Volume 1

Capítulo 50: Os Mistérios de Pando III

É um quarto grande, várias camas grandes e confortáveis, muitas janelas, bem arejado, mesas, armários e bancos, tudo feito de troncos grossos. A luz que entra pela janela mostra que é de manhã cedo.

Baltazar, Maxmilliam, Onurb e Ray acordam ao mesmo tempo nessas camas. Anirak e Alexia também estão no quarto, mas ainda desacordadas. Todos estão despertando e tentando identificar o que houve.

Maxmilliam levanta, vai em direção de Anirak e a chama segurando sua mão.

— Acorde… Anirak, acorde.

Ela desperta e, ainda confusa, questiona:

— O que houve?

Ela levanta rápido, como se estivesse em perigo, e Maxmilliam a acalma.

— Tudo bem! Estamos bem, eu me enganei, existe, sim, a magia Folclore, estávamos dentro dela, como um sonho com poucas memórias reais. Alguns de vocês devem ter ficado confusos lá, a memória fica falha.

Anirak se acalma, e Onurb reclama:

— Eu sabia que era verdade, eu falei que esta floresta é ruim.

Ray levanta, vê que Alexia ainda está adormecida e vai até ela.

— Mestre? Alexia ainda está dormindo, será que aconteceu algo?

Maxmilliam se aproxima dela e, segurando sua mão, a chama.

— Alexia? Acorde… Acorde.

Ela continua dormindo, e um homem entra no quarto.

— Bom dia, enfim vocês acordaram.

Baltazar e Onurb levantam em posição de ataque. Anirak e Ray ficam na defensiva, mas demonstram hostilidade em seus rostos. Maxmilliam se aproxima do homem.

— Por favor, quem é você? E onde estamos?

— Achei que soubessem, vocês estão na Floresta de Pando, e eu sou um dos moradores da floresta.

— Por favor, seja mais específico, não chegamos aqui por vontade própria.

 

É um homem humano, de estatura baixa, magro, idade entre 15 e 20 anos, pele bronzeada, aparência comum, cabelos compridos pretos. Usa uma armadura leve de cor dourada, vestes brancas por baixo, touca branca, uma espécie de coroa com um chifre único e roxo na região da testa. Preso nas costas, um pequeno cetro dourado com um ornamento no formato de uma meia lua grande na ponta. Ele está comendo uma banana. Seu rosto é meigo e sincero. Ele continua a conversa.

 

— Desculpem, eu sou Yama Shotacon, sacerdote do “Clã de Pando”, e vocês estão no centro da nossa cidade, mais exatamente em nossa sede principal.

Todos baixam a guarda, e Maxmilliam questiona:

— Yama, por que fomos trazidos para cá?

— Os líderes querem vê-los, ficamos sabendo das suas conquistas no Império de Cristal e queremos conhecê-los e dar o suporte para continuar seu caminho. Vocês foram afetados pela magia Folclore, foram achados na floresta e trazidos para cá.

Ray se aproxima de Yama.

— Por favor, nossa amiga ainda não acordou.

— A magia deve ter sido mais forte nela… Estranho, eu diria que ela teve azar, mas felizmente eu consigo ajudar.

Onurb arruma seus pertences, verificando se tudo está como ele deixou, e comenta:

— Azar é o sobrenome dela, e do Ray é “aziago”.

Yama se aproxima de Alexia, tira seu cetro das costas e coloca no peito dela. Põe uma de suas mãos na cabeça dela, meditando. Uma aura dourada se forma ao redor dos dois, e ele diz:

Yama Nashi

Alexia acorda como se estivesse se afogando, sem fôlego e confusa.

— O que houve? Cadê ele? Onde estou?

Ray a segura, e Anirak a abraça para acalmá-la.

— Está tudo bem, estamos bem, você estava num pesadelo.

— Realmente, um grande pesadelo.

— Obrigado, Yama.

— Foi um prazer ajudá-los… Podemos ir?

Onurb fica desconfiado.

Ei! Antes de irmos, como será essa “conversa” e que tipo de “suporte” vocês querem nos dar?

— Não entendi, conversa é conversa, e suporte seria moradia e comida.

Anirak desfaz a confusão de Onurb:

— Não se preocupe, ele está confuso por causa da magia, acabou de acordar e tem problemas mentais sérios. Podemos ir agora, os líderes já nos esperam?

— Sim, estão chegando à sala de conferência.

— Ótimo, podemos ir na frente até eles se arrumarem?

— Sim, é claro.

Anirak pega seus pertences e guia Yama até a saída. Onurb critica:

— Ela é mulher, não é alvo de ninguém aqui, nós é que temos que tomar cuidado.

Baltazar pega seus pertences e puxa Onurb para fora.

— Vamos logo, você fala demais, não ouviu que tem comida lá? Estou com fome.

— Me larga, touro velho, você está sempre com fome. Espero que tenha outro tipo de comida lá, para você me dar mais ouvidos.

Maxmilliam, Alexia e Ray riem e começam a arrumar seus pertences. Ray questiona Maxmilliam:

— Mestre, Onurb está exagerando, não?

— Sim, está, este clã é pacífico; ele age como se fossem canibais.

— Por que nunca estudei sobre eles?

— Uma frase que se encaixa neles é “Ninguém sabe deles, mas eles sabem de todos”, temos poucos históricos e relatos dessa cidade oculta na floresta.

— Dá um pouco de medo.

— Nem eu sei muito sobre eles, Ray, quem sabe nessa conversa com os líderes podemos aprender mais.

— Será ótimo, conhecimento nunca é demais.

Alexia comenta:

— Eu ouvi falar pouco deles também. Uma das coisas que ouvi é que todos daqui são lindos, honrosos e cavalheiros.

— Vamos descobrir.

Maxmilliam, Alexia e Ray saem do quarto e veem o centro da sede do clã de Pando no meio da floresta. Dentro de uma grande cratera com várias Sequoiadendron com várias casas no pé, no meio e em cima dessas árvores gigantes, casas feitas de madeira das árvores de Pando, um lago abastecido por um rio que sai de uma nascente na borda da cratera, uma região com árvores frutíferas, pequena plantação de legumes, escadão em quatro pontos extremos da cratera para voltar à elevação normal, onde há casas e torres de tijolos construídas no topo.

Todo o lugar é bem iluminado, cheiroso, som de pássaros cantando, um clima agradável, vários homens de aparências e raças diversas, roupas simples e leves de verão, alguns trabalhando, outros andando, nenhum demonstra ter arma ou roupa de guerreiro. No lado de fora do quarto, todos se reúnem com Yama e o seguem, passando por algumas escadas e pontes que passam de uma árvore para outra.

Todos no caminho são cordiais, cumprimentando e acenando. Alexia fica maravilhada com o lugar e com a aparência dos homens.

— Realmente, eles são todos lindos… Acho que vi uns se beijando ali embaixo.

Anirak observa ao redor.

— Não vejo nada de mais.

Eles chegam a um pequeno castelo de pedra e madeira, corpo de madeira e base de pedra, três torres, portas feitas de tecido e madeira que abrem como esquadria correndo por uma espécie de trilho simples, mas eficiente.

Entram e veem os primeiros guerreiros sentados jogando algum tipo de jogo de tabuleiro em uma mesa. Eles usam armaduras leves e espadas. O grupo é guiado por dentro do castelo até chegar a um salão.

Alguns homens posicionam travesseiros para que eles sentem para a reunião, pequenos bancos são colocados à frente de cada um com água, pão e fruta. Alguns soldados se posicionam no canto da sala.

À frente de todos, um pequeno altar com cinco travesseiros enormes, flâmulas atrás de cada um desses travesseiros com heráldica, cor e design diferentes um do outro. Nas paredes nas laterais, há mapas da floresta de Pando com informações de passagens subterrâneas, passagens seguras, localização do pântano envenenado, o local dos grandes animais e das montanhas pontudas que possuem várias armadilhas naturais.

Toda essa informação dos mapas está com códigos e letras usadas no antigo mundo, só Maxmilliam e Ray conseguem entender o mapa com seus detalhes. O grupo senta nos travesseiros em frente do altar.

Yama sobe no altar e se senta no lugar de um dos líderes, chamando atenção de Anirak.

— Você é um dos líderes?

— Sim…

— A propósito, Yama, olhando para Onurb, você consegue localizar algo semelhante nele?

Onurb fica com cara brava, e Yama responde:

— Sim, é claro, ele é um dos nossos, não?

Baltazar e Alexia riem, Ray e Maxmilliam ficam confusos e Onurb fica muito bravo.

Ah? O que? Como assim? Ei! Vocês estão loucos?

Anirak não consegue se segurar e ri alto.

— Desculpe usar você assim, Yama, mas eu precisava ver essa cena… Não se preocupe, Onurb, eu pedi para ele dizer isso para assustá-lo… Ou será que é verdade? Diga a verdade agora, Yama.

Yama pega uma banana, começa a comer e sorri da situação.

— Não, por isso foi difícil achar vocês, vocês não são como nós.

A mente de Ray é clareada e ele fica surpreso, pensando alto:

— Não acredito, esta é uma cidade, um clã de filhos de Ivo e Adéa?

Todos concordam com a cabeça. Um homem de voz grossa e forte chega à sala e responde a Ray:

— Isso mesmo, todos que vivem aqui são descendentes de Ivo e Adéa, pelo menos a grande maioria.

 

É um homem humano, alto, forte, idade aparente de 30 anos, bonito, cabelos compridos, pretos e um pouco avermelhados. Ele está usando uma armadura corporal pesada com gemas preciosas de diversas cores cravadas. Em sua mão, um elmo com chifres de cervo, e na outra, uma maça que parece ser uma Zordrak, de material negro com uma grande gema Summa no centro que emana várias cores. Ele tem uma postura séria e formal. Alexia fica encantada com a aparência e a forma como ele se apresenta.

 

— Bom dia, eu sou Imi Bara Kei, um dos líderes de Pando.

Todos o cumprimentam. Ele senta em um dos lugares do altar, e Anirak questiona:

— Descendentes de Adéa? Eu não vi mulheres por aqui.

— Elas estão em uma expedição e ficam em um grupo só delas.

— Vocês ficam separados?

— Não exatamente, todos vivemos juntos e em harmonia, mas elas gostam de privacidade, assim como nós. Temos gostos diferentes, mas em treinos e eventos importantes estamos sempre juntos.

— Entendi, interessante.

Onurb reclama baixo:

— Diferentes? Sei, melhor dizer “trocados”.

Anirak bate em Onurb, e Ray questiona:

— Estamos aguardando mais alguém?

— Sim, eu! Desculpem a demora, estava fazendo algo importante… Eu sou Ochi Lemon, prazer em conhecê-los.

 

Outro homem chega, de estatura alta, bonito, pele clara, idade aparente de 20 a 30 anos, olhos azuis, cabelos longos, loiros, amarrados em um rabo de cavalo com uma franja picotada. Ele está usando uma camisa branca, calção preto, um sobretudo azul de um tecido fino e bonito, um guarda-chuva de madeira. Chupa um limão como se fosse doce. Ele chama atenção pelo jeito despojado e pela beleza, deixando Alexia apaixonada e transparecendo essa paixão pelo brilho nos olhos e pequenos gemidos de alegria.

 

Onurb a olha e comenta entre o grupo, sem os líderes no altar ouvirem:

— O que houve com ela? Ela nunca agiu assim.

Ela responde alto:

— Eles são lindos… Este lugar dá um clímax ótimo.

— Ela disse clímax?

Yama fica envergonhado, mas começa a reunião, enquanto Imi e Ochi se acomodam em seus lugares.

— Agora estamos todos aqui, nós já nos apresentamos e já conhecemos vocês pelos acontecimentos no Império de Cristal.

Onurb interrompe:

Ei. Como vocês sabem, se saímos de lá há pouco tempo?

Anirak critica Onurb.

— Seja mais cordial.

Imi toma a voz da reunião.

— Tudo bem, Anirak, não precisam ser formais, estamos aqui pela honra de conhecê-los mesmo, e ajudá-los… Antes de responder, Onurb, que dia vocês acham que é?

Onurb responde:

— 29 de setembro.

— Isso é um problema… Vocês chegaram à floresta no dia 29?

Todos demonstram preocupação, e Imi os acalma.

— Desculpem, não me entendam mal, não foram muitos dias, hoje é primeiro de outubro… Vocês ficaram um bom tempo desmaiados e dentro da magia da floresta.

Agitado, Onurb questiona:

— E em que ano estamos?

Os líderes riem baixo, e Imi responde:

— Calma, vocês estão em 1590… Voltando à sua pergunta, Onurb, além desses dias que passaram, nós somos grandes aliados de Libryans e temos envolvimento com a “Pirâmide de Maslow” … Vocês devem ter visto nossos irmãos no Império, eles foram treinados aqui e foram recrutados por essa nova ordem.

Ray comenta:

— Sim, conheci, sim…

— Ray Blok? Filho de Ynascar?

— Sim…

— Incrível. Se me permite dizer, você tem a beleza de seu pai… Temos um templo dos Imortais, itens, pinturas e arquivos sobre eles, se quiserem ver depois.

— Sim, seria incrível ver essa honra aos antigos heróis.

— Ótimo… Desculpem entrar em detalhes ruins, mas referente ao Império, eu soube que os ataques enfraqueceram mais a ordem de Maslow do que o próprio Império, isso está correto?

— Sim, infelizmente, tiveram grandes perdas, mas continuam em atividade.

— Bom, vocês viram algo sobre uma prisão de Cristal?

— Prisão de Cristal?

— Estamos vigiando o Império por fora, eles estão transportando grandes quantidades de cristais corrompidos para fortificar um santuário abandonado para fazer uma prisão poderosa. Queríamos saber se vocês sabem algo além disso.

Maxmilliam se pronuncia:

— Na verdade, vocês é que agregaram informações para nós, mas agora que você comentou da prisão, eu associo que nenhum dos principais infratores contra o Império que enfrentamos foi morto, ou foi?

O grupo balança a cabeça, concordando que eles enfrentaram os inimigos do Império, mas não houve mortes, todos foram presos. Maxmilliam conclui:

— O Império era conhecido por não manter prisioneiros, ele sempre executa todos, mas agora eles estão mantendo os inimigos presos, estranho… Pode ser para testes para armas de guerra.

— Obrigado, Maxmilliam, agora sabemos que o Império está planejando algo nessa prisão. Por ser um santuário de um antigo Electi, pode haver algo poderoso envolvido.

— Sim…

— Algum dos lordes da ordem foi morto? Sabem se todos ficaram bem?

— Não sabemos ao certo.

— Certo… Não quero manter esse clima de interrogatório, eu já soube o que eu queria saber. Algum dos meus irmãos quer perguntar algo?

Ochi, ainda chupando limão, olha para Baltazar e, com um olhar malicioso, comenta:

— Baltazar, gostaria de uma informação.

Baltazar acena com a cabeça dizendo que sim, mas Ochi é interrompido por Imi.

— Algo que não seja pessoal.

— Você é sem graça.

— Não começa.

Yama ri e agradece o grupo.

— Obrigado, amigos. Por favor, vamos dar uma volta pela nossa sede.

Imi questiona:

— Vocês pretendem ir quando? Vocês têm tempo para ficar por aqui?

Ray olha para todos, recebendo autorização de ele mesmo decidir, menos Onurb, que balança a cabeça. Ray sorri e responde:

— Podemos passar este dia e amanhã de manhã continuamos nosso caminho.

— Ótimo, será uma honra… Ochi irá mostrar nosso campo de treinamento, Yama nosso estilo de vida e eu mostrarei nosso templo dos Imortais. Acho que nem todos querem ver tudo, não?

Anirak toma a dianteira.

— Eu, Baltazar, Alexia e Onurb iremos com Ochi, será bom vermos o estilo de treinamento aqui, e depois passamos para você, Ray. Depois podemos ver o cotidiano.

— Certo, então irei com Imi para ver o templo, e você, mestre?

— Se me permitem, eu usei muito do meu poder no Império e na magia da floresta, preciso descansar mais.

Alexia decide fazer algo diferente.

— Desculpe, Anirak, mas eu vou com Yama, quero muito ver esses lindos hom… Digo, essa linda cidade-floresta.

Onurb se aproxima de Alexia e sussurra:

Ei. Você sabe! Você sabe que eles não veem você como você pensa? Ou você se ilude?

— Não, Onurb, não estou apaixonada por eles dessa forma, estou apaixonada pela vida deles e o amor que eles têm um com o outro.

Rrrr... Este lugar está afetando muito você, melhor tomar cuidado.

Alexia abraça o braço de Onurb ainda otimista com o que pode ver na floresta.

— Já imaginou? Eles são todos lindos, fofos, adoráveis…

— Me larga, acho que aquela magia afetou você, melhor você conversar com Maxmilliam para ver se tem cura.

— Você é chato… Yama, vamos, garoto.



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