Volume 1
Capítulo 57: Salve a Rainha
— Bom dia, meus caros. Eu sou Erèm Mutter Mor, Rainha de Libryans…
Mulher, humana, idade em torno dos 50 anos, pele morena, cabelos castanhos cacheados, olhos castanho-escuros, aparência comum e um lindo sorriso que se destaca. Ela está usando uma armadura corporal leve com detalhes em ouro e uma capa branca. No pé do trono, há um escudo grande, negro com detalhes de ouro e prata, e cravada no braço do trono, uma espada, dando só para se ver a bainha, que parece um tridente negro.
Todos reverenciam Erèm, e ela continua:
— E essa é minha conselheira Rosanne do Líbano.
Mulher, humana, idade entre 50 e 60 anos, pele branca, olhos castanho-claros, cabelos curtos e vermelhos, bonita e com um semblante alegre e amistoso. Ela está usando roupas básicas de tons claros e uma echarpe rosa. Reverencia o grupo.
— Prazer em conhecê-los.
Todos se apresentam formalmente, e Rosanne pede:
— Ótimo, por favor, sentem-se.
Todos sentam em seus respectivos assentos, e Erèm inicia:
— Enfim… Chegamos ao final da jornada, fico feliz em vê-los, tive notícias de que só viria Ray, e agora vejo que você veio em grupo.
Todos começam a se servir aos poucos. Baltazar ignora a etiqueta e come normalmente. Ray demonstra muito ânimo e responde Erèm.
— Sim, majestade, no meu caminho consegui fazer amizade com eles e formamos nosso grupo, os Koètuz, para chegar aqui. Sem eles eu não conseguiria passar pelo Império de Cristal.
— O Império realmente é um lugar muito hostil, ainda mais com os ataques que eles tiveram.
— Sim.
— Sei também que você está por dentro sobre a pirâmide de Maslow.
— Sim, o clã para mudar o Império.
— Sim, temo que essa ordem, essa revolução, está perdida.
— Majestade?
Erèm demonstra tristeza.
— Sim, infelizmente muitos morreram, conseguimos resgatar alguns, mandei um exército quando soube de Ducem e Prince, mas chegaram tarde… E os que seguem esse ideal que ainda estão lá terão que se esconder fingindo agir em nome do Império até alguma oportunidade.
— Que oportunidade seria essa?
— A ordem de Maslow conquistou altos cargos militares e políticos no Império, para tomar as cidades independentes, tirar o poder de Xarles deles, deixando só o castelo para ele, assim conseguiria apoio das outras cidades neutras do Grande Continente para deixar Xarles sem poder de tirania.
— Entendi.
— Mas tenho que lhe pedir desculpas, Ray, a minha verdadeira intenção era que você passasse pelo Império e pegasse informações, porém, pelo pouco que eu soube, vocês entraram mais a fundo no Império do que esperado.
Erèm levanta e fica em frente à mesa deles.
— Por favor, me permitam saber tudo o que houve nesses últimos dias.
Onurb desconfia.
— A rainha quer fazer o quê?
— Me conectar com a mente de vocês e saber tudo o que aconteceu.
— Posso contar tudo para a senhoria, se quiser.
Todos ficam tensos e pensativos, e, antes de responderem à Erèm, ela paralisa todos, conectando com suas mentes como um Orbis Absolute individual. A mente dela é poderosa e pode entrar individualmente na mente de cada um. Inicialmente, ela fala com todos.
— Desculpem minha invasão, mas muita coisa aconteceu, está acontecendo e acontecerá, porém serei passiva e deixarei vocês mesmos me mostrarem o que eu preciso e quero saber… Por favor, tudo que for relacionado ao Império e à fidelidade de vocês com o Ray… Lembro a vocês que essa conexão é de via dupla, estou aberta a mostrar tudo que penso, tudo que passo e tudo que desejo para o Grande Continente. Da mesma forma que quero confiança, eu dou confiança. Maxmilliam, um mestre de poder, pode confirmar isso com vocês…
Todos sentem uma paz estranha e um poder bom passando pelos seus corpos como um abraço materno. Erèm começa a conversar com eles um a um.
— Baltazar?
— Eu entendo… Fico honrado em conhecê-la e, agora, sentindo e vendo suas intenções, me coloco à disposição de Libryans.
— Obrigada pela confiança…
Baltazar abre toda a sua vida para Erèm, deixando-a ver toda a sua evolução. Ela vê de relance o passado dele, mas foca desde o dia em que ele conheceu Ray. Esse foco a deixa ver mais claro a situação como se ela mesmo a vivesse, sentindo algumas dores das batalhas que ele passou, como também sentimentos e emoções.
Baltazar pega na mão de Erèm.
— Já ouvi falar desse poder, por favor, minha rainha, passe essa dor para mim, não quero que sinta o que eu senti.
Passando a mão no rosto de Baltazar, Erèm responde:
— Não se preocupe, Baltazar, uma das funções de uma mãe é filtrar o mal o máximo possível, para que seus filhos não sintam dor novamente.
Tudo que Erèm fala sobre o passado é mostrado em flashback para ela e para o dono da memória.
— Baltazar de Thur, grande senhor dos mares, se colocou numa situação humilde seguindo um jovem aprendiz que roubou sua atenção e conquistou sua confiança, palavras de um antigo herói deram mais motivação para seguir esse caminho. Ladrões em Coniuro, guerreiros caos no forte, você se dispôs a salvar os refugiados se colocando à frente dos menos afortunados. Caelum, o lugar paradisíaco, se tornou o início de uma maldição, e você teve coragem e força para seguir junto com seus novos amigos. Em Milite, Alfred, Karl Emil, Marianne, aliados do Grande Continente, Amanda Mahlock, guerreira de guerra, triste ela ter chegado a esse ponto de brutalidade, e mesmo assim lutou contra ela de igual para igual e ainda a honrou com sua arma. Em Citizen, um novo ser criado em guerras antigas saiu do anonimato para atacar o Império. Em Prince, um gigante herói de guerra convertido para ambições malignas, lamentável ter ficado “vivo” naquelas condições. Em todo o seu percurso, consigo ver amizade sincera, fico feliz em ver esse amor raro aparecer nos corações humanos. Floresta de Pando, vejo um peso antigo ser tirado do seu enorme coração… Baltazar, obrigada por tudo…
— Foi uma honra, queria aproveitar esta oportunidade…
— Sim, realmente precisarei de seus serviços num futuro próximo. Depois que o Grande Continente for unificado, precisarei de fiéis conhecedores dos mares para estender a ajuda que damos a todos e acabar com as brigas e guerras.
— Obrigado.
— Alexia?
— Minha rainha, minha mente é confusa para mim mesma, espero que seja clara para a senhora…
— Vamos ver e esclarecer tudo, juntas… Alexia Azzahar… Então foi você que foi na missão… Semanas atrás, eu fiz uma reunião entre caçadores e mestres arbol, você chegou atrasada e eu não a vi. Entre os chamados, um homem foi escolhido. Foi usado um pergaminho de teleporte para deixá-lo o mais próximo possível de Coniuro, mas tivemos um problema e outra pessoa foi enviada no lugar. Agora vejo quem foi.
— Então eu atrapalhei?
— Não. Veja por si só, essa troca que o destino fez proporcionou muito para o Koètuz. Antes de ser encontrada no forte de Coniuro, você lutou para ajudar os refugiados, e mesmo com problemas na memória ajudou aqueles que precisavam e se uniu ao grupo de Ray para ajudá-lo em sua missão. Vejo que em alguns momentos você teve algum inconveniente, um tipo de azar. Vejo Aquarium, interessante… Em Baron, você ficou ao lado de Anirak enfrentando tudo e arriscando a própria vida, você é uma grande companheira, seu azar atrapalhou muito suas ações no caminho, mas sempre manteve a disposição de ajudar o grupo. Em Pando, uma grande paixão despertou em você, uma admiração que só em ver eu me sinto animada também. Os ladrões que atacaram vocês na floresta aqui perto devem ser pegos, por favor, avise Peter depois que acabar esta audiência, você defendeu todo o grupo contra ladrões, e não falou que os defendeu, você tem grandes habilidades escondidas durante toda a missão.
— Obrigada, mas não é muito.
— Só o fato de você lutar e se colocar no lugar dos outros já é muita coisa, não se diminua, todos foram essenciais para essa jornada. Obrigada por ter vindo ao meu chamado.
— Mas e esse “azar”? Todos comentam sobre, e a maior parte eu não percebo.
— Alexia, me arrisco a dizer que esse azar na verdade foi sorte, se não fosse por ele você não teria sido teleportada para esta missão. Em alguns confrontos, vejo que a sua ausência pode ter sido boa para salvá-la de alguma situação ou até mesmo evitando atrapalhar seus amigos.
— Se a senhora diz, verei desse jeito, sinto seu otimismo me dando força e mais coragem.
— Obrigada. Vendo a história de vocês, me dá ânimo em ver pessoas distintas unidas por um ideal mútuo… Eu adoraria a sua presença aqui, mas vejo que você tem uma grande vontade de voltar para Pando e se estabelecer lá. É bom quando achamos nossa paixão de vida, mesmo que seja admirar o amor que o mundo quer nos mostrar.
— Onurb?
— Éh... Só veja o que eu vi no Império, o resto não é importante.
— Um filho, mesmo que adotado por um irmão de guerra, precisa de um incentivo maior.
— Nah!
Erèm vê além do que Onurb quer mostrar, vendo também toda a sua vida.
— Onurb Gaster, famoso rei dos ladrões, o Raposo, o cleptomaníaco… Mas o que há por trás desse homem com máscara de covarde, órfão acolhido por um antigo herói de guerra que também tem muito desse mesmo gênio, rouba de todos e divide igualmente entre os seus? Vejo muita hostilidade e egoísmo, mas ninguém é perfeito… No forte e em Caelum, não vejo nada de mais. Confesso que você tem um jeito peculiar de agir, mas é inteligente. Em Ducem, vejo como você realmente é em batalha, honroso e disposto a dar o melhor de si. Em Prince, ao enfrentar seus maiores medos para salvar alguém que não conhece ou até mesmo lutar por uma causa que não é sua, mostra quem está por trás dessa máscara de covarde. Em Pando, mostrou sua aceitação por aqueles que você não entendia… Mas a verdade está por trás de uma das suas famas que é tão criticada, cleptomania…
Onurb começa a chorar, e Erèm continua, aproximando-se dele.
— Um menino órfão que foi salvo e hoje faz o mesmo por seus irmãos sem pais. Te pergunto, Onurb, por que seu orfanato é escondido? Pedir ajuda aos outros ou mostrar esse lado sentimental não o tornará mais fraco, e sim mais forte. Você rouba tudo que pode para dar uma vida boa para essas crianças, vejo um casarão dado por Alfor, vejo crianças batizando “O Raposo” como o homem que traz comida e alegria todo mês ou até toda semana, um homem que vem acender esperança para aqueles que perderam… Confesso que meu cargo não me dá tempo para ver essa cena, mas estou maravilhada por ver tantas crianças brincando e vivendo num mundo perfeito criado com amor, amor que ninguém sabe que existe… Eu choro, mas choro de alegria em ver “ele” dizer isso, motivando você a ir nesta aventura.
Onurb comenta:
— Ele disse que, na época em que cada um seguiu suas vidas, a senhora disse para ele dar oportunidade ao amor, que o amor que ele pode sentir é tão grande, que uma pequena semente faria uma grande plantação crescer…
— E foi o que aconteceu… Ele te acolheu e criou como filho, você o aceitou como um pai e criou muitos outros, além dos adultos sem família e abandonados que você ajudou a seguirem seus caminhos dando oportunidades que muitos negaram… Mas por que, Onurb? Vejo que o mesmo conselho que eu dei a ele, ele deu a você… Ah, sim… Agora vejo, Koètuz, algo que você nunca teve, amigos, para brigar, se ajudar e ter aventuras… Sua história é linda, Onurb, fico grata por ter seguido esse caminho e tenha vindo me ver, sinto seu ânimo quando soube que me encontraria…
— É que eu…
— Onurb, não precisa pedir, será feito… Da mesma forma que Pando foi feita para reunir seus iguais para se auxiliarem, nós ergueremos essa sua vontade, todos que ficaram órfãos, seja qual for o motivo, serão acolhidos, e não abandonados ou feitos de escravos como o Império faz.
Onurb ajoelha, e Erèm ajoelha junto com ele e o abraça. Onurb, ainda chorando, retribui o abraço e diz:
— Obrigado…
— Obrigada a você, por multiplicar o amor que lhe foi dado.
— Anirak?
— Estou em pleno dispor do reino, majestade.
— Obrigada… Anirak d' Cayth… A Sombra de Alfor… No forte e em Caelum, vejo muita disposição, coragem e determinação. Você é uma mulher focada, conseguiu muitas informações sobre o Império. Em Baron, Jules Henri, Braço Direito, Braço Esquerdo, Olho Bom, nossos aliados, pena terem tido tantas perdas. Essa Chris… Já ouvi falar dela, uma origem bonita com um final triste… Izolna, interessante… Em Prince, o desânimo por não conseguir derrotar seu inimigo. Erros e fraquezas servem para que possamos melhorar, Anirak, não se culpe pelo mal que os outros fazem, o nosso “tentar” já é o início de grandes mudanças. Em Pando, você teve muita convicção… Você é uma mulher notável, Anirak, essa missão acordou você do comodismo em que estava em Coniuro, nessa missão você descobriu muito de você mesma e o que quer fazer na vida.
— Sim.
— Eu aceito você, Anirak, Libryans está de portas abertas, pode mudar quando quiser, será ótima sua ajuda e a sua vontade de ajudar aqueles que sofreram com violências por aqueles que só deveriam receber amor… Mas o que Maxmilliam disse nos portões é verdade, não se torne o que sempre odiou, não separe ou se sinta superior aos outros, todo ser é notável, incrível e igual, assim fez Deus, o Criador dos mundos.
— Desculpe, e obrigada, minha rainha.
— Eu sinto sua empatia comigo, fico honrada por se sentir assim, pode me chamar como você se sente bem.
— Obrigada, Mãe.
— Maxmilliam…
— Minha senhora.
— Você dispensa formalidade e introdução.
Maxmilliam sorri, e Erèm continua:
— Você assumiu como tutor de Ray, ou, pelo que eu posso ver, como um pai e uma mãe que ele precisou ter depois que nossos amigos Ynascar e Raquel morreram. Você o treinou, cuidou, protegeu e o acompanhou em tudo. Nossos amigos estariam orgulhosos de ver o que você faz por eles e o que Ray se tornou.
— Não foi nada, foi um prazer tê-lo como pupilo.
— Um ótimo aprendiz, mesmo treinando com você ele ainda treinava e brincava com os amigos de infância.
— Um dos motivos de virmos para cá…
— Sei, infelizmente não tenho informações, fiquei sabendo da missão deles recentemente.
— Estranho… Ray ficará triste…
— Sim, mas farei o possível para descobrir o que houve com eles… Pronuntio, embarcação, Coniuro, forte, Caelum, Sodorra, Prince, Detroit, Floresta de Pando e, enfim, Libryans… Em sua mente, consigo ver muitas coisas do Império, foi perigosa sua estadia em Sodorra, mas proporcionou muita informação. Vejo os planos da prisão, a arma biológica, a intolerância, a arrogância… No próximo ano, temo que o Grande Continente seja dividido… Mas não quero que se preocupem antecipadamente, vamos aguardar… Obrigado, Babar.
— Foi uma honra.
— Finalmente… Ray...