Volume 1

Capítulo 30: Força, Ferocidade e Cicatrizes

— Enfim a batalha!

Baltazar olha os vândalos e se lembra do início de suas aventuras, não julgando fácil a atitude deles, pensando que eles merecem uma chance de viver, pois não sabe exatamente suas intenções e, para não agir erroneamente, ele toma uma posição diferente, mirando em pontos que não mate ninguém e, por onde anda, ele nocauteia usando socos fortes e o cabo de seu machado.

Muitos avançam para matar Baltazar, mas sem sucesso. Os soldados do Império aproveitam a moral que ele está dando à batalha e mudam a formação para um ataque total.

Baltazar vê um soldado indo matar um vândalo desmaiado e o para com um empurrão, anunciando aos outros:

— Só os derrotem, sem mortes… Se quiserem morte, garanto que todos sairão mortos daqui!

Todos entendem o recado e, para não haver conflito interno, avançam junto com Baltazar, seguindo suas ordens.

A mulher ataca pelo lado fraco da formação e, com um grupo de vândalos, leva uma boa parte dos cidadãos que eram para ser salvos.

Com a batalha cessando, eles veem o grupo da mulher entrando no templo e avançam para lá. Baltazar repara os movimentos sobre algumas casas e avança por outro caminho. Aproximando-se do templo, os soldados são surpreendidos por mais inimigos saindo das casas, do templo e alguns com balestras em cima de algumas casas.

Todos param, tomam novamente a formação de defesa, e a mulher sai do templo dizendo:

— Onde está o bravo guerreiro náutico que não deseja a morte de seu inimigo?

Baltazar surge no telhado, onde há mais arqueiros inimigos, e derruba a maioria de lá com investidas e socos. Então conversa com a mulher de longe.

— A vitória não está na morte… Pode me chamar de Baltazar, homem estranho.

Um homem caído ao seu lado comenta com ele:

— É uma mulher.

— Aquele brutamonte é uma mulher?

—… Sim…

Todos ficam parados, sem entender, só olhando para a mulher, e Baltazar, em cima da casa, está indignado com a informação. A mulher desce as escadas do templo com uma expressão nada amigável e fala com ele.

— Eu sou Amanda Mahlock, e gostei do seu machado, será um ótimo prêmio pela sua derrota.

Baltazar se pendura na beirada do telhado da casa, pula e empunha seu machado em direção à Mahlock, que, já preparada, diz para os seus comparsas:

— O que vocês estão olhando? Ataquem todos!

Uma grande correria se inicia, alguns soldados enfrentam os vândalos, outros escoltam os cidadãos para fora da cidade. Os que tentam entrar no templo para salvar os últimos cidadãos são derrotados por um grupo bem armado e por Mahlock, que derruba fácil qualquer um que se aproxime.

Ela ataca e fixa seu olhar em Baltazar, olhando-o como se ele fosse um gado para ser abatido para uma boa janta. Baltazar é cercado por vários vândalos, que são derrotados pelas investidas e pelo cabo de seu machado. Sem usar golpes mortais, Baltazar fica mais acessível a golpes e acaba com alguns arranhões e socos que não lhe infligem dano.

Seus inimigos têm a impressão de estar socando uma parede dura e maciça. Baltazar derruba todos em seu caminho até se aproximar de Mahlock, que avança demonstrando que quer menos palavras e mais ação. Baltazar avança com uma investida e tenta empurrá-la para longe.

Mahlock esquiva como um toureiro brincando com o touro, demonstrando ter mais agilidade do que Baltazar, que usa o cabo do seu machado para acertá-la, e nas oportunidades usa socos. Mahlock apara seus golpes com sua maça e esquiva dos socos.

Ela ataca usando socos com sua mão cheia de anéis e sua maça. Ao acertá-lo em cheio na boca do estômago, Baltazar para de atacar por alguns segundos por conta da dor, mas depois revida com um soco no rosto de Mahlock, jogando-a para trás.

Neste momento, todos param e olham Mahlock com sua mão no rosto e Baltazar com a mão na barriga. Os dois sorriem como se o golpe levado fosse fraco e voltam a se atracar. O encontrão dos dois soa como dois búfalos se enfrentando.

Baltazar deixa de usar o cabo do machado para acertá-la em cheio com sua lâmina, que pela força cortaria um membro se acertasse, mas Mahlock consegue aparar seus golpes de machado com sua maça e usa seu peitoral para bloquear os socos.

A luta fica empatada, até que soldados e vândalos entram na briga, fazendo os dois se afastarem um pouco e mirar em seus respectivos inimigos. Ainda perto um do outro, os dois tentam acertar golpes fortes com suas enormes armas.

Mahlock consegue acertar um chute e um soco sequencial em Baltazar, e, ao finalizar com um golpe da maça, ele dá uma investida, empurrando-a, e antes que caia no chão ele a agarra na cabeça, fazendo mais força para que a queda seja mais bruta.

No chão, ela o empurra, e os dois se socam; tomam distância e voltam a se defender do grupo inimigo. Mahlock se distancia e aproveita para pegar um impulso bom, avançando contra Baltazar em um golpe de maça usando suas duas mãos.

Ele apara com seu machado, mas ela continua atacando freneticamente, sem lhe dar chance de contra-atacar, até que o machado dele quebra, ele se espanta e lembra que o machado estava rachando antes da batalha.

Mahlock se alegra e continua a atacar.

Éééééee... É assim que eu gosto.

Baltazar apara com suas mãos a mão de Mahlock e com a outra quebra o cabo do machado na perna dela, que demonstra dor e contra-ataca com uma cabeçada na face de Baltazar, que revida com outra cabeçada, e os dois se distanciam com um pouco de tontura.

Enquanto essa luta acontece, os soldados ganham pouco a pouco dos vândalos, seguindo o que Baltazar falou, sem mortes.

Alguns soldados conseguem entrar no templo e salvar os cidadãos, mas ao saírem Mahlock os barra, fazendo a cabeça de sua maça soltar e ficar pendurada através de uma corrente, mudando a maça para um mangual, e avança para cima deles mesmo no estado de tontura, matando dois e acertando em cheio seus golpes de mangal.

Antes que matasse outro soldado, Baltazar apara com sua grande espada. o mangual enrola na espada e os dois ficam em um pé de guerra, puxando até que eles se aproximam mais e voltam a se socar sem se importar em esquivar, só em mostrar quem bate mais e mais forte.

Boca e nariz dos dois começam a sangrar e eles gritam de fúria e dor. Empurram-se, fazendo suas armas caírem. Baltazar assume uma postura diferente e a ataca com socos fortes e precisos para nocaute.

Mahlock consegue defender e atacá-lo com socos do lado de seu corpo sem muito efeito. Ela tenta acertá-lo no rosto ou na cabeça, mas os braços grandes dele defendem seus socos. Ela usa chutes, melhorando inicialmente a luta, mas Baltazar muda a postura para se defender dos socos e chutes dela.

Ele é ruim na esquiva, mas ótimo na resistência, levando vários golpes e resistindo a eles. Mahlock mostra resistência, porém é salva pelas boas esquivas. Baltazar tenta agarrá-la para finalizar a luta, ela reverte as manobras dele, agarrando-o de volta sem sucesso de finalizar, mas aproveita para socá-lo.

Em uma das manobras, os dois se seguram e voltam a se socar sem esquiva e sem bloqueio, soco atrás de soco, até que um grande soco acerta Mahlock, fazendo-a cair quase nocauteada. Ela começa a rir e levanta devagar devido à fadiga.

Baltazar dá uns passos para trás, também demonstrando fadiga, e cai ajoelhado olhando com seus olhos cansados ao redor e admirando a luta e a batalha, que está no fim. Ele vê vândalos sendo presos e soldados acolhendo o povo e os feridos.

Com um pouco de dificuldade, Mahlock consegue ficar em pé, pega a espada de Baltazar do chão e fica à frente dele, e diz, admirada:

— Impressionante, até que deu trabalho… Pena meu futuro machado ter quebrado… Mas tem esta espada, vai servir…

Mahlock aponta a espada para Baltazar. Os soldados próximos veem a cena e se aproximam para atacá-la, mas antes de acertá-la ela se desequilibra e cai inconsciente. Baltazar sorri e levanta com dificuldade.

Um dos soldados se aproxima e pergunta:

— Você não teve receio de lutar com tudo contra uma mulher?

Baltazar limpa o sangue de seu rosto e responde:

— Receio eu teria se eu não lutasse com tudo. Ela entrou na batalha para lutar de igual para igual, ela teve isso e mostrou ser muito forte… É uma mulher difícil de imaginar de vestido.

Ele pega os restos de seu machado e coloca ao lado de Mahlock, pega sua espada e pede aos soldados:

— Quando ela acordar, diga que esse machado é para a sua coleção de conquistas, ela ganhou meu respeito.

— Sim senhor.

Um soldado de patente alta se aproxima de Baltazar, que senta nas escadas do templo para descansar.

— Muito obrigado por ter lutado ao nosso lado, não imagino como seria sem a sua ajuda. Vou enviar um mensageiro para informar que Trufre e Milite estão a salvo e novamente no comando do Império.

— Eu consigo imaginar, vocês teriam se dado bem… Mas foi uma honra… Preciso ir para outra cidade me encontrar com meu grupo.

— Baltazar, essa batalha foi cansativa para todos, é melhor descansar e partir amanhã.

— Não posso, tenho um caminho longo pela frente.

Baltazar levanta com dificuldade e, com o olhar, procura o cavalo que veio com ele. O soldado volta a aconselhá-lo.

— Descanse, homem! Logo um grupo nosso chegará para levar os prisioneiros e trazer comida para todos…

— Comida?

— Sim, Karl e Alfred sempre liberam comida e bebida em comemoração às vitórias. Trufre até o anoitecer estará com seus cidadãos de volta, muitos soldados e muita comida e bebida. Fique e aproveite, você merece.

— Pensando bem, eu preciso descansar um pouco, seguir viagem fadigado não é uma boa ideia.

— Sim.

— Você me convenceu, amanhã eu sigo viagem. Onde eu posso descansar até que a comida chegue?

— Os feridos estão no templo recebendo a devida atenção, você pode ficar lá, a celebração será no centro da cidade, ao anoitecer.

— Ótimo.

Baltazar entra no templo e vê todos os feridos, mas estão todos bem. Alguns o saúdam pela batalha e mostram uma das camas improvisadas para que ele descanse.

Ele deita e logo cai no sono. Uma moça se aproxima e cuida dos seus ferimentos enquanto ele dorme.

Um bom tempo passa e Baltazar acorda. O templo está um pouco vazio, há barulho de festa ao lado de fora, e ao seu lado, Alfred segura um canecão de bebida e o saúda.

— Parabéns pela vitória! Você dormiu bastante, na verdade não sabia se estava dormindo ou se estava desmaiado.

Baltazar boceja e coça a cabeça.

— Acho que um pouco dos dois… E os invasores? Que destino eles terão?

— Karl vai conversar com todos e designar as devidas punições, mas não haverá mortos, pode ficar tranquilo.

 — Como?

— Fiquei sabendo de sua atitude na batalha, é honroso poupar essas pessoas pouco favorecidas de terras e dinheiro.

— Já fui assim um dia e sei como é difícil essa situação. Ao olhá-los em batalha, vi que muitos estavam desesperados para terem algo para si.

— Entendo, mas eles serão mandados para as montanhas, lá vão trabalhar. Serão prisioneiros, é claro, porém terão uma vida mais digna dentro da montanha, onde terão comida e um teto. Não é o melhor dos mundos, mas é bem melhor do que morrer ou ficar nas prisões do Império.

 — Irene White?

— Sim.

— Já visitei essas montanhas. Se ficarem longe do Império de Cristal, então eu acredito que terão uma punição justa e ficarão melhor lá.

— Ótimo. Mas em particular a líder deles será enviada para uma prisão do próprio Império, no caso dela não conseguiram fazer “negociação”.

— Estranho. Sabe por quê?

— Deve ser pelo fato de ela ter começado toda essa revolta, faz um tempo que ela vem lutando contra o Império, ela foi uma líder de um grupo de guerreiras e assassinas muito tempo atrás, teve muitas vitórias, mas aos poucos as derrotas fizeram o grupo dela diminuir, até que ficou só ela, assim ela conseguiu recrutar novos peões. Tive um amigo próximo morto por ela… Você deve ter percebido que ela tem uma coleção de “artefatos”, itens que ela pega como recompensa.

— Sim, ela queria meu machado.

— O brinco, peitoral e cada anel que ela usa são itens de capitães, generais e pessoas de classe alta que ela derrotou ou matou.

— Então a lista é grande.

— Sim, ela é uma grande guerreira com uma arma admirável, duas armas em uma, digna de estudo.

Baltazar ri, e, depois de um pouco de silêncio, Alfred continua.

— Deixamos seu machado quebrado com ela e avisamos que você deixou por honra à luta que teve com ela.

— Ótimo! Obrigado.

— Vocês guerreiros têm costumes diferenciados, mas notáveis. Foi um prazer ter você nos ajudando, Baltazar. Amanhã de manhã partirá um grupo para a torre de teleporte, e lá você poderá continuar sua jornada.

— Muito obrigado. Foi uma honra, não imaginei que dentro do Império de Cristal havia homens honrados que cumprem com suas palavras, achei que iriam matar todos e me prender em seguida.

Alfred ajeita o broche de Baltazar dado por Karl e comenta:

— Com o tempo, a visão do Império será mudada, aos poucos… Enfim, vamos comer?

— Vamos, estou com muita fome.

Baltazar e Alfred saem do templo para a comemoração, que toma metade da cidade. A festa está repleta de comida, bebida e dança.

O céu limpo sem nuvens mostra os astros. Baltazar se diverte e aproveita tudo, bebe, come muito e ri dos eventos e dos homens bêbados. Ele faz disputa de levantamento de peso e conta suas histórias náuticas, ganhando mais admiração.

Logo a noite avança e fica tarde. Baltazar volta para o templo e dorme novamente. A noite passa sossegada, e ele descansa e se recupera da batalha.

No outro dia, já descansado e pronto para uma nova aventura, Baltazar segue com o grupo de soldados em direção à torre de teleporte em Milite.

No caminho, ele fica calado, pensando um pouco de tudo, na batalha do dia anterior, no seu antigo grupo, no seu novo grupo, e imagina o que virá pela frente.

Chegando a Milite, todos voltam a parabenizá-lo pelos seus contos e pela vitória em Trufre. Baltazar, ainda sem falar muito, só acena com a cabeça. Karl Emil aparece para se despedir dele pessoalmente em frente ao grande quartel.

— Baltazar? Você foi de grande ajuda, obrigado.

— Fico honrado de tê-los ajudado e de ser bem recebido e respeitado.

— Aqui em Milite sempre será. Por favor, volte quando quiser.

— Obrigado. Antes de partir, você poderia me dar informação daquele grupo que sua esposa comentou?

— Os invasores?

— Sim, acho que os conheço, mas não tenho certeza.

— Posso te dar as informações que temos, mas agora não servirá mais para nada.

— Mesmo assim…

— Certo, venha comigo.

Baltazar entra com Karl no quartel e, no escritório, este entrega um pergaminho com informações dos espiões.

— Muito obrigado.

— O que precisar, é só pedir.

— Agora preciso ir para Citizen.

— Bom, pode ir para a torre, e o pergaminho que te entreguei concede autorização para usar a torre como desejar.

— Ótimo.

Baltazar se despede, apertando a mão de Karl e de Alfred, que está na sala, e segue até a torre de teleporte em Milite para ser teleportado para Citizen, seguindo o cronograma que Ray indicou.

— E que venham mais batalhas pela frente!



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