Volume 1
Capítulo 22: Caelum, o Grande Paradisíaco
— Caelum? Que nome atraente.
— Sim, como está noite, não conseguiremos ver toda a beleza do lugar, amanhã vocês verão mais detalhes… Vamos.
— Certo.
Todos chegam à cidade aparentemente deserta, com poucas casas e um enorme lugar parecendo um castelo sem torres. Ao lado, uma grande muralha cobrindo o que há dentro. Tudo é feito de tijolos grandes, pilares, telhados de pedras e madeira grossa e resistente.
Não se veem muitos detalhes, pois está muito escuro e há poucas tochas iluminando e muitas nuvens no céu, sem deixar a luz natural das estrelas e luas clarear a cidade.
A noite está fria e a cidade, silenciosa. Todos descem de seus cavalos, amarram-nos no estábulo de Caelum e entram no estabelecimento, onde são atendidos por uma mulher de estatura média, cabelos pretos, pele morena e rosto bem arredondado.
O grupo se posiciona no balcão, e Maxmilliam se apresenta para a mulher:
— Viemos de Coniuro. Este pergaminho comprova uma reserva que temos para passar até duas noites.
A mulher responde, com ar não muito agradável:
— Sei, vou dar as chaves de seus quartos.
Ela entrega três chaves para Maxmilliam e dá as costas para eles, saindo do local. Onurb comenta:
— Mulher antipática, até parece que estamos aqui de graça… Só três chaves?
— Sim, dormiremos Ray e eu, Alexia e Anirak, Onurb e Baltazar.
— Vou ter que ficar com esse touro velho? Deixe-me ficar com uma das meninas!
Onurb dá uma piscada para Maxmilliam e logo é abordado por Anirak.
— Prefiro dormir com os cavalos.
Alexia concorda e ri junto com Anirak. Onurb cruza os braços e para de reclamar. Maxmilliam entrega as chaves para Onurb e Anirak e segue para os quartos. Todos, com suas mochilas e bolsas, seguem Maxmilliam. Anirak comenta:
— Dessa vez eu concordo com Onurb, a mulher nem se apresentou e nem apresentou o lugar, e dizem que este lugar é famoso pela hospitalidade.
Maxmilliam responde:
— Não deixem uma pessoa falar por todo um “ideal”. Vamos descansar, que cavalgamos o dia todo, amanhã quem sabe ela estará num melhor dia.
— Certo. Aqui é bem escuro, não dá para se ver muito.
Todos seguem Maxmilliam, passando por um grande jardim, para os quartos que ficavam no térreo de Caelum. Os quartos ficavam um ao lado do outro como cabanas. Maxmilliam fala com todos:
— Vamos nos encontrar amanhã cedo no jardim, bom descanso e boa noite a todos.
— Certo.
— Até amanhã.
— Boa noite.
Eles entram em seus quartos. Há duas camas grandes com belos e grossos cobertores, lareira, cadeiras, móveis com detalhes finos de carpintaria e até quadros de paisagens. O quarto passa um sinal de tranquilidade e acolhimento.
Todos os quartos têm banheiro amplo com uma grande banheira cheia de itens para banhos. Eles tomam banho separadamente e vão dormir esperando o próximo dia para conhecer o lugar “tão famoso”.
A manhã chega. Um belo sol entra pela janela dos quartos, acordando os heróis. Todos levantam e se preparam para o dia.
Um a um, eles saem e se encontram no jardim. Ray sai primeiro e espera sentado em um banco de pedra. Repara que está no meio de um grande jardim ao centro de Caelum, onde há uma estrada de tijolos, fontes com água cristalina, muita variedade de flores, plantas e insetos exóticos andando pela flora.
O jardim faz um grande quadrado, e nas extremidades há os outros dormitórios, com um corredor coberto ligando a todos como uma varanda. Esperando seus amigos, Ray pega o diário de sua bolsa e anota detalhes sobre os insetos que achou. Depois de algum tempo, Maxmilliam aparece, junto com Alexia.
— Bom dia, Ray.
— Bom dia… Alexia, você já viu esses bichos?
Alexia se abaixa e pega um inseto na mão.
— Sim, eles são incríveis, alguns são usados para poções de alucinação e outros têm um veneno paralisante.
— Não é perigoso você pegar um desses na mão?
Maxmilliam tenta intervir em tirar o inseto da mão de Alexia, mas antes o inseto a pica e voa. Ray se assusta, e ela tenta confortá-lo.
— Não se preocupe, é questão de sorte se era o venenoso ou não.
Maxmilliam a ajuda a levantar e informa:
— Sinto lhe informar…
Até que terminasse, Alexia desmaia. Ray se assusta mais do que já estava, e Maxmilliam o tranquiliza.
— Não se preocupe, Ray, o veneno não é mortal, ela só vai dormir um pouco, me ajude a levá-la para o dormitório dela.
— Certo.
Ray ajuda Maxmilliam a levar Alexia, e na porta encontram Anirak, que está pronta para passar o dia, com roupas leves e uma pequena bolsa. Ela vê o estado de Alexia e questiona:
— O que houve?
— Um inseto venenoso a picou, ela só vai dormir por um tempo.
— Inseto? Mas por estas redondezas seria um em um milhão para ter um venenoso.
— Ela não deve ter muita sorte. Rápido, vamos deixar ela na cama.
Ray, Maxmilliam e Anirak deixam Alexia na cama e voltam para o jardim, onde já estão Onurb e Baltazar, com Onurb reclamando.
— Como pode? Você atrai sujeira como lama atrai porco e demora a tomar banho.
— Você implica demais para alguém pequeno.
Ray intervém na discussão:
— Calma! Estamos num dos lugares mais lindos de Arbidabliu, vamos aproveitar o dia.
Maxmilliam se aproxima.
— Sinto lhe dizer, mas não vamos “aproveitar” o dia como se fôssemos viajantes.
— Como assim?
— Dentro daquela muralha ao lado de Caelum está um exército do Império, Xarles despovoou estas terras para usar o grande campo para treinar seus guerreiros e para desfrutar do lugar às vezes. Passaremos por viajantes para ver se tem algo a mais do que isso.
— Entendi. E como passaremos pela muralha?
— Não será necessário, Caelum é dividido em várias áreas de lazer, vamos nos dividir entre elas e à noite vamos nos reunir para ver o que achamos.
— Certo, e como seremos divididos?
— Alguém precisa ir nas “Casas de Banho”, na “Grande Taverna” e no “Lago” … Ah, sim, já estava esquecendo, tem um “Lupanar”, mas não deve ter informação lá.
Onurb se manifesta:
— Não podemos excluir qualquer possibilidade de adquirir informações boas sobre o Império, eu irei nesse lugar averiguar.
Todos ficam com ar suspeito, e Maxmilliam continua:
— Certo. Onurb já se colocou, vamos encaixar os outros.
Baltazar fala, animado:
— Eu posso ver a Grande Taverna, ouvi falar muito sobre ela, melhor comida entre reinos.
Todos riem, e Maxmilliam fala:
— Bom, Ray pode ir ao lago e Anirak para a casa de banhos, enquanto que eu vou ver alguns registros aqui em Caelum, vou ver se consigo alguma informação com os donos dos lugares aonde vocês vão.
— Donos?
— Sim, aqui era uma pequena vila, depois se tornou o que é hoje. São quatro pessoas que ajudaram nas ideias e na divulgação do lindo lugar. No lago você deve ver algum deles, será bom para você, Ray, seu treinamento não teve muito sobre história do Grande Continente, explore o máximo que puder.
— Certo, mestre.
Onurb se retira em direção ao Lupanar.
— À noite nos encontramos aqui no jardim.
Baltazar volta para seu dormitório, informando:
— Vou guardar minhas armas para não chamar atenção na taverna.
Maxmilliam lembra e notifica Ray e Anirak:
— Estamos aqui “disfarçados”, não podemos chamar atenção, façam o que têm que fazer, mas com muita cautela.
Anirak concorda com a cabeça e comenta:
— Onurb e Baltazar sabem disso?
— Devem saber, é claro que estamos furtivos aqui.
— Não sei, não, daqueles dois se pode esperar de tudo. De qualquer forma, eu vou me preparar para os banhos, ouvi falar que eles têm vários tipos de banhos e massagens.
— Lembre-se, Anirak, de que temos só o dormitório pago, qualquer outra coisa que adquirir terá que pagar você mesma.
— Eu sei, gostaria de ver a cara do Onurb quando ele souber que terá que pagar do próprio bolso a “casa” em que ele vai.
Anirak se retira rindo, e Ray fala com Maxmilliam.
— Mestre, e Alexia?
— Não se preocupe, vou deixar uma mensagem para ela se caso acordar cedo, e antes de comer eu passo aqui para ver se ela já está bem.
— Bom… Então vou lá para o lago, e à noite nos encontramos aqui… Para comer eu vou à grande taverna?
— Não, todos esses lugares têm lugar para comer e beber.
— Entendi. Então até mais tarde, mestre.
— Até mais, Ray.
— Um pedido, mestre.
— Diga.
— Como você verá os registros…
— Sim, eu vou verificar se Rupert, Doug, Júlio e Meena estiveram aqui, não se preocupe.
— Obrigado.
— Agora vá.
Maxmilliam segue para a recepção de Caelum, Ray para a área aberta em direção ao lago, Anirak passa em seu quarto para pegar uma roupa e em seguida vai para a casa de banho, Baltazar chega à frente da Grande Taverna e Onurb chega ao Lupanar.
Aproximando-se do lago, Ray vê pequenos barcos com algumas pessoas dentro navegando. Ao lado do lago, algumas barracas de comércio e de lazer.
Chegando às barracas, Ray admira alguns belos itens de marcenaria, cerâmica e até joalheria, fazendo-o lembrar de que Aquarium está com Alexia.
Nas barracas de lazer, há algumas mesas com um pouco de comida e um rapaz fazendo vários tipos de bebidas, misturando bebidas alcoólicas, sucos, frutas e até frascos aparentando terem propriedades mágicas.
Admirando as misturas e o malabarismo, Ray se aproxima e senta a uma mesa vazia. Ao redor, nas outras mesas, há alguns casais e um grupo de três mulheres. Depois de algum tempo, uma delas chama Ray.
— Rapaz? Sente-se conosco.
Ray, sem esperar esse convite, fica quieto. Ela insiste.
— Não tenha vergonha, venha e beba algo com a gente… Melhor, vamos lá, meninas.
Elas levantam da mesa e seguem para a de Ray, e se acomodam lá. A loira de cabelos longos, olhos claros e estatura média, quando se senta, cumprimenta Ray.
— Bom dia, eu sou Annie.
A outra, morena, cabelos médios e enrolados, olhos escuros, estatura média, senta à mesa e comenta:
— Não se espante. Annie é doida mesmo. A propósito, eu sou Brenda.
A última tem a pele mais escura, belos cabelos pretos trançados, lembrando os de Baltazar, olhos escuros, estatura alta. Ela ri da situação e cumprimenta Ray também.
— Na verdade, todas nós somos… Eu sou Elise.
Todas usam roupas elegantes e de verão, são sorridentes e empáticas. Ray perde um pouco da timidez e conversa com elas.
— Prazer, eu sou Ray, vim conhecer este belo lugar, aqui é bem famoso e lindo.
As três olham entre si e, sorrindo, agradecem.
— Obrigada, Ray, é bom ouvir coisas assim.
Sem entender, ele questiona:
— Por que agradecem?
— Eu sou Brenda, dona do “Maître d'hôtel”, a Grande Taverna, a Elise é dona deste evento aqui no Lago Ariel.
— Achei que fossem quatro homens os donos.
Annie chama o rapaz das bebidas.
— Lindo! Venha nos servir aqui, por favor.
Elise continua conversando com Ray.
— Não, tem o Pathrik e sua esposa que cuidam dos dormitórios e do jardim. Como Xarles não gosta de mulheres com bom status, tudo fica como se Pathrik fosse o dono de tudo, mas na prática cada um cuida do seu, fica mais organizado também.
— Entendi… E como fica essa ocupação do exército aqui perto?
O rapaz serve todos com bebidas diferentes umas das outras e em cálices prateados, e todos experimentam admirando o sabor. Depois de agradecer ao rapaz, Elise volta a conversar com Ray, respondendo à sua pergunta.
— Aqui do lado, você quer dizer, horrível o Império instalar um campo de treinamento aqui, várias casas tiveram que ser destruídas e várias famílias tiveram que sair.
— Que horrível! E para onde foram?
— Foram para outra cidade do Império, Xarles não deixa ninguém sair de seus territórios.
— Vocês sabem o que acontece dentro dos campos de treinamento?
Annie, já demonstrando alterações emocionais por conta da bebida, brinca:
— Quem me dera ver aqueles corpos, sarados, com grandes…
Brenda ri alto, e Elise a interrompe.
— Desculpe a minha amiga, já faz um tempo que ela está bebendo… Respondendo à sua pergunta, não, não deixam ninguém se aproximar dos campos de treinamento, é estranho, pois parecia que o Grande Continente está em paz, mas para Xarles aumentar seus exércitos e campos de treinamento, não deve ser para a paz.
Brenda acha estranho tantas perguntas sobre o Império.
— Por que tanto foco no Império de Cristal, rapaz?
— Sou um aprendiz, estou estudando sobre os reinos do Grande Continente e aprendendo ao máximo sobre eles. Também quero saber sobre este incrível lugar que agora sei que foi criado por quatro pessoas, e não uma… Como foi?
Para não passar uma imagem errada, Ray questiona sobre Caelum. As mulheres deixam de desconfiar dele e entram no assunto, falando sobre seus feitos em Caelum.
— Eu adoro comida, e aqui temos ótimos campos para plantação e criação de bichos, herdei um dinheiro da minha família, que tinha algumas terras na cidade de Baron, e vim morar aqui, e com a ajuda das minhas amigas construímos o nosso próprio império.
— E como vocês se conheceram?
— Elise veio com o namorado morar por aqui e trabalhamos juntos por um tempo, Annie também trabalhava conosco, Elise perdeu seu namorado na guerra e ganhou uma quantia de ouro pelos feitos de seu amor.
Elise interrompe:
— Nossa, eu posso falar da minha própria história!
As duas riem, e Elise continua.
— É isso, perdi meu grande amor, mas consegui novas amigas e este belo lugar. Com o dinheiro da família de Brenda e com o que meu lindo guerreiro deixou para mim, nós nos unimos para construir em uma parte de Caelum nosso empreendimento, derrubamos um lugar que mantinha pessoas como escravas… Nossa! Como odiávamos este local, mas conseguimos resolver a situação, e agora é este lugar maravilhoso.
— Legal vocês se encontrarem e formarem essa irmandade, mas e a Annie?
Annie ouve tudo, mas está com cara de sono e evita falar. Ela bebe um pouco e boceja.
— Eu estou tranquila…
Elise responde a Ray.
— Annie conseguiu um bom dinheiro tirando dos homens, ela é um pouco radical, mas conseguiu dinheiro para ajudar na evolução de Caelum.
— E ela é dona do que em Caelum?
— Do Lupanar, ela tem um grupo de mulheres com habilidades peculiares, são conhecidas como “as lobas”.
— Ouvi falar, são mulheres sensuais com perícias furtivas e inteligentes para furtar e adquirir informações importantes de homens de poder e de altos cargos hierárquicos, algumas aceitam trabalhos de infiltração e até assassinatos.
Elise e Brenda se surpreendem e ficam uns instantes em silêncio. Brenda ri alto e comenta:
— Nossa, que ótima definição de ladra e “mulheres da vida” você deu.
— Verdade, Brenda. Realmente você é um bom aprendiz, mas você está certo, Annie juntou um grupo de garotas e fundou o Lupanar.
— Agora sei por que Onurb quis ir para lá.
— Onurb?
— Desculpe, não é nada. E por que aqui no lago?
— Ah, sim, Brenda fez a Grande Taverna reunindo vários tipos de comidas e bebidas de Arbidabliu em um único lugar para que todos que venham desfrutem da cultura geral, Annie fez um grupo fixo de “lobas”, e eu fiz este lazer ao lado do lago, chamei vários comerciantes para enriquecer Caelum com seus feitos artísticos e chamar mais atenção para o lago. Aqui temos comércios artesanais, culinários e os dormitórios com a casa de banho.
— Incrível. E a ideia da casa de banho?
— Já existia quando viemos, mas era pequena, nos unimos com Pathrik para melhorar o lugar todo.
— Muito bom. Realmente admirável e explicada a fama deste lugar.
— Sim, mas essa lua não é boa para os negócios, nestes tempos aqui fica tranquilo, você pode reparar que não temos muitos viajantes.
— Verdade, desde ontem à noite e hoje de manhã não vi muita gente… Agora que eu reparei, aqui é o Lago de Ariel! Onde Úrsula e Ariel lutaram para assumir o poder e a liderança da Ilha da Água.
— Isso mesmo, foi a única luta amigável entre os dez, pois eram amigas e foi uma ótima luta. Infelizmente ela morreu na beira do lago chorando por uma decepção amorosa. Esse lago era sujo e fedia muito, dizem que quando ela chorou as suas lágrimas o purificaram, deixando-o lindo como vemos hoje, até peixe tem vivendo agora.
— Eu nasci na Ilha da Água e sei de toda a história, mas não comentam sobre o que houve com o homem que decepcionou Ariel.
— Não comentam mesmo, e nem devem, pessoas ruins não merecem ficar na história e nem serem lembradas… Dizem que ele sofreu muito e morreu depois da morte de Ariel, outros dizem que Úrsula o trancafiou numa cela especial para que sinta dor por toda a vida e lá sofrerá até a morte. Não gosto de pensar muito, gosto de pensar que os Electi só fazem coisas boas.
Elas riem e continuam bebendo. Ray durante todo o tempo aprecia a paisagem e a bebida moderadamente para que não sofresse alteração como Annie.