos pensarem em como derrotá-lo.

O número de inimigos diminui rápido. Um deles anuncia para os outros:

— Vamos, não são viajantes comuns.

Outro dá um grande assobio, e todos recuam e pulam para fora do Montgolfier, fugindo. Até os desacordados levantam sozinhos ou com ajuda de outros para fugirem. Eles são resgatados no ar por outros em pipas um pouco maiores e planam para longe.

Ray e os outros param de atacar depois que eles anunciam a fuga e se reúnem para ver se está tudo bem. Baltazar pega Alexia, que está desacordada, e a leva para dentro. Anirak vai junto. Ray se reúne com Kyran, Jhon e Onurb no leme.

Ao iniciar a conversa, uma explosão destrói metade do Montgolfier, e todos são jogados ou caem pelo impacto. Jhon cai e, com o balançar, é jogado no convés, fazendo-o perder o controle do Montgolfier, que começa a cair. Ele levanta com muita dificuldade, crava seu cajado entre as madeiras e pede:

— Por favor, siga meu pedido, se mantenha no ar…

Jhon sente sua força chegar à zero, mas ainda se mantém de pé segurando o cajado e pedindo para Deus salvar a todos. Ele sente outra mão pegar em seu cajado. Maxmilliam surge, sua aura toma o cajado e o corpo de Jhon, sentindo sua força retornar aos poucos.

— Muita turbulência, rapaz?

Jhon sorri com alívio. Maxmilliam aponta sua outra mão para o balão e controla a gravidade em volta do Montgolfier, mantendo-o no ar e sem instabilidade, deixando todos mais tranquilos e seguros. Eles correm para se reunir no convés, e Maxmilliam diz:

— Essa magia não durará por muito tempo, temos que descer para a terra.

Jhon responde:

— O senhor consegue aguentar mais meio dia? É a distância que estamos da torre.

— Sim, posso aguentar.

— Ótimo.

— Você está esgotado, vá descansar.

— Não posso, disse que levaria todos vocês…

Jhon é interrompido por Kyran, que o puxa, o ergue colocando-o em seus braços e o leva para as cabines para descansar.

— Não foi uma opção, você vai descansar, agora!

Ray o segue e questiona os outros:

— E Alexia?

Lili responde:

— Vou cuidar dela, Baltazar já a levou para a cabine, pelo que eu vi esse gás não é mortal, só deixa desacordado.

Onurb cruza os braços e pensa alto:

— Incrível, mesmo treinada para se manter na luta, não cair, o destino arruma um jeito de abatê-la.

Anirak questiona:

— Como assim, abatê-la? Ela não foi abatida.

— Nada, eu só pensei alto, este grupo é cheio de azarados mesmo.

— Você é o pior, com certeza.

Anirak corre para a cabine de Alexia.

— Vou ajudar a cuidar da minha amiga, tenho experiência com esses venenos e artimanhas de assassinos.

Onurb se junta a Ray e Maxmilliam no convés.

— Tivemos poucos danos, o bom é que estamos todos bem.

— Sim.

— E o próximo passo? Jhon disse que estamos chegando, o que tem nessa torre?

— Acredito que esteja abandonada.

Onurb demonstra preocupação.

— Abandonada? E os boatos das criaturas?

— Devem ser só boatos… O que você acha, mestre?

— Devem ser só boatos, devem ser animais comuns que passam por lá… Se estamos indo atrás da lenda das Erráticas, a torre mostrará o caminho a seguir, não devemos nos preocupar com o que há lá.

Onurb olha para Ray e Maxmilliam lembrando-se dos erros deles e fala baixo. Maxmilliam não consegue escutar.

— O que foi, Onurb?

— Nada… Eu não conheço essa lenda, essas “Erradas” … Pelo que eu imagino, Ray sabe de tudo.

— Não é para tanto…

— Diga a verdade, desde que iniciamos esta missão, você está doido para contar essa lenda.

— Um pouco.

— Fala logo, mas não se empolgue, conte-me o necessário.

— Certo… Na Guerra-D, todos os demônios foram exterminados, mas antes existiam clãs de cidades dominadas por eles. Uma magia foi usada para fundir humano com demônios. Três mulheres fizeram isso, adquiriram poder e imortalidade, não podem morrer por causas naturais, e aproveitaram a vida de uma forma intensa e sem equilíbrio, tendo muita luxúria, cobiça, gula, entre outros aspectos egoístas e não saudáveis para si mesmas. Atrás de poder, elas invadiram templos de alguns Electi pregando peças, roubando e profanando os locais. Com o tempo, elas ficaram inimigas delas mesmas, o poder e a essência do demônio estavam dentro de cada uma delas, então a irmandade e a parceria foram embora em pouco tempo. Elas se mantiveram unidas pelas necessidades, pois juntas eram fortes para enfrentar qualquer inimigo. Hospedaram-se na vila da Torre de Outubro e brigaram. Sua briga causou a morte de toda a vila e envenenou a terra, impedindo que “vida” se mantenha lá, plantas, animais e pessoas. A torre ficou inabitável por décadas. Na época da briga, elas seguiram o sinal do templo do Electi.

— Libra?

— Sim, o Libriano era o mais presente dos Electi, rondando todo o mundo, por isso seu templo era vazio, ele não ficava lá, elas aproveitaram e tomaram para si.

— Acabou?

— A parte comprovada sim, o resto são suposições.

— Achei que era mais simples… O que pode ter acontecido com elas? Morreram?

— Uma das suposições sim, junto com todos os demônios na Guerra-D. Outros dizem que Libriano as matou quando voltou. Outra diz que ele nunca voltou e elas ficaram presas lá.

— E o que tem de legal ou atrativo nesse conto?

— A avareza delas… Dizem que elas levaram os tesouros que conseguiram em Arbidabliu, além dos tesouros do templo de Libra, que sempre foi intocado. Qualquer que tenha sido o destino delas, se qualquer uma dessas suposições estiver certa, lá tem um grande tesouro e com certeza armas Zordrak.

Os olhos de Onurb brilham.

— Muito interessante… Mas, Ray, meu pequeno aprendiz, da próxima vez que tiver uma história assim, você resume com: “Tem muito ouro, riqueza e itens únicos”, que é o mais importante.

Maxmilliam olha feio para Onurb, que se defende:

— O quê? É verdade! De que adianta saber desses demônios? Se elas estiverem lá, teremos problemas, não? Seu amigo está indo lá sozinho?

Ray demonstra desânimo. Onurb percebe e continua:

— Apesar de que todas as suposições indicam que elas não estão mais lá, não? … E seu amigo é experiente, deve se manter até que a gente chegue.

Ray demonstra um pouco mais de ânimo.

— Verdade! Como tomamos esse caminho mais rápido, devemos estar próximos dele, vamos ver se tem algum rastro na torre, talvez chegaremos antes dele e aguardamos para saber a necessidade de ir até o templo de Libra.

Maxmilliam comenta:

— Se ele está atrás do templo, deve ter algo para ajudar os outros amigos, ou é um ponto de encontro, pode ser que eles marcaram na torre, e não no templo. A informação não diz que ele quer encontrar esses demônios, só diz que ele está indo nessa direção.

— Sim, verdade, mestre. O ruim do atraso e da ansiedade é criar várias suposições.

— Exatamente, então não pensaremos muito. Chegaremos lá à noite, ajudem os outros a arrumarem as coisas, o pouso pode ser turbulento, não sabemos se teremos mais imprevistos.

Onurb comenta:

— Ray e Alexia a bordo, certeza que terá muitos imprevistos, não?

Onurb ri e coloca seu braço em volta do ombro de Ray, mudando o humor dele. Ray ri também e segue junto com Onurb para dentro do Montgolfier. O resto do dia passa com Anirak, Lili e Kyran cuidando de Jhon e Alexia.

Onurb, Baltazar e Ray arrumam tudo para desembarcar, vendo também os danos que Montgolfier teve e se perderam algo, além do casco e alguns móveis. Maxmilliam, por estar renovado e descansado, consegue guiar Montgolfier, chegando à noite na Torre de Outubro.

Ele desce perto da vila onde há a torre, e todos saem para o convés prontos para desembarcar. Antes de sair, Ray entrega a Chave Mestra para Jhon, que está dormindo. Segura sua mão e agradece.

— Obrigado, amigo, voltarei logo para unir nossos grupos e depois fazer uma festa em Libryans para comemorar.

Do lado de fora, Lili informa ao grupo:

— Jhon ainda está muito cansado, nos desculpem pelos imprevistos, ficaremos aqui com ele, qualquer coisa podem voltar até nós.

Ray sai e agradece.

— Muito obrigado por tudo, e na verdade eu é que peço desculpas pelos imprevistos.

Onurb ri.

— Com certeza a culpa é do aziago.

Alexia o empurra.

— Para, não é hora.

Lili sorri e diz:

— Vamos ficar aqui até ele melhorar, se vocês voltarem e não nos acharem, é que voltamos para Libryans.

— Certo! Diga a Jhon que eu sinto muito por não ficar…

— Não se preocupe, Ray, sabemos de sua missão, ele só está cansado, usou muito de sua energia e só precisa descansar, temos comida e água, e Kyran é um bom defensor, ficaremos bem.

— Obrigado de novo… Pessoal, estamos prontos?

Ray abraça forte Lili. Baltazar, animado, desce rápido do Montgolfier.

— Finalmente terra firme! Eu estou pronto.

Ray, Maxmilliam, Anirak e Alexia descem olhando ao redor. Com magia, Maxmilliam acende tochas para cada um. Todos cumprimentam Kyran e Lili de longe e seguem para a vila da Torre de Outubro. Eles são abordados por Onurb.

— Um momento…

Todos param e olham. Lili e Kyran também. Onurb continua:

— Está noite…

Anirak questiona:

— E o que tem a ver?

— Por que não vamos de manhã cedo? Está noite, num território desconhecido, dois aziagos no grupo…

Anirak interrompe, aproximando-se dele:

— O que houve com o novo Onurb? Aventura é bom, passamos por tanto, o que pode acontecer agora?

Onurb olha para Ray e Alexia.

— Eu não duvido de mais nada…

— Para! Vamos logo.

— O novo Onurb ainda aprecia a vida que tem…

Onurb olha para todos. Ninguém lhe dá muita atenção, e ele começa a ser sarcástico:

— Está bem, então vamos, o que pode acontecer num território longe de ajuda e reforço?

Todos riem e seguem para a vila. Onurb comenta no caminho:

— À noite, terra amaldiçoada e deserta… Indo atrás de demônios. Escreverão livros e contos em nosso nome, “Os tolos”, “Os amantes de aventuras mortais” … “Os órfãos”…

Eles riem, e Alexia diz:

— Onurb é muito dramático.

— Dramático? Sou realista.

Ray comenta:

— Viu? Você será famoso, poderá escrever você mesmo e até autografar nosso conto, um ótimo dramaturgo…

— Se sairmos vivos, sim… Para mim só terá uma canção triste e melancólica do grupo que se perdeu na costa em busca de demônios. Só por essa introdução, vários vão gostar, não?

— Não tem demônios, Onurb, quais as chances?

— Com você, as chances são grandes.

Todos chegam à frente da vila rindo dos comentários de Onurb, que demonstra medo e fica recuado, olhando para todos os lados. Eles observam o lugar, e Onurb pensa alto:

— Eu sou o único racional aqui, vocês parecem desconhecidos… Sim, desconhecidos no fim do mundo.



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