Volume 1

Capítulo 16: Linhagem de Ivo e Adéa

Todos voltam para o convés, onde são abordados pela tripulação.

— Vocês atrasaram a pintura, precisamos disso pronto, pois somos punidos por trabalhos não feitos ou até malfeitos.

Todos ficam envergonhados e ajudam a tripulação a pintar. Com o tempo melhorando, o sol ajudou na secagem das roupas e da pintura.

Depois de todo trabalho feito e todos tranquilos, decidem dar uma descansada até a noite chegar, vão para os seus dormitórios e descansam.

A tripulação prepara um banquete, pois não tinham almoçado. Já com o pôr do sol e todos já acordados e descansados, o grupo se reúne na cabine das mesas, que estão fartas de comida e bebida, porco, galinha, vegetais, frutas, pães, vinho, água, suco, entre outros itens para que todos se sirvam.

Baltazar, no lugar de um prato, pega uma bacia de fruta, a esvazia e enche de carne. Anirak e Houri pegam coisas mais leves, e os outros pegam coisas variadas. Todos comem tranquilamente, estão bem-humorados e felizes, oferecendo-se bebida, comida, fazendo favor de pegar um para o outro, como se fossem uma família.

A tripulação admira o grupo, que come junto com eles. Terminando de comer, todos ajudam a tripulação a arrumar as coisas. Anirak e Houri seguem para a cozinha para ajudar mais.

Maxmilliam e Onurb ficam sentados para conversar, e Ray e Baltazar sobem para levar comida para o capitão.

— Que dia legal! Foi bom ter chamado Anirak, Onurb e você, Baltazar.

— Verdade! Eu falei que esta está sendo uma boa viagem.

— Mas temo por não ser sempre assim.

— Isso é em tudo, Ray, até no mar você terá dias calmos e dias de águas furiosas.

Ray e Baltazar seguem para o leme, entregam um prato com bastante comida para o capitão, e Baltazar fala:

— Deixe o leme comigo, capitão, pode comer e ir descansar um pouco, eu fico com o turno desta noite.

— Obrigado! Então vou aproveitar e comer no meu dormitório.

O capitão desce e entra no barco, indo para o seu dormitório. Ray questiona Baltazar:

— Eu li sobre “Grandes Guerreiros Náuticos” que podem manipular as marés, semear ventos e até tranquilizar furacões e tempestades.

— Mitos, Ray, nós não conjuramos magias, somos só resistentes a elas, na verdade pedimos à natureza que nos ajude, é uma fé, como a fé que temos em Deus.

— Interessante, mas funciona?

— Sim, quando se tem fé qualquer coisa é possível. Para nós que somos amantes das águas e sabemos como ela age, dando-nos mais vantagem sobre ela, a natureza dá mais vantagem, entendeu?

— Entendi. Estamos com um pouco de pressa, será que você não consegue melhorar a velocidade do barco?

— Posso tentar.

Baltazar segura firme no timão e se concentra. Após alguns segundos, Ray consegue sentir o vento ficar mais forte. Baltazar segura mais firme no timão, fazendo um som de madeira rangendo como se estivesse quebrando, e depois solta um urro como se gritasse para os céus.

As águas do rio se agitam, a velocidade do vento aumenta, pegando direto nas velas do barco. Todos ouvem o urro, e a tripulação se amedronta. Onurb desconhece essa técnica, Anirak não demonstra reação, Houri ri, Maxmilliam admira, e Ray, vendo as velas cheias como se fossem balões, se impressiona e admira a conexão que Baltazar tem com a natureza e o poder da fé. Baltazar se orgulha de ter sido ouvido e diz:

— Faz tempo que não faço isso, como é bom voltar à ação.

— Incrível, nossa velocidade aumentou.

Os tripulantes do convés que arrumam as velas questionam Ray:

— Mas o que foi isso?

— Não se preocupem, é só a natureza nos ajudando.

— Mas ele gritou, está tudo bem?

Ray ri e responde:

— Está tudo bem, sim, só cuide bem das velas para que elas aguentem firme.

— Sem problema.

Ray olha a paisagem e vê como é belo o mundo, enquanto Baltazar guia o barco que navega em uma ótima velocidade. A noite passa com todos descansando, menos Ray e Baltazar, que ficaram animados com a situação. Antes que amanhecesse, Baltazar aponta para frente e diz para Ray:

— Ali! Ray, ali é o nosso destino.

— Ótimo, chegaremos a tempo para tomar café.

Após um tempo, eles chegam a um pequeno porto improvisado de madeira dentro de um forte com um palacete no centro, barracas ao redor, cercado com um muro de madeira e pedra, mesmo material usado para fazer o palacete.

Há algumas barracas, algumas torres de vigia, um estábulo e um casarão que parece ser um dormitório para os soldados. Ray analisa o local enquanto o barco se aproxima e vê pessoas feridas, mas sendo atendidas por guardas, e algumas com trajes comuns.

Um dos muros está destruído como se tivessem sofrido um ataque recente, dava para ver pessoas e guardas de Coniuro rondando e guardando o local. Logo o barco chega ao porto. Baltazar se prepara para desembarcar.

A tripulação entra para avisar aos outros, e Ray desembarca primeiro. Ao longe, ele vê algumas pessoas se aproximando para recebê-los, entre elas um personagem de boa aparência se destaca.

De estatura média, belos cabelos longos, olhos claros, uma bela feição sorridente, trajes de ótima qualidade, manto, sapatos de couro, calça, bracelete na mão esquerda e um cajado simples na mão direita, porte de alguém da alta sociedade e nível auxiliar de guerra como estrategista ou político. Ele se aproxima de Ray e o cumprimenta com uma bela e doce voz.

— Que belo guerreiro… Chegaram na hora.

— Mas, pelo visto, acho que chegamos tarde.

— Não se preocupe, já cuidamos disso, aliás, eu sou Geiko Kabuki.

— Muito prazer, eu sou Ray Blok W.

Onurb aparece e cumprimenta Ray.

— Finalmente chegamos! Bom trabalho, Ray…

Onurb sussurra para Ray:

— Que bela moça você encontrou, me apresente!

— Desculpe! Geiko, este é Onurb, um dos meus amigos que me acompanha.

— Prazer em conhecê-lo.

— O prazer é todo meu.

Logo Anirak desembarca e cumprimenta Geiko.

— Quanto tempo, Geiko, você está bem?

— Estou, sim. É ótimo ver você, Anirak.

Anirak abraça Geiko e continua falando:

— Sua irmã logo sai.

Ray e Onurb ficam espantados, olham um para o outro, e Ray questiona Geiko:

— Irmã?

— Sim, Houri Kabuki é minha irmã.

Houri aparece e corre, abraçando seu irmão. Anirak se aproxima de Ray e Onurb, sussurrando:

— Incrível como alguns da linhagem de Ivo são tão parecidos com mulher.

Onurb fica sério e responde:

— Mulher? Para mim é claro que é um homem.

— Sei… Um homem com traços femininos?

— Que traços? Você não tem olhos que veem detalhes.

Ray ri e volta a cumprimentar Geiko.

— Prazer em conhecer você! Sua irmã falou muito de você.

— Obrigado… Vocês devem estar cansados, vamos indo.

Houri e Geiko vão em direção ao palacete no meio do forte. Anirak, já com seus pertences, os segue. Baltazar desembarca junto com a tripulação, que vão para uma barraca de mantimentos e armas. Ray e Onurb continuam no porto conversando.

— Como é parecido… É até bonito.

— Você está louco, Ray?

— O quê? Você não achou?

— Eu não acho homem bonito.

— Mas…

— Mas nada! Simplesmente é um homem da linhagem de Ivo igual à irmã… Eu vou voltar para pegar minhas coisas.

Onurb dá as costas para Ray e entra no barco, enquanto Maxmilliam desce com os seus pertences e com os de Ray em uma das mãos.

— Não precisa de suas coisas, Ray?

— Preciso, sim! Obrigado, mestre… Linhagem de Ivo e Adéa, quem os criou?

— Ray, a origem da vida veio do Senhor dos mundos, Deus, quem mais seria?

— Sim, mas e as outras raças não foram os Electi?

— Ray, se eles conseguiram gerar vida, então Deus permitiu, simples assim. Veja bem, se a vida que já existe pode ser estendida por medicação e magia porque Deus permitiu isso, por que gerar novas vidas seria diferente?

— Entendi, não tinha visto por esse ângulo… É que achei estranho.

— E Geiko está usando roupas masculinas, só o biótipo dele que é feminino, ele nasceu assim. Se ele estivesse com roupas femininas, você acharia melhor?

— Não…

— Coisas novas sempre parecem estranhas, Ray. Para saber se é bom ou não, é só refletir sobre o “novo”, novo que eu digo é novo para você, pois isso já existe há muitos anos… Se eles são felizes assim, quem somos nós para saber como as outras pessoas devem ser felizes? Se Deus não quisesse diversidade, teria feito todos como “clones”, como os animais, todo tucano é igual, por exemplo.

— Sim, entendi… E o que precisamos fazer aqui?

— Ver se eles precisam de ajuda, pois este forte foi feito para receber refugiados do Império de Cristal.

— Por que estão fugindo?

— Os súditos também sofrem com a tirania do império, alguns vivem escondidos, mas são descobertos.

— Sim, ouvi falar sobre o preconceito dele, ele é contra a diversidade e mata ou pune todos que são diferentes do que ele acha “certo”.

— Sim, infelizmente… Então vamos descobrir o que eles precisam e prosseguir.

— Certo, vamos.

Maxmilliam e Ray vão para o palacete. Antes de chegar, são alcançados por Baltazar.

— Está tudo certo por aqui? O que faremos agora?

Maxmilliam responde:

— Já trouxemos Houri em segurança, agora vamos ver se eles precisam de algo a mais, depois continuamos… Aqui encontraremos nosso último integrante para seguir a missão.

— Certo.

Baltazar, Ray e Maxmilliam adentram no forte, chegando até o palacete, e atravessam por um grande portão de madeira. Dentro, o lugar está todo iluminado com o sol fraco da manhã. Há uma grande mesa, cadeiras, uma escada que leva para os outros andares, que dá acesso aos quartos, cozinha, salas e sacadas em que há guerreiros de guarda.

Já na mesa estão Onurb, Anirak, Geiko, Houri e outros guardas de patente alta. Maxmilliam e Baltazar sentam, e Ray, antes de sentar, questiona Onurb:

— Já está aqui?

— Você e seu mestre estavam conversando e nem me viram passar.

Ray senta. Geiko apresenta o local.

— Bem-vindos ao Forte de Coniuro. Estamos há semanas recebendo refugiados, aqui tratamos deles e os encaminhamos para reinos aliados para que se estabeleçam lá…

— Me desculpe interromper, mas por que eles estão fugindo?

— Ray… o Império de Cristal está tendo problemas, além dos que já tinha… Algumas pessoas estão lutando contra a tirania e acabam mortas… Com isso, a família é condenada à morte também, e para não morrerem eles fogem. Os que não têm família nem amigos atacam o Império e inocentes. Em outras palavras, está um caos, piorando cada vez mais. Que bom que vocês estão em grupo.

Maxmilliam, preocupado, questiona Geiko:

— Mas em grupo não piora nossas chances?

— Eu acho que não, eles estão com vários problemas por todo o império, vocês podem dizer que estão ajudando o império contra os incidentes.

— Entendo… Aqui encontraríamos nosso último integrante, sabe onde ele está?

— Desculpe, não estou sabendo de nada.

— Então ainda não chegou, devemos aguardar.

— Fiquem à vontade para aguardar.

Todos agradecem, e em seguida são servidos com vários tipos de pães, leite fresco e frutas. Todos comem, ainda demonstrando sinais de sono por terem acordado mais cedo do que o normal com a chegada ao forte.

Ao terminar de comer, Houri levanta e oferece para o grupo:

— Não devem ter descansado o suficiente; se quiserem, os primeiros quartos do primeiro andar estão disponíveis.

Anirak agradece.

— Obrigada, vou precisar de um tempo.

Baltazar, Anirak, Onurb, Maxmilliam e Ray vão para os quartos e se acomodam. São quartos pequenos, próprios para curta estadia. Descansam por poucas horas, e em seguida Ray é acordado por Maxmilliam, que bate à sua porta.

— Vamos, Ray, acorde!

Ray resmunga, revirando na cama, e questiona seu mestre:

— Mas o que foi?

— Geiko tem um laboratório, ótimo para lembrar-se de seu treinamento.

— Certo, já vou.

— Vou esperar você ao lado de fora.

— Certo.

Ray levanta, faz sua higienização, necessidades básicas, troca de roupa e sai do seu quarto, descendo para o salão principal, onde comeu mais cedo.

Lá, ele avista Anirak, Onurb e Houri conversando, os cumprimenta de longe e sai do palacete. Lá fora, Baltazar estava com os guerreiros, conversando e vigiando também.

Geiko rondava com os guerreiros de alta patente, e Maxmilliam, parado em frente ao palacete, esperava Ray.

— Finalmente, garoto.

— Mais treinamento? Achei que não treinaria mais.

— Não é exatamente um treinamento, é uma revisão… Vamos.

Maxmilliam guia Ray pelo campo do forte e entra em uma grande barraca, improvisando um laboratório.

Dentro, é bem arejado e iluminado por ter muitas e grandes janelas. Há uma mesa cheia de itens, entre frascos vazios e cheios de substâncias, pergaminhos, anotações, livros, entre outras coisas.

Maxmilliam senta e pede para Ray:

— Sente-se e tenha muita concentração.

Ray senta, analisa a mesa, e Maxmilliam continua:

— Em Pronuntio não deu para revisar o que você aprendeu sobre magia, e este laboratório vai ajudar, aqui tem alguns pergaminhos que Geiko disse que não irá utilizar, eles contêm magia, quero que você os ative.

— Certo.



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