Volume 1

Capítulo 65: A Última Missão

Tarde, 10 de outubro de 1590. Libryans, Castelo Winfrey.

Ray acorda desorientado, ainda sentindo a conexão com a memória de Ducem. Maxmilliam passa a mão em sua cabeça e, usando magia, encerra essa conexão, deixando o jovem mais tranquilo e calmo.

— Está melhor?

— Acho que sim.

— O que houve?

— Onde?

— Como “onde?”? Onde você achou um Erno Rubik?

— Erno Rubik?

— Do que você se lembra?

— De Ducem.

— Ducem? Mas faz mais de duas semanas que você saiu de lá.

Ray olha ao redor e vê que está no quarto onde os Koètuz dormem desde que chegaram a Libryans. Todos estão ali, Alexia, Anirak, Baltazar e Onurb. Ray se lembra de tudo e levanta rápido da cama.

— Lembrei! Sim, eu estava investigando o laboratório de Dexter…

— Dexter? Mas, Ray…

— Desculpe, mestre, mas fiquei empolgado em ver onde ele fazia suas pesquisas e invenções.

Onurb pega algo para comer e comenta:

— Viram? Nem precisava de tanto alarme, ele estava espiando por aí.

Anirak se aproxima.

— Mesmo assim, ficamos preocupados. O que houve nesse laboratório, Ray?

— Eu fui lá com Jhon…

— Jhon? Quem é Jhon?

— Onde vocês me acharam? Ele não estava junto?

— Não, você foi trazido por guardas que te acharam perto do crematório.

Maxmilliam lembra:

— Sim, um dos guardas falou que tinha outro que também estava desacordado, deve ser esse “Jhon”. Onde você o conheceu?

— Na biblioteca, ele falou algo sobre Doug, ele vai nos ajudar.

Onurb demonstra desânimo.

— Viram? Perdi meu dia andando pelas cidades procurando informação que ele achou sozinho.

Anirak fica brava com Onurb.

— Não começa, você nem andou por “cidades”, você foi o que menos andou.

— Mas achei mais informações.

— Não se atreva!

Baltazar deita na cama, e Alexia fica confusa.

— Tudo isso não está ajudando.

Maxmilliam toma a frente da conversa.

— Acalmem-se! Ray, ontem o Koètuz se dividiu para achar informações se os seus amigos apareceram por aqui em Libryans. Andamos muito e, filtrando as informações, concluímos que Doug esteve na cidade alguns dias atrás, ele parecia estar bem cansado e com roupas diferentes, acreditamos que ele estava disfarçado. Ele conseguiu informações de algum lugar na Torre de Outubro na costa e foi até lá… E você? Conte-nos o que houve ontem.

— Eu conheci o Jhon na biblioteca. Ele usou uma magia em mim, mas teve um efeito estranho, nossas memórias se conectaram, eu vi algumas memórias dele e ele viu algumas minhas. Estranhamente, ficamos amigos, achamos pistas do laboratório de Dexter, entramos nele e lá achamos uma Erno Rubik. Ela conectou nossas memórias, e eu vi tudo que aconteceu em Ducem, a guerra que houve e até ela ser destruída antes que Onurb e eu chegássemos. Antes disso, Jhon viu minha memória dos meus amigos e identificou Doug, dizendo que ele pediu informações sobre essa Torre de Outubro. Eu pedi a ajuda dele para nos levar lá em troca da Chave Mestra. Antes de eu ir atrás de vocês para dizer tudo isso, o cubo me mandou para esse passado, e agora estou aqui.

Onurb se aproxima de Ray olhando bem nos olhos dele e começa a falar.

— Deixa eu ver se eu entendi, você virou amigo de um estranho que usou magia hostil em você, entrou num lugar que poderia ser uma armadilha, vai dar uma das armas mais poderosas do mundo só para ele te levar para um lugar aonde qualquer um pode ir e esse tal cubo “Erno Rubik” mostrou algo do passado e deixou sua mente confusa, o que fez você falar todos esses fatos embaralhados. É isso?

Ray fica confuso.

— Você falando assim parece ruim, mas vai dar certo.

Onurb senta na cama de Ray.

— Olha, o eu de antes iria reclamar, dizer que você é um aziago que vai nos levar para o fim do mundo para nos matar por não ter ficado satisfeito com o que fez até agora, mas o eu de agora concorda com você, se você acha que essa aventura é válida, que “Tudo vai dar bom”, então vamos.

Todos se olham. Alexia ri, e Onurb questiona:

— Max, nosso ancião, explique melhor tudo isso que Ray falou, essas partes mágicas, eu não entendi nada.

— Você não mudou muito, não?

— Vamos lá, você tem que dizer que estou diferente, não? Ontem, quem achou mais informações?

— Foi você, mas você não deve se vangloriar sozinho, o grupo é como um só.

— Sei, me desculpe. Mas nos diga, o que aconteceu com Ray? Você conhece esse Jhon também? Você foi na biblioteca esses dias.

— Não conheço esse Jhon, mas se ele usou magia em Ray e ela teve esse efeito de conexão, ele com certeza é mestre da maldição. Essa conexão raramente acontece quando os envolvidos têm aspectos iguais, motivações, pensamentos, caráter e às vezes até aparência física parecida.

Onurb ri e pergunta:

— Então você está nos dizendo que Ray achou a “alma gêmea” dele?

Ray e Anirak fazem cara de bravos, Alexia ri junto com Onurb, e Maxmilliam responde:

— Grosso modo, sim, mas não da forma romântica como você está pensando, por isso eles se sentem como amigos de décadas.

— Mas se eles fossem descendentes de Ivo, seria romântico?

— Acho bem possível que sim.

Anirak se aproxima e empurra Onurb para longe de Ray.

— Para de ser idiota, você está fazendo perguntas até ouvir o que quer. Max, continue.

— Essa conexão deve ter animado os dois a seguirem as pistas que levam ao laboratório de Dexter, que não é muito segredo. Quando ele foi morto, o laboratório foi revistado para ver se tinha algo importante, mas muitas das coisas dele foram deixadas como estão. Esse cubo mágico que eles encontraram é raro, ele é usado para você ver algo à distância, até coisas que já aconteceram e, com muito poder, o que pode acontecer, mas sem plena precisão do futuro. Esse cubo desaparece quando é usado. Ray está um pouco desorientado por causa do efeito que o fez “viajar” para o passado. Ele já está bem, são bem passageiros esses efeitos.

Onurb pega seus itens e se arruma.

— Ótimo, agora vamos ver esse tal Jhon, vamos saber mais sobre ele.

Baltazar levanta da cama.

— Onurb está animado, até parece o líder agora.

— Alguém precisa ter pulso firme, já que Ray está cansado.

— Muito bom, porque na costa onde fica a Torre de Outubro tem várias criaturas, e um bom líder será necessário.

— Mas até lá Ray já estará de volta, eu tenho pulso firme, não temeridade.

Todos riem ou sorriem e se arrumam para ir atrás de Jhon. Maxmilliam questiona Ray no caminho.

— Ray, você que teve conexão com ele, pode nos dizer mais?

— Sim, ele é um Reilum-S, tem em torno da minha idade, treinou bastante para ser um mestre da maldição, e eu senti que a Chave Mestra será bem mais útil com ele do que comigo. Essa conexão pode alterar meu julgamento, me deixando mais fácil de ser enganado por ele?

— Não, essa conexão é genuína, se você sente que ele é seu amigo, então ele é. Ele também sente o mesmo.

— Bom saber.

No caminho à procura de Jhon, o Koètuz conta mais detalhes para Ray sobre as buscas de informações do dia anterior, o que o deixa mais animado em encontrar Doug. Perguntando aos guardas, eles descobrem que Jhon foi levado ao seu quarto. Ray lembra onde é e guia o grupo até lá. Uma mulher com alguns aspectos masculinos abre a porta.

— Como posso ajudá-los?

Onurb ri e comenta:

— Esse é o Jhon? O mago?

— Não, eu sou Einar, mas pode me chamar de Lili, sou amiga de Jhon, e vocês?

— Desculpe o incômodo, eu sou Ray, estes são Maxmilliam, Anirak, Alexia, Baltazar e Onurb. Estamos procurando Jhon, ele foi achado hoje mais cedo…

— Sim, ele já está melhor, ele comentou sobre você. Entrem.

Todos entram no quarto. Quando Onurb passa por Lili, ela comenta com ele:

— Não sou uma descendente de Ivo.

Onurb a olha e questiona:

— Como? Você não gosta de homens?

— Sim…

— E você é homem?

— Não, eu nasci homem, mas com a mente de uma mulher. Com a ajuda de Jhon e a magia dele, eu finalmente me tornei uma mulher por completo, ou melhor dizendo, “A Mulher”.

— Completo?

— Sim, quer ver?

— Não, obrigado… Max?

— O que foi, Onurb?

— Como isso é possível?

— Dexter fez uns estudos sobre transformações permanentes. Jhon, por ser um mestre da maldição, tem mais conhecimento e dons para fazer isso. Com alguns rituais, itens mágicos, artefatos, magia e conhecimento, isso é possível.

— Nunca tinha ouvido falar sobre isso.

Lili demonstra ânimo e comenta:

— Bem, não gosto de me gabar, mas eu sou a primeira a conseguir isso, tenho planos de ir para Pando expandir esse conhecimento.

— Expandir? Por quê?

— Porque muitos acham que somos como descendentes de Ivo. Nada contra eles, mas somos um grupo que sofre mais preconceito ainda, saber mais sobre pessoas como eu pode ajudar a combater essa rejeição. Dizem que somos contra a criação do próprio Criador, por querer mudar, porém ninguém comenta das mudanças de corte de cabelo, cor dos olhos, tamanho, boca, nariz, várias transformações que muitos fazem que aparentemente não são “contra” a vontade do Criador.

Ray se aproxima de Jhon, que está acordado e deitado em sua cama.

— Oi, amigo, tudo bem?

— Sim. Aquele cubo nos pegou em cheio.

Os dois riem, e Jhon continua:

— Foi terrível o que aconteceu em Ducem, guerras são realmente desnecessárias, muita morte e destruição para nada.

— Sim, e por motivos superficiais de poderosos.

— Mudando de assunto, esse é o grupo de que você tanto fala? Os Koètuz?

— Sim, estes são…

— Não precisa…

Jhon levanta e cumprimenta um a um dizendo seus nomes.

— Baltazar, Anirak, Alexia, Maxmilliam e Onurb. Prazer em conhecê-los, eu sou Jhon Ryan Hantler, ao seu dispor.

Todos o cumprimentam. Onurb se afasta de Lili e puxa assunto com Jhon:

— Então você é a alma gêmea de Ray?

— Não diria alma gêmea…

— Nada, vocês são ligados, uma conexão rara dessa tem que ser admirada… Agora me diga, Libryans até a Torre de Outubro na costa é uns trinta dias de viagem, por que levar você? Menos comida, menos água, e será que você consegue enfrentar os desafios que podem vir? Acredite, aquele rapaz chamado Ray é um ímã para homens maus e até criaturas raras. Você acha que viu de tudo, uma semana com ele você verá um mundo que acha que não existe.

Anirak se aproxima e olha brava para Onurb.

— Agora diga o que o “novo Onurb” diria.

— Ele diria exatamente isso! O novo diz a verdade, Ray é um azarado… E me responda, por que levar você, Jhon Rina Rantel?

Jhon ri e, bem-humorado, responde:

— Pois consigo fazer esses trinta dias virarem dez.

Todos ficam surpresos pela afirmação de Jhon, e Onurb pergunta:

— Dez dias?

— Sim, e esses desafios que podem aparecer serão diminuídos para quase zero.

Onurb olha para todos e abraça Jhon.

— Bem-vindo ao grupo, irmão! Você deveria ter nos encontrado em Coniuro, poderia ter nos ajudado muito.

Todos se olham sorrindo e achando ruim Onurb ficar tão despojado. Um homem bonito entra no quarto. Todos o olham, e Jhon apresenta:

— Esse é meu amigo de infância, Kyran.

Kyran é alto, forte, tem um rosto bonito, usa armadura leve, bonita, entalhada e com símbolos, aparentando ser um guerreiro de fé. Todos o cumprimentam, e Lili os apresenta.

— Kyran, esses são nossos novos amigos, amigos de Ray que Jhon falou mais cedo, lembra?

Kyran parece tímido, não puxa muito assunto e é um pouco distante de todos.

— Sim.

— Ótimo, eles são Baltazar, Maxmilliam, Anirak, Alexia, Onurb e aquele ali é o Ray.

— Prazer em conhecê-los… Jhon, já falei com Rosanne, nosso balão está pronto.

Todos ficam surpresos, e Ray questiona:

— Balão?

Jhon responde com um sorriso:

— Sim, o motivo para eu ter vindo para Libryans é meus estudos sobre Dexter, uma das coisas que ele inventou foi o Montgolfier, um balão para viagens. Inicialmente ele seria levado só pelo vento, mas com magia ele pode ser direcionado, um balão dirigível, pode-se dizer. Rosanne me permitiu ver alguns dados de Dexter e construir um, é claro que com ajuda dos construtores de Libryans. Ele já está pronto, podemos partir ainda hoje.

Todos se animam, e Maxmilliam se preocupa com Libryans.

— Ótimo, mas esta missão irá contra os planos de Libryans? Interferirá em alguma cidade aliada? Pois se a gente for passar por algum lugar, por questões políticas precisamos de autorização.

Jhon responde:

— Não se preocupe, o percurso não afetará nada, passaremos por cima de territórios neutros e de hostilidade baixa.

— Certo, mas a Torre de Outubro não está com hostilidade baixa, está?

— Não, há rumores de algumas criaturas tomando conta daquela região.

Ray se preocupa:

— E Doug? Como ele chegará lá?

Anirak questiona:

— Desculpe, Ray, mas primeiro, o que ele quer com as Erráticas?

Maxmilliam comenta:

— Esse conto diz que elas guardam um templo, pode haver algum tesouro ou alguma informação para ele achar os outros, ou alguma missão dada a ele. Ele também pode estar sendo coagido a ir lá.

Ray demonstra preocupação.

— Sim, ele pode estar fazendo isso para salvar os outros, que podem estar presos ou algo assim, muitas possibilidades.

Jhon tenta animar a todos:

— De qualquer forma, estamos indo lá para resolver tudo, nem será uma aventura, será um pequeno passeio, certo? Chegaremos lá, o encontramos e o ajudaremos no que ele estiver precisando, tudo bem?



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