Volume 1

Capítulo 56: Libryans

Tarde, 06 de outubro de 1590. Libryans, portões.

Ao longe, dá para se ver a muralha dourada com um grande fosso. O país é lindo e igualitário, casas na mesma média de tamanho, com jardim. As estradas são de tijolos, há árvores para todos os lados, fazendas, pastos, plantações, rios, mina de mineração, entre outras coisas. Libryans é completa, não depende de comércio externo, é autossustentável, e os cidadãos são simples e humildes.

A cidade tem a maior variedade de raça de Arbidabliu, todos trabalham para o bem individual e mútuo. Ao serem notados e identificados como aliados, os portões abrem esperando a chegada do grupo. No caminho, Ray se anima e apresenta:

— Finalmente… Libryans. Aquela é a muralha dourada, ela contorna todo o país formando um pentágono, protegendo seis cidades que formam Libryans: Ada, Curie, Joan, Hipácia, Quitéria e Winfrey. A muralha tem essa cor dourada porque um alquimista ajudou na construção, conseguindo melhorar a qualidade e acelerar a construção. Ele achou que tinha descoberto uma forma de transformar as coisas em ouro, mas na verdade conseguiu fazer as coisas parecerem com ouro, porém, além da cor, o item adquire mais resistência.

Onurb comenta:

Éh! Agora nada pode pará-lo.

— Para cada ser vivo que vive na cidade, uma árvore é plantada… Pequenas vilas feitas por homens se uniram formando cidades aperfeiçoadas e habitadas por raças diferentes e enfim unificadas em um único governo, só para que não sejam intimidados por outros… A maior biblioteca está em Winfrey, a cidade do centro em que foi construído Libryans, o castelo da rainha… Esta usa “salve a rainha”, uma espada Zordrak que feriu um Electi na antiga guerra. Ela também é conhecida como “abençoada pelos deuses”.

Alexia reforça os comentários de Ray:

— Verdade, quando passei por aqui, eu fui muito bem tratada, não existe distinção de cor, raça, gosto, gênero… A única distinção é se você faz o bem para si e para os outros.

Onurb fica animado por visitar Libryans pela primeira vez.

Hmmm... Realmente, sempre ouvi falar bem deste lugar… E vocês estudaram bem sobre…

Anirak fica orgulhosa.

— Um lugar onde as mulheres mandam…

Maxmilliam acrescenta:

— Anirak, por favor, a cidade é conhecida pela igualdade, não coloque um grupo acima dos outros, essa não é a ideia.

— Desculpe, Max, mas na maioria das cidades as mulheres são inferiores, e ver que neste país a maioria são mulheres…

— Entendi, Anirak, a maioria são mulheres porque na época das vilas os homens morreram por causa da guerra e foram as mulheres que tiveram que se unir para que as vilas se mantivessem, mas se não fosse por eles Libryans também não existiria.

Baltazar sente uma tensão na conversa e muda de assunto.

— Esperem… Alguém está com fome?

Onurb demonstra desprezo por ele e diz:

— O portão está aberto, e consigo ver um pasto lá dentro.

Baltazar bate na cabeça de Onurb.

— Farei você trotar no pasto, quer ver?

Ray sente mais tensão no grupo e muda o foco.

— Olhem! Melquer, “O Herói”!

Todos olham, encantando-se pelo homem na frente do portão que espera por eles. Onurb comenta:

— Estranho, de longe achei que ele fosse baixo… Ele é um gigante!

— Sim, Peter Melquer é um Dionamuh-M, ele adquiriu rápido uma grande força quando jovem, treinou como lutador e mestre na luta desarmado, sofreu preconceito por ter dons raros e se destacou muito entre os seus… Dizem que fizeram um complô para bani-lo. Ele veio ajudar na construção de Libryans em busca de abrigo e comida e foi notado facilmente, tornando-se o guarda-costas da rainha.

— Realmente, você sabe de tudo e de todos de lá.

— Sim, tenho grande apreço e quero muito conhecer a grande biblioteca.

— Ray no lugar onde tem todo o conhecimento de Arbidabliu… Acho que envelhecerá lá dentro.

Baltazar comenta:

— Ouvi falar que tem as melhores porções e pratos do Grande Continente.

Onurb olha para Baltazar, que já olha bravo:

— Sem comentários… Ei! Ray? Mas por que ele ganhou esse título?

— “O Herói”, foi porque ele salvou a rainha na época da construção de Libryans, teve um conflito interno com ajuda de Xarles, e ela seria assassinada.

— Quem ia matar ela?

— Parece que alguns traidores, ninguém que esteja vivo hoje… Se não me engano, um poderoso assassino do Império tentou matá-la.

— Brent? O Águia de Sangue?

— Tudo indica que sim… Peter é meu herói.

Todos riem, chegam ao portão e cumprimentam Peter, Ray na frente.

— Peter Melquer, boa tarde, sou Ray Blok, somos enviados de Pronuntio…

 

Dionamuh-M, de aparência entre 40 anos, altura perto dos quatro metros, pele bronzeada, olhos cor de mel, cabelo raspado, muito atraente, forte e esbelto, com braços e pernas grossas. Ele usa armadura nas pernas, bota, colete, ombreira de metal negro e duas soqueiras guardadas na armadura das pernas.

 

Peter olha atentamente para Ray e rapidamente para o grupo todo e diz:

— Pronuntio? Grupo bem variado para ser da ilha… Úrsula que mandou vocês?

— Sim…

— Você é o líder desse grupo?

— Sim.

— Não é muito novo para isso?

Maxmilliam interrompe:

— Desculpe interromper, mas Ray é bem capacitado, e eu estou supervisionando.

— Agora eu sei quem você é, Maxmilliam, o mestre da magia.

— Sim.

— Agora faz sentido, você é Ray, filho de Ynascar e Raquel.

— Isso, os conheceu?

— Desculpe, só ouvi histórias… Para que não aconteça novamente, vocês poderiam se apresentar também, deve ter mais famosos entre vocês.

— Eu sou Baltazar Thur, o “Touro Náutico”.

— Anirak d’ Cayth, a “Sombra de Alfor”.

— Alexia Azzahar, achei que você me identificaria.

— Desculpe, não.

Maxmilliam questiona:

— Peter, Alexia sofreu um ataque e perdeu a memória, Libryans enviou um guia para Ray, e, por coincidência, Alexia apareceu, ela é uma mestra arbol, não foi enviada por vocês?

— Desculpe, não sei dizer e não a vi antes, mas sei que há algumas semanas alguns caçadores e mestres arbol foram chamados para uma missão real, então é possível.

— Fico aliviada, por um momento achei que eu era uma traidora e não sabia.

Peter fica confuso, mas continua a conversa.

— Ótimo, podemos ir… E você, qual é seu nome, amigo?

Onurb fica um pouco reservado, mas responde:

— Prazer, eu sou o “Gato da Noite”. Podemos entrar, o sol está ficando forte aqui.

Todos estranham, olhando para Onurb, e Peter estranha a situação, sentindo o desconforto de Onurb.

— “Gato da Noite”?

— Sim, esses nomes não interessam…

Anirak o repreende:

— Para de brincadeira, Onurb, ou como você se titulava “O Raposo”?

Peter pega no pescoço de Onurb e o ergue.

— O “Raposo”? Onurb Gaster?

Antes que Peter o levantasse mais ou apertasse mais seu pescoço, Baltazar e Anirak o seguram, chamando atenção dos guardas dos portões, que se aproximam para atacar.

Ray entra na frente dos soldados e faz sinal indicando que está tudo bem, e antes que atacassem, Maxmilliam levanta seu cajado e solta uma onda de energia fraca para chamar atenção de todos.

— Escutem-me! Peter, por favor, mesmo que tenha desavenças com Onurb, essa não é a forma, ele está conosco, por favor, se acalme.

Peter coloca Onurb no chão, e todos ficam pacíficos. Peter diz, olhando bravo para Onurb:

— Nunca o vi antes, mas sei quem ele é, “príncipe” ladrão… Só entrará em Libryans algemado. Não quero esse cleptomaníaco de mãos livres aqui… Vocês que já ouviram falar da cidade sabem que não admitimos tais comportamentos.

— Certo, mas só as algemas? Ele não será preso?

— Sim, só as algemas, como segurança nossa.

Onurb reclama:

AH? Você diz “só”?

Peter se aproxima intimando e encara Onurb.

— Você acha muito?

— Não... Éh... É justo, eu fico admirado por minha fama chegar aqui.

— Sim, chegou pela boca de ladrões dos quais fiz questão de cortar os punhos fora.

— Então foi aqui que eles vieram parar.

— Como ousa?

— Desculpe, desculpe, mas esses foram banidos do clã, sei de quem você está falando, mas quando eles vieram para cá, não eram mais um dos nossos.

— Enfim, esta conversa está finalizada… Guardas, algemem esse homem, e sejam bem-vindos a Libryans.

Onurb reclama baixo:

Siimm... Ótima recepção…

Anirak se aproxima de Onurb e comenta:

— Ray com a biblioteca, Baltazar com a cozinha, e você! Com a prisão, falei que este lugar é bom para todos.

— Ridícula… Você é uma assassina, vou contar seus feitos para ver se você não é condenada à morte antes de mim.

— Calma, Onurb, ou melhor, “Gato da Noite”.

Onurb é algemado. Todos entram no país e são escoltados por Peter e um grupo de soldados. Os soldados de Libryans usam armadura leve, armas simples entre lança e espada e são variados, homens, mulheres e diferentes raças, a maioria humanos e aurem.

Logo aparece uma grande carruagem para levá-los até o castelo. Todos entram e se acomodam. Os cavalos já iniciam em grande velocidade. Peter vai correndo do lado de fora. Anirak e Alexia ficam admiradas.

— Alexia… sério? Ele vai correndo?

— Além de lindo, é esportivo… Um homem perfeito.

Baltazar logo cai no sono. Onurb faz careta e fica desanimado. Maxmilliam e Ray ficam na janela ao lado de Peter. Até chegarem ao castelo, eles falam sobre a missão desde Pronuntio até os momentos de dificuldades, objetivos feitos e o desejo de conhecer Libryans.

No caminho, todos admiram o reino perfeito, casas bonitas, muito verde da natureza, rios cristalinos, aldeões simpáticos e trabalhadores, praças, fazendas, plantação, tudo é destacado por serem bem cuidados. Depois de um bom tempo, Peter pede:

— Parem a carruagem… Está anoitecendo, vamos comer… Vocês devem estar exaustos.

A carruagem para em frente a um casarão, aparentemente um restaurante, e todos saem, com cara de sono e fome. Quando Onurb sai, Peter o impede:

— Você não!

— Como?

— Os soldados vão trazer comida para você aqui na carruagem.

— Achei que eu não estaria preso.

— Mas não terá acesso fácil à cidade.

Onurb olha bravo para todos e encara Maxmilliam.

— Ótima hospedagem…

Onurb volta para a carruagem. Todos ficam um pouco sentidos por ele, mas seguem em frente. O casarão é apropriado para todas as raças, até para Peter, com uma área rebaixada para que ele fique no mesmo nível dos seres comuns.

O lugar tem várias mesas grandes, que estão cheias de comida e bebida, há várias pessoas comendo, bebendo, conversando, alguns artistas tocando instrumentos musicais e cantando. O grupo come à vontade; Peter aproveita e questiona sobre a missão com os outros também. Alexia, Anirak e Baltazar contam tudo, focando nas atitudes boas de Onurb e deixando de lado as ruins, para diminuir o desgosto de Peter por ele.

Peter demonstra surpresa por algumas atitudes de Onurb e um pouco de confiança. Todos terminam de comer, alguns puxam assuntos aleatórios uns com os outros, e Ray questiona Peter:

— Você é um homem importante aqui em Libryans, foi coincidência você nos encontrar no portão?

— Não, Yama me mandou mensagem dizendo que vocês estavam saindo da floresta de Pando. Então eu mesmo vim encontrá-los.

— Yama?

— Sim, ele é um amigo próximo.

Ray fica pensativo por um momento, e, antes que continuasse o assunto, Peter é abordado por um soldado.

— Senhor, Onurb já comeu e já está ficando tarde, senão não chegaremos ao castelo hoje.

— Certo, obrigado, prepare tudo para partirmos… Pessoal, por favor, vamos seguir.

Todos se ajeitam e seguem para a carruagem, e dela para o castelo, agora com Alexia e Anirak ao lado de Peter, que está correndo. Alexia conversa com ele durante o caminho, questionando seus feitos. Peter é reservado, mas aos poucos fica mais comunicativo e fala tudo que ela quer saber. A moça descobre até a sua amizade com Yama, dando asas à imaginação dela.

Tarde da noite, eles finalmente chegam à área do castelo. Passando pelos portões, descem e seguem a pé por um enorme jardim separado em doze partes representando os antigos Electi que protegiam Arbidabliu.

O jardim tem vários soldados de guarda. O grupo ainda é escoltado por Peter, que os leva para dentro do Castelo Winfrey, que é negro e parece ser feito de Zordrak, para gigantes, pois o teto e as portas são maiores do que o normal, com até cinco metros de altura em algumas partes, todo feito de tijolos grandes e fortificado com metal. Há poucas torres, que são arredondadas, com plantas nas bases até a metade.

Na parte mais alta do castelo, há uma grande cúpula com sacada que dá acesso às torres, onde fica a sala da rainha, e emite uma luz fraca que muda de cor de tempo em tempo. Há armaduras e estátuas de enfeite por todos os lados, grandes tapetes, flâmulas das seis cidades que formam Libryans.

O castelo está silencioso, poucas pessoas e pouca guarda interna. Todos são levados até a parte dos dormitórios. Ray estranha.

— Peter? Não veremos a rainha hoje?

— Sinto muito, Ray, a esta hora ela não falará mais com ninguém, mas amanhã cedo vocês a verão, eu prometo.

Todos ficam um pouco desanimados, mas atrativos pelas belas camas que são apresentadas. Arrumam-se no quarto, que tem dez camas, estantes, janelas, barril com água e uma mesa com comida.

Todos deixam seus pertences próximos e deitam, e adormecem torcendo para que o dia seguinte chegue logo. Como já estava tarde da noite, o sono chega rápido.

No outro dia, Ray acorda primeiro com a luz do sol iluminando uma parte do quarto. Ele já levanta alegre e acorda os outros dizendo seus nomes.

— Mestre, Baltazar, Alexia, Onurb, Anirak… vamos!

Ele vai até o banheiro para se banhar e se arrumar. Todos levantam aos poucos e seguem o que Ray fez. Em uma das camas vazias, apareceram roupas simples e leves para todos usarem.

Depois de um tempo, eles já estavam prontos, saem e são abordados por um soldado.

— Você é Ray?

— Sim.

— A rainha vai vê-los em breve, vocês podem me seguir?

— É claro, vamos.

Todos seguem o soldado até a sala da rainha. No caminho, eles veem mais pessoas do que à noite e mais guardas. Alexia admira a beleza e a grandiosidade do castelo, que fica mais belo com o ar da manhã. Ela questiona Ray:

— Ray, o castelo é feito de Zordrak?

— Não, não existe tanto desse material para fazer um castelo assim, foi o alquimista que fez essa “falsificação”, igual com a muralha que parece feita de ouro à luz do dia, ele usou no castelo para deixar mais resistente e intimidar os inimigos.

— Interessante… Realmente… Muito lindo, deve ter demorado muito.

— Sim, mas a construção de toda Libryans teve auxílio de alquimia e magia, além da mão de obra dos moradores.

— Esplêndido.

Todos chegam à frente da sala da rainha. Peter está na porta e nota o grupo.

— Chegaram! Ela já está esperando por vocês.

Baltazar questiona:

— Poderíamos comer primeiro?

Onurb concorda:

— Não gosto de concordar com o touro velho, mas eu também estou com fome.

Anirak responde, brava:

— No quarto tinha comida…

— O touro velho comeu na madrugada… Por isso estou com fome…

— Entendi…

Peter olha para Onurb e pede para o soldado:

— Tire as algemas dele. Desculpe, Onurb, você dormiu com elas?

— Sim… Mas tudo bem, eu faria o mesmo.

— Com você mesmo?

— Não, quando você for visitar meu clã.

Todos ficam um pouco tensos, mas Peter quebra a tensão rindo do comentário de Onurb, que também sorri, brincando com ele.

— O ruim é achar uma algema do seu tamanho.

— Em Irene White, tem de sobra… Bem, vamos… Ah, sim, não se preocupem, a sala já está com comida para que comam com ela.

— Ótimo.

Peter abre os portões pesados, eles entram e ele fecha, fazendo um barulhão alto da tranca. A cúpula, a sala da rainha, é muito grande, há várias pinturas de animais raros nas paredes, muitos pilares pretos nas extremidades, um grande candelabro com joias diferentes no centro que irradia luzes diferentes em todo o salão conforme a luz do sol bate.

O piso é prateado e reflete a luz que entra pela cúpula, deixando a sala bem clara. Duas portas dão acesso à sacada. No fundo do salão, um grande trono elevado, aparentemente feito de flores diversas da mesma cor, púrpura, com uma mulher sentada nele.

Há um trono menor ao lado esquerdo, também com uma mulher sentada nele, e um grande travesseiro, parecendo uma cama enorme do lado direito. À frente do trono, uma mesa com comida e assentos.

Todos passam pelo salão admirando cada detalhe, chegam à mesa e ficam em frente dos assentos ainda de pé. Peter vai até o travesseiro, e as mulheres se levantam.

— Bom dia, meus caros. Eu sou Erèm Mutter Mor, Rainha de Libryans…



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