Volume 1

Capítulo 55: Praeteritum

— Esse sim é Maxmilliam de Galfik, o poderoso Mestre da Magia que ascende aos meus olhos!

Maxmilliam avança rápido contra o homem com vários golpes com a lança. A cada golpe, a lança é envolvida com um elemento diferente, tentando queimar, eletrocutar, atordoar, entre outras formas de ferir, e derrota o inimigo.

O homem faz a espada aparecer em sua mão e consegue aparar os golpes e se esquivar de alguns. Maxmilliam aumenta a força, a agilidade e o poder das magias em seu limite e consegue fazer o homem recuar até atingi-lo no peito, forçando-o contra o chão e cravando-o na rocha.

O homem demonstra dor, mas segundos depois sorri.

— Esplêndido… Se fosse no mundo real, eu estaria numa situação crítica.

Maxmilliam consegue esconder seu espanto, pois mesmo nessa dimensão esse golpe deveria fazer a mente do homem sucumbir e fazê-lo ficar em coma no mundo real. O homem lança a espada em Maxmilliam, que bloqueia e a joga longe.

O homem segura a lança ainda em seu peito, e com as mãos a retira, demonstrando ser mais forte do que Maxmilliam. Aos poucos, o corpo do homem aumenta de tamanho, aparecem placas de metal, e ele também fica na forma de um guerreiro caos. A armadura é negra com detalhes em laranja-escuro. A luz de seus olhos é roxa.

O elmo tem nove chifres e ele conjura um grande tridente, com pontas largas e lâminas nas extremidades. O homem ataca Maxmilliam, e os dois ficam em uma luta bruta. O barulho alto das armas se colidindo parece trovões no céu, socos fortes, uma nevasca começa a se formar, as armaduras a trincar, as armas envergam da força usada um contra o outro.

Os dois usam magias diversas para atacar, golpes mentais, elementos, distorção de realidade, gravidade, entre outras. A dimensão da mente começa a trincar como se fosse vidro, de tanto poder usado. A montanha começa a rachar, partes das armaduras são destruídas.

Os dois conseguem conter e se defender das magias externas, mas Maxmilliam fica fraco com golpes e magias diretas. Os dois demonstram um pouco de cansaço, e na primeira brecha de defesa, o homem atravessa com seu tridente o corpo de Maxmilliam, que tenta contra-atacar com a lança, mas é desarmado por magia.

A sua armadura começa a se desfazer virando poeira, ele fica preso e pendurado no tridente. O homem faz o tridente se envolver em eletricidade, e o corpo de Maxmilliam paralisa, mas ainda consciente para ouvi-lo dizer:

— Foi uma grande luta, Maxmilliam… Hoje você não protegerá ninguém, está na hora de agirem por si só.

 

Ray volta para a clareira, vê Maxmilliam em pé no meio dela, olha ao redor e estranha em ver seu mestre parado desse jeito. Aproxima-se e nota que o cajado dele está no chão.

— Mestre?

Maxmilliam cai desmaiado no chão, apavorando Ray.

— Mestre? O que houve?

Ray larga a lenha, socorre seu mestre, segura-o e percebe que Maxmilliam está vivo, mas desacordado. Ray se acalma um pouco e ouve uma voz se aproximando.

— Calma, garoto, ele só está tirando um dia de folga.

— Você que fez isso?

— Essa não foi uma pergunta inteligente.

Ray analisa melhor o estado de seu mestre, olha para o homem e diz.

— Orbis… Vocês lutaram…

— Essa foi uma afirmação inteligente.

— Ele perdeu…?

Ray levanta, se arma e continua a conversa.

— E os outros? O que você fez?

— Digamos que todos estão de folga hoje.

— O que quer dizer? O que você quer?

— Serei direto, Ray, sua jornada acaba aqui, você não pode prosseguir…

— Quem é você para afirmar isso?

— Essa mania de querer saber…

— Anuncie, você sabe meu nome, tenha decência de dizer quem você é.

— Decência? Me senti insultado agora… Já que vocês fazem tanta questão disso, eu me apresento... Eu sou Magnus Leafar…

Ray analisa Leafar tentando ver se o conhece ou se já ouviu falar dele. Observa ao redor e pensa se está em algum tipo de magia ou se está enfeitiçado. Leafar o encara e, sorridente, comenta:

— Muito bom, analisando as alternativas. Mas vou te adiantar que você está no mundo real e tudo isto é real, sem ilusão, sem encanto, sem pesadelo, tudo ao vivo.

Leafar apalpa suas vestes e comenta baixo:

— Cadê? Eu fui roubado?

— Então é isso, uma luta? E só?

Leafar fica pensativo sobre o que lhe foi roubado e continua conversando.

— Viu? É simples, mas infelizmente você não tem ajuda de ninguém agora, agirá por conta própria… Acha que está preparado para isso?

— Veja por si só…

— Você é um guerreiro, não? Ou um guerreiro mágico? Essa moda ficou popular um tempo atrás.

Ray avança para atacar, Leafar faz sua espada aparecer em sua mão e, com uma cara animada, diz:

— Atitude! Gostei de ver.

Ray ataca com uma investida e uma sequência de ataques com a espada. Leafar consegue se defender, mas fica recuado. Ray une sua funda com alguns golpes, tentando segurar o braço de Leafar e atrapalhar a defesa, mas ele consegue aparar todos os golpes do jovem e esquivar das investidas.

— Esperava mais.

Ray se lembra do seu treinamento com Baltazar e Anirak e muda a posição de seus ataques, unindo agilidade com força e ângulos vantajosos para seus ataques. Leafar quase é acertado e é empurrado para trás.

— Agora sim… Muito ágil para um guerreiro…

Leafar dá um golpe muito forte. Ray prevê e consegue se esquivar, mas mesmo assim a sua camisa é cortada. As folhas das árvores balançam, e Ray tem a certeza de que não está lutando com um humano comum.

Leafar ataca Ray com agilidade e força igual à dele, conseguindo dominar o combate e fazendo Ray recuar e ser acertado no braço e na perna. O garoto consegue acertar um mortal empurrando Leafar com os pés.

Ray tenta acertar uma voadora, Leafar usa magia e o joga em uma árvore. No trajeto, Ray lança uma manopla que quase acerta Leafar.

— Garoto ágil e ousado.

Ray volta a atacar, mas Leafar o paralisa com magia.

— Estou sem tempo, já vi o bastante… Agora é o fim.

Leafar lança a espada em Ray, que consegue apará-la com a sua, jogando a de Leafar longe.

— Passei por várias coisas, desafios, morte, e não será você que vai determinar o fim de minha vida.

— Conseguiu sair da paralisia…

Leafar sorri sentindo poder crescendo em Ray, que usa a funda e joga várias pedras em Leafar. Este usa magia e as para no ar perto de sua mão, fecha o punho, e as pedras se grudam formando uma pedra maior, que ele joga em Ray.

O garoto consegue pegar a pedra no ar com a funda e joga de volta em Leafar. Antes que Leafar jogasse de volta, Ray faz um gesto com a mão e com magia faz a pedra estourar em uma pequena nuvem de poeira, dificultado a visão de Leafar. Ray arremessa algo, e Leafar para no ar com magia de novo.

Quando ele consegue enxergar, vê que Ray jogou um frasco com algo químico dentro. O garoto joga uma pedra, estourando o frasco e jogando o líquido em Leafar. Em segundos, ele é envolvido em chamas. Ray crava a espada no chão, e com magia faz o chão ceder e prender os pés de Leafar.

Ray corre, pega uma corda em uma mochila e com magia usa-a para amarrar a mão de Leafar e prendê-lo em uma árvore. Ele fica confuso e sem reação. A poeira abaixa, Ray pega a espada e ataca Leafar. A espada acerta uma parede invisível a centímetros de distância dele.

— Entendi, você ganha vantagem com o tempo…

O fogo apaga. Leafar encara Ray com um tom sério e maldoso:

— Você é igual à sua mãe, aprende rápido com o adversário.

— Como você a conhece?

Leafar quebra o chão, soltando seus pés, segura forte na corda e solta um berro. A corda é envolvida por magia e puxa a árvore, o que faz soltá-la do chão com raiz e tudo, jogando-a em cima de Ray.

Ele consegue pegar distância, impulso e, com acrobacia, desvia da árvore e corta a corda. Leafar solta um raio elétrico em Ray, que apara com magia, fazendo direcionar para outro lado. Leafar solta magia em Maxmilliam, que está no chão.

Ray entra na frente, tentando desviar a magia novamente, mas não consegue, leva um dano forte e ajoelha no chão.

— Está na hora, Ray, adeus!

Leafar carrega uma grande energia, absolvendo também a energia ao redor, e fica uma aura escura em toda a clareira.

Ray se lembra do que Leafar falou: “Você é igual à sua mãe, aprende rápido com o adversário”. Nisso, ele tem uma clarividência, como se o tempo parasse e ele visse através das árvores a energia que Leafar está acumulando e seu treinamento de magia.

As escritas do cajado de Maxmilliam brilham. Ray rapidamente faz um círculo ao seu redor com sua espada, crava-a na sua frente, pega uma Libra e arremessa-a usando para aparar a magia de Leafar, que é solta em sua direção. O raio atinge a moeda e para o raio contínuo no ar. A moeda aos poucos é empurrada em direção de Ray e bate em um campo de força feito pelo círculo do chão.

Ray aponta sua mão, e o cajado de Maxmilliam vem até ele. Em um gesto rápido, ele bate a ponta do cajado na moeda, e a energia paralisa, paralisando Leafar na outra ponta.

— Você conseguiu combinar magias de alto nível…

— Eu sinto essa grande quantidade de energia que você está usando, você não mataria só eu, mas todos ao redor.

— Você calculou mal minha magia.

— Não importa, toma ela de volta!

Ray grita de raiva e bate forte o cajado na moeda, fazendo um barulho alto. Um grande impacto é feito, balançando as árvores e tudo ao redor. A magia volta contra Leafar.

— Não, isso não pode…

A magia envolve Leafar em um globo transparente e aos poucos faz o seu corpo virar pequenas partículas de água que flutuam até a borda do globo, fazendo este ficar esfumaçado e líquido.

— Achei que fosse só um guerreiro…

— Sou um aprendiz.

Leafar não demonstra estar sentindo dor e nem remorso. Ele fica alegre e despojado e fala com Ray enquanto seu corpo desaparece.

— Parabéns, Ray… Não sabia que ainda existiam Praeteritum em Arbidabliu…

Leafar ri com uma gargalhada insana e desaparece dentro do globo.

— Eu sobreviverei…

O globo comprime puxando o ar ao redor e explode empurrando tudo em volta. Ray se recompõe e sente seu corpo fraco. Aproxima-se de Maxmilliam e tenta acordá-lo.

— Mestre, você está bem? Acorde, por favor.

Ray se aproxima de onde o globo explodiu e certifica-se de que Leafar morreu.

— Nunca ouvi falar de uma magia assim… Não sobrou nada, ninguém sobreviveria a isso… Magnus Leafar… Quem foi ele? Ele conhecia minha mãe?

Ray sente uma dor na cabeça, não consegue resistir ao cansaço, ao dano e à falta de energia. Ele volta um pouco e desmaia ao lado de Maxmilliam.

Ray acorda de manhã ao lado de seu mestre, Onurb, Anirak e Baltazar, que estão dormindo. O garoto fica agitado.

— O que houve? Acordem!

Ray tenta levantar, mas ainda se sente cansado.

— Calma, Ray…

Alexia fala com ele. Ao vê-la, ele se acalma.

— Alexia? Que bom vê-la.

— Digo o mesmo, Ray.

— Você foi atacada?

— Não, eu acordei na madrugada no meio da floresta com um barulho forte de explosão, caminhei e achei todos vocês desacordados em lugares um pouco distantes. Onurb, Anirak e você estão com alguns ferimentos, mas eu já estou cuidando disso. Baltazar sempre está com arranhões e é cheio de cicatrizes, então não sei se ele lutou com alguém, mas estou cuidando dele também.

— Ele deve ter usado magia em você, que bom que você acordou a tempo.

— Magia? Eu fui atacada e nem percebi?

— Provavelmente.

— Então ele é poderoso? Você o derrotou?

— Sim, ele usou uma magia para me matar, e consegui usá-la contra ele.

— Incrível, Ray, por isso você está esgotado assim…

— Mas foi sorte, ele já tinha lutado com todos vocês antes, ele já estava cansado.

— Não se diminua, Ray, se não fosse por você, todos nós poderíamos estar mortos… Agora descanse, estamos seguros.

Ray se deita, relaxa um pouco, e Alexia comenta baixo:

— Acho que estamos seguros… Estou de prontidão, qualquer coisa eu acordo todo mundo… Não conseguiria carregar todos se algo acontecesse… Carregar Baltazar até aqui foi tão cansativo… Vou vigiar deitada, assim descanso e fico de guarda ao mesmo tempo.

Alexia cai no sono junto com Ray. A manhã passa sem problemas, todos conseguem descansar e recuperar as energias. O dia passa, e Ray acorda, olha para os lados e vê que os outros já estão acordados e comendo.

— Ótimo, estão todos bem.

Baltazar se aproxima de Ray e aperta firme a sua mão.

— Parabéns, Ray, Alexia contou que você derrotou o homem estranho que nos atacou ontem… Quem era ele?

— Não sei, algum de vocês conseguiu conversar com ele? Ou pegar alguma informação?

Anirak, desanimada, fala:

— Estou com dor de cabeça e sempre que tento me lembrar da luta ela dói mais.

— Ele usou magia contra vocês?

— Sim.

— Deve ter sido isso, minha cabeça também dói, ele era mais poderoso do que aparentava.

Onurb se anima e mostra uma chave para todos.

— Na luta, eu consegui pegar isto dele, deve abrir algo importante.

Maxmilliam observa bem a chave.

— Estranho, esse emblema na chave me parece familiar.

— De onde, mestre?

— A Chave Mestra…

— Impossível, como tal artefato estaria com ele?

— Justifica ele ter nos derrotado… Nunca perdi uma batalha em Orbis Absolute.

Onurb zoa Maxmilliam.

— Olha só, o grande mestre perdendo também, agora não me sinto tão inútil por ter perdido também.

Anirak repreende Onurb:

— A diferença é que você é sempre inútil.

— Eu não, Ray adquiriu experiência nessa luta e eu ganhei esse artefato.

— Pode ser uma chave falsa.

— Veremos, Maxmilliam. Você que conhece, pegue a chave e veja se é uma autêntica Zordrak… Assim eu terei duas, fora Aquarium, que me dá sorte…

Maxmilliam pega a chave e a analisa. Onurb procura Aquarium em sua roupa e entre seus pertences.

— Vocês a pegaram?

— Não.

— Impossível, aquele maldito me roubou também.

— Eu não estou surpresa, melhor verificar se algo a mais foi roubado ou destruído.

— Ray? Alexia disse que o cara virou pó, será que os itens dele também?

— Sim, antes de ficar sem energia eu me certifiquei de que não sobrou nada.

— Que infelicidade.

Maxmilliam se certifica de que a chave é um artefato Zordrak.

— Realmente… Como ele conseguiu essa chave?

Ray comenta:

— O nome dele é Magnus Leafar… E com certeza ele é um Praeteritum.

— Praeteritum? … Sim, faz sentido… Ele conseguiu lutar com cada um de nós agindo em nossas próprias áreas…

— Mestre, ele foi tão poderoso assim?

— Sim, a única pessoa que me derrotou em Orbis Absolute antes foi meu mestre, sempre tive aptidão para isso…

Onurb comenta:

— O dia de ser ultrapassado sempre chega, Maxmilliam… Dê minha chave.

— Não, Ray derrotou Leafar e é o único digno desse artefato.

Anirak concorda:

— Sim, e mais inteligente do que Onurb… A cleptomania de Onurb mais esse artefato trarão confusões para todos, ainda mais para nós que andamos junto com ele.

— Pelo contrário, melhor combinação possível seremos eu e essa Zordrak “abre tudo”.

Todos concordam com a cabeça que Ray deve ficar com a Chave Mestra. Onurb olha para todos, olha para Ray e cede.

— Certo, tanto faz, eu nunca precisei disso mesmo.

Ray se demonstra irritado e comenta:

— Ele conheceu minha mãe.

Todos se olham, e Maxmilliam, pensativo, conclui:

— Então ele é mais velho do que aparentava ser também…

Anirak questiona:

— Ele não foi um dos imortais?

— Não, ele não foi um deles… E Ray disse o nome dele, Magnus Leafar, eu nunca ouvi falar dele.

— Você que é o mais velho não sabe, então nem vou perder meu tempo pensando — diz Onurb.

Anirak começa a arrumar seus pertences e empurra Onurb.

— Você nunca pensa.

— Penso, sim… Como agora, nosso inimigo foi morto pelo nosso líder Ray, e agora podemos continuar, até o anoitecer estaremos comendo bem e livres desta missão.

Anirak concorda.

— Onurb disse algo útil, vamos levantar o acampamento e seguir.

Todos concordam, arrumam as coisas, comem algo e seguem pela floresta. No caminho, falam como foi a luta contra Leafar, como ele foi forte contra Baltazar, ágil contra Anirak e Onurb e poderoso com Maxmilliam.

O mestre, sabendo que enfrentou um Praeteritum, conclui que antes dos ataques Leafar manteve todos separados dentro de um campo de energia para que os de fora não ouvissem barulho de luta, explicando o porquê de estarem perto um do outro e não saber que estavam em perigo. No meio da tarde, todos saem da floresta e conseguem ver Libryans.

Maxmilliam vai na frente com seu cajado emanando uma aura que conecta a torre mágica da cidade, informando que aliados estão chegando.



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