Volume 1
Capítulo 47: A Floresta de Pando
— Se existe método de tortura mais eficaz, éh sim! Se aventurar com esse Ray...
— Certo, já entendi, mas você também está progredindo, você enfrentou o “Águia de Sangue”, o mais famoso assassino do Grande Continente, e guerreiros orientais, nenhum deles foi páreo para “O Raposo”, o rei dos ladrões.
— Éh… Você tem razão.
— Até uma Zordrak você conseguiu graças aos seus feitos…
— Sim, é claro, eu fui uma peça fundamental para esta missão.
— E por isso é que você está conosco, você é importante.
Baltazar continua comendo, Alexia e Maxmilliam riem baixo das declarações de Ray, e Anirak se sente caluniada.
— Sério?
Alexia faz sinal com a mão e sussurra para Anirak:
— Calma… Ray está enchendo o ego de Onurb para que ele se sinta bem e não incomode mais.
— Então ele exagerou, eu também preciso de uma massagem no ego, esse Império foi um caos, devo ter ganhado rugas só nesses últimos dias.
Ray sorri e comenta com todos:
— Nosso grupo teve grandes feitos, a maioria das grandes cidades do Império a gente ajudou a enfrentar seus inimigos… Parabéns para todos nós.
Onurb elogia:
— Verdade, todos se saíram bem, e vivos, o mais incrível. Eu achei que Maxmilliam ou Alexia morreriam.
Alexia se assusta:
— Por que eu?
— Você é atrapalhada e Maxmilliam é velho.
Maxmilliam questiona Onurb:
— E você?
— Em grande perigo, eu fugiria imediatamente, um bom herói é um herói vivo.
— Mesmo fugindo?
— Uh? Fugindo não, ganhando tempo.
— Tempo?
— Éh, mais tempo de vida em casa e de lazer.
Todos riem, relaxam um pouco, se espreguiçam, apreciam a paisagem e a boa brisa que entra pela janela. Um pouco de tempo passa e Alexia questiona:
— Ray, já que temos tempo, me diga como foi sua aventura, eu quase não o vi nesses dias que passamos no Império.
— Confesso que tive medo, mas tinha como foco me reunir com vocês e encontrar meu mestre… Em Ducem, não conseguimos fazer muito, ela já estava destruída, fomos no templo e enfrentamos uns guerreiros orientais que no fim não eram nossos inimigos, eles deixaram a gente ir.
Anirak estranha:
— De novo sobre esses guerreiros orientais? É raro ter essa “classe” aqui no Grande Continente, qual é o nome deles?
— Lembro-me de Marcel…
— Marcel? Ele nos ajudou em Detroit.
— Ajudou? Como ele chegou lá?
— Não sei, mas ele era o dono dessa espada, Ikarus.
— Você ficou com a espada dele?
— Sim, quando estava me recuperando fiquei sabendo que ele morreu, Brent o matou.
— Pena, ele lutou contra Onurb.
— E Onurb o ajudou depois.
Onurb comenta se gabando:
— Viu como sou um bom samaritano?!
— Como sempre… Continue, Ray, depois de Ducem você foi para onde?
— Para Regem. Foi um pouco complicado lá também, guerra, Questtis atrapalhando tudo e o líder dos ladrões náuticos que sabia usar magia e tinha vários artefatos mágicos. Depois chegamos a Prince, enfrentamos as pessoas possuídas por Sokushin, e assim encontramos vocês.
— Esse Questtis, pessoalmente ele é poderoso? Só ouvi falar de boatos da Trindade Brow, mas não sei se eles são realmente poderosos.
Maxmilliam responde:
— Dos três irmãos, Questtis é o mais fraco, ele se destacou por ter se dedicado muito em uma magia poderosa e difícil de aprender, o “medo”, um medo intenso que afeta a capacidade mental, debilita e restringe as habilidades e a capacidade do alvo; sem isso, ele é um mago de nível fraco.
— Se não te conhecesse, Max, diria que você tem raiva dele… Na verdade, não o conheço.
Alexia ri e se lembra:
— Ray, tinha esquecido, seu diário acabou ficando entre as minhas coisas, pegue de volta.
— Nossa! Achei que o Império tinha pegado.
— Desculpe, não sei como foi parar nas minhas coisas.
— Tudo bem. Deve ter sido na confusão em Caelum.
— E você, Max, como fugiu de Sodorra?
— Usei uma técnica de reunir energia para poder exagerar um pouco nas magias se fosse preciso, consegui dominar a mente e a vontade de um soldado para que me ajudasse com informações e para pegar meu cajado.
— Você consegue fazer magia sem seu cajado?
— Sim, mas magias fracas. Meu cajado é feito de uma Pinus Longaeva antiga, árvores específicas que vivem por muito tempo e ficam conectadas à natureza e que funcionam como canalizadoras de poder. Com elas, consigo usar todo o meu poder.
— Fascinante, conte-me mais, Max.
Onurb interrompe:
— Ah? Não! Ray se empolgando em fazer várias explicações. Maxmilliam, como é mestre dele, deve falar muito mais, conta depois, por favor.
— “Onurb estraga-prazeres”.
Ray volta ao foco da conversa.
— Esquece ele, Alexia, conte-me como foi em Baron, você e Anirak, como foi lá com a mulher que controla animais.
— Foi difícil, ela controla felinos de todos os tamanhos, alguns tinham tamanho fora do normal… O nome dela era… Qual era o nome dela, Anirak?
— Chris.
— Isso. Ela é uma Reilum-S, muito poderosa, mas conseguimos derrotá-la e fugimos porque o Império estava chegando, e eles não são chegados em mulheres. Será que são descendentes de Ivo?
Onurb resmunga:
— Quanta chatice… Eles só são machistas e também odeiam esses descendentes.
— Sim, eu sei…
— Continue, Alexia, e depois, o que aconteceu depois?
— Depois estávamos cansadas e paramos para descansar e dormir…
Baltazar dá um pulo, lembrando-se de algo, e interrompe a conversa.
— Lembrei! Floresta de Pando? Não deveríamos passar por ela.
Onurb levanta os braços como se agradecesse aos céus.
— Aha! Finalmente alguém recobrou a consciência, eu avisei desde o começo, lá é perigoso.
Anirak comenta:
— Não sejam exagerados, é um clã neutro, eu diria até pacífico, é só não serem agressivos e Onurb não roubar nada.
Onurb faz cara feia para Anirak, e Maxmilliam concorda:
— Verdade, se não demonstrarmos hostilidade, passaremos sem sermos incomodados.
Alexia fica pensativa e pergunta:
— Max, e os folclores?
— Folclore é falsa, eles espalharam um boato de que Pando está protegida por magia de Electi chamada de folclore, uma magia que protege a floresta de invasores e hostilidade.
Onurb critica:
— Então além do clã tem essa magia doida?
— Acabei de falar que essa magia não existe.
— Não acredito, essa floresta é do mal.
Ray questiona:
— Mas que clã é esse que vocês tanto falam?
Onurb tem uma ideia:
— Espere! Não contem, deixem Ray ver por si só, se vocês acreditam que não tem perigo, então ele não precisa saber antes, correto?
Ray sorri, mas sem graça.
— Não estou gostando disso.
Alexia se anima e ri.
— Concordo, será legal, Ray, uma surpresa, será muito engraçado… É, mas e se Ray sentir?
Onurb ri com um olhar maldoso.
— Assim minhas suspeitas estarão certas.
Anirak bate em Onurb.
— Para de piada, Ray é transparente e não precisa desse teste bobo seu.
Ray fica cada vez mais confuso.
— Mas do que vocês estão falando?
Maxmilliam o acalma:
— Ray, não se preocupe, vai dar tudo certo, passaremos pela floresta, pelo clã e vamos embora o mais rápido possível.
— E quem são eles?
— Desculpe, mas concordo com Onurb, como você está em treinamento, ansiedade em não saber o que tem à frente é um bom desafio.
— O Império de Cristal não foi um teste à altura?
— Você sabia e conhecia as histórias do Império, da floresta você não sabe nada.
Onurb comenta, arregalando os olhos e fingindo medo para Ray:
— Prefiro enfrentar o Águia de Sangue de novo do que ver o que esse clã faz nessa floresta com seus invasores. Hmmm...
Alexia e Baltazar riem. Ray ainda sorri sem graça e com um pouco de medo. Anirak reclama:
— Vocês são bestas, isso sim.
Onurb enfatiza:
— Ei. Mas não estou mentindo, ainda prefiro enfrentar Brent de novo.
— Acredito…
Um tempo passa, o céu fica nublado, o vento aumenta e a temperatura cai um pouco. Alexia volta a falar.
— E você, Baltazar, como foram seus dias no Império de Cristal?
— Me deixa pensar…
Onurb zoa Baltazar:
— Ah? Pensar? Isso vai demorar.
Baltazar chuta Onurb e continua:
— Eu enfrentei uma mulher robusta, ela era muito forte, nunca tinha visto uma mulher tão musculosa e agressiva.
— Onde foi?
— Não lembro o nome da cidade… Na outra, enfrentamos uma criatura que se transforma em outros bichos.
Ray se interessa pelo assunto.
— Primus-Mixti?
— Acho que é isso. Como você conhece?
Onurb reclama:
— Não pergunta, ele vai dar uma grande explicação.
Ray ignora Onurb.
— Não darei atenção a ele, mas resumindo, eu estudei sobre essa criatura que apareceu anos atrás, ele deve ser o único de uma espécie nova… E você, Onurb, fala para Alexia como foram seus dias no Império, você reclama das histórias dos outros porque ninguém pergunta da sua?
— Não é isso, mas já que perguntou, vamos a ela… Primeiro tive um grande azar de sair para uma “aventura” com um aprendiz aziago chamado Ray.
— Não é isso que ela quer saber, eu falei desde o dia em que saímos de Caelum.
— Mas o grande desfecho da história foi esse… Enfim, depois de Caelum, fomos para Ducem e enfrentamos os guerreiros que Ray comentou, mas ele não falou que os enfrentamos por culpa dele, deveríamos ter ido embora logo que chegamos… Em Citizen, aquela criatura amaldiçoada do fim do mundo quase me engoliu vivo, cidade que só tinha bicho. Para me ajudar, só tinha esse touro velho e um veado de cabelo azul.
— Veado?
— Deixa para lá… Regem foi mais tranquilo, mas fiquei atento e, como sempre, ajudando muito… Depois vimos a menina possuída pelo mal, o sacerdote que mordeu Baltazar, até achei que ele iria virar um deles, e depois, para melhorar, o Águia de Sangue. Me arrependo de não ter fugido.
— Você não fugiu?
— Você vê! Algo deve ter me possuído.
— Sim, dignidade.
— O importante é a dignidade com a minha vida, é mantê-la sã e a salvo, isso sim.
— E como se sentiu tendo dignidade com a vida de outra pessoa?
Onurb fica pensativo e responde:
— Éh! Confesso que foi bom ter ajudado aquele general do Ford.
Ray se impressiona.
— Você ajudou um dos generais? Estou orgulhoso de você, você poderia fazer mais desses feitos.
— Obrigado, mas não acostuma, foi só uma recaída… Aproveitando esse tempo, Ray, por que essas pedras coloridas dos seus amigos têm nomes de mulher?
— Ana, Teresa e Helena são as mães dos meus amigos.
— E cada uma presenteou seu filho com uma pedra?
— Não, elas fizeram uns testes e os três que vencessem ganhariam essas joias, podendo ser filho ou não.
— Vocês eram cinco?
— Eram não, somos cinco… Rupert e eu não conseguimos as pedras.
— Entendi…
— Fomos designados para uma missão secreta, mas eu não pude ir, pois fiquei com Cancru, uma doença rara e poderosa que impossibilitou minha ida com eles.
— Sim, eu conheço essa doença.
— Depois que me recuperei, fui enviado para esta missão e estou aproveitando esta oportunidade para encontrá-los.
— Bom, estamos perto… Espero.
Anirak fica um tempo pensativa e, mostrando o broche dado por “Olho Bom”, ela diz:
— E esse clã dentro do Império de Cristal, vimos muito essa pirâmide, todos nós tivemos contato com alguém desse clã, e eles são totalmente diferentes dos ideais do Império…
Maxmilliam explica:
— Com tudo que vocês já disseram e o que eu vi nos arquivos do Império, é a Pirâmide de Maslow. Um grupo de lordes com o ideal de melhorar a qualidade de vida do Império e de todos que vivem neles se uniram para mudá-lo aos poucos, e o Império agora tem certeza dessa ordem contra ele, essa revolução. Acredito que no fim do ano o Grande Continente entrará em guerra.
Ray se manifesta:
— A reunião dos líderes?
— Sim, anualmente os líderes se reúnem para as burocracias deles, tratados de aliança, comércio, política, militar, enfim, todos pertinentes, e se for declarado guerra, todos escolherão um lado.
— Isso será horrível.
— No encontro com a rainha, falaremos tudo que sabemos para ajudá-la a pensar em alguma forma de isso não acontecer.
— Sim, que bom que estamos chegando perto, ainda mais com o atalho que pegaremos.
A noite chega, a carruagem para e o soldado do lado de fora avisa o grupo:
— Chegamos!
Todos saem da carruagem já levando seus pertences, água e comida dada por Ford. O soldado informa o grupo:
— Como nos foi ordenado, deixaremos vocês em frente à floresta de Pando, e lembramos que devem entrar de manhã, pois à noite é perigoso.
O grupo faz sinais de agradecimento, e o mago e o soldado partem de volta para Prince. O grupo anda alguns passos e arruma um lugar para passar a noite. Arrumam seus pertences, fazem uma fogueira, improvisam assentos e camas.
Alguns decidem sentar, outros deitar, e até pegam alguma coisa para comer. Baltazar se alonga e chama Ray.
— Ray, vamos treinar um pouco, trabalhar esses músculos.
— Vamos.
Alexia também se anima.
— Também quero. Você tinha comentado que queria treinar com o arco e flecha, Ray, vamos aproveitar este tempo livre.
— Sim, será ótimo.
O tempo passa com Baltazar treinando com Ray e Alexia, mostrando formas de se defenderem de golpes fortes, técnicas de agarrar e derrubar adversários mesmo se forem maiores do que eles.
Alexia também treina Ray mostrando técnicas com o arco e sacar rápido as flechas. Eles descansam um pouco, e Anirak chama Ray para treinar também.
— Ray, você pediu as manoplas do general, mas sabe usá-las?
— Um pouco.
— Venha, vou mostrar como melhorar esse seu “um pouco”.
Anirak treina com Ray técnicas, habilidades e formas de usar a parte superior do corpo para atacar e lutar desarmado e como desarmar oponentes. Alexia também se interessa e entra no treino. Maxmilliam anda ao redor conjurando escondido uma magia de alerta e proteção para ser avisado se alguma coisa ou alguém se aproximar, sendo hostil ou não.
O céu abre um pouco, deixando as luas iluminarem a terra, ganhando admiração de Maxmilliam e Anirak. Baltazar pega no sono, Alexia acha um formigueiro e fica admirando a vida de inseto, Onurb desde que chegou ficou calculando tudo que roubou e admirando sua adaga Zordrak.
— A espada negra tem um nome, “Ikarus” … Hmmm... Você também precisa de um nome também, minha nova companheira… Acho que “Nagga” será um bom nome.
Onurb pega uma faca e crava na bainha da adaga o nome “Nagga” e do outro lado crava seu próprio nome, “Onurb”. Ele continua admirando e contando a pequena fortuna que adquiriu até o momento, sendo um número considerável.
Ray e Anirak param de treinar e descansam, caindo no sono. Alexia adormece perto do formigueiro, as formigas passam por cima dela, mas por sorte não a ferem. Maxmilliam usa a técnica de acúmulo de energia, meditando, podendo descansar e ao mesmo tempo ficar alerta. Ele aproveita o tempo e prepara um amuleto protetor para Baltazar, um amuleto que demora um bom tempo para ser feito.
Felizmente, a noite toda passa calma e serena, todos conseguem dormir em paz e até terem sonhos tranquilos. De manhã, o sol nasce belo em um céu com poucas nuvens, brisa refrescante, som de passarinhos, e os primeiros raios de sol despertam o grupo pouco a pouco.