Volume 1

Capítulo 52: Despedida de Pando

Alexia fica encantada, lembrando-se dos contos, podendo até sonhar e presenciar alguns, ou pelo menos, algo próximo. Onurb fica pensativo e mais pacífico com relação ao povo de Pando. Um tempo passa com Ray, Alexia e Onurb contando como foi o início da missão até o momento e os descendentes de Ivo e Adéa que viram no caminho, elogiando-os.

Neko questiona vários pontos da história e se torna fã do grupo e de seus feitos. Enquanto isso, Maxmilliam dá uma volta pela sede. Baltazar e Anirak voltam para o quarto para dormir. Neko repara que passou do horário.

— Acho que estou atrasada, preciso ir, muito obrigada pela companhia e pelas histórias, vocês são fascinantes.

— O prazer foi nosso, Neko. Mas aonde você vai esta hora da noite?

— Hoje é minha guarda noturna, e à noite aqui dizemos que “por volta das dez e meia vai chover homens”.

Alexia imagina, dizendo:

— Aleluia.

Onurb e Ray não entendem. Ray questiona:

— Como assim?

— É só um termo nosso usado, porque esta hora começamos vários eventos na cidade, e um deles é o aumento da guarda. Preciso me arrumar, vou subir nas torres. Como sou braço direito de uma das líderes, sou a responsável do grupo da guarda de hoje, sou importante, não se engane pelo meu tamanho.

Neko dá um belo sorriso e sai da sala. Ray comenta com Onurb e Alexia:

— Então, vamos nos recolher? Amanhã temos que continuar nosso caminho.

Onurb concorda.

— Sim, vamos, não vejo a hora de ir embora deste lugar.

Alexia pensa um pouco e diz:

— Eu vou dar mais uma volta, quero ver algum desses eventos e dormir admirando o amor alheio.

Onurb a puxa pelo braço e comenta:

Eii! Você é uma pervertida, sei muito bem o que você quer achar na noite.

— Nada de mais, só bela vista e os passarinhos se amando.

— Passarinhos à noite?

— Sim, eles ficam em seus ninhos cantando um para o outro.

— Espero que amanhã, longe daqui, você volte ao normal… Estou indo dormir.

Onurb sai em direção ao quarto para dormir. Lá, Baltazar e Anirak já estão adormecidos. Alexia sai andando pela sede em busca de novidades, admirando a noite, as árvores e os homens. Alguns estão tendo momentos românticos, abraçados e se beijando, ganhando admiração dela.

— Como o amor é lindo… Por que os homens comuns não são assim?

Ray volta para o quarto, mas para no caminho e admira o céu. Uma pequena brecha nas nuvens deixa a luz do luar iluminar uma parte da cidade.

Ele medita um pouco, sente o ar puro, o vento gelado da noite, e relembra alguns detalhes da aventura até o momento, vendo que a jornada já está chegando ao fim, mas ainda sem saber onde seus amigos estão.

Por um momento, ele ouve um som de cantoria, uma canção agradável. Procura com os olhos e vê Yama se aproximando.

— Ray? Ainda acordado? Seus amigos já estão dormindo.

— Eu sei, é que o clima daqui é agradável, fiquei sonhando acordado aqui, vendo toda essa jornada até Libryans.

— Está chegando ao fim, não? Em menos de três dias vocês chegam a Libryans.

— Sim…

— Se gostou daqui, quando terminar sua missão venha nos visitar, será um prazer.

— É claro… Essa música? Você está ouvindo?

— Sim, é de uma atração de um grupo de artistas nossos. Esta, se não me engano, se chama “Duas Luas”. Ontem foi “Como amar”, e tem uma muito boa sendo preparada que se chama “Amor ao acaso”. Essas atrações deixam todos animados, esquecendo um pouco o mundo hostil lá fora.

— Legal, realmente vocês têm de tudo aqui.

— Sim, somos bem diversificados. O fundador dizia que somos a evolução do ser, pois não nos sentimos melhores uns que os outros e sempre acolhemos nossos semelhantes, além de que essa peculiaridade de “amor diferente” é um detalhe comparado à imensidão que é a vida.

— Palavras profundas, arrisco dizer que são palavras de Imi.

— Sim, ele te disse isso?

— Não, Neko disse algo legal de Imi, e imaginei que ele é um “pensador”.

— Ele é um grande homem e um grande líder. E a Neko? Ela já foi para a guarda?

— Sim. E essas atrações, os líderes gostam?

— Sim, muito, sempre incentivamos, eu gosto mais do que eles, é que eles são mais velhos e assumem mais responsabilidade de cuidar e administrar a cidade, não têm muito tempo para esses lazeres. Yurizoku juntou muito a qualidade artística dos líderes, como uma obrigação ao lazer e cultura nossa, para fazer umas pinturas do nosso gênero, juntamos nossas iniciais, Yama, Ochi e Imi e ficou “Yaoi”, arte “Yaoi”.

— Yaoi? Interessante, pode ser até um apelido para todos vocês…

— Sim, usamos esse termo às vezes, assim não ficamos sempre falando de Ivo e Adéa, coitados, que descansem em paz.

— Verdade… Eu vou dormir, “líder Yaoi”, se me der licença.

— Ray! Um momento… Neko deu uma palavrinha comigo… Ela comentou sobre alguns amigos que você está procurando.

— Sim, você os viu?

— Desculpe, Ray, falar algo assim…

— Então você os viu? Diga, por favor.

Yama entrega uma joia rosa no formato que lembra um coração para Ray. Ele pega e fica animado.

— Teresa! Você se encontrou com eles?

— Com dois, acho que os nomes eram Júlio e Doug.

— E os outros?

— Desculpe, não sei dizer. Yurizoku, antes de sair em expedição, encontrou esses dois com nosso grupo de elite “Kabedon” na floresta e os trouxe para cá. Por serem um de nós, o resgate foi imediato.

— Eles são descendentes… Digo, Yaoi?

— Sim, você não sabia?

— Um deles, não os dois.

— Os dois eram, e eles eram mais do que amigos.

— Então eles estavam… Um momento, por que você disse “eram”? O que houve com eles?

— Eles estavam muito feridos, fizemos o possível…

— Eles morreram?

— Não, quando estavam se recuperando, eles fugiram, não sabemos o que houve… Mas deixaram essa joia para trás, acho que significa algo.

— É possível eles terem sido atacados aqui enquanto se recuperavam?

— Não, todos nós somos pacíficos, só se um inimigo entrou.

— Então é bem possível.

— Não, temos poderes de localizar invasores.

— E se ele fosse um Yaoi e muito poderoso?

— Difícil, mas possível.

— Então tem alguém atrás deles… Mas sei que estão vivos, eles devem ter despistado usando a joia… Fico mais tranquilo, obrigado, Yama… Fico feliz por saber que meus amigos Yaoi são habilidosos como todos vocês… Agora preciso ir dormir, amanhã sigo para me encontrar com eles.

— Ótimo, Ray! Você tem certeza de que os encontrará?

— Sim, pelos fatos, eles devem estar em Libryans.

— Verdade, faz sentido… Certo, Ray, boa noite, durma bem… Até amanhã.

— Até…

Ray vai ao quarto. Todos já estão dormindo. O quarto está em meia-luz das janelas com a luz do luar. Ray se deita e vê todo o seu trajeto até o momento em sua mente, admirando novos amigos, conquistas, experiências, novas pistas para encontrar seus amigos, e adormece pedindo a Deus que continue tendo vitória e sucesso em seu caminho.

Na manhã seguinte, todos acordam bem e dispostos. Uns soldados os chamam para comer antes de partirem. Todos, individualmente, levantam, tomam um banho, cuidam de sua higienização, se arrumam e vão até o local para comer. Lá, eles veem Imi e Ochi comendo. Yama já terminou de comer e dá lugar na mesa para o grupo sentar.

— Bom dia… Por favor, sentem-se e comam.

Todos se cumprimentam e sentam à grande mesa ao ar livre. Há uma bela refeição, com variedades de comidas. Todos se servem, e Baltazar elogia.

— Esta comida é maravilhosa, vocês estão de parabéns.

Ochi responde:

— Entre nós há pessoas de toda parte do mundo, então temos várias unificações de culinária, entre outras coisas… Sempre que estiver com saudade, Balta, volte, será uma honra tê-lo como convidado ou até morador.

Onurb ri baixo e comenta com Baltazar:

— Verdade, “Balta”, este lugar é a sua cara.

Anirak chuta a cadeira de Onurb, que se cala, e Baltazar agradece a gentileza de Ochi.

— Obrigado, me lembrarei do convite.

Todos comem, e Imi conversa com Ray.

— Ray, vocês seguirão por uma caverna aqui da cratera, assim passarão pelos perigos de Pando por baixo, sem correr perigo algum.

— Certo, eu vi nos mapas, já sei como é o caminho.

— Ótimo, uma carruagem “R” já está à espera de vocês na entrada da caverna.

— Carruagem R? Ela é mágica?

— Sim, vocês viram algumas em Prince?

— Sim, Ford as inventou.

— Sim, mas alguns dos nossos ajudaram na fabricação e trouxeram algumas informações para nós, não é tão eficiente quanto as de Ford, mas conseguirá levar vocês sem problemas. A caverna é lisa e não atrapalhará a carruagem.

— Ótimo, interessante.

— Interessante é a palavra que define nós filhos de Ivo e Adéa, ou melhor, apelidados recentemente de “Yaoi”.

Os outros ainda estão processando a informação, mas Alexia entende antes que os outros do grupo e se anima com a ideia.

— Yaoi? Ficou legal, mais fácil de chamar.

Todos se levantam e agradecem pela comida e a hospitalidade. Eles são guiados até a caverna por Yama, Imi e Ochi. No caminho, vários homens ficam observando Onurb, deixando o seu ego grande. Ele comenta com Anirak:

— Viu? Eu sou belo, que bom que vamos embora, porque senão serei comido vivo.

Anirak faz cara de desprezo, anda até Ochi e sussurra para ele:

— Obrigada pela ajuda, Ochi, mas como conseguiu fazer tantos olharem para ele?

— Eu só falei que ele é um aurem feio, pois nunca viram um assim.

— Mas ele não é um aurem.

— Eu sei, não é engraçado?

— Sim, mas fez bem, ele é chato, porém é menos chato quando o seu ego está cheio.

— Tudo bem, amiga, mas ele não é bonito, seria ruim ele ficar se iludindo assim.

— Isso, o mundo mostra para ele depois.

— O mundo ou um bom espelho.

Os dois riem alto, deixando os outros confusos. No caminho, Alexia ainda admira todo o lugar e fica um pouco desanimada, dando adeus a um belo lugar com novos ídolos.

Maxmilliam e Ray sentem-se muito bem, com um grande ânimo, por estarem bem e terem repousado em segurança, camas confortáveis, boa comida e hospitalidade.

Baltazar, por ter sido um lugar totalmente novo, ainda fica reservado, não puxa assunto e só observa. No meio da tarde, eles chegam à entrada da caverna, entram na carruagem, e Imi se despede.

— Aqui nos despedimos… Novamente, foi um prazer ajudá-los, e deem lembranças à nossa rainha em Libryans, faz tempo que não a visitamos.

Todos se despedem e entram na carruagem. Ray é o último e, antes de entrar, dá um abraço forte nos três líderes.

— Obrigado por nos ajudarem e obrigado por vocês processarem o ódio que tanto recebem de muitos e transformarem em amor ao próximo, assim como fizeram conosco.

Ochi se mostra emocionado com o agradecimento de Ray. Imi agradece reverenciando-o como um grande herói.

Outros soldados seguem o gesto de Imi e o reverenciam enquanto ele entra na carruagem. Yama também reverencia e segue para guiar a carruagem.

— Então, podemos partir? Eu mesmo irei levá-los.

— Podemos, sim.

Todos acenam pela janela, e a carruagem anda a comando de Yama. Aos poucos, assume uma velocidade grande, deixando o grupo um pouco assustado. Yama os acalma:

— Não se preocupem… Eu sou experiente nisso.

Algumas curvas fazem o grupo ser jogado de um lado para o outro, fazendo-os rirem. Onurb reclama:

— Touro velho, você está caindo em cima de mim, você é gordo, vai pra lá.

— Para de me chamar de gordo, eu sou robusto.

— Gordo!

Maxmilliam aproveita a oportunidade e entrega a Baltazar o amuleto protetor. Anirak, Alexia e Ray se divertem com os impulsos da carruagem e a irritação de Onurb. Yama, animado ao lado de fora, avisa o grupo:

— Se segurem, pois vou pôr mais velocidade, vou transformar dois dias de viagem em um.

Em um momento no caminho, Ray mostra Teresa, a joia rosa, e diz sua suposição.

— Eles devem ter se infiltrado no Império de Cristal, tentaram matar Xarles, mas sem sucesso, então conseguiram fugir e se dividir. Em Pando, Doug e Júlio foram atacados por alguém e, para despistar, eles usaram a Teresa. Lembro que foi colocado um poder de distração nela. Eles a usaram para poder escapar novamente, e o único lugar em que eles devem estar se refugiando agora é Libryans, nosso destino final.

Todos veem o otimismo de Ray e, vendo os relatos até o momento, concordam com ele. Em alguns momentos em que Ray está distraído, Anirak comenta com Maxmilliam:

— Max, você acha que os amigos de Ray estão bem e em Libryans?

— Também acho difícil, mas vi esse grupo treinar, e eles são realmente ótimos, eu acredito, sim, que eles estejam bem, mas não acredito que estejam em Libryans. Da mesma forma que Doug e Júlio foram resgatados em Pando, acho que eles estão se recuperando em algum outro lugar no Grande Continente.

— Espero que a gente os ache, não gostaria de ver Ray perder seus amigos, sabendo que ele já perdeu seus pais.

— Também torço por isso… Mas tenhamos fé, se tivemos sorte em nossa aventura, por que eles não teriam, não?

— Verdade…



Comentários