Volume 1

Capítulo 42: Águia de Sangue

Ford, otimista com a vitória de Prince, designa seus generais pela cidade e fala com Onurb e Anirak.

— Agora só faltam vocês dois, Anirak e Onurb, vocês estão prontos?

— Eu nunca estou pronto.

— Não escute ele, Ford, onde é nossa missão?

— No rio do lado de Detroit tem uma passagem secreta que dá para um dos templos de Prince. Esse em especial é bem abastecido de suprimentos, e detectei manifestação estranha por lá, é uma das hipóteses de onde está Sokushin.

— Entendido! Então Onurb e eu iremos averiguar.

— Certo, e novamente obrigado pela ajuda de vocês.

Onurb e Anirak saem de Detroit sem serem vistos pelas marionetes e entram na passagem secreta do rio. Na entrada, Onurb reclama com Anirak.

Ei! Por que somos os únicos que não fomos teleportados? Ajudaria muito…

— Porque o templo está próximo.

— Mesmo assim.

— Onurb, por favor, sem reclamações… Será rápido, entramos no templo, procuramos algo suspeito e voltamos, você ficará bem e ainda pode achar algo de valor.

— Verdade…

Anirak e Onurb caminham pela passagem, que é estreita e escura. Anirak vai à frente por ver melhor no escuro. A passagem passa perto de esgoto, deixando o lugar um pouco fedorento.

Eles aumentam a velocidade do passo e chegam ao templo. Anirak analisa o alçapão e entra em uma pequena estufa de plantas, que está intocada pela batalha e tem uma boa variedade de plantas e flores, ganhando a admiração de Anirak. Onurb entra logo após ela.

— Não imaginei que uma assassina admiraria mato.

— Esse “mato” pode ajudar também, alguns têm propriedades mágicas e químicas para enfraquecer ou matar os oponentes, e ainda dão belos arranjos.

Hmm... Não pensei por esse lado.

— Você nunca pensa.

Anirak e Onurb seguem para a saída da estufa que liga uma sala do templo. Os dois entram bem furtivos, atentos e alertas, já armados com suas adagas.

Há uma sala simples com móveis comuns, depois dela vem uma cozinha com alguns alimentos estragados e algum rastro de luta, com móveis e portas quebrados. Anirak recomenda:

— Melhor nos dividirmos, qualquer coisa um chama o outro.

— Certo.

A cozinha dá acesso a outros dois caminhos, uma porta que dá para uma escada que leva para andares acima e outra que leva para um corredor com alguns quartos. Anirak e Onurb investigam tudo, não achando nada que ajude, nada de valor e ninguém vivo.

Onurb chega ao salão principal do templo onde são feitos os rituais e a visita dos fiéis religiosos, um enorme salão, com grandes janelas com vidraças com desenho de animais, braseiros nos quatro cantos, três mesas de pedras no altar, bancos de madeira e pilares desenhados.

Tudo está escuro, o que dificulta a visão de Onurb, que ao entrar diz de uma forma serena:

— “A luz do Criador está em cada um de nós”.

Os braseiros acendem junto com algumas velas em lugares diversos pelo salão, revelando os detalhes.

Hah!

Há sangue por todos os lados, pedaços de humanos espalhados, braços, pernas, pés e até cabeças amontoadas em um canto perto de Onurb. Em cada uma das três mesas, homens com vestes de sacerdotes mutilados.

Os três estão de bruços, as costas cortadas, com as costelas separadas da coluna vertebral, para fora do corpo, formando uma figura semelhante a asas de uma águia de carne viva e ossos expostos, e do lado das mesas, os pulmões retirados.

Onurb fica espantado e paralisado e sussurra para si mesmo:

— Quanto mais eu avanço, mais a situação piora… Rrrr. Isso só pode ser um pesadelo.

Alguns segundos passam e ele anda de costas voltando por onde veio. Algo o empurra e o assusta, fazendo-o gritar e atacar com sua adaga. Anirak apara o golpe e o empurra.

— Para com isso! O que houve?

— Você me assustou! Por que não se anunciou?

— Não achei que o assustaria… Você viu algo?

— Olhe por si só.

Onurb aponta para o salão e se posiciona atrás de Anirak, que entra e fica chocada com o massacre em exposição.

— Que horror é esse?

— Não quero saber, melhor irmos embora, já que não tem nada aqui.

— Espere, já vi isso antes…

Anirak sobe no altar e analisa os corpos mutilados.

— Sim, esse padrão… Ele os mata e coloca-os assim.

— O assassino do Império?

— Sim… Águia de Sangue!

— Achei que fosse um mito.

— Não, pior que não é… Estranho ele ter sido chamado para cá.

— Mas ele é do Império, veio nos ajudar.

— Não, ele não é designado para esse tipo de tarefa, tem algo muito maior acontecendo em Prince.

— Maior? Estou começando a acreditar que eu que sou o azarado.

— Escute… Está ouvindo isso?

Anirak atravessa o salão até o portão principal e através de uma fresta na madeira do portão vê que ali perto há um grupo de soldados de Ford, que estão lutando contra umas marionetes. Onurb a segue se esquivando e com nojo da sujeira do salão.

— O que você está vendo?

— Um dos grupos de Ford está em batalha, vamos ajudá-los, talvez eles saibam algo sobre o assassino.

— A possibilidade de irmos embora é grande ou pequena?

— Nula. Vamos!

— Imaginei…

Anirak abre os portões com um pouco de dificuldade e avança pela cidade até chegar à batalha. O céu está escurecendo e a neblina está fraca, mas o frio ainda toma conta da cidade. Onurb segue Anirak e atacam juntos as marionetes

 Esse grupo está mais tenebroso, os corpos estão com ossos expostos, partes do corpo atrofiadas e vários cortes profundos. Mesmo assim, essas marionetes atacam com bastante força e fúria, deixando os soldados e Onurb com nojo e com medo.

Anirak se destaca com seus saltos e acrobacia, evitando ataques e contato com o inimigo. Seus golpes são precisos, decapitando todos e ajudando alguns soldados em desvantagem.

Onurb fica mais recuado, mas consegue derrotar várias marionetes com sua adaga ritualística. Os soldados ficam mais motivados por verem Anirak e Onurb ajudando-os e conseguem ganhar das marionetes. Um soldado se aproxima de Onurb.

— Por favor, precisamos recuperar nosso general.

— Anirak?

— Certo, vamos.

Onurb e Anirak seguem o grupo de soldados para a parte comercial da cidade. Há várias lojas em uma grande estrada de tijolos. No meio do mercado, um grupo de soldados cercados por um grupo de marionetes.

Todos avançam e, com dificuldade, conseguem chegar ao grupo de soldados. Onurb ataca pelas bordas sem ser notado pelo inimigo, e Anirak se aproxima do general aliado.

— Troller, é bom ver outro aurem por aqui, ainda mais do nosso tipo.

— Eu é que o diga… Meu grupo e eu fomos cercados rapidamente.

O grupo de marionetes vai perdendo número, e o grupo aliado se agrupa fechando algumas saídas do mercado com as barracas e entulhos. Troller se reúne com Anirak e Onurb para conversar com eles.

— Obrigado por terem nos ajudado. Algum sinal do mestre deles?

— Não, mas acho que temos outro problema.

— Outro?

— Você que faz parte do Império, sabe sobre Brent Rutilismo?

— O “Águia de Sangue”?

— Ele mesmo.

— Ele está na cidade?

— Sim, vi a marca registrada dele no templo… Você me parece surpreso, ele não é um aliado?

— Temo que não. Preciso reunir os cinco generais e voltar para junto de Ford… Soldados! Recuar, voltar ao forte!

Todos marcham para o forte, e no caminho Anirak questiona Troller:

— Brent pode estar atrás de Ford?

— Temo que sim, Brent é um assassino com tarefas “simples”, espalhar o medo em nome de Xarles e matar quem não seguir o Império à risca.

— Então isso é um problema.

— Estou torcendo para que não haja a necessidade de enfrentá-lo.

Onurb entra na conversa:

Ah? Ele é tão temido assim?

— Sim e não. Depois que Xarles “tomou” o Grande Continente, ele ficou sumido, por isso virou mito, mas acredite, ele é real.

Anirak diz:

— Brent é um Dionamuh-S, só por isso é superior a qualquer humano, e mais, as habilidades adquiridas no antigo mundo o tornam um dos mais temidos do mundo.

— Antigo mundo? Ele treinou nas primeiras ilhas?

— Sim.

— E a aparência? Se ele sumiu, como saber que o encontramos?

— Não se preocupe, Onurb, nós saberemos… Só sei que ele é ruivo e sabe usar qualquer arma.

— Preocupar? Eu estou preocupado desde que saí de casa.

Um tempo passa e eles chegam em frente ao forte, onde há outro grupo de marionetes enfrentando o grupo de Lincoln. Lincoln é um grande líder e ágil derrotando as marionetes com seu grupo, sem precisar de ajuda.

Todos se reúnem e se preparam para enfrentar o exército de marionetes que se move em direção a Detroit. Troller conversa com Lincoln.

— Irmão! Precisamos nos reunir com Ford, Brent está em Prince.

— Sério? Você o viu?

Nah, mas Anirak viu os corpos marcados por ele.

— Que péssima notícia, isso atrapalha nossos planos.

Lincoln assobia, e uma águia pousa em seu braço. Ele prende um pedaço de pano vermelho na perna da ave e a manda ir para o forte. Quando ela chega, alguns homens aprendizes de magia fazem luzes aparecerem sobre Detroit como um sinal chamando todos de volta.

Lincoln e Troller chamam o “T”, uma carruagem mágica, e voltam com Anirak e Onurb para o forte. O grupo de soldados recua a pé e se posiciona em frente ao forte para aumentar defesa contra as marionetes que se aproximam.

A carruagem entra no forte, e todos saem dela, encontrando-se com Volvo.

— Volvo, onde está Ford?

— Ele está dentro do quartel, apareceu algum problema lá.

— Ótimo, vamos até ele.

— Por que chamou todos de volta?

— Ford está em perigo.

Todos caminham até o quartel, e Lincoln questiona Volvo.

— E onde estão Mercury e Mazda?

— Já devem ter usado o teleporte para dentro do quartel.

— Eles conseguem voltar usando o teleporte?

— Ford só conseguiu fazer dois de nós ter cristais para o retorno, por eles terem ido a pontos distantes de Prince.

— Entendo… Então Ford já está seguro.

— Por que essa preocupação?

— O “Águia de Sangue” está em Prince.

Onurb comenta:

Nããooo... Eu deveria ter ido com Ray.

Troller percebe que próximo ao quartel está vazio.

— Por que aqui no centro está vazio?

— Provavelmente estão no Galpão ou se preparando para se defender das marionetes do lado de fora.

— Mesmo assim… Olhem!

No portão do quartel, um corpo de um homem pendurado por cordas e ganchos presos na pele cortada das costas, a marca registrada de Brent, um corpo ensanguentado com as costelas soltas para fora nas costas formando asas e pendurado, marcando o quartel como seu território.

Todos se surpreendem, e Lincoln estranha:

— Como? Como ele entrou?

Anirak supõe:

— Existe a possibilidade de ele ter entrado com a ajuda do teleporte?

— Não, a não ser que… Não… Mercury e Mazda! Precisamos encontrá-los.

Todos entram no quartel, e Lincoln traça uma tática.

— Troller, vasculhe os primeiros andares; Anirak e Onurb, por favor, avancem até o último andar em busca de Mercury e Mazda; eu irei até a sala de Ford; Volvo, me dê cobertura, e fiquem recuados.

Todos concordam fazendo sinal com a cabeça e seguem as ordens de Lincoln. Troller investiga os primeiros andares e não acha ninguém. Lincoln, junto com Volvo, sobe até chegar à sala de Ford, e o acham preocupado arrumando alguns papéis.

— Senhor?! Você está bem? Precisamos sair do quartel.

— Muita coisa acontecendo, preciso manter a calma, precisamos manter a calma.

— Senhor?

— Lincoln, Detroit está comprometido, fomos invadidos.

— Sim, e precisamos sair.

— Não! Sokushin será derrotado e acabará com a guerra, e o invasor será mandado de volta aonde veio, não podemos fugir, toda a revolução está em risco.

— Entendido, senhor… Volvo, vamos atrás dos outros e acabar com as ameaças.

Anirak sobe rápido, analisa corredores e salas e acha vários corpos mutilados e muito sangue. Onurb faz a busca com cautela. Ouve som de luta no refeitório, espia e vê o lugar revirado, bagunçado, alguns homens decapitados e Brent lutando contra Mazda e Mercury.

 

Dionamuh-S, idade aparente de 30 anos, estatura média, porte físico forte, pele branca corada, ruivo com cabelos curtos e enrolados, cavanhaque pequeno, rosto bonito, olhos vermelhos como sangue em um olhar sádico, sorriso amarelo e malicioso. Brent está descalço, usando uma calça, camisa sem mangas e um colete comprido que parece um sobretudo aberto.

Toda a roupa está rasgada e suja de sangue, alguns cintos na cintura, alguns justos no corpo e outros um pouco soltos, com várias pontas de metal e adagas guardadas, um pequeno cinto na perna esquerda com um cassetete de metal, outro cinto pequeno no braço direito, faixa no punho esquerdo e perto dele um pequeno caixote parecendo um caixão, com algumas armas cravadas nas laterais como espadas diversas, maça pequena, facas e um bastão.

Brent luta usando uma pequena espada e uma adaga. Mercury está na defensiva usando o escudo para defender tanto ele quanto Mazda, que luta bravamente contra Brent usando sua espada curva.

Brent demonstra gosto pela luta e aos poucos aumenta sua velocidade e precisão, cansando e preocupando seus adversários.

 

Onurb consegue entrar no refeitório e se esconder atrás de uma mesa virada sem ser notado. Diz para si mesmo:

Aaaaa! Que ódio, onde eu fui parar… Por que eu tenho que achar ele primeiro… Por que esses idiotas não fogem? Recuar é uma boa tática de guerra!

A luta começa a ficar crítica. Brent consegue ferir Mazda e o joga longe com uma voadora. Mazda cai perto da mesa onde Onurb está. Ele reclama baixo:

Rrrr! Idiotas, fujam daqui… Eu preciso ir embora, senão eu serei o próximo.

Brent avança para matar, e Mercury atrapalha atacando com seu escudo e tentando nocauteá-lo e afastá-lo. Tenta usar os ganchos do escudo para aparar a arma de Brent e quebrá-la, mas sem sucesso, Brent é muito mais ágil e consegue tirar a arma antes que quebre.

Ele usa uma mesa para dar um salto e subir na cabeça de Mercury, que bloqueia com o escudo, fazendo Brent ficar em cima do escudo e em cima dele. Em um piscar de olhos, Brent aparece na frente de Mercury e corta sua garganta.

Mercury ainda tenta contra-atacar com o escudo, mas Brent consegue desarmá-lo e jogar o escudo longe. Mercury ajoelha e cai sangrando até a morte, tentando parar o sangramento com as mãos. Brent sorri para a situação.

— O primeiro dos cinco generais a morrer… Traidores…

Mazda avança com uma sequência de espada. Brent se esquiva dos golpes como se previsse os ataques e o joga novamente para trás, fazendo-o cair outra vez na mesa. Brent avança, desarma Mazda, crava uma adaga na mão dele e tira o peitoral, cortando as amarras e deixando Mazda exposto para um ataque mortal no peito.

— Grite, guerreiro do oriente, gosto quando as vítimas gritam de dor.

Mazda fica firme em não demonstrar sua dor.

— Miserável, não cessarei à sua vontade.

— Pena, então vou matá-lo rápido, tenho outros para me divertir.

Brent gira a espada em volta de sua mão e ataca o peito de Mazda. A espada é aparada centímetros antes de acertar Mazda por Onurb empunhando sua adaga ritualística.

— Prazer em conhecê-lo, Brent, Éh? Ouvi falar muito de você.

— Desculpe, não posso dizer o mesmo.

! Faça como eu, minta!

— Você demorou em sair de trás da mesa, criando coragem?

Onurb empurra Brent e se posiciona em frente de Mazda.

— Hoje eu verei a Águia de Sangue sangrar.

Mazda tira a adaga de sua mão e levanta.

— Cuidado, ele não é humano.

— Sei disso… Infelizmente.

Brent vai até sua caixa e pega outra espada, ficando com uma em cada mão. Onurb saca uma adaga e a segura com a boca, falando com dificuldade para Mazda:

— Volte, chame os outros, vou segurá-lo.

— Certo.

Mazda corre até a saída e é alvejado por adagas arremessadas por Brent. Onurb entra na frente, apara-as e rebate, deixando Mazda sair sem ser atingido.

— Calma, Brent, eu falei que vou segurá-lo.

— Engraçado você falar com essa adaga na boca, humano ridículo.

Brent avança atacando Onurb e focando os membros. Onurb consegue se esquivar e aparar com dificuldade. Brent ousa fazer manobras maiores com acrobacia e girando o corpo para atrapalhar a esquiva de Onurb, que faz o mesmo, pega a adaga da boca e consegue desarmar a mão esquerda de Brent. Este consegue desarmá-lo também, deixando-o só com sua adaga de ritual.

Brent não perde tempo e avança com vários golpes com sua espada, fazendo Onurb recuar até perto da saída do refeitório. Onurb ouve um barulho e corre para fora. Brent o segue e ataca dando uma voadora.

Antes que Onurb fosse acertado, Brent é atingido no ar pela voadora de Anirak, que o joga para trás.

— Precisa de ajuda, Onurb?

— Ajuda não, preciso de salvação! Onde estão os outros?

— Devem estar com Ford.

Brent levanta e se aproxima andando calmamente.

— Uma aurem, essa raça morre fácil.

— Raça? Está se achando muito para uma minoria.

— Por pouco tempo. Chegará o dia em que vocês serão minoria.



Comentários