Volume 1

Capítulo 60: Contos do Grande Continente II

—  Clã Sulzi

Andei bastante pelo Grande Continente, e essa família chamou muito minha atenção. Apesar de que família acaba sendo tudo igual, cheias de problemas, intrigas e egoísmo, em alguns momentos o amor familiar toma conta, deixando os laços mais bonitos e mais próximos. Digo que é um pouco motivador, porém em muitos momentos é estranho. Clã Sulzi, a família Sulzi é líder de seis grandes vilas contornando um lado do Império de Cristal. Elas foram facilmente manipuladas por Xarles por dinheiro e palavras falsas, mas são vilas prósperas na maior parte dos anos. Seus descendentes brigam para assumir as vilas de seus pais com algumas batalhas internas. A mãe do clã chegou a uma idade que hoje em dia só aproveita a vida, sem fazer batalhas ou grandes intrigas. A última batalha foi com sua própria filha mais nova por conquista de território, pois essa filha não teve filhos e nunca foi merecedora ou digna de respeito. Essa filha ficou viúva cedo, e seu marido lhe deu um nome forte que trouxe prosperidade para sua vila até a sua morte. Assim, sem dependentes e descendentes, ela tomou como missão proteger, ajudar e auxiliar toda a sua família em suas vidas e na prosperidade de suas vilas. O filho mais jovem da mãe do clã foi traído por sua mulher. Sua filha seguiu a vida em um reino distante, e ele nunca mais foi visto. Acredita-se que foi morto. O filho mais velho da mãe do clã é um grande construtor e ajuda seus irmãos na construção de suas vilas e na manutenção delas. Um homem amante de festa e disputas de quem come e bebe mais. Ele é o mais famoso e mais conhecido do que os outros, tem dois filhos que proporcionaram um bom aumento de sua família com uma boa prole. A filha do meio da mãe do clã teve muitos problemas com seu marido por não ter sido um homem digno para o clã e para a família. Mesmo assim, com a ajuda dele, ela teve três filhos, para o crescimento da vila, e cada um abençoou o local com um filho cada. A filha mais velha da mãe do clã teve a vila mais próspera por ter um ótimo marido, de status e honra, um grande guerreiro e fiel à família, mas essa prosperidade foi caindo com a ajuda de seus filhos, que não honraram a cultura e a dedicação com a vila, tiveram filhos que foram deixados na vila e se distanciaram, morando em vilas distantes. A família Sulzi ficou mais famosa por todos serem líderes de vilas e por terem ficado explícitas as batalhas internas. Não posso julgar, pois em toda família tem guerra e complicação, da mesma forma que tem amor e parceria, tudo é muito variado, tudo oscila, e esse nome, Sulzi, é cobiçado por muitos, grandes terras e poder rondam essa família, mas como todos, o poder pode construir uma boa vida ou pode destruí-la, mensagem que sempre vi ao longe quando olho para diversas famílias do Grande Continente, algumas grandes, outras pequenas. Espero escrever mais desse clã, saber o que os filhos dos filhos farão com as vilas e com suas vidas, quem penderá para o mal e para o bem, quem terá a vida bem construída ou destruída. Algo que me deixa triste é que, quando sua vida está se destruindo, outros são destruídos junto. Torço para que o clã Sulzi, como outras famílias importantes do Grande Continente, tenha sorte e sabedoria para conduzir tudo e todos para o melhor caminho, ajudando indiretamente o Grande Continente.

 

Essa história deixou Ray um pouco confuso e intrigado.

— Estranho, família grande deve ser como uma cidade grande, várias complicações e difícil de alinhar tudo… Arrisco dizer que a mãe desse clã é Áurena Sulzi, eu estudei um pouco sobre ela… Não tem o nome do autor desse livro, Otoko colocou o nome dele em sua história… Apesar de que o autor dessa história não está ligado a ela, ele conta como se os conhecesse, mas sem envolvimento… Interessante, os livros daqui têm boas histórias.

Ray termina de ler o livro sobre o clã Sulzi, sabendo mais sobre a história deles e que as vilas cresceram até se tornarem grandes cidades que hoje opinam nas decisões do Grande Continente. Maxmilliam se aproxima de Ray.

— Então, como está aí?

— Mestre, não vi o senhor chegar… Estou bem, estou gostando de ler essas histórias.

— Quais você já leu?

Maxmilliam olha os livros ao lado de Ray que já foram lidos.

— Interessante… Ouvi falar dessa família, e esse é sobre a arma Zordrak do Magna?

— Não, sobro o dono dela, Otoko.

— Bom, e esse é o próximo?

— Sim.

— “Magia dos elementos Electi”. Não gostei do nome, veja e depois me fale o que achou.

— Certo.

— Vou procurar algo para eu ler. Cuidado com a hora, Ray, já está noite e temos que nos encontrar com o grupo.

— Pode deixar.

Maxmilliam some nas prateleiras de livros. Ray, agora desfocado, observa melhor o lugar, vendo algumas pessoas lendo nas mesas ou procurando algum livro.

 

Um homem chama sua atenção por se vestir como um mágico, vestes longas e de tom escuro, idade entre 25 anos, estatura média, porte físico normal, moreno, cabelo curto, barba rala e muito bonito. Ele demonstra estar preocupado lendo alguns livros em busca de algo importante.

 

Ray olha por um tempo, mas volta aos seus livros. Terminando, levanta e corre à procura de Maxmilliam. Acha-o em uma estante no fundo da biblioteca.

— Mestre? Mestre!

— Diga, o que houve?

— Você sabe sobre a magia dos Electi dos elementos?

— Magia? Como assim?

— Este livro, “Magia dos elementos Electi”, fala sobre um segredo deles…

— Lembro, já ouvi falar disso, tem detalhes nesse livro?

— Sim.

— Vamos sentar, conte-me o que você descobriu.

Maxmilliam e Ray sentam a uma mesa longe das outras pessoas, e Ray continua a explicar o que leu.

— Dexter, o Alquimista, deu uma ideia aos Electi controladores de elementos mágicos para que eles se unissem para formar um poder único e poderoso. Eles se reuniram e perceberam que a cada geração Electi eles ficam mais fracos, e essa ideia poderia torná-los fortes se chegasse em um momento crítico. Úrsula pediu ajuda para um Electi antigo para auxiliar nesse plano. Em cada ilha elemento foi colocado um artefato como chave, e quando todos forem acionados, uma magia poderosa será lançada onde o conjurador quiser.

— Interessante, não ouvi falar, pois nunca deve ter chegado esse momento crítico, mas ainda acho que é um mito, como um blefe se chegar a esse momento “crítico”.

— Entendi. Mesmo assim, é muito interessante… Fico imaginando as dez ilhas unidas num único poder, eles deveriam usar para fazer Xarles recuar.

— Eles cuidam mais de suas ilhas sem muito tempo para dar atenção ao Grande Continente, ninguém sabe do poder que Xarles tem em seu castelo e no Império, não é bom arriscar a vida de inocentes assim, lembra que ele tem muitos reféns para evitar essa tática de guerra contra ele.

Verdade… Enfim, Dexter foi o alquimista que ajudou na construção e fortificação de Libryans, um homem de grande conhecimento e habilidades, é possível ele ter descoberto ou criado algo tão poderoso assim para os Electi.

— Sim, por que não procura o livro da história dele?

— Eu procurei, não achei, alguém deve ter pegado.

— Lembro que na última vez que vim aqui esse livro também estava alugado, deve ser uma história muito boa para muitos quererem ler.

— Com certeza.

— Depois vemos isso, já vai dar a hora de encontrar com os outros, melhor irmos.

— Certo, vamos, vou guardar os outros livros que ainda não li.

Ray guarda os livros que pegou e segue junto com Maxmilliam para o refeitório do castelo. Lá, todo o grupo se encontra, todos sentam a uma mesa só para eles e comentam como foi seu dia. Ray conta resumidamente sobre as histórias que leu, Baltazar e Onurb contam o que viram na cidade e Alexia e Anirak falam sobre o campo de treinamento das guerreiras de elite. Peter aparece e fala com o grupo.

— Boa noite, Koètuz, tudo bem?

Todos cumprimentam, e ele continua:

— A noite está tranquila e fresca, vocês gostam de atrações artísticas?

Todos se olham e concordam com um sim.

— Ótimo, haverá umas atrações no nosso auditório principal aqui no castelo… Estou achando vocês um pouco calados, quem sabe algo assim os anime mais.

Todos terminam de comer e seguem com Peter para ver as atrações que ele mencionou. No caminho, passam pela biblioteca, e Ray desvia o caminho.

— Vocês podem ir, eu tenho que ver umas coisas na biblioteca.

— Certo, Ray, qualquer coisa sabe onde estaremos.

— Pode deixar.

Ray entra na biblioteca, que está iluminada por poucas tochas e velas e com menos pessoas do que à tarde. Ele procura o mago que viu mais cedo, mas não o vê, pega os livros que não conseguiu ler e senta a uma das mesas.

— Ótimo, verei mais uma história…

 

—  Os Humanos Amaldiçoados

Meu mestre ficou interessado nos atributos dessa gema poderosa, Sammu, mas ele não conseguiu criar ou roubar uma. Eu sou um péssimo servo, pois também não consegui nada para ajudá-lo. Ele roubou alguns dados de um homem de status, Dexter, que parece inteligente. Meu mestre agregou informações e sequestrou duas crianças, dois irmãos de aparência bem parecida, para fazer experiências. Eu acho a raça humana algo muito feio, mas os olhos desses irmãos são interessantes, um olho é verde e outro é azul. A menina, meu mestre conseguiu sacrificar e transformar em uma gema Sammu. Eu acredito que a alma dela ainda está nessa gema, posso sentir algo emanando a mais nessa gema criada dessa forma mortal. O irmão ficou péssimo em ver a irmã ser transformada nessa gema. Meu mestre usou os poderes dele para que eu não sinta pena ou compaixão pelos outros, porém a cena que presenciei nesse dia foi perturbadora, contudo a experiência foi um sucesso. A gema é maior do que uma gema comum e mais poderosa. Meu mestre a usou para aprimorar o seu laboratório e seu grupo de guerreiros caos para atacar os Octoniões, mas antes de ter chance de atacar, nós fomos atacados. Não diria que foi uma luta justa, apanhamos muito, destruíram o laboratório e levaram muitas coisas com eles. Nós conseguimos fugir só com alguns pergaminhos e o menino de olhos bonitos. A gema, eu segui o seu rastro e destino, vi um desses “heróis” dá-la para um menino chamado Xarles, que a usou para abençoar uma terra morta. Essa atitude deixou meu mestre furioso, e ele tentou fazer o mesmo com o menino, mas sem sucesso, o menino foi dilacerado e ficou em uma jaula para morrer. O garoto tinha uma força de vontade grande, pois não morreu, ficou sobrevivendo só de restos de comida e água. Meu mestre viu uma utilidade para esse menino e tentou fundi-lo com partes de outros animais, ele achou que poderia criar um daquela raça que pode virar um animal ou algo assim. Meu mestre teve muito mais sucesso do que isso, esse menino ficou grande e adquiriu um corpo estranho, mas conseguiu adquirir várias, se não todas, as vantagens de toda a fauna de Arbidabliu. Com o tempo, ele assumia a forma de outros animais grandes, e, além da forma, ele é mais forte e resistente. Eu fiz uns testes e percebi que a inteligência dele foi reduzida, deve ter sido por causa do trauma de perder a irmã e pela dilaceração. Uma raça nova foi criada, porém sem futuro, pois não tem como ser expandida. Eu guardei e cuidei dessa criatura, mas tive que fugir depois da queda do meu mestre. Consegui falar com Dexter, e pedi para ser servo dele, já que o meu foi morto.

 

Ray olha ao redor e vê o clima frio e escuro.

— História triste e macabra nesta hora da noite, não gostei, este livro, ou diário, tem várias páginas rasgadas e perdidas, o que será que houve com esse servo? Coitado desses irmãos, ruim que não há nomes para associar…

Ray lembra-se de “Primus”, a criatura que Baltazar e Onurb enfrentaram, e associa que pode ser o mesmo. Olha atentamente as capas dos outros livros buscando um com uma possível história tranquila para a noite. Ele acha uma que parece ser um romance.



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