Volume 1

Capítulo 59: Contos do Grande Continente I

Manhã, 08 de outubro de 1590. Libryans, Castelo Winfrey.

O dia amanhece frio e nublado. Todos levantam, tomam banho, se arrumam, comem e cuidam de suas higienizações. Depois de prontos, voltam para suas respectivas camas e, sentados, dialogam. Ray começa:

— Hoje poderíamos pegar um dia livre, ver tudo que já queríamos ver desde que chegamos aqui.

Baltazar concorda.

— Sim, uma boa ideia, vou gostar de ver a forja deles e a cozinha real.

Onurb levanta e, já se arrumando para sair, diz:

— Novidade… Eu vou andar por aí, conhecer melhor o castelo e quem sabe a cidade, tenho algumas coisas para refletir.

Anirak acha estranho.

— Refletir?

Onurb confirma fazendo sinal com a cabeça e sai do quarto. Anirak continua:

— Certo… Eu vou ver onde as mulheres treinam e ver com Rosanne pontos importantes para conhecer.

Alexia se espreguiça e diz:

— Vou com você, Anirak. Rosanne deve indicar bons lugares para a gente conhecer… E você, Ray? Maxmilliam deve acompanhá-lo.

— Eu vou para a biblioteca ler um pouco, nessa missão eu treinei combate e muita adrenalina, agora quero ler um pouco, ler me ajuda a controlar a ansiedade. E você, mestre?

— Vou ver um pouco a vista, faz muitos anos que não vejo Libryans, e acredito que algumas coisas mudaram. Depois vou à biblioteca também, ver se tem novidades.

— Ótimo, então te vejo mais tarde, mestre. E vocês, eu vejo à noite?

Anirak pensa um pouco olhando para Alexia e responde:

— Acho bom a gente se reunir à noite para jantar, assim comentamos o que vimos hoje e traçamos algo para a semana.

Ray concorda, junto com Maxmilliam.

— Ótimo, boa ideia.

Baltazar se anima e sai do quarto, dizendo:

— Ótimo, então vejo vocês à noite, e no caminho eu aviso Onurb.

— Bem… então vamos.

Todos deixam a maioria de seus pertences no quarto. Onurb leva Nagga, Anirak leva duas adagas escondidas, Ray leva sua funda, que é facilmente confundida com um cinto despojado, e Maxmilliam, seu cajado. Para Onurb, o dia passa com ele passeando por todo o castelo e pela área residencial da cidade de Winfrey. Ele reflete sobre tudo que Erèm falou, lembra-se dos meninos que cuida no casarão em Coniuro, seus amigos ladrões e seu pai adotivo. Ele também é abordado por Baltazar em um momento do dia.

— Ei! Onurb?

— Diga.

— O grupo marcou de à noite a gente jantar junto para ver o que faremos nos outros dias.

— Certo, temos que ir atrás dos amigos do Ray, deve ser algo sobre isso.

— Sim… Você está bem? Você está me parecendo quieto.

— Estou bem, sim, só pensativo, você não ficou assim depois que falou com a rainha?

— Um pouco, mas já passou… Vamos na forja?

— Onde fica?

— No ferreiro da cidade, naquela direção.

— Achei que fosse no castelo…

— Não, também achei… Vamos!

— Certo, vamos.

Ray e Baltazar visitam a forja e ficam admirados com o tamanho do local, tendo vários ferreiros e grandes forjas para fabricação de itens diversos além de armas. Depois eles se dividiram passeando pela cidade.

Baltazar, com mais ânimo, consegue ver a cozinha do castelo, da cidade de Winfrey, e consegue ver o comércio da cidade vizinha. Mesmo andando muito, ele consegue voltar a tempo para o jantar com o grupo.

Onurb também volta a tempo, mais decidido e se sentindo mais evoluído, dizendo a si mesmo que tirou a máscara da covardia.

Anirak e Alexia passam o dia juntas, conhecem uma parte do castelo e, com o conselho de Rosanne, vão para uma cidade vizinha onde há o campo de treinamento onde tem um grupo de mulheres guerreiras de elite.

Elas admiram a cidade e o campo de treinamento, conversam com algumas guerreiras, depois comem e voltam para o castelo, onde ficam no jardim até o horário da janta. No jardim, elas conversam sobre tudo um pouco. Em um momento, um homem se aproxima e questiona Alexia de uma forma um pouco hostil:

— Você é a dislexia que roubou minha glória?

Alexia e Anirak estranham, e o homem continua depois de ver a expressão confusa delas.

— Sim, você mesma. Eu fui escolhido para ir à missão da rainha, e você roubou de mim.

Alexia se desculpa:

— Me desculpe, mas não foi intencional.

— Sei! Vocês mulheres, por estarem aqui, se colocam acima de tudo e de todos, não?

Alexia fica sem resposta, e Anirak toma as dores da amiga, sentindo-se ofendida também.

— Um, não estamos e nem nos sentimos acima de ninguém; dois, ela já te pediu desculpas; três, foi um acidente, e quatro, se você fosse tão bom, teria seguido sua missão mesmo sem teleporte, ou o que houve? Ficou com medo de percorrer pela floresta sozinho?

— Como ousa?

Anirak levanta pronta para sacar suas adagas. Alexia a interrompe, e o homem é abordado por Peter, que passa pelo jardim.

— Alex? Algum problema?

Alex demonstra mais simpatia.

— Não, foi só um equívoco… Desculpem, meninas, só me exaltei por não ter tido a oportunidade de provar minhas habilidades para o Império.

Alex sai, Peter continua seu caminho, e Alexia comenta com Anirak:

— Ele disse Império? Mas Império de Libryans ou Império de Cristal?

— Não sei, mas achei suspeito, não gostei dele, falso, caçador de nível baixo se achando o fortão, aquilo tudo é gordura, e não músculos.

— Calma, amiga, daqui a pouco vamos jantar a deliciosa comida daqui.

— Sim, verdade… E amanhã, você já tem alguma ideia?

— Eu acho que já poderíamos seguir as pistas dos amigos do Ray.

— Ruim que não temos muitas pistas… Não gosto de desmotivar Ray, mas não acho que os amigos dele estejam vivos.

— Sério?

— Sim… Nós passamos pelo Império e vimos o quão difícil e hostil é lá. Se até Maxmilliam, um mestre de magia, quase foi pego só em querer sair de Sodorra, imagine eles, que tentaram matar Xarles.

— Mas será que eles chegaram até Xarles? Eles podem ter tido problemas antes de chegar nele e fugiram.

— Sim, mas acho pouco provável.

— Vamos torcer…

— Sim.

O tempo passa, elas seguem para o salão onde será oferecida a janta e onde haverá a reunião de seu grupo.

Depois de sair do quarto pela manhã, Ray segue para a biblioteca e a admira por ser a maior que já viu, com muitas mesas, estantes com livros de vários tipos, algumas pessoas lendo, outras procurando livros e alguns aprendizes em uma ala reservada para estudos.

Ray busca por alguns livros. Em pouco tempo, ele reúne alguns que se interessou, livros sobre contos e histórias de pessoas que vivem ou viveram no Grande Continente.

 

Maritus

Hoje eu estou aqui, Aeterna, a ilha do Electi do trovão à espera dos Imortais, os grandes heróis que ganharam a Guerra-D. Amanhã devo ser condecorado por grandes feitos, mas não me sinto assim. Quando Sikdar Rad decidiu unificar as montanhas, ele colocou em guerra as cidades Changtse, Chomolungma, Lhotse, Nuptse, Sagarmatha e Zhumulangma. Sikdar se ergueu entre guerreiros Magnas e reuniu alguns em sua própria armada. Inicialmente, ele usou suas próprias habilidades para desafiar os líderes da cidade para superá-los em batalha, e se ele vencesse lideraria o exército respectivo. O primeiro líder foi vencido com muito esforço. Prodótis, um fiel guerreiro de Sikdar e também um amigo próximo, se uniu ao segundo reino para traí-lo. Na batalha, Prodótis interveio para matar Sikdar. Confesso que eu, como todos, fiquei surpreso, mas por impulso me coloquei à frente e consegui salvar Sikdar, matando meu amigo. Nesse dia, eu descobri sobre outro amigo traidor no nosso grupo e o denunciei. Sikdar começou a me ver com mais confiança e como seu braço direito, ganhei mais responsabilidade e admiração. Prodótis foi um bom amigo por um tempo, fiquei triste em ver as ações dele. Sikdar não é um homem muito bom, mas ele está seguindo o certo a se fazer. A Guerra-D mostrou para muitos que a unificação é a melhor opção, acabar com brigas e batalhas desnecessárias, e Sikdar, no lugar de grandes batalhas, colocou só guerreiros de altas patentes e reis em luta. Se Sikdar perdesse, ele pagaria com a vida. Se ganhasse, não os mataria, mas o reino teria que se submeter a uma única lei sem brigas por liderança. Essa guerra entre reinos dos picos das montanhas durou cinco anos. Em um momento, eu mesmo tive que lutar contra um rei, rei Dakar, que na perda se uniu à causa para ajudar Sikdar a conquistar as montanhas. Quando eu vi esse rei, senti muito medo e descobri que depois ele também teve, pois sentíamos que éramos descendentes de Ivo, uma linhagem condenada à morte nas montanhas. Achei que ele me denunciaria, a palavra de um rei contra a de um simples guerreiro de um grupo isolado não teria chance. Mesmo perdendo, Dakar não ousou me delatar, e em um momento a sós ele veio falar comigo. Meu medo se transformou em ansiedade e curiosidade, pois nunca tinha conhecido outro como eu. Com o benefício de sentirmos outros como nós, não tive problemas em ser descoberto e me abrir para ele, que também passou pelo mesmo que eu em se esconder e nunca saber como é ter alguém que o entenda. Como mencionei antes, a guerra durou cinco anos, eu conheci e tive intimidades com Dakar em cinco de outubro do primeiro ano de conflito. Em minha opinião, se não fosse a ajuda de Dakar, Sikdar teria demorado a conquistar as montanhas em dez anos em vez de cinco, isso se não perdesse em Lhotse e Nuptse, que foram os piores lugares para se conquistar. Eles não queriam ouvir e não queriam paz. A intimidação de Sikdar por ter ganhado outros reinos colocou esses dois unidos para enfrentá-lo, provocando uma guerra que Sikdar não queria. Houve muitas mortes nesses últimos anos. Em um momento, Sikdar colocou em negociação seu posto de rei das montanhas para salvar as pessoas da guerra, indicando Lhotse e Nuptse como a voz maior e autoritária das montanhas e assim unificar todas, uma única aliança para o bem de toda a montanha. Lhotse e Nuptse aceitaram, mas logo brigaram pelo poder supremo das montanhas, tendo uma guerra interna entre eles. Esse foi o último ano de guerra, foi nesse ano que meu parceiro de luta Dakar morreu. Sikdar, Lhotse e Nuptse lutaram com seus exércitos no pico mais alto das montanhas. As condições climáticas mataram muito mais do que o próprio exército. Nessa última batalha, Dakar foi encurralado. Eu corri para ajudá-lo, mas cheguei tarde, ele foi morto próximo de mim. Muitos falam desse momento como uma avalanche de fúria, mas não lembro o que houve, minha visão ficou escura, minha mente desligou e fiquei em um estado de um guerreiro náutico, cego por sangue e guerra. Dizem que matei vários depois desse momento, que meus gritos eram de tristeza e de dor, atrapalhando a luta dos três reis e dando vantagem para Sikdar ganhar dos outros dois, acabando com a guerra. Minhas ações de luta deram moral para todos e ganhei muita atenção com isso, porém o que ninguém sabia era que meu coração morreu naquele momento. Todos prestaram homenagem para Dakar e me diziam que era uma pena eu ter perdido um grande amigo. Eu sempre respondia que ele era muito mais do que um amigo, do que um companheiro, e em minha mente eu dizia: ele foi e é minha alma, meu amor que nunca sonhei em ter. Depois da homenagem, eu voltei para as montanhas e pensei em me matar. Chorei muito longe dos outros me lembrando de quatro anos de alegria, companheirismo, intimidade e amor, algo que nunca achei que teria. Algo incrível aconteceu no dia em que eu tiraria minha própria vida, um Electi apareceu para mim, e me disse que ele estava ali como um mensageiro de Deus. Fiquei confuso, questionei-o do porquê de Deus dar atenção a uma abominação. Ele me disse que Deus criou a vida e o amor e que ambos são perfeitos. Abominação são pessoas que estão distantes desse sentimento, e disse que eu fui abençoado com a vida e com um grande amor, que mesmo não o tendo perto de mim ele está em memória e deixou um grande legado ajudando a trazer a paz para muitos. Ele não quis me dizer seu nome, mas um broche com o desenho de uma balança me deu uma boa ideia de quem ele era. Nesse mesmo dia, eu fui falar com Sikdar, que pediu para não contar para ninguém sobre esse segredo. Fiquei surpreso por ele não me querer morto, pois ele é rígido e teimoso. Conversei muito com ele, e no final ele me revelou que o Electi que me abordou no pico falou com ele, ou melhor dizendo, ameaçou-o prometendo que o mesmo destino que eu tivesse ele também teria. Um sonho meu e de Dakar depois que a guerra acabasse era conhecer a Floresta de Pando, ficar por lá e seguir nossas vidas. Contei para Sikdar, que me implorou que não fosse, pois poderia desmoralizar os guerreiros. Ele e mais alguns poderiam aceitar, mas muitos não, e ele não queria que eu fosse caçado, pois teria o mesmo destino que eu, a morte. Concordei e fiquei nas montanhas como um fiel guardião do rei Sikdar. Depois de um tempo, eu fui chamado para vir aqui em Aeterna. Estou um pouco nervoso, conhecer os grandes heróis do Grande Continente… Através de fontes confiáveis, ouvi dizer que ganharei uma espada sagrada e que Sikdar ganhará um artefato da altura de um rei, mas não me sinto merecedor de tanta glória e honra. Amigos, conhecidos, parentes e meu amor foram sacrificados para eu chegar aqui… Na reunião com eles, vou pedir uma audiência com o Electi que conheci. Ele me deu uma paz que nunca senti antes, realmente foram palavras de Deus para um filho que o ama. Ele abriu meus olhos, fazendo eu me aceitar mais, e depois da audiência dos Imortais eu irei para Pando ver meus irmãos de causa.

Ray ficou maravilhado com a história, lendo mais detalhes sobre as origens dos Magnas e do rei Dakar, que foi mencionado como o mais calmo e pacífico das montanhas. Depois de ler esse livro, o jovem ficou pensativo e admirado por saber de mais um fato de um Electi aparecer como um mensageiro de Deus.

 

— Otoko e Dakar, se eu não tivesse passado por Pando, não acreditaria na possibilidade de uma história de amor entre dois descendentes de Ivo, ou melhor dizendo, os Yaoi.

Logo Ray pega outro livro e começa uma nova história.



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