Volume 1

Capítulo 34: Primus-Mixti

— A batalha!

Baltazar avança, se esquiva da investida de Primus e o golpeia. Leander faz o mesmo, mas é empurrado para longe. Primus não para e continua em direção ao moinho. No caminho, é acertado por algumas facas e adagas arremessadas por Onurb.

Uma delas pega no olho sem perfurar, mas incomodando e fazendo-o diminuir a velocidade. Baltazar e Leander correm em direção de Primus, e Onurb em direção a eles. Quando se aproximam, Onurb comenta:

Éh. Se preparem, usei aquela gosma nas adagas para ele seguir o cheiro.

— Genial!

Eles param, e Primus muda de forma para um Bison do mesmo tamanho e com cinco chifres grandes. Ele pisa forte, fazendo um grande barulho, e se prepara para atacar Onurb. Nesse tempo, Onurb faz uma estratégia.

— Ele virá atrás da isca, ficamos distantes uns dos outros e assim os outros dois atacam com tudo, temos que tentar montá-lo e atingi-lo.

Leander se anima.

— Ótimo! Você é corajoso!

Baltazar se afasta, preparado para atacar. Onurb corre e fala com Leander:

— Obrigado, mas você é mais… Eu passei a gosma em você, ele acha que você que atacou ele, é melhor correr!

Leander se assusta e vê a fúria de Primus, indo em direção a ele. O medo toma seu corpo, e ele corre desorientado, gritando:

— Socorro! Por que você fez isso?

Onurb reclama, falando para si mesmo:

AH? Ele é que gosta do bicho e ele queria que eu fosse a isca, mas é um infame sem bom-senso.

Primus vai em direção de Leander, e, antes de alcançá-lo, Baltazar dá uma investida em Primus, mudando seu curso. Leander cai com o susto, e Onurb dá um salto, montando em Primus, que com dificuldade se mantém montado por conta da pele viscosa.

Antes de cair, Onurb crava uma adaga com dificuldade em Primus e se mantém em cima dele. Primus solta um urro e volta a atacar Leander. Chegando próximo, Baltazar dá outra investida. Primus já espera por isso e esquiva, fazendo Baltazar cair surpreso.

Com a esquivada, Primus se afasta de Leander, que se recupera do medo e com o arco e flecha ataca Primus com várias flechas em sequência. Ele acerta todas, mas nenhuma perfura o animal.

Onurb quase é acertado por duas flechas e, bravo, tira e crava a adaga em outro ponto em Primus. Como defesa, Primus rola no chão, obrigando Onurb a sair e saltar para longe antes que ele seja prensado pela fera.

A adaga entra toda no corpo de Primus, que, dando outro urro de dor, muda de forma para um Ursida. Ele fica de pé e cospe pela adaga de Onurb. Leander avista alguns soldados se aproximando e se junta com eles para atacar Primus.

Onurb analisa e se prepara para ser atacado. Primus o ataca com suas garras, ele esquiva dando saltos e acrobacias, distanciando-se de Primus.

Baltazar aproveita a brecha e ataca com sua espada, cortando de leve Primus, e se impressiona pelo fato de que, pela força usada, era para ter ferido mais. Primus o empurra, agarra a espada com os dentes e a quebra, machucando sua boca também. Baltazar o agarra pelo pescoço e dá vários socos em seu rosto.

Onurb dá uma voadora que não tem efeito nenhum. Primus empurra Onurb e tenta se livrar de Baltazar, que usa sua força e peso para derrubar a fera. Primus cai, e Leander se aproxima com cinco soldados usando bastões grossos, e pede para Baltazar:

— Se afaste, que vamos atordoá-lo.

Leander e os soldados batem em Primus focando a cabeça, para atordoá-lo. Baltazar pega um bastão da mão de um soldado e quebra na cabeça de Primus, que levanta enfurecido e se transforma em um Pantherinae com grandes caninos, dá uma patada em Baltazar e o corta no peito.

Em uma investida, ele derruba Leander e os outros cinco soldados. Primus mata um soldado prensando a sua cabeça no chão com sua pata, mata outro comendo a cabeça e fere Leander com uma patada.

Leander reage usando seu facão na pata de Primus e levanta, ajudando os outros soldados. Antes que Primus ataque, Onurb salta e o corta no rosto, e tenta montá-lo novamente. Antes de cair, Baltazar o ajuda e soca Primus, que por um momento fica atordoado, mas logo volta em fúria, joga Onurb longe, que com técnica cai e rola sem se machucar.

Primus rola e deixa Baltazar no chão, e tenta matá-lo abocanhando sua cabeça. Baltazar segura a mandíbula de Primus com as mãos, que aos poucos sangram pelos dentes afiados. Dois soldados avançam. Primus solta Baltazar e mata os dois soldados com patada e mordida.

O terceiro soldado corre pedindo ajuda. Leander se distancia e volta a lançar flechas em Primus, chamando sua atenção. Primus, com raiva, segue Leander, que corre em direção do moinho.

Onurb ajuda Baltazar a levantar, e os dois correm para ajudar Leander, que salta e rola no chão. Primus cai em um buraco camuflado por folhas e galhos. Onurb e Baltazar se aproximam e ajudam Leander a levantar. Ele está fadigado.

— Não nos contou da armadilha.

Não… deu… tempo… O bom é que… pegamos… ele.

Onurb olha no buraco, vê a profundidade e elogia a armadilha.

Ééééeh! deu para pegá-lo. Ele está ficando calmo, tem algum veneno ali embaixo?

— Sim, colocamos alguns venenos paralisantes… Como ele está cansado, vai dormir em… minutos.

— Ótimo… Parece que ele está desaparecendo.

— Como assim?

Leander se aproxima com Baltazar e analisa.

— Estranho… Ele está se camuflando, está se transformando de novo.

Onurb se desanima.

Nãooo... De novo? Se esse bicho se multiplicar, será o fim do mundo.

Depois de um pequeno tremor, Primus sai do buraco transformado em um Python enorme com grandes presas. Logo enrola Baltazar e o faz desmaiar sufocando seu corpo.

Leander fica assustado e se distancia. Onurb demonstra coragem e ataca Primus com tudo, adaga, socos e chutes.

Ele consegue cravar a adaga algumas vezes, mas Primus não larga Baltazar. Antes de matá-lo, Onurb atinge algum ponto crítico de Primus, fazendo-o soltar Baltazar e indo para cima de Onurb, que corre, mas logo é alcançado por Primus, que o ataca com vários botes.

Onurb consegue esquivar de todos e contra-atacar alguns com cortes de adaga. Três soldados se aproximam, e Primus engole um em segundos.

O outro soldado tenta atacar e o terceiro corre, deixando Onurb com raiva.

Rrrrr... Povo covarde! Roubaram meu lugar nessa batalha, desgraçados!

Primus dá o bote no outro soldado e o enrola, fazendo-o sufocar mais rápido do que Baltazar por conta da diferença de tamanho e força. Em segundos ele o atordoa e o engole. Nesse tempo, Onurb também corre pensando em como contra-atacar.

Primus, sem perder tempo, avança contra Onurb, e depois de alguns botes consegue abocanhá-lo. Onurb se assusta e se debate, tentando escapar. Primus não consegue engoli-lo por inteiro por ter outros dois corpos anteriormente engolidos, então decide triturá-lo, há uma mutação em sua boca, e vários dentes afiados aparecem.

Antes de matá-lo, Baltazar surge, segura a sua boca e cospe em seu olho. Leander se aproxima e ajuda Onurb a sair da boca de Primus. O soldado engolido antes de Onurb se segura nas pernas dele e também tenta sair.

Primus consegue se soltar de Baltazar e tritura o corpo do soldado, mastigando-o e engolindo, deixando só o braço de fora, que ainda segura as pernas de Onurb. Ele grita ao ver a cena. Baltazar dá um urro de fúria e agarra Primus, chegando por trás de sua cabeça e estrangulando-o.

— Não é bom, seu monstro burro, vai sufocar também.

Onurb pega o facão da cintura de Leander e golpeia a garganta de Primus exposta graças a Baltazar, que o segura por trás. Primus se debate, mas Baltazar e Onurb ficam firmes e conseguem derrotar o monstro. Primus cai esgotado, à beira da morte, e lentamente o seu corpo vai ganhando outra forma, diminuindo de tamanho e com a pele mais pálida. Baltazar e Onurb se olham, riem, e Baltazar diz:

— Viu? Não foi difícil.

— Não? Haha. Eu quase morri!

Leander cai exausto e agradece.

— Obrigado por terem ajudado, não sei como seria sem vocês.

Onurb diz, sério:

— Eu imagino, vocês morreriam… E um “obrigado” com alguma gratificação seria bem-vindo.

— É claro, fale com o líder da cidade.

— Mas não tem líder!

— Você me disse ontem à noite que iria esperar um novo líder, então é só esperar.

Baltazar senta em cima de Primus e ri da situação.

— Ele te pegou nessa, Onurb, “relaxa”, amigo.

Éh? Relaxar? E eu vou mesmo... Cansei disso tudo, eu deveria voltar para casa, isso sim, e deixar tudo isso para trás, tudo isso é uma perda de tempo.

Leander levanta e comenta:

— Só fico triste por não conseguir capturá-lo vivo. Tirando sua agressividade, é um animal incrível…

— Foi melhor assim…

— Certo, vou chamar os soldados… Ah, alguns já estão vindo.

Alguns soldados e umas mulheres se aproximam deles, e o mesmo soldado que falou com Baltazar quando ele chegou à cidade inicia um diálogo.

— Que ótimo! Vocês conseguiram pegar o monstro.

Onurb, ainda no local, reclama:

— E por que vocês não ajudaram?

— Eu mandei os soldados que conseguiam vir, os outros estavam comendo.

Ah? Comendo? Vocês são inúteis! Ainda tem comida?

— Tem…

— Ótimo, pois estou com fome… Baltazar, se você precisar eu trouxe algumas poções e medicamentos de Ducem…

— Vou precisar…

O soldado volta a falar com Onurb enquanto o leva a uma casa com comida pronta.

— E como está Ducem?

Onurb o olha sem nenhum ânimo:

— Está ótima… Um silêncio… Nem parece cidade grande e populosa.

— Legal, faz tempo que não vou lá…

Onurb comenta baixo:

— Estou cercado por loucos.

Baltazar, atrás de Onurb, ri e o consola colocando a mão em seu ombro.

— Lá no fundo você está gostando desta aventura, ela já está te trazendo experiência e vai ajudar a te dar uma boa vida.

— Sério? O que te indicou que eu estou gostando? E tudo isso vai me trazer uma boa morte, isso sim.

Todos seguem para uma casa grande e simples, com uma mesa farta de comida, grãos, carne, sucos, pães e legumes.

Leander, Baltazar e Onurb comem e ao mesmo tempo usam alguns medicamentos oferecidos por uma senhora, que surtem efeito rápido. Leander enfatiza:

— Esqueci-me de dizer, a gema realça as propriedades da terra e dá mais atributo para tudo que é plantado, deixando os medicamentos mais fortes do que o normal.

Onurb admira e sorrateiramente pega um frasco. A senhora vê e bate em sua mão, fazendo-o soltá-lo.

— Não. Esses são medicamentos para o povo de Citizen.

— Eu ajudei Citizen, agora faço parte…

— Eu disse não.

Onurb resmunga, mas consegue pegar um frasco escondido.

Rrrr... Velha chata, esta cidade é toda ingrata.

Algumas horas passam e Leander, Baltazar e Onurb dormem no moinho. O fim da tarde e o início da noite passam com os homens trabalhando, mulheres cuidando dos animais, os soldados cuidando dos mortos e levando Primus para uma grande carruagem que chega com um grupo de elite do Império de Cristal.

Esse grupo chega e sai com Primus sem deixar rastro. Onurb desperta com o ronco de Baltazar e comenta com Leander, que está acordado:

— Tem algo que eu quis te perguntar desde o início.

— O quê?

— Por que você usa roupa camuflada?

— Para camuflagem, né?

Onurb olha para o cabelo azul de Leander e com um olhar vazio responde:

Éh... Sim... Com certeza… Você é um especialista nisso, posso ver.

Onurb levanta e grita com Baltazar:

Ei! Touro velho! Acorda!

Então se espreguiça e reclama:

— Não vejo a hora de sair desta cidade de doidos, quando será que terá outro líder para podermos usar a torre de teleporte? Senão teremos que ir à moda antiga, a cavalo.

— Vocês precisam usar o teleporte? Eu sei usar!

Onurb fica em silêncio olhando para Leander, que não entende a sua expressão de espanto e desânimo. Uma lágrima surge no olho de Onurb e ele senta com a mão na cabeça, falando sozinho.

Nããooo. Eu não acredito… Eu poderia ter ido embora antes de tudo, eu poderia ter ido embora ontem à noite… Esse idiota, miserável...

— Onurb, você está bem?

— Bem? Ah? Eu pareço bem? Mas eu estou bem… Sim… Por que não estaria?

— Não sei… Você ficou estranho, está bravo?

— Bravo? Não! Nah. Eu não fico bravo… Mas sei de alguém que vai ficar…

Onurb se aproxima de Baltazar, que ainda ronca alto, e sussurra em seu ouvido:

— Baltazar… Ei... Baltazar, Leander sabia desde o início como chegar até Ray. Coitado do Ray, precisando de ajuda…

Baltazar abre os olhos e levanta em um salto, procurando Leander com os olhos. Ao achá-lo, levanta-o pelo pescoço e briga com ele.

— Você podia ter nos levado até Ray desde o início? Ele pode estar em perigo, e por sua culpa estamos atrasados! Tem ideia da gravidade?

Baltazar continua a brigar com Leander, que não consegue responder por ter seu pescoço apertado, e Onurb volta a falar sozinho, deitando novamente como se fosse dormir.

— Bravo? Eu? Hah... Esse não é o meu papel neste grupo, meu papel é fazer pouco caso de tudo, agora eu estou tranquilo… Será que ainda tem aquele pão gostoso naquela casa?

Baltazar solta Leander e, antes que ele se explique, diz:

— Não quero desculpas, não quero mais perder tempo neste lugar, Ray pode estar em perigo, e eu achando que só o Império poderia nos tirar daqui… Onurb, levante-se, vamos para a torre, e você, Leander, vai nos ajudar!

Alguns homens veem a confusão e comentam em um tom baixo um com o outro:

— Povo estressado, deveríamos falar que o Império esteve aqui mais cedo para pegar o bicho?

— Não, nem comente, aquele grandalhão vai te matar se souber que o Império veio e ninguém os avisou, deixe como está, eles já estão indo embora mesmo.

Baltazar, Onurb e Leander saem do moinho e vão para a torre de teleporte.

Chegando lá, Leander prepara o teleporte e, antes de teleportar, diz sem jeito:

— Obrigado novamente pela ajuda, e me desculpem por não ter avisado antes, não sabia que era urgente a ida de vocês.

Ainda bravo, Baltazar responde:

— Tudo bem, o importante é que esta cidade está livre de ameaça.

Onurb provoca Leander antes de sumir no teleporte.

— Ei! Pinte esse cabelo, jumento!

Baltazar e Onurb são teleportados, e Leander comenta para si mesmo:

— Mas eu gosto assim… Acho até que combina.

Um soldado olha para Leander e responde:

— Realmente… não combina.



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