Volume 1
Capítulo 36: Regem, a Cidade Fortificada
— Enom! Não! Eu sou aliado…
Ao ouvir seu nome, Enom solta Ray e olha ao redor. Ray continua:
— Eu estou com vocês, mas preciso de ajuda para tirá-la daqui.
Enom tem um bom pressentimento vindo de Ray, e acaba confiando nele.
— Entendi… Ela tem um plano?
— Não, mas eu tenho… A propósito, você sabia dela quando ela liderava Regem?
— Sim, foi graças a ela que consegui este posto.
— Bom, mas sem formalidades, posso ver seu rosto?
Enom tira seu elmo, revelando seu rosto. É um homem humano, de aparência comum, cabelos e olhos castanhos. Ray olha em seus olhos e sente que pode confiar nele também.
— Agora eu entendi… Os nomes são usados entre pessoas de confiança.
Enom concorda com a cabeça, e Ray continua:
— Enom, Giliberta está alimentada e com roupas limpas, dê este brasão a ela.
Ray entrega o brasão de Ian.
— Mesmo disfarçada, será difícil sair, mas com o brasão o disfarce ficará completo.
— Mas, Ray, assim você perderá seu acesso total a Regem.
— Não tem problema. Regem entrará em guerra, o importante é ela sair e levar o máximo de aliados possível embora. Você sabe das mulheres que serão levadas agora à noite?
— Sim… Entendi seu plano. Muito obrigado, Ray, e cuide-se.
Enom pega o brasão, e, antes que desça as escadas, Ray o aborda.
— Desculpe, mas você tem todo o perfil que o Império quer, por que a seguir?
— Porque para o Império eu deveria estar morto, sou um descendente de Ivo.
Ray se surpreende.
— Tem outros como você?
— Sim, entre eles meu parceiro Nimo.
Enom desce as escadas, deixando Ray pensativo e associando as intenções de Giliberta, uma mulher que busca uma igualdade em todo o ser, sem limitar por grupos. Ray corre e sai do prédio. A noite já toma conta da cidade.
Antes de ir em direção à muralha, ele se lembra de Onurb, e vê que essa batalha é desnecessária para ele. Ray volta para o prédio e questiona um soldado com feição mais amigável:
— Por favor, onde é a sala de teleporte?
— Teleporte? A torre fica atrás do prédio.
— Deste prédio?
— Sim.
— Obrigado.
Ray volta para fora do prédio e vai atrás dele. No trajeto, vê vários soldados e cavaleiros se dirigindo para a muralha, cidadãos se refugiando em um casarão próximo e algumas catapultas sendo levadas para as torres.
Ele ouve barulho de explosões e se lembra de que Regem tem uma magia de defesa na muralha que forma um escudo protetor contra hostilidade graças a gravuras feitas de sangue nos tijolos na muralha, que com o tempo ficam imperceptíveis.
O barulho vem de pedras explosivas colidindo no escudo, tentando destruí-lo. Ray não tem traços nem roupas de Regem e, em um ataque iminente, é tratado como inimigo ao entrar na torre.
Os soldados avançam sem questionar. Para não arrumar confusão, Ray só se esquiva dos ataques e tenta dialogar.
— Acalmem-se! Eu sou aliado!
Os golpes ficam precisos, obrigando Ray a sacar sua espada e aparar alguns golpes. Ele abre uma brecha entre os soldados e sobe as escadas, tentando achar a sala de teleporte.
Com o ataque externo, a torre tem pouca segurança, e Ray tem mais facilidade de correr e chegar até a sala. Dentro dela, um cavaleiro de elmo com chifres o enfrenta usando uma lança. Ray logo é atingido na perna, e consegue aparar os outros golpes.
A sala entra em atividade, e o cavaleiro se anima.
— Ótimo! Mais soldados!
Ray teme um grupo de soldados e tenta fugir. O cavaleiro dá uma investida, colocando-o na porta e bloqueando a sua saída. Outros dois soldados dentro da sala se preparam para atacar, e a aura mágica do teleporte toma conta da sala, atrapalhando a visão. Uma voz conhecida anima Ray.
— Éh! Ray e o azar andam de mãos dadas! Sempre rodeado de confusão.
— Confusão é meu prato preferido.
Onurb derruba os dois soldados com chutes e golpes com adaga, acertando pontos que a armadura não protege. Baltazar vai de encontro com o cavaleiro, e em um soco arranca o elmo e em uma investida o joga para fora da sala.
O cavaleiro cai e tenta ferir Baltazar, que apara o golpe da lança e o faz desmaiar com outro soco, e o impacto faz com que bata a nuca no chão. Ray fica muito animado.
— Estou feliz em vê-los.
— Bom! Alguém aqui tem que estar feliz, não?
— Já estava com saudades de suas reclamações, Onurb… E essas roupas?
— Conseguimos em Condaeus antes de chegarmos aqui.
Onurb e Baltazar estão com roupas e armas novas que conseguiram em Condaeus, mesmo padrão que já usavam, mas com cores parecidas com a roupa de Ray, em tons de azul-escuro e preto.
Baltazar tem novamente um grande machado e uma espada de duas mãos, e Onurb está abastecido com mais adagas. Baltazar abraça Ray.
— Bom que está bem, amigo. E agora, qual é o próximo passo?
Onurb responde:
— Ah? Sair daqui, é claro! Não está ouvindo o barulho do caos lá fora? Já achamos o Ray, missão cumprida.
— Onurb está certo, Regem está em guerra, e o melhor agora é irmos nos encontrar com os outros em outra cidade.
Baltazar demonstra preocupação.
— Mas não temos que ajudar o Império?
— Aqui não, vamos para outra cidade.
Onurb fica animado.
— Hah! Ouviu o rapaz, vamos embora.
Ray se posiciona para ativar o teleporte, mas sente um mau pressentimento.
— Precisamos sair daqui.
— Sim, foi o que eu disse, vamos logo.
— Não, precisamos sair da sala, agora!
Ray corre para fora da sala. Baltazar e Onurb o seguem sem entender. Ao sair, uma luz mágica emana novamente e um grupo de ladrões aparece. Eles correm da sala, e em seguida ela explode. Ray, Baltazar e Onurb descem as escadas com os ladrões, seguindo-os para sair da torre.
No térreo, um grupo de soldados está na porta da saída, deixando Ray, Onurb e Baltazar no meio entre soldados e os ladrões náuticos, todos parados se encarando e aguardando alguma ação do inimigo. Onurb sussurra:
— Nunca pensei que diria isto…
Em alto e em bom som, ele grita atacando os ladrões:
— Pelo Império de Cristal!
Ray e Baltazar seguem Onurb, atacando os ladrões, que facilmente são derrotados. Alguns soldados se aproximam e os ajudam a derrotar os ladrões, ganhando confiança. Quando o último ladrão cai, Ray conversa com os soldados.
— Somos enviados de Ian Nai para ajudar o Império.
Um deles lembra que viu Ray mais cedo e confirma que é aliado. Ray aproveita o ambiente amigável e pergunta:
— Tem outra torre de teleporte em Regem?
— Não… Eles conseguiram se infiltrar em Regem.
Todos ouvem um barulho de explosão próximo e se espantam.
— Eles destruíram o escudo?
Onurb não entende:
— Que escudo?
Todos saem e veem vários projéteis passando por cima da muralha, atingindo torres, casas e até o casarão com os cidadãos que Ray viu. Os soldados correm para a muralha, e Ray corre para o casarão. Baltazar e Onurb o seguem. Onurb comenta:
— Deixe-me adivinhar, tem um povo carente naquela casa, Ray?
O casarão parece bem fortificado, pois foi atingido e não teve muitos danos. Como a explosão ateou fogo no telhado, Ray se preocupa e entra no casarão para verificar se todos estão bem.
Dentro, ele avista muitas pessoas agitadas e descendo uma escada grande e em espiral para um refúgio subterrâneo. Alguns soldados os avistam entrando e imaginam que são inimigos, e atacam Ray primeiro. Ele apara o golpe do primeiro e avisa:
— Acalmem-se! Sou aliado, ajudem o povo, que vamos ajudar no lado de fora.
Onurb cochicha com Ray:
— Poderíamos ficar no refúgio, ah? Para variar um pouco.
Baltazar pega no ombro de Onurb e o leva para fora. Ray o segue tentando esconder o riso. Os soldados, desconfiados, trancam as portas quando Ray sai e ajudam os cidadãos a se refugiarem. Do lado de fora, a noite é iluminada pelas luas no céu e pelas explosões, que não param de destruir tudo que tocam.
Ray se impressiona com a quantidade de explosões, lembrando-se da destruição de Ducem. Avistando um estábulo, ele corre para ter uma melhor locomoção.
— Cavalos, vamos! Precisamos ajudar nas muralhas.
Baltazar e Onurb o seguem. Ao chegar à entrada do estábulo, Ray vê uma luz tomando conta de uma praça que fica perto do prédio em que estava antes. Ele para e observa, estranhando a luz.
— Impossível…
— O que foi, Ray?
— Essa magia… É um teleporte.
— Como, Ray? O único jeito de se teleportar no Grande Continente não é pelas torres de cristal?
— Também achava isso… Mas, se não me engano, existem alguns pergaminhos com esse poder, são gastos ao usar, mas são úteis.
A luz cessa e revela um grupo de ladrões diferentes, mais armados e fortes, mas com o mesmo estilo dos outros. Entre eles, um se destaca indo na frente em direção ao prédio, parece ser o líder. Ray desiste do estábulo e volta para o prédio, criando dúvida em Onurb.
— Ray? E agora? Decide, homem!
Ray para e fica confuso.
— Não sei, aquele grupo arrumou um jeito de entrar, eles devem saber um jeito de sair.
— Entendi, mas e Regem?
— Eles terão apoio do Império recebendo reforços, esta cidade é importante, eles virão rápido, e Questtis está liderando aqui.
— Questtis? Aquele desgraçado? Onde ele está?
— Não sei…
Olhando para o alto, Baltazar comenta:
— Deve ser ele ali em cima.
Ray e Onurb olham e na última janela do prédio veem um homem usando um cajado conjurando uma magia e criando uma aura negra com algumas esferas cinza. Em segundos, outra aura surge em toda a muralha, refazendo o escudo.
Onurb e Baltazar questionam:
— O que está acontecendo?
Ao ver o escudo sendo levantado, Ray pergunta:
— Vocês não estão vendo?
— Vendo o que, Ray? Só vejo um bruxo conjurando algo.
— Ele está refazendo o escudo protetor da cidade, vocês não veem a aura na muralha?
— Não, mas a do prédio sim.
O som das explosões para, mas ainda se ouvem catapultas e guerra do lado de fora da cidade.
O grupo de ladrões entra no prédio, e Ray decide:
— Precisamos ir atrás deles e descobrir como sair.
Baltazar dá o seu parecer:
— Se eu me encontrar com Questtis, não irei ajudá-lo.
Onurb concorda:
— Hmmm... Se eu tiver chance, irei matá-lo.
— Eu entendo vocês dois, mas não será necessário, se os dois grupos lutarem teremos dois inimigos fracos.
Onurb se surpreende:
— Ray? Você está melhorando, ótimo plano, vamos segui-los e atacaremos quem ganhar.
— É uma forma resumida, mas a ideia é essa.
— Ótimo, vamos.
No caminho, Ray intriga-se com a ausência de soldados e pessoas em uma região que deveria ser mais protegida. Entrando no prédio, eles veem um grupo de soldados mortos, sem nenhum do grupo de ladrões.
Aproximando-se das escadas, ouve-se barulho de batalha. Ray, Onurb e Baltazar sobem devagar para não interferir. Pouco a pouco, eles veem mais corpos. Ray fica pensativo, e Onurb percebe.
— Ray, seja forte! Vamos continuar com o plano.
— Onurb, é difícil para mim, sei que morte faz parte da batalha, mas fui treinado para evitar o máximo possível de mortos.
Baltazar coloca a mão em seu ombro.
— O que você decidir, Ray, eu o seguirei… Quer ajudar essa gente?
Onurb balança a cabeça, e Ray responde:
— Sim, vamos à luta.
Ray adianta o passo. Baltazar e Onurb o seguem se preparando para o combate. Eles alcançam o grupo de ladrões em um andar amplo, com poucos móveis e sem o seu líder. O grupo está enfrentando alguns soldados do Império sem dificuldade. Baltazar passa à frente de Ray e vai de encontro aos ladrões.
Onurb de longe ataca com adagas que são bloqueadas, obrigando-o a atacar corpo a corpo. Ray derrota um fácil e ajuda um soldado, depois ataca um que guarda a passagem para continuar seguindo para os próximos andares.
Suspeitando a ida do seu líder, esse ladrão se iguala a Ray na habilidade da arma, mas Ray consegue ganhar usando sua funda para bloquear os golpes e imobilizá-lo. Para não o matar, Ray o golpeia na cabeça usando o cabo de sua espada e o faz desmaiar.
Ray sobe alguns degraus e sente que deve ficar para ajudar os outros. Antes de enfrentar outro ladrão, Baltazar entra na frente e diz:
— Siga em frente, Ray, estaremos logo atrás de você.
Ray concorda acenando com a cabeça e sobe as escadas atrás do líder. Baltazar, Onurb e os soldados continuam em uma luta por igual contra os ladrões. Baltazar é acertado por alguns golpes de sabres sem surtir muito efeito.
Onurb diminui a frequência de seus ataques focando em sua esquiva e consegue habilmente fazer e ainda ajudar alguns soldados que têm dificuldade de enfrentar os ladrões, que demonstram treinamento contra os soldados.
Seus golpes e esquivas são precisos e superiores à técnica de luta do Império. Eles tentam usar pedras explosivas, mas Onurb consegue detê-los, desarmando-os e jogando as pedras dentro de uma sala próxima.
Depois de algumas baixas, todos recuam. Baltazar se preocupa com Ray e tenta subir, indo atrás dele, mas é bloqueado. Furioso, ele ataca os ladrões, que têm dificuldade em enfrentá-lo. Aos poucos, Baltazar recua, sentindo-se cansado.
Onurb percebe a moleza do colega e o alerta:
— Ei! Cuidado, tem veneno nas armas deles.
— Agora que você me diz?
— Não sabia até então.
Onurb tenta se aproximar de Baltazar para ajudá-lo, mas ele também é bloqueado. Os dois soldados restantes ficam acuados e mudam sua tática de luta, mantendo o nível de luta contra os ladrões.
Em alguns momentos, todos ficam parados aguardando o movimento do oponente, porque Onurb, Baltazar e os soldados estão cansados e afetados por algum veneno desconhecido, e os ladrões por terem medo de perder.
A monotonia ativa a mente de Onurb, que pensa em um plano.
— Baltazar! Vou te ajudar.
Com a ação declarada, Onurb faz o oposto para confundir os ladrões, ajudando os soldados, e consegue derrotar um ladrão e se aproximar dos soldados, combinando golpes com eles para derrotar os outros até chegar a Baltazar.
Mesmo com seus movimentos alterados pelo veneno, Baltazar consegue bater forte e segurar os golpes dos ladrões, surpreendendo-os. Onurb aproveita algumas aberturas na luta para lançar adagas para ajudar Baltazar, que ainda luta só.
Em pouco tempo, Onurb consegue, junto com os soldados, se aproximar de Baltazar e ajudá-lo a derrotar os ladrões, que, já em menor número e intimidados, perdem. Baltazar se lembra de Ray.
— Precisamos ir atrás de Ray.
Ele sobe dois degraus e para, senta-se na escada, sentindo o efeito da toxina em seu corpo. Onurb foi pouco atingido, mas também sente uma leve tontura. Um dos soldados corre escadas abaixo, dizendo:
— Temos medicamentos avançados, volto logo.
O outro ajuda Onurb a sentar junto com Baltazar na escada.
— Sente-se, logo estarão bem… A propósito, obrigado por terem nos ajudado.
Baltazar se preocupa:
— Mas esse veneno é mortal? Onurb, você deve conhecer algo.
— Anirak seria melhor em dizer, ou Alexia. Nós estamos dependendo da sorte, touro velho.
— Ray, precisamos ajudar Ray. Questtis também é um perigo.
— Acalme-se, grandão, Questtis deve estar enfrentando o líder dos ladrões… Você, soldado, suba e ajude seu líder…
O soldado demonstra medo.
— Não… melhor eu esperar pela medicação, acho que também fui infectado.
Onurb ri.
— Haha! Você é um dos meus, venha, sente aqui do meu lado.
O soldado senta, e Onurb continua:
— Ei. A propósito… onde guardam os tesouros aqui? Melhor vermos se não tem ladrões por lá, o Império guarda itens bem valiosos.
Baltazar reclama.
— Este é o momento?
— Sempre…
Onurb faz sinal para Baltazar não atrapalhar e conquista a confiança do soldado.
Ray consegue chegar ao último andar e procura o líder furtivamente. Já ouvindo vozes dentro de uma sala, ele espia e vê que na grande sala Questtis e quatro cavaleiros de elmos de chifres estão frente a frente com o líder dos ladrões.
— Regem caiu!