Volume 1
Capítulo 62: Contos do Grande Continente IV
— Fujoshi —
— Finalmente chegou o dia, irmãs, hoje teremos o que tanto queríamos, hoje à noite faremos história… Vamos recapitular o que cada uma de nós conseguiu nesses últimos meses para a nossa conquista. Aquáta?
— Depois de muito tempo em observação, consegui achar brechas da vigia para conseguirmos passar da primeira linha de defesa.
— Ótimo, você nos guiará… Adrina?
— Nossos equipamentos, cuidei eu mesma de fazer nossos equipamentos e as armas necessárias para depois de nos infiltrar.
— Bem a tempo, vamos já começar a nos preparar. Arista?
— Depois de muito tempo, eu consegui um aliado lá dentro para que nos guie ou nos esconda se necessário.
— Perfeito, mas acho que não será necessário nos esconder, depois que entrarmos no núcleo da cidade nada mais poderá nos deter. Atina?
— Adela e eu conseguimos amuletos protetores contra a magia deles, graças a isso conseguiremos passar por mais uma linha de defesa.
— Sim, na nossa última vez tivemos problemas com a magia protetora, hoje isso não nos deterá. Alana?
— Meu treinamento de sacerdócio está concluído e aprimorado.
— Isso é muito importante, irmãs que não sabem, esse poder, o poder dos sacerdotes, consegue sentir a presença de seres vivos e até de magias, ela será nossos olhos no escuro e no oculto… E eu treinei muito para enfrentar o líder que nos impedir de passar na segunda barragem, além de acampar por dia para conhecer o terreno, caminho e os melhores trajetos… Faz dias que saímos de Ikeburo, seguimos pelo Rio Otomo para evitar eventualidades como animais e ladrões nas estradas, sem falar nas escoltas do Império de Cristal, que por algum motivo estão se expandindo além de seus territórios… Sem mais delongas, vamos comer, nos equipar e nos preparar mentalmente para o que virá. Por favor, segurem a ansiedade, sei que isso é importante para cada uma de nós.
Todas fazem um círculo dando as mãos e baixando a cabeça como um ritual. Ficam por um tempo assim e logo seguem o que foi dito, comendo e se arrumando para seguir com o plano. Com tudo pronto, todas desarmam o acampamento e avançam, entrando na floresta. A noite se inicia nublada e um pouco gelada.
Alana consegue usar suas habilidades para evitar animais hostis e alguns vigias escondidos na floresta. Com a brecha na vigia da noite, elas conseguem avançar tranquilamente sem ser notadas. Os amuletos anulam a defesa mágica, deixando-as passarem como se fossem moradoras.
Depois de passar pela primeira linha de defesa, elas ficam mais cautelosas, avistam alguns guardas bem equipados, o que as deixa mais preocupadas. Elas conseguem passar por mais uma linha de defesa, um muro com vigia focada com habilidades de detectar seres vivos.
O amuleto ajuda em partes, mas deixa perceptível a aproximação de seres ao redor e pode atrapalhar o plano delas. Arista conseguiu informação com o aliado sobre uma passagem no muro para elas entrarem e não serem pegas. Passando do muro, elas descem ao lado de uma grande escadaria, evitando iluminação, barulho e os guardas.
O tempo passa rápido, mas elas têm que andar com muita cautela.
— Irmãs, nunca chegamos tão longe, já consigo avistar nosso objetivo. Adrina, todos os itens estão prontos?
— Sim, mas e essa espada?
— Sinto que não será tão fácil, estou preparada para tudo.
Elas chegam ao fim da escadaria e dão de frente com a cidade e algumas pessoas ao fundo andando. Elas caminham e se assustam ao ver uma árvore caindo à sua frente. Uma mulher jovem e alta surge com um tom agressivo e bravo.
— Vocês de novo? Vocês não cansam?
— Saia do nosso caminho.
— Por que vocês se submetem a isso?
— Meninas, avancem!
Todas se espalham, e a líder ataca a guarda, que saca uma espada e trava uma batalha. A guardiã humilha a líder, aparando facilmente os golpes e ameaçando fazer ferimentos graves.
No lugar de ferir, a guarda empurra e tenta desarmar a líder, que segura firme a espada. Alguns guardas aparecem, e a guarda revela ser a líder deles.
— Senhora? Estamos sendo atacados?
— Acalmem-se! Já avisei os arqueiros para não atacarem, elas acham que eu não as avistei descendo a escada, mas admiro que conseguiram passar pelo muro, chegaram bem mais longe do que a última vez.
A líder, no chão, demonstra ânimo.
— Chegamos bem longe, enfim nosso objetivo está concluído, Senhora Yurizoku!
— Ousadia de vocês, isso sim, nossa cidade não é uma atração de lazer que…
— Egoísta! Nós merecemos ver e presenciar esse amor lindo deste lugar.
As meninas invadem Pando, abraçando e ficando admiradas com todos os moradores. Elas usam flâmulas e bandeiras como comemoração por terem chegado ao núcleo da cidade. Os moradores se sentem invadidos, mas em pouco tempo ficam empáticos e conversam com elas, que ficam mais admiradas e apaixonadas com o lugar.
Yurizoku é abordada por um guarda que segura a líder das invasoras.
— Desculpe, mas eu não estou entendendo nada.
— Garotas pobres… Essas são iguais àquele louco do Fudanshi…
— Fudanshi foi um invasor?
— Longa história, e hoje ele é um dos líderes daqui, quem imaginaria, não? É cada coisa que acontece aqui, que eu fico até com medo, tem pessoas que nos odeiam a ponto de querer nossa morte, e tem esses, essas “fãs”, que nos amam…
— O que faremos com elas?
— Querem tanto ficar aqui, então que fiquem! Libriano já cogitou a possibilidade de recebermos todas as raças e gostos, entre outras coisas doidas nesse mundo, e não só nossos irmãos desentendes de Ivo e Adéa… Pode largá-la, ela venceu.
A líder é solta e corre, comemorando com suas amigas.
— Meninas, enfim conquistamos! Falei que eles são, além de tudo, acolhedores. Está decidido, vamos ficar!
Yurizoku olha para o guarda e entende mais sobre a invasão delas, deixando-a brava novamente.
— Imi Bara Kei!
— O que tem ele?
— Traga-me aquele moleque aqui, foi ele que ajudou essas loucas a entrarem… Ele ainda quer ser um líder um dia, vou dar uma elevada no treinamento dele depois disso… Vamos.
— Meninas, enfim o grupo das Fujoshi tem seu devido espaço.
— Devemos contar às outras?
— Não, não, fale baixo, nem comente com ninguém, aos poucos a gente traz as outras, vamos assustar eles com muitas de nós aqui… Vamos preparar nossa lista dos homens que todas querem abraçar.
Todas riem e são levadas para comer junto com seus ídolos.
Ray termina a história impressionado e rindo com as referências da Floresta de Pando, lembrando que ouviu falar de Yurizoku, e associa que deve ser uma história de anos atrás, por mencionar Imi jovem. Ray olha ao redor e vê que a biblioteca deu uma esvaziada.
O mago ao seu lado termina de ler o livro dele e admira a capa, dando chance de Ray ver que é a história do alquimista Dexter, o livro que o jovem procurou antes e não achou.
— Boa tarte… Esse é o livro da história de Dexter?
— Sim…
— O senhor já terminou de ler? Eu gostaria muito de ver.
— Por favor, não me chame de senhor, eu sou novo como você.
— Desculpe, foi só formalidade.
— Tudo bem. Eu vi você lendo vários livros ontem, você gosta mesmo de ler.
— Sim, sou um aprendiz.
— Legal, você vai gostar da história de Dexter, aqui fala de um lugar secreto aqui no castelo onde ele estudava e fazia suas invenções.
— Secreto? Aqui no castelo?
— Sim… Desculpe minha falta de educação, eu sou Jhon Ryan Hantler.
— Prazer, eu sou Ray Blok W.
Ray aperta a mão de Jhon e sente uma energia passando por seu corpo. Ele não consegue soltar e nem se mover. Percebe que esse efeito também ficou em Jhon. A visão dos dois escurece, e quando abrem os olhos estão em Orbis Absolute. Jhon fica confuso.
— Como chegamos aqui?
Ray fica bravo.
— Diga-me você! Você que nos trouxe.
— Não foi minha intenção, eu só queria ler sua mente… Quem é você?
Ray tenta responder, mas os corpos dentro da dimensão são atraídos e, ao encostar, se transformam em uma bola de energia e logo são repelidos, tendo algumas visões um do outro de seu passado. Ray comenta o que ele vê em sua mente sobre Jhon.
— Você é um Reilum-S, um mestre da maldição, veio para Libryans para aperfeiçoar suas habilidades e procurar informações de Dexter, você tem uma admiração por ele ser um simples humano com grande mente.
— E você é filho de dois Imortais, os grandes heróis, você treinou com Maxmilliam, concluiu uma missão relacionada com informações do Império de Cristal. Tudo isso explica o porquê de isso acontecer. Você tem poderes mágicos e contra-atacou minha magia, que usei para saber sobre você, mas me parece que foi uma defesa involuntária.
Ray e Jhon se olham e sentem mais uma conexão entre eles. Veem as intenções um do outro e que não são inimigos e têm as mesmas motivações e entendimento do mundo, e se tornam amigos de anos em poucos segundos.
A magia acaba e eles voltam para a biblioteca, soltam as mãos e ficam pensativos. Ray comenta:
— Vamos descobrir onde está o esconderijo de Dexter?
— Podemos usar a Chave Mestra?
Os dois respondem simultaneamente.
— Sim!
Os dois arrumam a mesa, guardando os livros, e seguem para o quarto de Ray. Lá, pegam a Chave Mestra, depois seguem para o quarto de Jhon, onde ele pega seu cajado, feito de material desconhecido, torto, com poucas partes alinhadas e revestido por escamas de pangolim, um mamífero com uma casca bem resistente.
Eles disfarçam a ansiedade e as suas intenções enquanto andam pelo castelo. Chegam ao grande jardim e, no meio, Ray vê a lembrança de Jhon.
— É aqui!
— Sim… Precisamos saber onde está a entrada, ela deve ser mágica, pois nunca acharam antes, ou nunca procuraram.
— Sim… Espere… O jardim é mais novo do que o livro, não é aqui! Onde era o jardim antes?
— E agora?
— Tenho uma ideia.
Ray procura pelo castelo junto com Jhon a pessoa que pode ajudá-lo, Rosanne. Achando-a, ele questiona:
— Rosanne?
— Sim, boa tarde.
— Boa tarde. Por favor, eu estava vendo uma história sobre Libryans na biblioteca e não ficou claro sobre o jardim, suponho que havia outro antes do grandão da entrada.
— Sim, realmente tinha um outro.
— Pode me dizer onde é?
— Sim, mas não sei se vão gostar, é o crematório do castelo, onde cremamos os mortos.
— Crematório dos mortos?
— Sim.
— Sabe me dizer de quem foi a ideia?
— Foi do alquimista que ajudou… Dexter… Isso, foi ele, por quê?
— Por nada, muito obrigado, vou dar uma olhada, afinal nunca vi um antes.
— Certo, bom divertimento.
— Obrigado.
Ray e Jhon seguem até o crematório, Jhon já sabe a localização. Chegando lá, há uma placa dizendo que não tem ninguém e que voltarão ao trabalho no dia seguinte. Eles se olham e agradecem.
— Que sorte!
Entrando no crematório, eles andam parte por parte até achar um grande buraco de cinco metros quadrados com seis metros de profundidade, e o mesmo símbolo do livro de Dexter está desenhado no fundo desse buraco, usado para guardar dejetos. Jhon usa magia e desce os dois.
Eles olham o símbolo, e Ray usa a Chave Mestra, colocando-a no símbolo. Nada acontece, e Jhon questiona:
— Tem alguma palavra mágica? Ou algo do gênero?
— Não sei, acho que seria só colocar a chave e talvez girar ela como se fosse abrir uma fechadura.
Ray gira a chave simulando abrir uma fechadura, e o chão abre, fazendo-os caírem em um escorregador, descendo até chegarem a um lugar totalmente escuro. Jhon demonstra um pouco de medo e pega na mão de Ray, que se assusta, largando-se dele.
— Não faz isso, você me assustou.
— E agora?
— Eu só sei usar magia de fogo com pergaminho…
— Eu nunca usei magia de fogo.
— Como não? Sabe fazer luz ou algo que ilumine?
— Não… Espere, tive uma ideia.
Jhon assopra no ouvido de Ray, que sente o corpo arrepiar e fica nervoso.
— Pelos mares! O que você está fazendo?
Ray sente que a sua voz se expandiu pelo lugar, revelando tudo para ele como um sonar.
— Incrível, você me deu habilidades para ver ou ouvir o local.
— Isso, agora diga mais, onde estamos?
Ray faz um pequeno zumbido e consegue ver todo o lugar através do sonar. Ele anda um pouco, e uma magia no lugar sente movimento de ser vivo, acendendo alguns cristais e iluminando todo o lugar, pouco a pouco revelando tudo, o que impressiona Ray e Jhon.
O lugar está cheio de mesas, frascos de diversos tamanhos e formas, livros, pergaminhos, estantes, armários, caldeirões, mapas, aquários vazios, vasos e vários itens diversos e peculiares para manuseio de experiências. Ray olha para Jhon, que apresenta o lugar:
— Bem-vindo ao laboratório de Dexter!
— Magnífico este lugar, e mesmo depois de muitos anos ainda tem coisas intocadas e aparentemente novas.
Ray e Jhon vão andando pelo laboratório. Jhon conta alguns dados que leu no livro da história de Dexter.
— Dexter era brilhante, um humano com inteligência sobre-humana, muitos dizem que ele foi abençoado por algum Electi. Ele tinha uma irmã, mas não menciona o nome e o que houve com ela. Como você já sabe, ele ajudou na construção e na fortificação de Libryans.
— Sim…
— Ele conheceu Primus, uma raça nova que foi criada para a guerra.
— Primus? Como ele achou? Tinha alguém junto com Primus?
— Não menciona, só diz que Dexter achou Primus fraco, com fome e sede, cuidou dele e conseguiu usar magia para melhorá-lo e torná-lo mais forte para que sobrevivesse.
— E depois?
— Dexter descobriu que essa criatura era um menino antes de ser modificado. Ele disse que tentaria de tudo para transformá-lo em humano de novo, mas de alguma forma Primus conseguiu fugir… Estranho.
Ray pensa, falando baixo:
— Ele não queria voltar a ser humano até achar a irmã?
— O que disse?
— Não, só acho que Primus não queria voltar a ser humano, ele deve ter ido atrás da irmã dele, que também foi usada em experimentos.
— Nossa, uma história assustadora, agora me lembrei da história de Primus e da irmã, que foi transformada em uma pedra mágica… Eles têm olhos lindos, não?
— Um de cada cor?
— Sim, interessante, diferente… Dexter teve muito apoio de um dos Electi, o Libriano, foi um grande apoio que deu conhecimento e artifícios para chegar até onde ele chegou.
— Muito bom.
— Igual a você, Ray.
— Eu?
— Sim, você tem uma ótima base para se tornar forte, julgo dizer que você já é, conseguiu fazer tanto em meses… Espere…
— O que houve?
Jhon fica pensativo e um pouco preocupado. Ray se aproxima, e Jhon o olha animado.
— Doug!
— Você sabe dos meus amigos?
— Veio uma memória sua dos seus amigos Doug, Júlio, Meena e Rupert.
— Você já os viu antes?
— Todos não, mas faz poucos dias que eu vi esse Doug.
— Dias? Onde?
— Em uma hospedagem Curie.
— Ele ainda está lá?
— Não, ele estava buscando o destino dos três demônios em forma de mulher.
— O conto das erráticas?
— Sim…
— Mas por que será que ele precisa ir até elas?
— Parecia ser algo muito importante.
— E você disse onde? Você pode me levar?
— Posso, mas é longe…
— Eu te pago… A Chave Mestra!
— Você daria ela em troca?
— Sim, mas tem que me levar até ele.
— Isso seria ótimo. É claro, podemos partir hoje mesmo, ele foi para a costa onde tem a Torre de Outubro.
— Já ouvi falar, é um lugar bem isolado.
— Sim, trinta dias de viagem.
— Tudo isso?
— Sim, e sem fazer muitas paradas…
— Antes preciso ver com meu grupo, preciso me reunir com eles e informar o que eu descobri.
— Enquanto isso, eu vou dar mais uma olhada aqui no laboratório. Onde eu te encontro?
— Pode ser no jardim à noite?
— Pode.
— Ótimo, estarei lá com meu grupo. Você está sozinho aqui?
— Não…
— Agora consigo ver, você veio com um amigo, Kyran?
— Isso. Essas memórias compartilhadas são algo muito estranho até mesmo para mim.
— Depois verei com meu mestre se ele sabe algo sobre isso, mas não me parece perigoso.
— Sim, só um pouco invasivo, apesar de que não tenho nada a esconder.
— Que bom que eu também não.
Ray anda até o escorregador e esbarra em um cubo transparente em cima de uma mesa. O cubo cai fazendo um barulho alto, Ray o pega e analisa.
— Erno Rubik.
Jhon se aproxima.
— O cubo da clarividência? Que raridade… Não esperava menos deste lugar.
— Posso ver?
— Sim… Preciso ir.
Quando Jhon pega no cubo, ele e Ray ficam paralisados por uns segundos. Jhon tem uma visão da luta de Ray em Ducem.
— Ducem… foi destruída?
— Sim, mas por que isso agora?
— A magia que usei para ler sua mente está fora de controle e agora ela conectou ao cubo.
Os olhos de Ray e Jhon brilham forte. Jhon entende o que o cubo está fazendo.
— Parece que sua dúvida sobre Ducem passou para minha mente e passou para o cubo, agora ele quer nos mostrar o que houve... O que houve em Ducem....