Volume 1
Capítulo 41: A Voz da Morte
Dionamuh-M, quase quatro metros de altura, porte físico forte, pele acinzentada, armadura corporal e o elmo fechado cobrindo a maior parte do rosto. Toda a armadura está com rachaduras, ferrugem e desgaste. A heráldica e traços da armadura são do exército de Dionamuh-M, das Montanhas de Irene White. Algumas flechas, adagas e até uma espada estão cravadas em seu corpo.
A ausência de sangue nas feridas e partes do corpo em decomposição indicam que o corpo é antigo e sem vida, mas o frio do cemitério mostra a respiração do gigante. Um vapor saindo do elmo constata vida, diferentemente das outras marionetes, que estão mortas. Essa divergência intriga Ray.
Esse gigante empunha uma arma de haste em uma extremidade, uma ponta de metal e na parte principal duas lâminas que parecem um machado de cabo longo. Ele contorna a cabana e olha para a cova em que Ray está escondido. Com uma voz falha e com alteração constante do tom, ele diz:
— Como chegou aqui?
Ray saca sua espada, a funda e sai da cova de forma e postura corajosa e ousada.
— Surpreso? Vim detê-lo e parar com essa guerra.
— E pretende fazer isso junto com seu grupo? Vejo que estão te procurando.
Ray se afasta e pega um pergaminho da magia de fogo, e aponta para o gigante.
— Sim, meu grupo e eu iremos detê-lo!
— E o que pretende? Atacar-me com uma bolinha quente?
O gigante olha para cima como se estivesse escutando alguém, depois avança atacando Ray, que conjura uma bola de fogo e a joga para cima como um sinalizador. O gigante bloqueia a bola e empurra Ray longe.
Ray consegue rolar para que não caia de mau jeito. O gigante avança usando sua arma de haste. Ray se esquiva e o ataca. Seus golpes surtem poucos efeitos. O gigante usa socos e sua arma em uma sequência lenta e forte. O último soco acerta Ray e o joga novamente para trás, e ele cai de mau jeito em uma lápide.
O gigante prepara um ataque total com sua arma. Ray se esquiva, e o gigante destrói a lápide e crava a arma no chão. Ray rola, levanta e salta, jogando o livro dos pergaminhos mágicos dentro do peitoral do gigante.
O jovem corre apontando sua espada para o gigante e diz vários sinônimos relacionados a fogo:
— Fogo, queime, inflame, exploda, incinere…
O gigante tira sua arma do chão e avança em Ray. Antes que ele se aproxime, as páginas do livro se transformam em bolas de fogo, causando um grande dano.
O gigante para e tenta tirar sua armadura, que começa a incendiar e a tremer por conta dos impactos feitos pelas bolas querendo sair da armadura.
Algumas saem pelas frestas da armadura e iluminam o cemitério, outras acertam as árvores e as deixam em chamas. O fogo abaixa, e o gigante diz:
— Engenhoso… Infelizmente não tenho tempo para você.
Ray estranha, pois o gigante não demonstra dor ou fraqueza. Mesmo com fogo em seu corpo, ele corre para acertar Ray, que se lembra de seu treinamento e das dicas dadas por Baltazar e Onurb e usa força e agilidade para aparar e direcionar os golpes do gigante.
Ray gira o corpo e acerta a mão do gigante para que solte a arma, mas sem sucesso. Chega a cortar dois dedos e se surpreende em não ver sinal de dor no gigante, que revida com um soco, segurando Ray ao chão.
Com a outra mão, o gigante o corta. Um vulto passa no céu, e o gigante solta Ray antes de acertá-lo. O vulto vem por outra direção, bate e empurra o gigante longe, tirando até o seu elmo. Ray se recupera do dano e fica em alerta.
O gigante logo levanta, revelando seu rosto, poucos fios de cabelo preto na cabeça, barba rala, o globo de seus olhos preto, a face bonita e conservada, com a cor mais viva e branca no lugar do cinza de seu corpo, como se ele estivesse morto só do ombro para baixo.
Seus traços lembram Ray de um conto antigo de um Dionamuh-M belo das montanhas que ouvia quando era criança.
— Wadlow?
Um grande vento toma o lugar perto de Ray e do gigante, e ouve-se um barulho de bater de asas acima de Ray, que olha e vê um gavião-real de dois metros de altura e quase cinco de envergadura, penas pretas e brancas. Em cada perna, braceletes com o símbolo do Império de Cristal.
A neblina fica mais fina, mostrando ao longe algumas marionetes lutando contra alguns soldados do Império. Ray se anima.
— Viu? Se renda, que será melhor.
O gigante joga sua arma na ave, e ela esquiva fácil. O machado em seu percurso deixou uma toxina no ar, e a ave e Ray ficaram com os olhos irritados, atrapalhando por segundos a sua visão. Wadlow saca de sua cintura boleadeiras e acerta a ave, deixando-a no chão.
Ela se debate, mas é nocauteada por socos do gigante. Ray recupera a visão, corre e ajuda a ave cortando as cordas e esquivando dos golpes do gigante, que se irrita e consegue pegar Ray com as duas mãos, prendendo-o e apertando seu corpo.
— Esmagarei você, pequeno tolo.
Ray sente uma dor que em segundos aumenta, mas é solto. Com acrobacia, Ray salta e se afasta do gigante. Quando ele o olha, vê que o gigante tira uma flecha que está cravada em seu olho esquerdo.
— Ray! Chegamos, Ray!
A moral de Ray se eleva ao ver reforços.
— Alexia? Baltazar?
Alexia, empunhando seu arco, atira outras flechas contra o gigante, que ele bloqueia com a mão. Baltazar empunha seu machado, solta um urro e ataca o gigante. Ray corre para ajudar a ave. Baltazar chega, recuando o gigante com vários golpes fortes.
Quando eles acertam a carne, causam ferimentos profundos. Quando acertam a armadura, ela trinca por conta da ferrugem e da sua fragilidade.
O gigante estende a mão, e a sua arma de haste vem até ele, conseguindo afastar Baltazar e igualando a luta. Baltazar, empunhando seu machado com as duas mãos, se iguala à força do gigante, que ataca usando uma mão, e com a outra se apoia no chão por estar muito ferido, sem conseguir manter seu equilíbrio.
Alexia corre atrás de Ray e o ajuda a livrar a ave das cordas. Ela toca na ave e se surpreende.
— Ghilber…
— Ghilber?
— Sim, um mestre arbol… Achei que estivesse morto.
— Mestre arbol? Ele é humano?
— Não, ele é um Sodam of Smart.
— Sério?
Alexia coloca sua mão na testa de Ghilber e, fechando os olhos, diz:
— Ghilber… acorde…
Ghilber acorda e se debate, jogando Ray e Alexia para trás. Ele se recompõe, voa e avança contra o gigante. No empurrão, Alexia tropeça e cai em uma cova funda, batendo a cabeça e desmaiando.
Ray vai até a cova e é abordado por algumas marionetes que conseguiram se aproximar, mas se defende e logo contra-ataca, focando a cabeça dos adversários. Ghilber consegue dar vários golpes no gigante, dando vantagem para Baltazar acertá-lo.
Ghilber desarma o gigante, e Baltazar consegue derrubá-lo. Em um golpe mortal, Baltazar corta a cabeça do gigante. Todas as marionetes caem, e Ray tem uma clarividência, ele vê todos os fios que ligam as marionetes ligando o gigante.
O fio que ainda está amarrado em seu punho fica visível de novo. Por um instante, Ray tem a visão de todas as marionetes e os generais lutando por toda a cidade, a batalha em frente a Detroit e algumas memórias dos cidadãos sobre a peste que matou a maioria da população antes de serem controlados por magia.
Ray segue o fio de seu punho até o corpo do gigante. Todas as marionetes levantam e continuam seus ataques. Ghilber e Baltazar estranham ao ver Ray parado, assustado e olhando para o gigante caído. Baltazar o aborda.
— O que foi, Ray? Derrotamos o Sokushin.
— Não… Esse também era uma marionete.
Na clarividência, Ray conseguiu ver que o gigante era tetraplégico e a magia o fez ficar com o controle do corpo novamente, mas sem sentir dor, um corpo morto com uma mente viva.
Todos os fios ligam as marionetes ao gigante, e este era ligado por outro fio que controlava o exército através dele.
Esse fio ia até a cabana do cemitério. Ray se recorda de que na explosão das bolas de fogo algumas que acertaram a cabana foram apagadas misteriosamente.
— Como assim, Ray?
Antes que ele responda, é puxado pelo fio até a cabana. Ghilber voa em direção a Ray e, antes de pegá-lo, a porta da cabana abre, soltando uma rede feita de uma teia grossa que parecia ser de uma aranha. Ela gruda em Ghilber e aumenta de tamanho, grudando-o no chão.
Ele se debate e consegue se soltar um pouco. Uma cova abre embaixo dele, fazendo-o cair. A cova fecha deixando só a sua cabeça para fora. Ele grasna, e uma teia envolve o bico, calando-o. Baltazar avança para salvar Ray.
As madeiras da cabana se soltam uma a uma e são arremessadas por magia em Baltazar.
— O que é isso?
Baltazar apara as madeiras facilmente, mas, com o tempo, o volume, a velocidade e a força vão aumentando e o empurram para dentro de uma cova, selando-a com as madeiras da cabana, que fica sem teto e sem as paredes, mostrando o que há dentro, alguns móveis simples e velhos, mesa, cadeira, cama e um grande baú.
Ray levanta e vê que os fios saíram do corpo do gigante, ficando sem intermediário, ligando diretamente ao controlador. Ray consegue cortar o fio de seu pulso, perdendo a visão dos fios, e se aproxima do que restou da cabana.
— Identifique-se!
Sokushin Butsu, um homem velho, aparentemente humano, com idade de 100 anos, branco, porte físico fraco e altura média. Usa sandálias de palha, um grande roupão de tecido fino de cor preta gasto com partes rasgadas e um pano dourado sujo de sangue preso por um broche de bronze em seu ombro chegando até seu colo.
Ele está sentado em uma cadeira com as pernas cruzadas, os pés em cima das coxas flutuando sobre o baú, as palmas das mãos juntas, os cabelos longos e prateados esvoaçantes. Ele abre os olhos, aparentando ser cego, com os olhos embranquecidos, rosto sem expressão e um frio sobrenatural ao seu redor, como se a morte o abraçasse.
Ray corre para ajudar Baltazar, e, no caminho, raízes mortas saem do solo, pegam seu pé e sobem até suas pernas. Ele logo se defende cortando as raízes, se esquiva de outras que tentam pegá-lo, faz um círculo em volta de si mesmo com a espada e a encrava no chão.
— Igniza!
Um ar quente toma o círculo, expandindo e queimando a área em volta. As raízes secam até virar pó. Ray corre até Baltazar e, no caminho, é parado por algumas marionetes. Ele recua, por serem crianças.
A cova de Baltazar explode e ele salta para fora, cortando as cabeças das crianças.
— Não se engane pelas aparências, Ray… Vá e ajude a galinha.
Ray corre para ajudar Ghilber. Baltazar avança contra as marionetes e nota o Sokushin do que restou a cabana.
— Outra marionete, ou esse é o controlador?
Ray responde:
— Cuidado, ele é o mestre de maldição que estamos procurando.
— Precisa de muito para abalar meu espírito ou controlar meu corpo.
Baltazar corre e ataca com um golpe total com seu machado, que é aparado pouco antes de acertar o pescoço do Sokushin, fazendo um som alto como se tivesse batido em algo indestrutível. Baltazar acerta um soco e novamente por centímetros é parado por uma parede invisível.
Ele se enfurece ao ver o velho sem expressão e imóvel parando-o sem mexer um músculo. Baltazar ataca com o machado novamente, e o machado é lançado longe. Baltazar tenta segurar a cabeça do velho, mas é parado e sente todo o corpo ser empurrado até deixá-lo de joelhos.
Ele solta um urro e levanta disputando força com o poder invisível do velho. Livra-se do poder, e o velho separa suas mãos que estavam juntas. Baltazar sorri.
— Se mexeu? Eu falei, precisa mais do que isso.
Sokushin estende as mãos como se estivesse pegando no rosto de Baltazar, que está distante. Baltazar sente um frio tomando conta de seu corpo, uma nova força invisível o força a cair no chão.
Ele tenta levantar, mas não consegue, sente seus músculos secarem, como se sua força e carne fossem desaparecendo e sugadas, causando uma grande dor. Baltazar não aguenta e grita com a dor constante que toma todo o seu corpo.
— Miserável…
Com a ajuda de Ray, Ghilber é libertado. Ele voa em direção de Sokushin e o ataca, batendo em uma parede invisível. Ghilber volta e tenta agarrá-lo com suas garras, mas antes de pegá-lo, as asas de Ghilber pegam fogo, e um fogo azul que o assusta o faz voar para longe.
Sokushin aponta sua mão na direção de Ghilber e a fecha. Ghilber é envolvido por um globo de fogo azul que aos poucos fica negro e consome seu corpo.
Os gritos de dor tomam o cemitério. Poucos soldados que sobreviveram às marionetes se aproximam, mas sentem falta de ar e caem no chão se debatendo. Sokushin esboça um sorriso no canto da boca, que some ao ouvir o grito de Ray.
— Deixem-nos em paz!
Ray lança sua espada e corre para atacar Sokushin. A espada bate na parede invisível e é arremessada para longe. Ray estende sua mão, e a espada volta para ele, que a arremessa novamente.
Ele continua a fazer isso até chegar perto de Sokushin e ataca com um ataque de ponta direcionado à sua cabeça. A ponta da espada bate na parede invisível. Sokushin sorri olhando para Ray. A espada começa a envergar, Ray urra, a parede faz um som de vidro trincando. Sokushin se surpreende e aponta uma mão na direção da cabeça de Ray e outra no peito.
Uma energia toma as mãos de Sokushin e a espada de Ray, e uma grande explosão acontece, um grande impacto para os lados, um pequeno impacto em cima de Sokushin, que cai para fora dos limites da cabana, e Ray não sofre impacto, permanecendo no mesmo lugar, mas fica um pouco atordoado. O fogo que queima Ghilber apaga sem causar muitos danos. O corpo de Baltazar volta aos poucos ao normal, deixando-o livre da dor.
Ray sente um grande cansaço e caminha até Sokushin, que está no chão. Este levanta flutuando o corpo e deixando-o de pé. Ray aponta sua espada para ele e diz, com tom sério, preparando-se para atacar:
— Vingarei todos que você matou e usou para seus planos.
Ray ataca, e Sokushin apara a sua espada com a mão. Com a outra, ele solta um impulso que empurra Ray. Com a mão sangrando, ele faz uma letra com sangue no ar, fazendo Ray ficar paralisado.
Sokushin se aproxima. Ray cai ajoelhado no chão. As raízes saem do chão e o prendem pelas pernas. Ele sente que vai desmaiar. Sokushin coloca sua mão na cabeça de Ray, e ele sente fios de controle saindo da mão de Sokushin, que envolve seus braços e pescoço.
Ghilber se esforça para voar, mas não consegue. Baltazar, sem os efeitos da magia, tenta levantar, porém se sente fadigado e desmaia. Os soldados do Império levantam, contudo são abordados por outras marionetes.
Sokushin olha ao redor e, ainda conectado com todas as marionetes, sorri ao ver as vitórias em locais separados da cidade de Prince, aproximando-se de Detroit. Ray resiste ao poder de Sokushin, mas aos poucos sente seu corpo falhar, como se morresse aos poucos e sem dor.
Ele e Sokushin ficam nessa disputa de controle por horas. As raízes aumentam a cada tempo que passa, cobrindo toda a parte inferior e o tronco de Ray. As linhas de Sokushin ganham visibilidade, parecendo faixas cobrindo os braços, peito e pescoço de Ray.
Sokushin faz um símbolo na testa de Ray com seu sangue e, com as mãos sobre o rosto do jovem, ele fecha seus olhos, dizendo:
— É meu dever salvar aqueles que se perderam… Deixe-me ser seu guia… Ouça minha voz... Receba minha salvação… Aceite sua morte!