Volume 1

Capítulo 28: Guarras, Presas e Sangue

Ao sair da floresta e entrar na área aberta da vila, elas são atacadas por um grupo pequeno de felinos. Anirak usa muito sua acrobacia e salto para se esquivar das investidas das feras e aproveita para cortar pontos precisos no corpo deles.

Alexia aproveita que Anirak está chamando atenção deles para combate corpo a corpo e fica no ataque à distância, usando isso para abater todos que vão em direção a ela e os que chegam perto de acertar Anirak.

Logo eles param de atacar e recuam, mas mostrando hostilidade como se quisessem ganhar tempo. Anirak se envolve em uma cortina de fumaça e ataca várias lâminas nas feras, correndo mais adentro na vila em busca da dominadora.

Alexia entende a tática de Anirak e atira em alguns que a seguem, e corre ao redor da vila para ter mais visão e achar a mulher o quanto antes.

No centro da vila, há uma pequena fonte de água e uma mulher sentada na borda, com uma das mãos dentro da fonte e a outra segurando um grande arco entalhado e com lâminas e vidro gravados nas extremidades, perigoso até para quem o usa.

Alexia, por outro ângulo, avista ao longe a mulher e mira sua flecha, esperando algum sinal de Anirak, que se aproxima da fonte e vai à frente da mulher, analisando cada centímetro dela e esperando algum diálogo ou hostilidade.

Anirak para a uns cinco metros de distância, e todas ficam paradas por alguns instantes, apenas o barulho da natureza local toma conta. Anirak e Alexia respiram profundamente. Depois que Anirak analisou tudo que queria, comenta sobre a “vaidade” da mulher.

— Irônico dizer que uma mulher criou Reilum-S, tem certeza de que não foi feita por um homem?

 

Reilum-S parece ser uma mulher de 25 a 30 anos, de estatura média, peso leve, pele branca e um pouco rosada, olhos azul-claros de tamanho proporcionais ao seu rosto perfeitamente bonito, nariz, orelhas, lábios, cílios, tudo em um tamanho certo, como se tivesse sido feita à mão por um grande artesão, um belo corpo com ótimos atributos, seios e glúteos avantajados e também proporcionais ao seu peso e altura. Sua segunda pele tem várias variações da cor azul e elementos, tendo algumas penas, escamas, pelos e muito couro cobrindo seus ombros, busto, costas, glúteos, virilha, coxa, joelhos e calcanhares.

Tem cabelo liso, longo e volumoso de cor azul-clara com algumas mechas de azul-escuro. Ela usa uma pulseira feita de presas de Pantherinae e uma aljava com poucas flechas amarrada por um tecido fino de cor preta com símbolos do Império de Cristal em sua cintura, aparentemente roubado. Em suas mechas de cabelo, algumas penas brancas amarradas formando um penteado despojado, mas bonito.

Ela desvia o olhar de Anirak para a mão que está dentro da fonte e, com um tom despreocupado, inicia a conversa.

 

— Minha forma a intimida de alguma maneira? Assassina…

Sem baixar a guarda, Anirak se aproxima aos poucos e continua a conversa.

— Nem um pouco, só gostaria de saber mais sobre você e uma forma de parar essa matança.

— É claro. Por que não se apresenta primeiro? Estou curiosa para saber seu nome e o da sua amiga sorrateira…

Ela olha para Anirak com um sorriso no canto da boca, demonstrando malícia. Anirak procura Alexia ao redor, ela está lutando com um Pantherinae maior do que o normal. Antes que Anirak corra para ajudá-la, a mulher tira sua mão da fonte, levantando toda a água em uma onda que banha Anirak e magicamente a deixa lenta e pesada.

Anirak percebe que limitou suas habilidades, mas não demonstra preocupação e avança para ajudar Alexia. A mulher admira a vontade de Anirak em ajudar a amiga. Sem se importar, ela se arma com uma de suas flechas e mira nas costas de Anirak.

Alexia foi ferida de surpresa pelo Pantherinae que surgiu parecendo magia. Ela consegue conter os outros ataques com dificuldade e fere um pouco a fera, que ganha espaço para atacá-la, e Alexia se prepara, ouvindo Anirak se aproximando.

— Venha a mim!

A domadora atira a flecha em Anirak e, em uma grande demonstração de prestidigitação e precisão, Anirak esquiva e pega a flecha no ar, girando-a e dando-a para Alexia, que já está preparada para a ação.

Em seguida, Anirak avança contra o Pantherinae, esquiva da mordida da fera e o golpeia com sua adaga no pescoço, agarra em seus pelos e sobe em sua cabeça, fazendo a recente ferida ficar mais exposta.

Logo Alexia acerta essa ferida com a flecha da domadora, matando o Pantherinae na hora. Enquanto a fera cai no chão, Alexia se arma com uma de suas flechas, vira e atira contra a domadora, que está impressionada com a ação das duas.

Ela esquiva e solta um rugido que ecoa na vila, fazendo alguns Felinae saírem das casas e das árvores e cercarem Anirak e Alexia, que se preparam para o confronto. A mulher se aproxima questionando as duas:

— Então, qual é o nome das corajosas mulheres que lutam por um império de homens?

As duas respondem juntas, com um tom alto, deixando alguns felinos pequenos recuados:

— Não somos do império!

— Agitadas… Vejo que preciso aumentar o nível de dificuldade para você, Anirak.

A domadora acaricia seu arco com a mão ainda molhada, e ao mesmo tempo Anirak sente-se mais pesada e lenta por conta da magia da água que ainda está sobre seu corpo.

Outro Pantherinae grande surge, e Anirak tenta ganhar tempo desafiando a mulher.

— Para alguém que não gosta de homens, você é bem dependente deles para fazer suas vontades.

— Ousada…

— Venha só, e mostrarei que esse banho não foi o suficiente para baixar minha crista.

— Além de ousada, é corajosa… Pena eu não conseguir transformar você em uma bela gatinha para meu exército…

A mulher dá um sinal para os felinos se afastarem e se distancia de Anirak, ganhando um espaço considerável.

— E quais são seus nomes? Até agora vocês tentam me intimidar e atrapalhar meus planos, e não sei quem são.

Anirak aproveita que a mulher deu as costas para se distanciar e dá um sinal para Alexia se afastar e preparar-se para a batalha. Quando a mulher vira, Anirak se apresenta.

— É claro, eu sou Anirak, e essa é minha amiga Alexia. Estamos aqui para derrotar a domadora de feras… Chris!

A domadora se surpreende por Anirak saber seu nome e fica pensativa. Anirak continua:

— Surpresa? Você pode aparentar ter uns 26 anos, mas sabemos que tem mais de 150… Será que você conheceu minha avó?

Chris demonstra raiva, saca uma flecha e mira em Anirak, que já está preparada.

— Atire! Aproveite a distância, até que eu chegue perto.

Chris muda a mira e atira em Alexia. Anirak apara a flecha no trajeto e revida arremessando duas lâminas. Chris esquiva das duas, mas uma causa um ferimento de raspão. Ela aponta o arco, mas sem flecha aparente, e ao soltar a linha do arco, uma saraivada de flechas sai. Alexia, como já estava distante, consegue esquivar.

Anirak está limitada por conta da água encantada, mas mesmo assim consegue se esquivar de algumas flechas, leva duas de raspão e uma acerta seu braço direito. Antes que Chris faça outro ataque, ela é surpreendida por um grupo de soldados do forte que invadem a vila cercando a todos.

Os felinos atacam quem se aproxima, e os soldados conseguem matar a maioria. Um grande Pantherinae consegue tomar o controle de uma parte, devastando vários soldados com suas investidas. Alexia, com seu conhecimento sobre animais e caça, avança e consegue salvar alguns soldados dos ataques da fera, atacando-o com agilidade e precisão.

Ela consegue assumir a luta, fazendo com que o Pantherinae mire nela e deixe os soldados. Ela se esquiva de alguns ataques, e a fera consegue abocanhá-la pela perna rapidamente, mas antes de destruir a perna, os soldados atacam em sincronia, ferindo mortalmente a fera e fazendo com que recue. “Olho Bom” surge na batalha e, com alguns gestos de mão e sussurros, encanta Alexia novamente, fazendo seus olhos brilharem e ganharem mais visão e mais outros atributos desconhecidos no momento.

Anirak aproveita o ataque-surpresa e avança contra Chris, que ataca com algumas flechas, e Anirak esquiva de todas. No combate corpo a corpo, Anirak fica igualada com Chris e com suas adagas mira em pontos críticos, e Chris, com seu arco laminado, tenta ferir os membros da outra.

O combate entre as duas fica empatado, força e agilidade iguais, ataques e bloqueios perfeitos com as adagas e o arco cortante, com poucos arranhões. Em alguns momentos, Anirak consegue acertar chutes em Chris, mas ela logo usa o arco para bloquear, e Anirak deixa de usar o corpo para não ser ferida com as lâminas do arco.

Chris se sente intimidada, pois Anirak está com suas habilidades limitadas, um ferimento no braço, e mesmo assim a luta fica igualada entre as duas. Chris foca no lado esquerdo de Anirak exposto para tentar um ataque mais preciso.

A outra percebe a tática de Chris e a intimida.

— Preocupada? … Intimidada? … Infelizmente para você, eu sou ambidestra.

Anirak, por ver que o arco é velho, consegue quebrar as lâminas da extremidade devido a vários ataques constantes. Antes que Anirak quebre o arco por completo, Chris usa uma energia e faz uma explosão entre elas, jogando ela e Anirak a uma boa distância.

Anirak, por estar debilitada, cai de mau jeito e não consegue levantar. Chris torce o pé, mas consegue levantar. Alguns soldados se aproximam. Os olhos de Chris brilham um azul-claro, seduzindo-os, e, antes que eles avancem, alguns caem ao chão com convulsões e começando a se transformar em feras.

Ela olha para os que não caíram e diz com raiva:

— Mulheres!

As guerreiras avançam, mas todas são atingidas por uma saraivada de flechas de Chris e caem feridas. Antes de atacar e matar a todos, o arco de Chris é atingido por Alexia.

— Droga, eu mirei na cabeça.

Alexia ganha abertura por deixá-la desarmada por uns instantes e mira novamente na cabeça, mas dá um mau jeito no arco e erra a flechada, não atingindo ninguém. Um felino em fuga passa por suas pernas e a faz cair.

Ela bate as costas e nuca no chão e perde o encantamento de “Olho Bom”. Enquanto Anirak tenta levantar, Chris se arma novamente e, mirando em Alexia, diz para Anirak:

— Diga adeus para sua amiga.

A mão de Chris energiza e um grande relâmpago sai do arco. O trovão ecoa na vila, e, antes que o raio atinja Alexia, “Olho Bom” estende os dois braços, tentando manipular o raio em uma direção diferente.

O raio acerta o chão sem acertar ninguém diretamente, formando uma onda de choque que atinge todos ao redor. Os felinos acabam desmaiando, e alguns soldados caem de dor. “Olho Bom” fica atordoado por alguns instantes, e Chris reclama, demonstrando fadiga.

— Miserável! Mas precisarei de você para fugir, os magos que dominei já estão mortos…

Os seus olhos brilham um azul-claro para seduzir e transformar “Olho Bom” em um de seus felinos. Os olhos do rapaz também emanam um azul forte, e Chris se espanta.

— “Um filho de Ivo”!

“Olho Bom” sorri para ela, desvia o olhar e corre para ajudar Anirak. Chris se irrita por não conseguir seduzir o mago e desconta em Anirak.

— Culpa de vocês! Por culpa de vocês, eu perdi a batalha de Lubmatsi, por culpa de vocês eu perdi meu tempo aqui, e, mesmo que eu fique sem energia ou poder, eu vou matar você!

Enquanto Chris grita com Anirak, ela emana novamente uma energia em sua mão. Seus olhos brilham um azul-escuro, seus ferimentos parecem ficar piores, sangue começa a sair de seus ouvidos e nariz.

Sem se importar em gastar o resto de sua força, ela lança um raio em Anirak, que, ainda debilitada, só consegue se erguer um pouco, porém não sai do lugar. O trovão ecoa não só na vila, mas por uma boa parte da floresta ao redor.

Os soldados ainda conscientes ficam com dor no ouvido, animais pela floresta correm. Alexia consegue ver o que está acontecendo, mas paralisa com a situação, e Anirak simplesmente aceita o destino.

O raio a acerta em cheio, envolvendo-a em luz e eletricidade. Todos olham espantados, e Chris, sorrindo, diz, antes de cair totalmente fadigada:

— Sempre admirei a linhagem de Ivo…

Todos olham para Anirak sem entender o que está acontecendo, mas ela percebe e grita com tristeza.

— Pare!

A frase de Jules vem em pensamento: “Essas duas mulheres estão ligadas ao destino do Grande Continente, faça o que for preciso para ajudá-las, Olho Bom”. Anirak olha para “Olho Bom”, que fez uma ligação mágica com ela para receber todo o dano do raio em seu lugar. Anirak fica aflita ao ver o rapaz tremendo e caindo ao chão.

Um silêncio toma a vila. Todos se recompõem. Alexia e Anirak vão em direção a “Olho Bom”. Alguns soldados do Império chegam para socorrer os feridos. Chris está quase morta depois de ter gastado todo o seu poder.

Anirak se aproxima do rapaz, que ainda aparenta estar vivo, e o aborda com sua voz triste.

— Não deveria ter feito isso… Ale, você tem algo? Conhece algo para ajudá-lo?

— Desculpe, Ani…

— “Olho Bom”, você tem poção, medicação, algo que nós possamos fazer?

O rapaz sorri para elas e diz:

— Meu tempo aqui acabou, precisava salvar vocês, pois o Grande Continente precisa de vocês, eu sinto isso... Koètuz…

Elas se surpreendem por ele saber o nome que Ray deu ao grupo, e ele continua:

— Esses soldados que estão chegando não são do forte. Sigam por aquela estrada e acharão uma torre de teleporte para prosseguir…

— Calma, não gaste suas últimas energias, vamos levá-lo conosco…

— Não… Confie em todos da pirâmide… Mas…

O rapaz morre, deixando a mão cair sobre Anirak, mostrando um broche com o desenho de uma pirâmide dourada. Anirak se lembra do anel de Jules e associa à informação. Ela sente seu corpo normal, sem o efeito do feitiço de Chris, mas cansado pela luta.

Alexia e Anirak conseguem pegar alguns suprimentos de alguns soldados abatidos e saem da vila. Os soldados do forte chamam atenção dos do Império para ajudá-los, dando chance para Alexia e Anirak saírem sem ser vistas pelo Império.

As duas seguem pela estrada. Mais à frente, elas entram na floresta, procurando um lugar para passar a noite, pois já está muito tarde. Elas veem que precisam descansar e se recuperar dos ferimentos antes de seguir viagem. Alexia, experiente em florestas, acha um lugar bom para elas ficarem e esconde seus rastros enquanto Anirak descansa, pois está mais cansada.

Horas passam, e as duas conseguem se recuperar e se alimentar graças aos suprimentos pegos no forte e na vila. Durante todo esse tempo de repouso, as duas ficam em silêncio, pensando em tudo que aconteceu no dia. Pouco tempo antes de dormirem, elas voltam a conversar.

— Triste, Ani, muitos feridos e mortos.

— Sim, infelizmente… Derrotamos Chris, mas foi com um grande preço.

— Mas ela morreu mesmo?

— Certeza, ela usou muita energia e já estava muito ferida.

— E como você sabia o nome dela?

— Depois de analisá-la bem, eu me lembrei de um conto antigo da “Fada Christina”.

— Conto?

— Sim, muitos anos atrás eu escutei esse conto, um romance, mas o conto diz que ela sumiu nas ilhas pequenas no outro lado do mundo, nunca imaginei ela aqui no Grande Continente… E imaginei-a mais velha.

As duas riem e se preparam para dormir.

— Não é melhor uma de nós ficar acordada para vigiar?

— Estou muito cansada, Alexia, se alguém aparecer e acabar comigo num único golpe eu vou agradecer.

— Também estou muito cansada, minha cabeça dói muito.

— Você foi atingida durante a batalha?

— Não lembro.

— Cuidado.

O assunto acaba, e as duas rapidamente caem no sono sem perceber devido ao grande cansaço.



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