Volume 1

Capítulo 24: A Gateira

Anirak passa pela recepção da casa de banho e paga com moedas de ouro. Entrando, ela admira um belo lugar como uma arena, totalmente cercado de muros e torres. Dentro da área aberta e em cada direção, um tipo diferente de lazer.

Ao leste, uma sauna em uma grande cabine; ao oeste, várias piscinas, quente, fria, com erva e sais especiais; ao norte, uma cachoeira construída com pedras e tijolos a partir de um olho d’água, e ao sul, a recepção, com comida, duas fontes, bancos e mesas de pedra. Anirak observa os outros que estão se banhando e procura alguém que possa ter informações importantes.

Enquanto observa, ela desfruta do lazer do local, passando pelos diversos tipos de banhos. Na seção leste, ela vê algumas mulheres e, pela conversa entre elas, observa que se trata de viajantes superficiais e mesquinhas das cidades vizinhas, assunto que não agrega em nada.

Na seção oeste, um grupo variado entre crianças, adultos, mulheres e homens, não conseguindo identificar quem podem ser ou de onde veem, mas destaca um homem demonstrando ser um soldado pela postura e pelos galanteios chatos usados nas mulheres.

Ela de longe dá um sinal de interesse, comandando o “galanteio”, mas agindo como se fosse a “vítima”. O homem se aproxima com um ar charmoso.

— Muito atraente.

Anirak finge se envergonhar e fala com sensualidade e carisma.

— Obrigada.

— Pena que está com muita roupa, sabia que quanto menos roupa, mais se aproveita?

— Não sabia, mas posso experimentar.

— Posso experimentar junto com você?

— Interessante, mas com tantos perigos, uma mulher indefesa como eu não pode sair com qualquer homem, existem vários assassinos por este lado do continente.

— Não se preocupe, eu sou capitão do exército do Império, comigo você estará segura.

— Um capitão? Que interessante.

— De grande prestígio.

Anirak brinca com ele:

— Estarei segura, sim, mas e você, estará seguro?

Ele ri e aponta para umas cabines ainda em construção.

— Ali estão ampliando as cabines e só vão retomar a obra depois de amanhã, vamos lá ficar mais à vontade?

— Mas é certeza que ninguém vai ali?

— Sim.

— E não vão sentir a sua falta por sair alguns minutos?

— Não, só vão sentir minha falta amanhã, quando receberemos visita.

— Então vamos.

Anirak é conduzida por ele até uma das cabines em construção. Ao entrar, ele já se atreve a passar a mão no corpo de Anirak, que se faz de difícil e conduz mais adentro, onde não será escutado.

Ele começa beijando-lhe o pescoço, e ela conduz até chegar ao fundo da cabine, um lugar isolado. Ele tenta tirar o resto da roupa de Anirak, e ela reforça a pergunta com muita sensualidade:

— Ninguém vai nos interromper ou achar a gente aqui?

— Não, doçura, ninguém vai nos atrapalhar.

Anirak fica séria de repente e demonstra satisfação.

— Ótimo!

Ela torce o braço do soldado, quebrando-o. Ao gritar, ela lhe dá um chute na boca, fazendo-o se calar. Ela chuta a sua barriga, e ele se defende segurando a sua perna. Com a outra, ela impulsiona e o chuta no peito, fazendo-o cair.

Ela se apoia com as mãos e, em um pulo, levanta e verifica o soldado, que está desmaiado. Anirak o prende com uma corda que está entre o material de construção do lugar e tenta acordá-lo.

Quando ele o faz, ela o encara e fala:

— Diga quem é essa visita que vocês esperam.

— Você é louca? Vou matar você, e antes vou estu…

Anirak o interrompe com um soco na cara e o intimida:

— Melhor ficar na sua, antes que eu faça tudo isso com você primeiro.

— Como se atreve?

— Vamos pular essa parte, quebrei seu braço e vou quebrar todos os outros membros se você se recusar a falar.

— Vadia!

Anirak chuta as partes íntimas do soldado, fazendo-o lacrimejar. Encarando-o, ela pergunta:

— Sou uma assassina de alto nível, vou te matar da forma mais dolorosa possível, sumirei com seu corpo e não deixarei nenhum rastro se você não disser o que eu quero saber, “capitão”.

O soldado se cala, esperando a dor aliviar. Anirak ameaça lhe bater de novo, e ele fala:

— Certo, eu não sou capitão, só falo isso para enganar as mulheres.

— Escroto… Mas é do Império! Diga-me da visita que vocês receberão.

— Um comandante do Império virá para analisar se o exército está preparado para as ameaças em suas terras.

— Que ameaças?

— São desconhecidos fazendo caos nas terras do Império, não se sabe de onde são ou se são antigos prisioneiros, inimigos, sei lá.

— Por que o Império está treinando mais homens para seu exército?

— Não sei.

Anirak segura firme a cabeça do soldado e olha bem no fundo dos seus olhos, como se analisasse se o que ele diz é verdade.

— O que o Império planeja?

— Não sei, sou só um soldado suspenso por atrasar nos treinamentos.

— “Bom garoto”, dizendo a verdade. Como retribuição, esta poção o ajudará a se recuperar.

Anirak mostra um pequeno frasco e coloca na boca do soldado. Ele desconfia, mas ingere ao ver que não tem alternativa. O homem sente um pouco de sonolência, e Anirak fala:

— Devia ter me falado tudo que sabia, sou boa em detectar mentiras, mas também sou verdadeira, esta poção vai te ajudar a descansar e esquecer-se do nosso encontro.

— Desgraçada!

— Obrigada pela sua atenção… Ótimo você ter uma reputação ruim, melhora no rastro.

O soldado fica fraco e sonolento, e Anirak arruma o lugar forjando uma situação inocente e sai despercebidamente da cabine em direção a algum guarda.

— Por favor, eu ouvi barulho ali na construção e vi um soldado bêbado caído, parece que ele caiu e quebrou o braço, tentei ajudar, mas sou fraca, alguém pode ajudá-lo?

— Sim senhora, obrigado por avisar.

— Nada, fiz minha parte.

O guarda chama outros e vai até a cabine ajudar o soldado “bêbado”. Anirak sorri e vai para o lado sul da casa de banho, nas mesas de pedra, onde estão oferecendo frutas, legumes e um tipo de chá.

Como faltam mesas para todos os presentes, Anirak senta junto com um homem com uns traços ruivos e bonito e comenta com ele:

— Como está cheio aqui. Mas só vou pegar o que eu quero e já saio.

O homem fala com empatia:

— Não se preocupe, come aí comigo.

— Nada…

— Eu insisto! A propósito, eu sou Henrique.

— Eu sou Anirak.

— É um prazer conhecê-la. E o que essa bela dama faz ilustrando mais a vista deste lugar que já é um paraíso?

— Só de passagem, ouvi falar muito bem deste lugar, e agora estou aqui.

— Muito bom.

A tarde passa com Anirak conversando com Henrique, falando sobre o trabalho dele em Libryans e o tão íntegro e culto que ele é, fazendo Anirak admirá-lo.

Depois de comer e beber, eles vão para as cachoeiras para se divertir um pouco, riem, conversam e comentam sobre tudo um pouco, criando um laço íntimo entre eles, mas não revelando intenções ou assuntos importantes.

 

A noite chega, e Ray se despede das mulheres no lago.

— Está ficando tarde, vou indo para encontrar meu grupo.

Elas estão alegres, mas não demonstram muito dos efeitos alcoólicos. Annie diz:

— Mas já? Fique mais com a gente.

As outras concordam com ela.

— Verdade, ainda está cedo, Ray, fique mais.

Ray fica sem jeito, mas tem que voltar.

— Desculpem, preciso mesmo ir. Foi um grande prazer conhecê-las, “Rainhas de Caelum”.

Elas riem, e Brenda comenta:

— Você sabe mesmo cortejar, Ray. Também foi um prazer conhecê-lo. Por favor, volte mais vezes e nos procure.

Ray sorri para elas, levanta da mesa e vai em direção aos dormitórios, dando um sinal de adeus com a mão. Chegando ao jardim, ele nota que colocaram uma grande barraca e há pessoas entrando e saindo dela, viajantes como ele. Aproximando-se de seu dormitório, Ray avista Onurb em um dos bancos com Alexia, se aproxima e questiona:

— Boa noite, vocês estão bem?

Onurb responde, desanimado:

— Não quero falar disso.

— Disso o quê?

— Não quero.

— Certo… E você, Alexia, está melhor da picada?

— Sim, Ray, obrigada por me colocarem na cama, demorei em acordar, mas o importante é que estou bem, mas com muita fome.

Ray ri e fala:

— Acho que deve ter algo para comer na barraca ali.

— Sim, aquela mulher mal-humorada que nos recebeu ontem veio aqui para nos convidar para ir ali, ela disse que temos que ir experimentar as coisas que estão fazendo.

— Certo. E onde estão os outros?

Maxmilliam chega sem ser percebido e responde, assustando Ray e Alexia.

— Anirak está chegando, Baltazar está cansado e foi dormir e eu estou aqui.

— Que isso, mestre, chegando de mansinho?!

Alexia ri e comenta:

— Onurb está bem?

— Estou. Só não quero falar muito hoje, também tive um dia agitado.

Anirak chega.

— Que ótimo dia, hein? Como foi o de vocês?

Maxmilliam fica mais próximo e, aproveitando que estão distantes de desconhecidos, diz:

— Vamos juntar as informações que conseguimos ao longo do dia.

Todos fazem uma roda. Ray começa.

— Descobri que o Império instalou o campo de treinamento tirando famílias de suas casas para ter mais “reféns” em seu reino. Pelo que eu ouvi, Caelum não está sob o comando do Império, eles maquiam o controle que Xarles tem por aqui, deve ser por isso que instalaram o exército ao lado, para ter mais influência.

Maxmilliam demonstra um pouco de preocupação, mas elogia Ray.

— Ótimo trabalho, Ray, bom saber que aqui estamos seguros. Mesmo assim vocês tomaram cuidado? Não chamaram atenção?

Onurb baixa a cabeça, finge bocejar e responde:

— É claro que não, só que infelizmente não consegui informação, lá onde eu fui estava chato, achei que seria mais divertido.

Anirak estranha e comenta:

— Você está estranho…

— Já falei que foi chato lá, não tenho nenhuma informação para ajudar!

— Certo, se você diz que está bem, então tudo bem… Eu conheci um homem maravilhoso que me informou que as transações de comércio do Império com os reinos vizinhos estão normais e, conversando com um soldado, descobri que amanhã terão visita importante do Império. O exército que está sendo treinado é para a própria defesa do Império, alguns mercenários, ladrões e outros estão agindo sozinhos contra o Império. Infelizmente ele não sabia de muitos detalhes.

Maxmilliam demonstra interesse:

— Bom, Anirak… Eu consegui conversar com Pathrik, o dono do lugar, ele é um grande aliado, mas tudo que ele me falou só confirma o que vocês acabaram de dizer. Mas ele não sabe quem é essa visita do Império, deve ser um dos comandantes.

Ray se anima por terem conseguido informações importantes.

— Que ótimo que conseguimos informações sem suspeitas, mas e Baltazar, será que ele conseguiu alguma informação?

Alexia responde:

— Ele disse que não descobriu nada na taverna, só que comeu muito e estava cansado.

Onurb comenta:

— Para cansar ele, deve ter sido “muita!” comida mesmo.

Ray ri e fala:

— Onurb está de volta!

— Não saí daqui em nenhum momento.

Anirak passa a mão na cabeça de Onurb.

— Não se estresse, vamos todos para a barraca ali, fiquei sabendo que tem um chá feito de Camellia Sinensis e que foi cultivado de uma forma especial, quero ver se há diferença dos outros que dizem comuns.

Todos concordam e vão para a barraca. Ao chegar, são bem recebidos pelos empregados e colocados em uma mesa comprida. Não há muita gente, a maioria é de idade avançada. A mesa está farta de frutas exóticas como Physalis, Longan, Kiwano, Rambutan, entre outras, sucos feitos com algumas dessas frutas e três tipos de chá que se destacam, o “verde”, feito de Camellia Sinensis que chamou atenção de Anirak e Maxmilliam, que amaram.

Ray experimenta de tudo um pouco, mas gostou de pouca coisa. Alexia adorou tudo, e Onurb sai disfarçadamente ao perceber que algumas mulheres do Lupanar estão entrando. Ele vai para seu dormitório, falando para seus companheiros que está cansado.

Eles conversam um pouco com os outros clientes, puxando assuntos simples com algum fundo de investigação, mas não adquirem nada novo. Depois de um tempo, o grupo sai em direção aos seus dormitórios. Maxmilliam diz:

— Foi algo gratificante, até a mulher mal-educada da recepção nos levou chá.

— Não confio nela, muito falsa — Anirak comenta.

— Bom que amanhã continuaremos nosso caminho e não teremos mais que interagir com pessoas assim, é ruim ficar próximo de pessoas assim em nossa missão, pode trazer azar.

— Eu, Anirak, chamo de traidores, ela pode ter percebido algo do nosso grupo e sair comentando com o Império, você deveria ter usado seus poderes para ver.

— Deixe, vamos esquecê-la, amanhã vamos nos reunir para ir embora antes que algo assim aconteça.

— Ótimo… Alexia, está melhor? Alimentada e recuperada?

— Sim, obrigada.

— Então vamos.

Todos vão para seus quartos e deitam para dormir. A noite está fresca e tranquila, o que deixa o grupo dormir sem interrupções.



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