Volume 1
Capítulo 18: O Império de Cristal
— Por que nas histórias o nome dele não é anunciado?
— Porque ninguém gosta dele… Ele herdou tudo do pai, que fez inicialmente nove cidades para que sejam independentes, mas Xarles, quando assumiu o poder, decidiu que essas cidades estariam sob suas ordens, e assim houve confusão no Grande Continente.
Em um som de trovão, Onurb entra no laboratório, um pouco molhado e entediado.
— Demora a chover e agora cai uma tempestade.
— Onurb? Estamos falando sobre o Império de Cristal, não quer se juntar a nós?
— Não há nada melhor para fazer neste forte mesmo, continuem, estou ouvindo.
Onurb limpa uma parte de uma mesa no canto, senta sobre ela e espera Maxmilliam continuar o assunto.
— Na guerra contra os demônios, cuja glória foi dos Octoniões, um amigo próximo criou uma vila perto de Sodam of Smart.
— Sim, Reivax!
— Ótimo, Onurb. Reivax Nilked foi um grande “artista”, muito inteligente e focado, que criou um sistema de economia e política de paz enquanto estava fazendo as vilas, lá já arquitetava como o Grande Continente deveria agir.
— Mestre, mas isso foi há muito tempo, nessa época as terras não tinham donos?
— Não exatamente. Nessa época, os líderes de hoje já estavam assumindo essas terras, seja por herança, casamento ou batalha, todos assumiam suas cidades, reinos, condados, entre outros. Reivax viajou por todo lado procurando mostrar suas ideias para esses líderes. Todos guardaram a ideia e só colocaram em prática quando a guerra acabou. Foi à mesma época em que Reivax morreu, deixando um filho como herdeiro, Xarles. Enquanto o herdeiro crescia, a ideia de Reivax se espalhou e cresceu por todo o continente, sendo aceita por todos, assumindo tratos, alianças e paz em todo canto. Mas, quando Xarles assumiu o poder da cidade onde nasceu, ele reivindicou as outras nove. Como todas elas eram independentes e com seus próprios donos, Xarles separou as terras desigualmente, colocando matéria-prima, exército e a maior parte de fonte de alimento em suas terras, obrigando os outros a seguirem suas ordens para que pudessem desfrutá-las.
— Mas por que todos não lutaram? Fizeram isso antes para dominá-las, por que não fizeram outra vez?
— Medo… Xarles usou o plano do pai para dominar todo o continente. Vou explicar melhor… Dez ilhas com seus Electi respectivos, cada ilha tira seu sustento dela própria e das águas ao redor. Aliada com outras dez cidades no Grande Continente, tem matéria-prima diferente, madeira, minérios, comida, vegetação, entre outras coisas, mas cada território é dotado de algumas delas, não de todas. A ideia de Reivax era unificar todos nesse sentido. Por exemplo, as montanhas de White Irene são ótimas para minérios, mas não possuem terras para criação de gado ou plantação, assim eles trocam com quem tem e todos terão todo tipo de matéria-prima para a evolução de seus reinos e comida também. Como Xarles tomou uma parte, os líderes não sabiam das ações dos outros, todos pensaram que se lutassem contra Xarles ficariam fora dessa “aliança”, ficando sem esse “sistema de troca”… Além dos comandantes de Xarles que ele conseguiu recrutar com o tempo, fortalecendo seu exército e sua intimidação com reinos menores.
— E com o reinado de Xarles, Sodam caiu.
— Ótimo, então me conte mais sobre isso, me deixa ver se você escutou mesmo as aulas.
— Sim, depois da construção do castelo e para expandir sua cidade natal, ele destruiu toda Sodam, matou todos da raça da cidade, deixando só alguns que recrutou para seu exército… Como eles podem seguir um assassino?
— Nem todos são bons, alguns são ruins a esse ponto, e há a intimidação, “você morre ou me serve”. Mesmo Xarles sendo quem é, ele tem muitos recursos para conseguir o que quer.
— Então é esse lugar que tem que ser atacado?
— Não, Ray! São muros feitos de rochas e cristais corrompidos. Atrás dos muros, Xarles aprisiona famílias inocentes que outrora viviam em outros reinos, são como reféns, eles vivem bem lá, mas não podem sair. Se os outros atacarem, ele matará essas famílias, ou se for usado grande poder de destruição no reino, essas famílias podem morrer como efeito colateral.
— Maldito… Xarles é um guerreiro, mago ou até um Praeteritum?
— Não… Ele não tem poder nenhum, não saberia te dizer se ele segue alguma classe de batalha. Muito foi feito pelos outros, ele conseguiu tudo pela fama do pai e dinheiro… Ele não é muito inteligente, como falei, ele pegou um plano já arquitetado e colocou ao seu favor.
— Mesmo assim, mestre, como ele não sendo habilidoso ou forte, como ele não sendo nada bom ou nada ameaçador, pode estar num cargo desses?
— Essa, Onurb deve saber.
— Sim… Honra.
— Não só honra…
— Mas como honra, com um ser desse?
— Honra… subordinação e ouro. Muitos o seguem por saber que terão muito ouro e status; outros seguem por honra, por acreditar cegamente que ele faz algo bom para o mundo… Há uma teoria…
— Teoria?
— Sim, boatos dizem que um grupo fundou uma crença contra a vontade de Deus, humanos que se fundiram com demônios, eles conseguiram poder e se escondem para adquirir mais poder para um dia se revelarem e assumir o mundo, e esse grupo está no império. Xarles pode ser o líder dessa crença.
— Estranha essa teoria.
— Sim, mas também pode ser uma mentira criada para temerem Xarles, ou ele pode ter poderes e esconde atrás de tolice e feiura.
— Ele é feio?
— Ele é estranho.
Onurb se levanta, vai até a janela, olha a chuva diminuir e diz:
— Enfim… Além de tudo que sabemos sobre o Império e o filho mimado, haverá mais perigos escondidos?
— Provavelmente.
— Eu estava precisando de aventura… Então será bem-vinda.
— Esse é o espírito, Onurb… Mestre, poderíamos passar disfarçados de soldados ou de aldeões pelo Império?
— Difícil, seus amigos não vão passar essa ideia de “inofensivos”.
Onurb fica com um ar orgulhoso.
— Verdade, quem me olhar saberá do que sou capaz.
— Onurb, eu estava me referindo a Baltazar, mas você e Anirak também não vão conseguir enganar muito.
— Baltazar? Só porque ele é grande? Podemos dizer que ele é um escravo… Enfim, vamos passar sem disfarces, e o que aparecer… enfrentaremos!
— Onurb está diferente hoje, mais encorajado.
— Verdade, mestre.
— Estou focando.
Maxmilliam revisa com Ray e Onurb sobre os comandantes, economia e política do Império de Cristal, tratos de trocas de alimentos e matéria-prima entre cidades. Baltazar e Houri comem. Com a chuva fraca, Geiko e Anirak rondam o forte.
A manhã passa com o tempo nublado e um pouco frio. A chuva vai parando e um vento leve toma o forte. Chegando a tarde, um som de sino toca, e é estranhado por todo o grupo. Ray questiona Maxmilliam, ainda dentro do laboratório com Onurb:
— Tem um sino aqui?
— Não me lembro de ter visto um.
Na janela, Onurb informa:
— São armaduras com o emblema do Império, estão ameaçando atacar.
Ray levanta alvoroçado.
— Precisamos ajudar!
— Espere, Ray!
— Mas, mestre, como esperar numa situação dessas?
— Não podemos demonstrar ameaça, viemos ajudar, não causar brigas. Vamos esperar e ver o que vai acontecer.
Ray e Onurb ficam na janela observando a entrada do forte, que está cheia de soldados do Império armados com espadas e lanças, usando armadura média e liderados por um soldado com armadura diferente.
Na frente desse grupo, mais adentro do forte, o grupo de fratérnitas, liderados por Geiko e Houri, impedem a entrada do exército do Império. Na entrada do palacete, estão Anirak e Baltazar, que observam a conversa entre o líder dos soldados e Geiko.
— Um forte contra Xarles?
— Não sabia que povoar terras aliadas é afronta aos reinos vizinhos.
— Sabe bem do que eu estou falando, estas terras são do Império!
— Como ousam? Estas terras fazem parte de Coniuro, vocês é que estão invadindo.
— Estas terras são do Império, vocês estão aqui sem autorização, e sabemos que há pessoas aqui que são da propriedade de Xarles.
— Pessoas não possuem outras pessoas.
— Sai do meu caminho, não vou discutir com um homem com aparência de mulher.
Houri saca sua espada e, apontando para o líder, afronta-o.
— Terá que ser muito homem para repetir isso!
— Vejam! “Ivo” e “Adéa”, aberrações ainda vivas!
Geiko se posiciona com outros fratérnitas ao seu redor. Houri solta um urro chamando atenção de todos os seus fratérnitas e acionando guerra.
Todos se armam, tanto soldados do Império quanto os fratérnitas, e começam uma batalha. Houri, furiosa, passa por soldados do Império derrubando, empurrando e golpeando-os, abrindo caminho em direção ao líder que chamou sua linhagem de “aberração”.
Enquanto o líder avançava com outros soldados para um dos lados do forte, Geiko, com seus guerreiros, barra a entrada de mais soldados do Império no forte, defendendo o portão dos que estão lá fora.
Houri alcança o líder e o ataca brutalmente. Ele se defende e contra-ataca com gestos como se fosse superior a ela. Quanto mais pose o líder fazia, mais Houri se enfurecia, deixando-o acuado. Ele não conseguia mais atacá-la, só se defendia dos grandes golpes e sequências que Houri fazia com sua espada.
Toda vez que ele tentava contra-atacar ou atacar Houri, ela o cortava deixando um grande ferimento e assustando-o.
— Nunca mais insultará…
Houri gritava amedrontando os soldados próximos e golpeando severamente o líder.
—… Meu irmão… eu… ou minha linhagem novamente!
Houri finaliza encravando sua espada no peito do líder sem dó ou piedade e com um gesto da mão chama os outros soldados para enfrentá-la. Onurb comenta dentro do laboratório:
— Mulher? Ah, tá!
Ray corre para a porta do laboratório.
— Já está numa situação de batalha, mestre, temos que ajudar.
Abrindo a porta, Ray se depara com Baltazar e Anirak, que entram no laboratório, questionando:
— O que faremos?
Maxmilliam assume.
— Por enquanto nada, depois entraremos nas terras do Império, não podemos ser vistos. Além disso, Geiko e Houri estão cuidando da situação.
Baltazar vigia a porta. Onurb, Anirak e Ray ficam nas janelas vigiando e observando a batalha, que está acabando.
Houri derrota os outros soldados dentro do forte, trocando de lugar com Geiko, que lidera seus guerreiros para fora do forte e derrota o grupo externo.
Guerreiros nas torres ajudam com rajadas de flechas contra os soldados de dentro e fora do forte. Com os fratérnitas ganhando dos soldados, Geiko, com magia, sente a presença de inocentes com medo deles.
Ele sai do forte e vê algumas carruagens com prisioneiros, e avança para ajudá-los. Tomando algumas carruagens, um homem do império encapuzado com um cajado negro anuncia:
— Avancem!
Outros soldados saem da floresta em direção a Geiko. Ele e seus guerreiros recuam para o forte com as carruagens.
Os soldados alcançam Geiko e seu grupo entrando em outra batalha campal. Geiko consegue se defender e bater em alguns soldados e liderar seus guerreiros para se defenderem e contra-atacarem também.
Houri corre para a entrada para se ajuntar ao seu irmão e ajudá-lo na batalha. Com a liderança de Geiko e a moral de Houri, os fratérnitas se sobressaem sobre os soldados, derrotando-os e ocasionando muita perda para o Império e poucos feridos do forte.
Toda vez que um fratérnitas era atingido, logo era substituído para que seu ferimento não desse desvantagem na batalha corpo a corpo, assumindo ataque a distância e ajudando o grupo em outro posto.
Como a luta era fora do forte, Ray, Baltazar, Anirak e Onurb saíram do laboratório para visualizarem melhor a batalha, ao mesmo tempo fora da visão dos soldados e mantendo o anonimato.
Com a vitória certa, o homem encapuzado do Império levanta o cajado negro ao céu, e uma aura toma seu corpo. Nesse tempo, Maxmilliam sai do laboratório com ar suspeito.
— Magia antiga…
Maxmilliam eleva muito o seu tom de voz e diz para Ray e os outros:
— Preparem-se para a batalha!