Volume 1
Capítulo 32: Espadas, Elegância e Honra
Onurb observa Ray empenhado a ajudar as pessoas no templo e fala baixo, só para ele mesmo:
— Um pouco de egoísmo não faz mal a ninguém… Éh, só aos outros… Enfim.
Ray avança empunhando sua espada e sua funda e entra no meio da batalha. Todos estranham a chegada dele, pois está com as roupas sujas que Onurb disse para vestir; ele colocou por cima das suas, e ficou parecido com um homem de rua.
Todos o tratam como uma ameaça, até que suas intenções ficam claras com ele atacando os soldados do Império com sua espada e defendendo alguns guerreiros do templo com sua funda.
Ray também ataca com cautela, aproveitando a fúria dos soldados para usar ao seu favor na batalha, impulsividade contra serenidade, conseguindo ataques certeiros e não mortais.
Com sua funda, ele consegue pegar alguns objetos para atacar e atrapalhar os soldados que estão atacando os guerreiros do templo, até bancos Ray consegue arremessar.
Logo todos os soldados o têm como alvo, e os guerreiros como aliado. Enquanto tudo isso acontece, Onurb sobe pelas escadas, tira as roupas sujas do disfarce, guarda suas armas e fala sozinho, gabando-se da situação:
— Tranquilidade. Éhh... É esse é o verdadeiro caminho que os guerreiros deveriam tomar… Há! Olha lá, Ray lutando bravamente por desconhecidos que não darão nada em troca, triste… Enquanto estou bem, seguro e com ótimos itens de valor.
Onurb tira de seus bolsos alguns itens roubados do templo que Ray não viu e avalia-os até chegar ao andar de cima. Ray consegue ajudar a virar a batalha, diminuindo os soldados.
Em um piscar de olhos, mais soldados entram, em uma grande investida, empurrando a todos e fechando o portão.
Na investida, soldados e guerreiros se bateram, matando uns aos outros, deixando poucos vivos de ambos os lados. Ray mata sem querer o que o empurrou e cai, bate a cabeça e fica desnorteado.
Depois de poucos segundos, ele é levantado por um soldado. É Bill, que o aborda.
— Ray, você foi capturado?
Recuperando-se da pancada, Ray conversa com Bill.
— Bill? O que está fazendo?
— Recuperando o templo desses baderneiros.
— Baderneiros? Não! Eles não são ameaça, eles estão só se defendendo.
— Tolice, atacaram nossos soldados, portanto são inimigos do Império.
Onurb para no fim da escada e teme por Ray.
— Aaaa... Droga, será que Ray será pego? Aquele é o Bilo… Nós o ajudamos… Agora seremos ajudados, escolhi o lado certo.
Ray observa ao redor e vê muitos mortos. Os soldados vivos imobilizam os guerreiros do templo. Um soldado demonstra que vai matar um senhor caído e desarmado. Isso desperta fúria em Ray.
Antes que ele reagisse, um barulho forte ecoa no salão vindo do portão, que abre jogando os soldados que estão segurando-o para longe. Aparentemente, outra pedra explosiva.
Uma nuvem de poeira entra e toma conta do salão. Bill segura Ray pelo braço, demonstrando medo. Ray usa sua funda para tampar seu nariz e boca da poeira e empunha sua espada.
Onurb se assusta com a explosão, derruba alguns itens na escada e olha com receio para a nuvem de poeira.
— Shii. Ou será que escolhemos o lado errado?
Na região do portão, ouve-se barulho de luta com espadas e gritos de morte. Ray consegue ver alguns soldados indo para o portão e sendo atingidos e mortos por um vulto na nuvem. Alguns guerreiros e lutadoras são socorridos por alguns cidadãos que saíram do fundo do templo para socorrê-los e levá-los para os quartos dos fundos.
A nuvem cessa e todos ficam parados em silêncio, Ray, junto com Bill, um soldado entre Ray e o portão, dois soldados feridos perto do altar e uma lutadora ainda apta para o combate, que defende a porta que dá acesso aos fundos.
Com o fim da nuvem de poeira, o vulto revela ser o guerreiro ambidestro visto anteriormente por Ray, um homem aparentemente humano, bem ofegante, idade entre 25 e 30 anos. Seu rosto demonstra fúria, seus olhos puxados mostram sede por luta, seus cabelos castanhos e longos em partes amarrados e bagunçados demonstram a agitação que foi vencer a luta de fora do templo.
Sua armadura de cor preta e cinza é feita de placas sobre placas de metal que cobrem as coxas, ombros, antebraços e as costas, tudo bem gasto e sujo de areia e lama; a barra e a manga larga do traje por baixo da armadura estão rasgadas, possibilitando até ver a tatuagem em seu braço direito.
De porte físico normal, estatura baixa, mas de moral alta, pisa forte com suas botas que aparentam ser do Império de Cristal, por serem grossas e com metal peculiar nas extremidades.
Seu corpo está cheio de ferimentos de luta recentes e cicatrizes de batalhas antigas, destacando uma grande em seu braço direito e outra em seu rosto no formato de um “Y”. Ele empunha em seu braço esquerdo uma espada de lâmina curva, negra, de um gume e suja de sangue, e na direita outra espada comum de lâmina curva que aponta para Bill, ameaçando atacar.
Onurb analisa o guerreiro oriental com um pouco receio.
— Forte, mas parece esgotado, a batalha ainda deve ser fácil…
A porta do andar de cima se abre, e por ela passa um homem que chama atenção de Onurb, fazendo-o desanimar.
— Aaa... Fácil? … Não mais.
O homem aparentemente humano, entre 35 e 40 anos e estatura alta, anda até a beira do segundo andar para visualizar o salão de cima. Seus passos são leves, seu rosto bonito está sereno, não usa armadura, mas um traje igual ao do guerreiro ambidestro, com a barra da calça e manga larga de cor branca e tons azuis.
Seu traje está amarrotado e velho, porém encaixa bem em seu corpo forte e viril. Seu calçado parece uma meia grossa, com o tornozelo alto e uma separação entre o hálux e os outros dedos. Seus cabelos escuros e longos estão soltos e esvoaçantes pela brisa que sai da porta perto dele.
Em sua cintura, uma espada de lâmina curva, em sua bainha detalhada com ouro e gravuras. Em sua mão direita, o arco que Ray avistou anteriormente, associando ser outro guerreiro do oriente. Nas costas, uma aljava simples cheia de flechas. Seus olhos escuros e um pouco puxados analisam o salão.
Ele se posiciona com seu arco à sua frente, olha para Onurb fixando seus olhos, mas com o rosto ainda direcionado para o salão. Com seu braço esquerdo, ele saca uma flecha de sua aljava e a atira em um soldado, matando-o na hora.
Onurb se surpreende por ele acertar a flecha sem olhar para o alvo, só por ter visto segundos atrás e ainda o encarando. A flechada ativa a hostilidade, e começa a luta no salão.
Dois soldados avançam no ambidestro, que apara e esquiva dos golpes com facilidade e os golpeia no peito, matando-os.
Bill corre para fugir usando a porta que dá acesso aos fundos. A lutadora o impede, e Bill a ameaça.
— Saia do caminho, qualquer inimigo meu será inimigo do Império…
A lutadora o interrompe com um soco na boca, fazendo-o cair. Ele logo levanta e a ataca, acertando-a no peito. Ela revida com outro soco no rosto que o faz girar, dando chance de ela agarrá-lo por trás com seu braço envolvendo seu pescoço, sufocando-o.
Ray fica sem reação. Preocupado com o mal-entendido, Onurb saca sua adaga e logo é alvejado por uma flecha do arqueiro, que desvia por pouco e sorri para a atacante.
— Não me subestime…
O arqueiro se afasta atirando cinco flechas consecutivas com grande precisão e intensidade. Onurb se surpreende pelas habilidades do inimigo, mas se esquiva de duas com dificuldade, apara duas por sorte e leva uma de raspão.
Durante o ataque, Onurb se aproxima do arqueiro e, ao fazê-lo, o ataca com golpes de adaga. O arqueiro apara e esquiva de alguns usando seu arco, que é danificado pelos golpes, e para afastar Onurb ele o chuta, fazendo-o cair.
Onurb dá um salto para trás para não cair de mau jeito e se posiciona para continuar o ataque.
— Éh! Você é bom.
Com uma voz bonita e firme, o arqueiro começa um diálogo.
— Samuk!
— Como é que é?
— Eu sou Samuk, você é habilidoso e merece saber com quem está lutando.
— Hmmm. Que honroso… Eu sou Onurb, e infelizmente não estou a fim de lutar com você.
Onurb termina sua frase jogando moedas e itens que roubou em cima de Samuk, que saca sua espada rapidamente para se defender achando que eram facas ou qualquer outra arma branca.
Nesse tempo, Onurb usa suas habilidades em acrobacia e se atira no andar de baixo. O guerreiro ambidestro avança atacando Ray com sua espada comum. Ray toma uma posição de esquiva e consegue esquivar da sequência de golpes.
Rapidamente, o guerreiro demonstra raiva por não acertar os golpes e começa a usar as duas espadas, e consegue acertar Ray, causando-lhe ferimentos leves. Ray consegue contra-atacar em uma brecha de defesa do ambidestro e o fere no braço. Surpreendido por ser ferido, o ambidestro abre a defesa mais uma vez, dando oportunidade para Ray golpeá-lo com um soco no rosto.
O guerreiro ambidestro demonstra fúria, e, antes de acertar Ray em um ataque total, Onurb cai em cima do guerreiro, jogando-o longe e rolando pelo chão.
Os dois levantam e se atracam. Onurb, com uma adaga em cada mão e uma na boca, enfrenta o ambidestro sem dificuldade, aproveita a fúria no guerreiro, que deixa mais brechas nos ataques, e se destaca na briga.
O som das espadas e adagas toma o salão. Onurb soma sua flexibilidade com agilidade e fere o guerreiro, deixando-o na defensiva e alerta. Antes que Ray ajude Onurb, ele é alvejado por flechas vindas de Samuk, que aos poucos desce a escada. Ray é acertado no ombro pela flecha e pega distância para se esquivar das outras.
Enquanto ele tira a flecha de seu ombro, Samuk mata Bill com duas flechas no peito. A lutadora sai em direção aos fundos do templo. Depois disso, Samuk conversa com o guerreiro ambidestro.
— Marcel! Controle sua fúria, essa luta requer destreza, não força.
Ray acha que será um problema os dois guerreiros orientais juntos e decide subir as escadas para enfrentar Samuk. Ele empunha sua espada e avança. Samuk deixa seu arco e aljava de lado, desce alguns degraus e empunha sua espada.
Os dois se enfrentam, Ray com ataques fortes e precisos, Samuk com ataques rápidos. Aos poucos, Samuk consegue recuar Ray descendo mais as escadas, preocupando o outro.
Marcel consegue controlar um pouco a fúria e se iguala a Onurb, que rapidamente soma à “luta” a sua arte da adaga e acerta Marcel com chutes enquanto apara as suas lâminas, deixando-o com raiva de novo.
Ganhando vantagem na luta, Onurb intercala girando o corpo e lançando adagas e até algumas moedas em Samuk, ajudando Ray. Samuk fica surpreso por Ray não perder força nem movimento com um ferimento no ombro e, antes de jogá-lo fora da escada, ele é acertado por uma moeda no rosto por Onurb, alertando sobre os outros itens arremessados.
Nesse pequeno tempo, a luta fica a favor de Ray e Onurb, que, cansando e enfraquecendo Marcel, auxilia Ray de longe esvaziando seus bolsos.
Ray ganha vantagem graças a Onurb e faz Samuk recuar subindo novamente as escadas. Samuk prevê a perda da luta com a escassez de Marcel e faz um movimento ousado, apara a próxima adaga arremessada de Onurb, deixa o próximo golpe de Ray atingi-lo no peito, gira o corpo para não o perfurar, corta Ray no braço e o empurra.
Ray desce alguns degraus, mas consegue manter o equilíbrio e não cai. Samuk aproveita a brecha, dá um impulso com o pé na parede e salta da escada para atacar Onurb. Ray se assusta, por ser um movimento rápido.
Onurb também empurra Marcel e, em um movimento acrobático, ataca Samuk vindo em sua direção. Os dois se atravessam, ficando perto de seus aliados. Samuk fica à frente de Marcel empunhando sua espada suja de sangue, e Onurb em frente de Ray perto da escada, sorrindo e com a mão no lado esquerdo do abdômen.
Ele diz para Samuk, apontando sua adaga:
— E ainda dizem que riqueza não salva vidas.
Samuk olha para o abdômen ferido de Onurb e vê algumas moedas caindo sujas de sangue, e conclui que as moedas o salvaram de um corte profundo e mortal.
Samuk toma uma posição de ataque e sente uma grande dor em sua coxa.
— Obrigado, já estava desconfortável essa adaga na minha boca.
Samuk fica surpreso por ter sido atingido em cheio, a adaga de Onurb está totalmente gravada em sua coxa, impossibilitando seus movimentos.
Onurb ataca com uma adaga, Marcel avança e a apara. Ainda avançando, ele ataca Onurb, e, antes de atingi-lo, Ray entra na frente e apara o golpe.
— Chega! Estamos lutando sem motivo, vocês não destruíram Ducem e nós não somos do Império.
— Mentira!
Marcel continua atacando Ray, que se esquiva com facilidade com a ajuda de Onurb atrás puxando os membros alvejados. Marcel consegue quebrar a adaga de Onurb com sua espada negra, deixando-o surpreso.
— Como? Que espada é essa?
Ray consegue analisar a técnica de luta de Marcel e ganha dele com uma sequência surpreendente, desarmando-o da espada comum e jogando-o longe com soco, chute e um corte no peito que o faz cair. Marcel tenta levantar, e Samuk o orienta:
— Marcel, você está fadigado, lutou muito hoje, aceite a situação.
— Já enfrentei situações piores…
— Pare…
Samuk tira a adaga de sua perna sem demonstrar dor, anda mancando até Marcel e o ajuda a levantar.
— Ele está certo, essa luta está sem sentido, apesar de ser a única nesta cidade que deu trabalho.
Onurb se aproxima.
— Devo me sentir honrado?
Ray baixa a guarda e senta na escada.
— Sim, e muito…
— Você está bem, Ray?
— Só um pouco ferido e cansado.
Alguns cidadãos entram no salão, e um homem comenta:
— Aquele nos ajudou agora há pouco, ajude ele, por favor.
Na escada, Ray e Onurb são atendidos, recebem curativos, água e comida. Durante esse tempo, Samuk e Marcel somem de vista. Ray os procura olhando ao redor, e uma lutadora informa:
— Eles também estão sendo tratados nos outros aposentos.
— Queria me apresentar adequadamente antes de partir.
— Partir…
— Sim, e vocês também deveriam fazer o mesmo, este lugar pode ser atacado novamente.
— Obrigada, mas ficaremos bem… E vocês, o que fazem por aqui?
Onurb interrompe:
— Éh. De passagem! Ray, vamos logo ver o segundo andar, lá dá para ter uma vista melhor do caminho de volta.
— Certo. Obrigado a todos vocês pela ajuda.
— Nós é que agradecemos.
Um homem se aproxima de Onurb e indaga:
— Onde você achou esse broche de ouro?
Onurb guarda o broche e outros itens que estão próximos a ele e no chão e responde:
— Não achei! Foi-me dado por bons feitos… Vocês acham que são os únicos que estamos ajudando na cidade? Enganam-se, muita gente está precisando de ajuda pelas redondezas e são bem generosos, dando tesouro, além de comida e água.
O homem demonstra desconfiança, e Ray puxa Onurb para ir ao andar de cima.
— Está bem, vamos logo ver o andar… Novamente obrigado a todos vocês, vamos ali e já estaremos de partida.
— Certo, precisando de algo, nos avise.
— Ah. Que tal um pouco de…
Ray interrompe Onurb.
— Certo, avisaremos… Onurb, chega, vamos.
No alto da escada, Onurb reclama.
— Cidade amaldiçoada! Aaa... tudo de ruim segue você e esta missão…
— Onurb está de volta, achei estranho você não reclamar desse tempo que passou.
— Eu não reclamo sempre.
— “Éh!” Sei…
Onurb e Ray reviram o segundo andar e acham uma sala suja com cristais velhos e trincados, mas no mesmo estilo da torre de teleporte padrão visto anteriormente. Ray analisa tudo e confirma:
— São iguais aos da torre, só estão velhos.
— E não tem problema? Não quero chegar à outra cidade com duas cabeças ou sem nenhuma.
— Pode confiar.
— Há? Confiar? Olha onde estamos…
— Sei, sei, já entendi… Fique aqui no meio, e eu vou ativar os cristais.
— Não vamos juntos?
— Esses são menores, e sem uso, não quero sobrecarregá-los.
— E eu sou usado como cobaia? É isso?
— Sim! É isso que você queria ouvir?
— É! Assim você admite e terá remorso se algo acontecer comigo.
— Você não muda. Vai!
Onurb se posiciona onde Ray indicou e ativa os cristais sussurrando algumas palavras escritas neles. Onurb é tomado por luz e some, deixando uma aura de luz no lugar. Ray corre e, ao passar nessa aura, também é teleportado.
A aura não some, só diminui a intensidade do brilho, mas mesmo assim chama atenção de alguém que está passando por perto.