Volume 1

Capítulo 40: Alento de Prince

Autósmobilis!

O humanoide desencaixa algumas partes do corpo e as encaixa em outras partes, diminuindo a altura e aumentando o comprimento e se transformando em uma carruagem fortificada de guerra. Todos olham admirados. Ford diz:

Transformers!

A carruagem se levanta e, no mesmo processo de desencaixe e encaixe, volta a ser o humanoide com aparência de um grande guerreiro de cinco metros de altura e mais fortificado do que a própria carruagem. Onurb se aproxima.

— “Autósmobilis”...

— Não, Onurb, esse poder só obedece a mim e à minha esposa, uma defesa para quem souber as palavras.

Onurb pensa em “trapaceiro”, mas diz como um elogio

— Astuto…

— Obrigado. Como podem ver, criei essa produção em massa para fazer um exército, mas até o momento tenho um pequeno grupo, entre eles tem modelo “A”, modelo “S” e o “T”. Diferenciam em velocidade, força para arrastão e defesa e podem ser usados para barragens também.

— Incrível.

Um soldado entra no galpão às pressas.

— Inimigos se aproximam!

Ford fica surpreso.

— Mudaram o padrão dos ataques.

Todos correm para fora do galpão, onde há uma carruagem mágica já preparada para eles irem até a muralha. Todos entram e seguem o caminho. No percurso, Ford explica:

— Durante os dez dias, nós conseguimos ver um padrão nos ataques, que têm poucas mudanças. Fomos atacados recentemente, e, para ter um ataque seguido, Sokushin Butsu deve ter adquirido novos integrantes para seu exército, alguma vila deve ter sido atacada.

— Sabe por onde ele está avançando?

— Infelizmente não, mas separei alguns grupos bem treinados, e com minhas invenções nas extremidades para impedir a expansão desse mal, algumas vilas foram evacuadas, mas ainda tem muitos caminhos não protegidos.

Todos chegam à muralha e, na torre, avistam um enorme exército de marionetes variando em civis, soldados, cavaleiros e até animais de grande porte. Onurb questiona Ford:

— Essas marionetes, mortos e vivos, têm como saber o nível de habilidade delas?

— Elas mantêm as habilidades que sabiam antes de morrer, mas diminuídas. Percebi que vários cavaleiros controlados por esse poder perderam velocidade e destreza…

— Bom saber…

— Mas todos os controlados ganham mais força, não sentem dor, não precisam dormir, e temo que possam usar magia.

— Magia?

— O controlador está ligado a eles. Como um cajado, eles servem como o “toque do mago”. Mas é só uma suposição. Como ele controla vários, acho difícil conseguir fazer algum feitiço através das marionetes.

— Ele controla muitos, pode ser mais de um controlador?

— Não. Nos ataques, percebi plena sintonia e sincronia, garanto que existe só um inimigo mor por trás disso tudo.

Hum! Então a notícia boa é que, se derrotar esse Seucusimbutu, tudo acaba.

Ray ri de Onurb, que fala o nome errado, e Ford o corrige.

— Sokushin Butsu.

Éh! Foi o que eu disse.

— Sim, mas para se defender dos ataques ele precisará encerrar o vínculo com as marionetes, então, achando ele, o problema acaba.

Ford olha o exército que se aproxima e se preocupa.

— Esse grupo está maior do que o normal, e “A”, “S” e “T” estão sendo arrumados para a batalha, prevejo muitas perdas… Preparem as catapultas!

Todos se preparam, e o exército inimigo para exatamente a uma distância que as catapultas não alcançam.

— O quê? Como?

— O que foi, Ford?

— A distância que eles estão… Disparem uma catapulta.

A catapulta é disparada, e a pedra não chega ao inimigo.

— Miserável, com o tempo ele está aprendendo sobre nós, ele deve saber que iremos atacar e já está mostrando que seremos atacados quando diminuirmos nossas defesas.

Todos ficam pensativos, e Clara pede:

— Sigam-me, tive uma ideia.

Todos a seguem, entrando na carruagem e voltando ao quartel, aonde vão para a sala em que está sendo preparado o teleporte. Durante o caminho, Ray, Onurb e Baltazar contam o que aconteceu em Prince desde que chegaram até o encontro em Detroit.

— Conseguiremos melhorar o teleporte, alguns testes mostraram que conseguimos teleportar para lugares onde há cristais do Império, não necessariamente para uma sala equipada com vários.

Ray se lembra de Ducem.

— Faz sentido, em Ducem conseguimos usar o teleporte só com alguns cristais.

— Isso, assim nossos grupos sairão sem que nosso inimigo saiba.

Ford beija Clara.

— Ótimo, amor.

Ray lembra:

— Mas, se o controlador tem a visão de todas as suas marionetes, se ele nos vir lá fora ele irá atacar.

— Sim, mas por isso vamos diminuir o grupo para ser mais furtivo e objetivo. Colocaremos nosso exército para atacar o grupo para manter o máximo de marionetes ocupadas, sobrecarregando a mente do operador da magia.

— Entendi… Muito bom, vamos ajudar no que for possível.

Onurb comenta:

— Novidade… Iremos à noite?

— Sim, vamos… Vocês precisam descansar e se alimentar. Até a noite a sala estará pronta para nos levar.

Todos seguem para um grande refeitório, onde comem observando tudo. Todos do forte demonstram moral baixa, cansaço e estão sem esperança.

Ford e Clara comem rápido e saem para falar com os guardas sobre o exército inimigo. Onurb e Baltazar se enchem de comida e dormem no canto do refeitório.

Anirak e Alexia já estão descansadas e acham uma sala para treinar e se armarem. Ray vai até a sala de teleporte e vê alguns homens trabalhando, arrumando cristais e fazendo gravuras.

Ray fica um tempo admirando a sala e é abordado por Ford.

— Ray? Estava lhe procurando, gostaria de apresentar meus generais, meus fiéis escudeiros, são como filhos para mim…

 

— Este é Lincoln…

É um guerreiro, homem humano, pele clara, estatura alta, porte físico forte, beleza comum sem destaque, cabelos curtos e escuros. Usa armadura leve e espada com o brasão de Ford.

 

— Mercury…

Um guardião, homem humano de pele escura, estatura média, porte físico médio, atraente, careca, usando armadura pesada e um grande escudo com o brasão de Ford.

 

— Mazda…

Um guerreiro oriental, homem humano de pele clara, olhos puxados, estatura baixa, porte físico médio, atraente, cabelos longos e pretos amarrados com um rabo de cavalo. Ele usa um traje de roupa leve e fino com as mangas e a barra da calça largas, uma espada curva e um peitoral de aço com o brasão de Ford.

 

— Volvo…

Arqueiro, homem humano de pele escura, estatura média, porte físico acima do peso, aparência comum, cabelos crespos e curtos, roupa leve como de um caçador, um arco composto nas costas e uma balestra presa à cintura, quatro aljavas de flechas, uma pequena capa com o brasão de Ford.

 

— E, por fim, Troller.

Lutador, homem aurem de pele escura, estatura alta, porte físico forte e musculoso. A parte inferior do corpo não é musculosa, de aparência não agradável, sem cuidado com a própria vaidade, cabelo curto bagunçado, colete de couro, calça e botas, sem camisa, deixando seu abdômen à vista e mostrando um desenho gravado no corpo do brasão de Ford. Ele usa em cada mão manoplas de aço com espinhos.

 

— Prazer em conhecê-los.

Lincoln se aproxima de Ray com admiração.

— Você é filho de Ynascar?

— Sim.

— Que honra! Então seus feitos no Grande Continente devem ser reais. Filho de quem é, você deve ter grandes habilidades.

— Muito obrigado, mas não é para tanto.

— Está sendo modesto.

Ford interrompe a conversa.

— Vamos indo, temos que traçar nossas estratégias… Ray, gostaria de nos acompanhar? Seu treinamento com Maxmilliam deve ter dado habilidades estratégicas, seria uma ótima aquisição para nós.

— Sim, mas gostaria de olhar mais um pouco a sala, nunca estudei referente ao “teleporte” antes e gostaria de ver mais alguns detalhes.

— É claro, fique à vontade, você lembra onde é minha sala?

— Sim.

— Certo. Terminando aqui, vá nos encontrar, sua ajuda será bem-vinda.

— Obrigado.

Ford e seu grupo saem da sala, e Ray fica admirando os cristais, lendo escritas, associando com as outras salas de teleporte das outras cidades. O tempo passa e ele se lembra de ir ajudar Ford na estratégia do ataque noturno.

Ray sente um mal-estar e senta no chão. Ele vê amarrado em sua mão o fio transparente de Sokushin Butsu e segue a linha até o meio da sala. Ray sente uma energia passar pelo seu corpo, e a sala entra em atividade. Os homens que estão na sala se assustam e se afastam, retirando-se.

Um tenta puxar Ray para fora, mas é empurrado por uma força invisível. Ray desaparece em uma aura comum de teleporte. Os homens correm para avisar Ford do ocorrido, que fica sabendo do sumiço de Ray e chama urgentemente Onurb, Baltazar, Anirak, Alexia e seus generais.

— Algo aconteceu na sala de teleporte, e Ray foi teleportado.

Onurb comenta:

Éh! Nenhuma novidade, o “azar” vive abraçado com Ray e os que o rodeiam, um aziago completo.

Anirak repreende:

— Para de besteira, Onurb… Ford, tem como saber para onde Ray foi teleportado?

— Não a localização exata, mas consigo rastrear para qual parte da cidade ele foi.

— Ótimo, vamos até ele.

— Um momento, por favor, ainda preciso da ajuda de vocês para localizar o Sokushin…

— Certo, vamos nos dividir, Baltazar e Onurb…

Nah, não irei mais com esse touro velho e o aziago, Ray deve estar com um grupo de sacerdotes possuídos pelo mal vomitando ácido para todo lado.

— Você tem uma grande imaginação… Ou medo.

— Isso se chama “precaução”, certo?

— Que seja! Baltazar e Alexia, vocês podem ir atrás de Ray?

Alexia responde, animada para a aventura:

— Sim, sem problemas, tudo bem para você, Baltazar?

— Sim… Vou sentir saudades de você, Onurb.

— Pena, pois eu não, vocês atraem as piores coisas…

Anirak volta a ordenar:

— Resolvido! Onurb e eu iremos para o ponto que você precisa, Ford.

— Obrigado, meus generais também irão para outros pontos. Achando o Sokushin, Ray estará seguro, então todos têm um papel muito importante… Com esse imprevisto do Ray, vamos adiar o ataque.

— Mais cedo?

— Sim, para agora!

Nos domínios do Império de Cristal, os mortos são colocados em covas cuja profundidade reflete a importância em vida, mínimo de um metro de profundidade. Menos dignos do que isso são usados como alimento para animais ou adubo.

Em vilas e em outras cidades do Grande Continente, os mortos são cremados, e as cinzas jogadas em águas correntes ou nas raízes de árvores antigas, normalmente em uma árvore da própria família.

Ray acorda no cemitério de Prince, grande, cuja maior parte do terreno é plana, com poucas elevações, grama baixa e úmida, algumas covas abertas, lápides pequenas de vários tipos feitas de pedra, poucas árvores, estradinhas de tijolos. A neblina impede de ver o fim do cemitério.

O sol está se pondo e, em frente de Ray, há uma pequena cabana, provavelmente do cuidador do cemitério e das covas. Ray levanta, observa em volta e lembra-se do mapa da cidade, vendo-se longe de Detroit.

Ele pensa em entrar na cabana. Ao se aproximar, ouve um barulho de algo grande se aproximando, vê que a cabana está trancada e, em lugar de arrombar, se esconde em uma cova rasa.

O frio aumenta, e Ray consegue ver um homem enorme com vários fios de marionetes saindo de seu corpo gigante, mas também sem um fim certo, tornando-se invisíveis e deixando-o sem conseguir ver a quem estão ligados.

— Um Dionamuh-M...



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