Volume 1

Capítulo 53: “Mini-Boss”

Manhã, 04 de outubro de 1590. Arredores de Libryans.

Yama para a carruagem. Sempre com bom ânimo, ele desce e avisa o grupo:

— Enfim, chegamos… Como eu disse, consegui reduzir um pouco o tempo da viagem.

Onurb sai primeiro com um rosto cansado.

Aaahh! Finalmente! Foi rápido, mas muito desconfortável, poderíamos ter feito mais paradas ou ter colocado o touro velho numa carruagem só para ele ou puxando ela.

Alexia sai depois de Onurb.

— Concordo com Onurb, para uma mulher é difícil ficar segurando necessidades básicas, e Baltazar come muito.

— Obrigado, Alexia, você longe daquela cidade fica mais consciente.

Anirak sai da carruagem.

— De tantas lutas que passamos, quase morremos, e vocês reclamam de uma viagem de carruagem?

Onurb continua reclamando.

Ah? Você ficou confortável? Essa carruagem é uma máquina de tortura.

Baltazar sai disposto da carruagem.

— Você reclama demais, Onurb. Eu dormi muito bem, e foi tranquila a viagem.

— Foi o que eu disse… Poucos ficaram bem, e eu fiquei no grupo de resistência. Espero que em Libryans nos deem uma ótima hospedagem.

Maxmilliam sai da carruagem se espreguiçando.

— Eu também consegui dormir bem… E em Libryans teremos uma ótima hospedagem, pode ter certeza disso.

— Perfeito.

Ray sai da carruagem animado.

— Pronto, falta um dia para o fim da nossa missão.

Alexia e Anirak se animam pensando em Libryans.

— Vamos conhecer a grande rainha, a primeira mulher que governa plenamente um país inteiro. Por mim, ela poderia governar o continente inteiro… Você já passou por lá, Alexia?

— Sim, mas foi bem passageiro, a cidade é linda.

— Mas você veio de lá, não?

— Sim, mas…

— Verdade, você perdeu a memória… Então lá eles podem ajudá-la a lembrar.

— Assim espero… Só me lembro de anos atrás que dei uma passada nela, mas não vi muito.

Yama começa a se despedir um a um, primeiro apertando a mão de Baltazar.

— Baltazar, cuide-se, bom saber que Ray tem um grande guarda-costas com ele.

— Obrigado, você também.

Um abraço junto com Anirak e Alexia.

— Meninas, obrigado pela simpatia… Você, Alexia, é muito engraçada.

— Obrigada, foi ótimo ver você e os meninos… Por favor, quando acabar esta aventura, eu vou voltar lá, e quero ver todos os eventos que vocês fazem e ler tudo, só de lembrar já me sinto extasiada…

Onurb puxa Alexia.

— Afaste-se e volte ao normal, por favor.

Yama reverencia Maxmilliam e abraça Ray.

— Ray, foi um prazer conhecê-lo.

— O prazer foi nosso, e muito obrigado por nos trazer pessoalmente.

— Foi uma honra.

Yama fica sem jeito e se despede de Onurb de longe.

— Foi um prazer conhecê-lo também, Onurb.

Onurb balança a cabeça e abraça Yama.

— Também foi um prazer, e me desculpe se eu fui rude com você ou com seus irmãos lá.

Todos ficam espantados, sem palavras e sem reação, admirados por ver Onurb ser tão amigável, ainda mais com um Yaoi. Yama sobe na carruagem feliz, e Onurb comenta, rindo e com uma banana na mão:

— Uma banana?

Yama responde, rindo:

— Ninguém espera por uma banana.

Todos ficam confusos, e Maxmilliam explica enquanto Yama volta para a floresta com a carruagem:

— Onurb abraçou Yama para roubar algo de valor, mas Yama trocou o item que ele ia roubar por uma banana.

Anirak fica decepcionada.

— Não acredito que aquilo tudo foi encenação.

— Não foi, eu fui sincero, sim, conhecendo a sede deles e o estilo de vida, eu confesso que errei muito sobre eles, eles são bem civilizados, mas ainda me dão um pouco de medo… Como ele soube que eu estava furtando algo dele?

Maxmilliam responde:

— Ele é um sacerdote, sacerdotes mais experientes conseguem ler as ações e as emoções das pessoas. Eu preciso usar magia para fazer isso, no caso deles é um dom natural… Então, vamos indo?

Onurb comenta:

— Deveríamos ter vindo com montaria, assim iríamos até Libryans mais rápido.

— Daria na mesma, porque demoraria mais e não teríamos alimento para nós e para os animais… Infelizmente a carruagem precisa de manutenção depois de um tempo de uso. Se continuássemos, Yama não conseguiria voltar.

— Ele poderia ter ido junto, lá ele arrumava o que precisa.

— Não, Onurb, já usamos muito da hospitalidade deles, e falta pouco para chegarmos, amanhã de manhã já estaremos lá.

A carruagem some em uma pequena estrada da floresta de Pando. O dia está fresco, céu sem nuvens com o lindo sol chegando ao centro da paisagem bonita que se forma. O grupo observa ao redor, a planície com pequenos rios ao longe, grandes pedras e no fim de onde se pode ver uma floresta pequena que dá acesso à estrada de Libryans. Baltazar questiona:

— Quem está com a comida?

Onurb repreende:

— Comemos agora de manhã e você já quer comer de novo?

— Sim.

— Eu estou racionando até chegarmos a Libryans, você comeu tudo que podia até o momento.

Ray anima Baltazar:

— Lá na floresta podemos achar comida, assim poderemos comer em abundância.

— Verdade… Vamos.

Todos caminham até a floresta. No caminho, eles elogiam a aventura, as experiências, os novos itens, novos amigos, tudo que a aventura trouxe para o grupo, até as novas cicatrizes que ganharam dos inimigos experientes que enfrentaram. Em um momento, Maxmilliam questiona Ray.

— Ray, você parece quieto desde que saímos, algo o perturba?

— Estou pensando sobre tudo… E na magia Folclore… Lembro que o guardião mostrou onde meus amigos de Pronuntio estão, mas… só me lembro de ter entrado no portal, não lembro depois disso.

— Entendo. Quando chegarmos a Libryans, me lembre disso, lá terei artifícios de ajudá-lo a recuperar essa memória perdida.

— Sim, será muito bom.

O grupo chega à floresta no meio da tarde. Antes de entrarem, Anirak comenta:

— Vamos aproveitar esse tempo de sobra e treinar um pouco, Ray ainda precisa ficar melhor no combate corpo a corpo e à distância.

Onurb comenta:

— Ótimo, e eu vou descansar, andei muito.

— Você poderia ajudar o Ray em alguma coisa, não? Ray pode ser um Praeteritum com nossa ajuda.

— Eu já ajudei com o essencial, “primeira oportunidade, fuja”… Além disso, um Praeteritum não se faz assim, só por treinos diversos; se fosse assim, aqueles “Iaoi” seriam todos Praeteritum.

— Mesmo assim, sinto que Ray é diferente.

Ray fica um pouco envergonhado, e Maxmilliam diz:

— Concordo com Anirak, Ray sempre demonstrou aptidão em tudo que aprende.

— Viu! Decidido, vamos montar o acampamento aqui e começar. Ray, se prepare. Alexia e Baltazar, por favor, me ajudem.

— Certo!

Todos armam um pequeno acampamento conforme os itens que têm ao seu dispor, fogueira para comida, lugares para sentar e deitar, onde Onurb descansa e Maxmilliam medita. Todos iniciam um treinamento com Ray, um pouco mais intenso do que os outros, com base no que viram no clã Yaoi.

Ray fica confuso e perdido no início do treinamento, mas em um tempo ele dá uma virada e assume um papel de aprendiz experiente, juntando técnicas de diferentes classes em suas defesas e ataques, junções que deixaram Anirak alegre. Maxmilliam se desconcentra olhando Ray se destacar no treinamento, força, agilidade, destreza e inteligência.

Todos esses pontos, Ray uniu em golpes fortes e esquivas boas, ataque corpo a corpo, treino com arco, “soqueiras”, espada, e evoluiu seus golpes com a funda. Um tempo passa e todos param para comer.

Eles riem e elogiam Ray pelo aumento de nível, fazendo jus em ser o líder do grupo. A noite se inicia, e Ray levanta, espreguiçando-se.

— Vamos indo? Aqui vai fazer muito frio, vamos acampar no meio da floresta e de manhã chegamos a Libryans.

Onurb comenta:

— Deveríamos ter ido direto, já teríamos chegado.

Anirak responde:

— Com você, preguiçoso, chegaríamos com dez dias de atraso.

— Não é para tanto, vocês queriam treinar, eu aproveitei e meditei. Maxmilliam ficou meditando também, e ninguém fala dele, só porque ele é velho.

— Você não é muito jovem, Onurb, não fala assim do Max, ele está sempre usando o poder dele para nos proteger e para achar algum inimigo por perto.

— Sei, não confio, não, a última vez não existia magia na floresta e acabei enfrentando um Pererê.

— Um o quê?

— Deixa pra lá… Se Maxmilliam está nos protegendo, então vamos sem medo.

Todos arrumam os seus pertences e seguem pela floresta, que inicia densa, mas depois de um tempo fica mais aberta. Achando uma pequena clareira, Alexia observa e diz:

— Este lugar é perfeito, já tem alguns troncos para sentar… Alguém já deve ter acampado aqui antes… Eu vou atrás de comida.

Anirak se anima:

— Ótimo, eu vou ver se tem peixe no rio aqui perto. Onurb? Não vai ficar encostado agora, não, venha me ajudar.

— Tenho alternativa?

— Não!

— Certo, então vamos.

Baltazar larga seus pertences e, com seu machado em mãos, comenta:

— Vou atrás de lenha, e quem sabe achar alguma caça.

Ray olha para Maxmilliam e questiona:

— E eu? O que farei?

— Às vezes você tem que tomar a posição de líder, administrar o trabalho dos outros… Hoje, no caso, faça o que Onurb ensinou, deite e espere a comida chegar.

Os dois riem e sentam, arrumam os pertences deixados e montam novamente o acampamento. Pouco tempo passa, e Maxmilliam tem um mau pressentimento.

Baltazar, andando pela floresta, dá de frente com um homem desconhecido. Empunhando seu machado, ele o intimida.

— Quem é você? Se anuncie.

 

É um homem, aparentemente humano, de idade entre 30 anos, estatura média, porte físico normal, pardo, cabelos curtos, arrepiados, da cor preta com mechas em um tom mais claro, beleza comum, destacando-se por um belo olhar, seus olhos são da cor laranja-escuro com um tom rosado nas extremidades, rosto liso sem barba.

Ele usa uma túnica com ombreiras pequenas. Uma das mangas da calça e da túnica é larga e comprida, a outra curta e justa. Uma estola presa nas ombreiras com as duas pontas caídas para trás, a túnica está aberta e mostra um pequeno peitoral de prata e botas, tudo de cor preta com alguns tons e detalhes em roxo e laranja-escuro.

 

Ele parece despreocupado, não demonstra hostilidade e, parado a alguns metros de distância de Baltazar, o cumprimenta.

— Boa noite, você é Baltazar?

— Quem é você? Um guardião?

— Não, não tenho tempo para essa monotonia, eu sou como um “Pequeno Chefe”.

— Chefe?

— Estou sem tempo para explicação também, me dê licença!

O homem aponta a mão para Baltazar, envolvendo-o em uma aura negra. Baltazar sente seu corpo enfraquecer, mas em segundos essa sensação vai embora. A aura é absolvida pelo amuleto de Maxmilliam, impressionando o homem misterioso.

— Um amuleto protetor… Uma máquina de guerra com defesa mágica… Exótico.

Baltazar se recupera, enquanto o homem fala e avança com seu machado. Na mão do homem, surge uma fumaça roxa que se transforma em uma espada. Ele usa a espada para aparar os golpes de Baltazar.

Por Baltazar ser forte e maior, os golpes empurram o homem para trás e o deixam recuado.

— Forte, mas não tão ágil.

O homem fica com um tom sério, seu olhar focado. Os golpes de Baltazar não o empurram mais para trás. A cada golpe aparado, o homem consegue golpear Baltazar com sua espada, fazendo um pequeno corte.

Baltazar muda o estilo de luta, tentando acertar com o cabo do machado e com socos. O machado é aparado sempre, os socos são esquivados. O oponente toma um soco e apara o próximo com sua espada. Baltazar segura a espada e sente a mão queimar, como se pegasse em brasa.

Ainda com a mão queimando, ele berra e tenta desarmar seu oponente, mas sem sucesso.

Sente que o homem é mais forte do que aparenta por não conseguir puxar a arma dele. Ele desarma Baltazar batendo na mão que segura o machado e no cabo, o golpeia com um soco no rosto e um no peito, empurrando-o para trás.

Baltazar volta a atacar, mas é derrubado por uma rasteira. Antes que caísse no chão, o homem o empurra com uma onda de energia mágica com eletricidade, e Baltazar bate em uma árvore e sente seu corpo paralisado pelo choque. O oponente se aproxima, fecha seu punho como se estivesse esmagando algo na mão. Os ferimentos de Baltazar causam-lhe mais dor, deixando-o com raiva.

O homem mostra um tom calmo e fica bem próximo de Baltazar.

— O touro precisa ser domado… Agora, acalme-se… Tudo ficará bem…

Baltazar sente uma grande sonolência, os olhos fecham e ele é tomado pelo cansaço e por algum poder que o fez entrar em um sono profundo.

 

Alexia acha alguns cogumelos e algumas frutas pequenas. Pegando uma boa porção, ela olha para uma árvore e pensa:

“Cipó? Faz tempo que não faço armadilhas, será que ainda sei?”

Ela demora um pouco, mas consegue fazer uma armadilha com o cipó, orgulhando-se de suas habilidades. Ela ouve barulho de alguém se aproximando.

— Baltazar? Anirak?

Alexia avista um vulto se aproximando e cai na própria armadilha. O cipó fecha em sua perna, o peso faz o cipó puxá-la para cima, ela bate a cabeça no tronco da árvore, causando-lhe grande dor. O cipó rompe, e ela cai ao chão e desmaia.

O homem misterioso aparece e se aproxima dela com uma expressão confusa, analisa a árvore, olha ao redor e para Alexia bem de perto.

— O que houve aqui? Estranho… Eu não fiz nada… Esse rosto, acho que já a vi antes… Morrer inconsciente é bom porque não sente dor… Isso é o que eu chamo de sorte.



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