Volume 1

Capítulo 17: Grande Missão

Maxmilliam entrega um pergaminho para Ray. Ele o pega, o abre, lê e, fechando-o em sua mão, aponta para uma jarra. Em um sussurro, sua mão brilha, e o pergaminho vira água limpa e cristalina caindo na jarra. Maxmilliam elogia.

— Muito bom, Ray, você aprendeu… Agora me diga, você está com um item poderoso em seu poder?

— Desculpe! Tanta coisa acontecendo, eu me esqueci de falar, Onurb te contou?

— Não, eu consigo sentir o poder de alguns itens, senti que havia algo no quarto de Onurb no barco, mas depois foi para a sua mochila.

Ray fica desconcertado.

— Sim, é verdade, mas ela foi dada a mim.

— Ray, você tem que ter cuidado, esses itens chamam atenção, outros podem senti-la.

— Acha melhor deixá-la para trás?

— Não, já que estamos com um grupo forte, melhor ficar com ela.

— Ótimo, pode ser de grande ajuda.

Geiko entra sozinho no laboratório.

— Olá, gostaria de acrescentar algo aos estudos de vocês.

Geiko tira três moedas do bolso e as coloca na mesa em frente de Ray, que fica surpreso.

— Libras?

— Sim.

Maxmilliam demonstra um tom preocupado.

— Senhor Geiko, não precisa…

Geiko interrompe Maxmilliam.

— Mestre, desculpe, mas será muito importante, sei quem vocês são e sinto que esta missão de vocês é maior do que vocês mesmos pensam… Depois de muito tempo de estudo, descobriu-se que essas moedas têm grandes propriedades mágicas, até mais do que qualquer pedra preciosa ou gema mágica, elas são capazes de suportar grande quantidade de energia, como uma bateria… Assim, tentamos armazenar encantamento dentro delas, como um pergaminho que não se desgasta.

Maxmilliam levanta e se aproxima.

— Já ouvi falar sobre esses estudos e, pelo que deduzi, é para implantar o teleporte.

— Exato! Com o selamento dessa magia, o uso dela só pode ser feito através de pergaminhos que demoram muito a se fazer.

— O Cristal Corrupto tem um poder semelhante ao das moedas.

— Sim, mas é um poder utilizado só pelo Império, queria algo contra esse cristal corrupto, assim tentamos colocar numa libra, mas sem sucesso, fizemos todos os rituais, poder, magia, mas não funcionou, a magia teleporte foi bem alterada com os anos.

Ouvindo tudo, Ray tenta entender melhor.

— Os únicos seres que podem usar esse poder do teleporte são o Império de Cristal com seus cristais corruptos? E alguns pergaminhos? E os Electi?

— Os atuais não têm mais esse poder, com o tempo ele se perdeu. Quando ele foi selado, o Império de Cristal adquiriu um poder similar e o colocou em alguns cristais, construiu torres de cristais para teleportar entre elas como um portal. Ele também não pode usar de qualquer jeito, mas mesmo limitado dá-lhe grande vantagem e poder.

— E os pergaminhos?

— Existem poucos… Demora muito para fazer um pergaminho… Mas, Geiko, você conseguiu colocar algum outro poder nas libras?

— Não, só tentamos colocar o teleporte… Se me permite, mestre Maxmilliam, gostaria de presentear Ray com uma moeda, pode ajudar nesta missão, já que passarão por lugares perigosos.

— Eu agradeço sua preocupação, Senhor Geiko, mas…

Ray fica animado e interrompe Maxmilliam:

— Eu aceito! Estou pronto para assumir esse desafio.

— Ótimo, mas antes de lhe dar eu quero ver se você realmente treinou com um Mestre da magia, siga-me.

Geiko pega um livro e sai do laboratório. Maxmilliam e Ray o seguem até lá fora. Geiko entrega uma libra para Ray e se afasta.

— Não será difícil, Ray, só é um pouco mais complicado do que liberar um poder de um pergaminho qualquer.

Geiko abre o livro e aponta para Ray.

— Você está pronto? Tente se proteger, use a moeda para se defender, será mais fácil.

— Certo.

Ray se concentra, segura a moeda e tenta sentir o poder igual ao pergaminho que usou agora há pouco. A mão de Geiko começa a ganhar uma aura avermelhada, uma página se desfaz e vira uma bola de fogo que voa em alta velocidade em direção a Ray.

— Não consigo.

Por poucos centímetros a bola é bloqueada por uma parede invisível feita por Maxmilliam. A bola faz um grande barulho quando bate e se desfaz na parede mágica. Geiko fica preocupado.

— Me desculpa, não pensei que sairia tão forte.

— Sem problema… Obrigado, mestre.

— Não foi nada, Ray, eu vou ajudá-lo. Magias antigas eram usadas com círculos de magia, tente fazer assim.

Com seu cajado, Maxmilliam faz um círculo em volta de Ray e informa:

— Se concentre e confie em si, Ray, você vai conseguir.

— Certo! Geiko, mande mais um.

Geiko faz o mesmo processo, e outra página se desfaz, transformando-se em uma bola de fogo, e lança novamente contra Ray.

O jovem estende a mão com a moeda, que emana uma aura diferente. Quando a bola de fogo se aproxima, ela diminui e é absolvida pela moeda, deixando Ray ileso. Geiko se impressiona.

— Boa!

Maxmilliam faz sinal para Geiko continuar. Ele conjura outra página de fogo e seus próprios poderes para que desdobre em mais quatro pequenas esferas de fogo e ataca Ray, que, com rápidos gestos de mão, apara os projéteis usando magia e a moeda.

As esferas batem na palma de Ray e apagam sem causar explosão ou barulho alto. Apenas uma das pequenas esferas pega Ray de raspão, estragando a manga de sua camisa e fazendo-o apagar o fogo às pressas.

— Muito bom, Ray.

— Mas eu consegui por causa do círculo.

Maxmilliam se aproxima.

— Não, Ray! Esse círculo é só um desenho, não tem natureza mágica, fiz isso para que você tivesse mais confiança, ou, como meu mestre dizia, “magia placebo”.

— Enganação?

— Não olhe dessa forma! Veja! Você conseguiu.

— Verdade, mas…

— Me desculpe, Ray, mas foi para mostrar que você é capaz, só precisa ter mais confiança em si mesmo.

— Obrigado, mestre, e obrigado, Geiko.

— Não foi nada, Ray, mas vamos ter certeza de que você aprendeu!

Geiko arranca duas páginas do livro e as joga para o ar. Cada página se torna duas esferas flamejantes que flutuam e em seguida voam em direção de Ray, uma direcionada à cabeça e outra às pernas.

Ray rapidamente apara as esferas com a moeda. A primeira se desfaz ao contato com a moeda e a outra é rebatida, voltando para Geiko, que se impressiona por ter tido um efeito diferente, se defende com seu cajado e faz o fogo cessar.

— Ray sempre impressionando.

— Não foi nada, foi mais por impulso do que premeditado.

— Treine mais e será um mágico… Eu queria te dar este livro também, Ray.

— Sério?

— Mas só tem essa mesma magia de fogo, foi escrita por um mágico para treinar a fabricação de pergaminhos mágicos.

— Pergaminhos não demoram a se fazer?

— Sim, ele demorou bastantes meses para fazer este livro.

— Legal. Obrigado.

— No laboratório tem algumas poções que podem ajudar vocês, para curar, limpar, purificar água, entre outras. Maxmilliam pode identificar e vocês podem pegar o que precisarem para ajudar na missão. Infelizmente eu não posso ajudá-los com mais, pois estamos com alguns problemas com ataques, defesa dos refugiados e a crise que atinge o Império, mas se precisarem de algo mais, por favor, podem falar comigo ou minha irmã, que faremos o possível.

— Certo! Obrigado. Estamos aqui também, se precisar de algo, nos avise.

— Obrigado, vou pedir só para vocês esperarem até amanhã para partir, pois se formos atacados terei vocês para ajudar, amanhã o muro já estará consertado.

— Sem problema, esperaremos até amanhã.

— Obrigado… Deem-me licença, tenho que verificar uma papelada para encaminhar para Coniuro.

— Geiko, um momento, por favor.

— Sim.

— Quando você tiver um tempo, eu preciso de um favor.

— É claro, diga, dependendo do que for, posso te ajudar agora.

— Estou buscando alguns amigos meus que estão desaparecidos, um deles é da linhagem de Ivo, e Houri disse que você deve saber se algum “Ivo” passou recentemente por estes territórios.

— Entendi…

Geiko pensa um pouco e responde:

— Sim, algumas semanas eu senti, sim, “irmãos” por perto.

— Irmãos? Da mesma linhagem?

— Sim. Tem certeza de que é só um dos seus amigos? Pois lembro que dois passaram perto de Militis.

— Dois?

Ray fica pensativo, e Geiko questiona:

— Quantos amigos são?

— São quatro… Rupert, Doug, Júlio e Meena.

— Desculpe, nunca ouvi falar, mas será que entre eles não tem mais um? Ou eles estavam acompanhados?

— Pode ser, mas as chances diminuem, pois pode nem ser eles.

— Desculpe não ajudar muito, Ray.

— Não, tudo bem. Você disse Milites?

— Sim.

— Então eles devem ter passado pelo Império de Cristal.

— Vou anotar os nomes deles e pedir para um guarda perguntar entre os refugiados para saber se eles ouviram algo sobre eles.

— Seria de grande ajuda, obrigado.

— Por nada, Ray, é um prazer… Até mais.

— Até mais… Mestre?

Ray corre até seu mestre e continua:

— Você não consegue fazer aquela ligação de imagem com…

— Os refugiados? Não, muitas mentes para conectar, eu confesso que não sou experiente em magia mental… Desculpe-me, Ray.

— Entendi, mas acho que os nomes devem ajudar.

— Sim, muitos são das redondezas, alguém deve ter ouvido falar deles.

— Sim, vou torcer.

— Paciência, Ray, eles estão bem, só devem ter tido algum imprevisto no caminho, é bem capaz de encontrar eles em Libryans.

— Assim espero, ficaria muito grato.

— Vamos voltar ao treino.

Geiko entra no palacete e vai para sua sala para arrumar alguns pergaminhos e montar um relatório para Nycollas, rei de Coniuro.

A tarde passa com Ray e Maxmilliam no laboratório revisando o treinamento de magia, como ativar pergaminhos, fazê-los e até cancelar a utilização deles, entre outras coisas envolvendo poções com propriedades mágicas e químicas.

Baltazar passa ajudando os guerreiros na guarda do forte e contando suas histórias de batalhas, o que o faz ganhar alguns admiradores.

Anirak e Houri ficam juntas conversando sobre técnicas de lutas e inimigos eliminados.

Onurb aproveitou a tarde para tomar um bom banho e descansar o que não conseguiu no barco.

A noite chega sem mudar muito a temperatura, mas com uma grande nuvem se formando no céu. Todos comem juntos no salão do palacete, aproximando-os como companheiros. Ao terminar de comer e beber, Ray fala com todos:

— Se existiram os “Octoniões”, um grupo de grandes guerreiros, nós também poderíamos ter um título para que sejamos lembrados.

Anirak se interessa.

— E qual seria o nosso título?

— Preciso pensar, tem que ter algo a ver com todos nós.

Onurb não concorda.

— Horrível! Melhor sem nome mesmo, nosso grupo é todo confuso.

— Não, com o tempo eu pensarei num nome legal e inspirador. Se vocês tiverem alguma ideia, me falem… Eu penso melhor quando estou deitado, já vou me deitar.

— Boa noite, Ray!

— Boa noite a todos, até amanhã.

Ray se despede do grupo e vai para seu dormitório, toma um banho, encontra sua roupa limpa em cima da cama, as camareiras tinham lavado tudo.

Baltazar fica até tarde bebendo vinho com Houri e Onurb e vão dormir. Maxmilliam volta para o laboratório e adormece lendo os livros e pergaminhos. Anirak descansa um pouco e em seguida dá uma ronda furtiva pelo forte, ajudando na vigia.

Geiko dorme em seu escritório. Os peões do forte terminam de consertar o muro e limpar os destroços. Tudo fica calmo e tranquilo.

O amanhecer chega com uma grande chuva, vento forte e trovões. O tempo agitado acorda alguns. Maxmilliam acorda no laboratório e volta a ler. Baltazar, Houri e Onurb continuam dormindo. Geiko e Anirak ficam no grande salão para tomar café.

Ray acorda, se espreguiça, vira e revira na cama, buscando dormir mais. Ele dá um cochilo e depois levanta, faz suas necessidades básicas e de higiene e desce para comer. Encontra Geiko e Anirak, que terminam de comer, junta-se a eles na mesa e cumprimenta:

— Bom dia!

— Bom dia, Ray! Dormiu bem?

— Muito, aqui é muito tranquilo e o quarto é confortável.

— Sim, fizemos o possível para deixar este lugar bom para todos de Coniuro e os refugiados também.

Ray se serve com o que tinha na mesa e, terminando de comer, questiona:

— E onde estão os outros?

Anirak responde:

— Maxmilliam está no laboratório, Baltazar, Onurb e Houri estão dormindo ainda, foram dormir tarde ontem.

— Vou ver se meu mestre tem mais treinamento para hoje.

— Cuidado, Ray, a chuva está forte.

— Não tem problema.

Ray sai do palacete. Ao lado de fora está um temporal, muita chuva e o frio tomando conta de toda a região. Ray corre até o laboratório, se molha muito e entra. Encontra Maxmilliam sentado bebendo algo em um cálice e lendo um livro.

— Mestre, ficou estudando?

— Oi, Ray… Fiquei aqui relembrando… Faz tempo que não me aventurava em um bom livro, depois que fiquei incumbido de treinar e cuidar de você, eu não tive mais tempo para essas coisas simples.

— Mestre, eu estava pensando, esse império está mais complicado do que de costume, não seria melhor nós nos apresentarmos para o rei?

— Não sei se ele vai querer receber um jovem aventureiro.

— Nas histórias e nos estudos, fala do “Império de Cristal” como um todo, mas não detalha sobre a origem dele e desse mal que todos de lá têm.

— Tudo indica que começou com o rei atual. Com o tempo, suas ideias idiotas foram se expandindo para alguns fiéis; acho que “fiel” não é a palavra, eles matariam o Rei na primeira oportunidade para assumir o poder, vivem numa falsidade mútua.

— Triste saber que existem seres agindo dessa forma. Qual é o nome desse Rei mesmo?

— Xarles Nilked!



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