Volume 1

Capítulo 14: Alfor e coleção Electi III

Ray se sente confortável e honrado pela declaração e agradece:

— Obrigado.

— Eu é que agradeço por esta aventura a que você está destinado, para mim é uma honra, já fiz muitas coisas não tão boas, e agora posso fazer algo grande para um grupo grande de pessoas de bem.

— Isso é importante… Percebi que você anda sempre armado e que aposta tudo no seu machado.

— É claro… Ray, a honra de um guerreiro está em sua alma e seu poder está em sua arma; se você não confiar em sua arma que você mesmo empunha e maneja, você perderá a luta.

— Interessante, se eu resolver me esquivar em vez de aparar um golpe, não confiando na capacidade da minha arma, pode ser fatal.

— Exatamente! E digo mais, ao mesmo tempo você não confiará em si mesmo, mas você já demonstrou muita capacidade, vejo que você tem um grande talento, tem o dom.

— Obrigado.

Baltazar ri e pede:

— Pare de agradecer por tudo, Ray, intimide todos ao seu redor, tem que demonstrar força acima de tudo, gentileza em excesso não é bom.

— Acho que não vou conseguir.

Ray fica envergonhado, e Baltazar, rindo novamente, continua:

— Verdade, não é seu estilo, você é um bom homem, Ray. Só demonstre mais confiança, pois você pode fazer muitas coisas.

— Obrigado… Está tarde, eu vou dormir.

— Verdade. Vou descansar também. Boa noite, Ray.

— Boa noite.

Ray levanta, cumprimenta a tripulação, que já tinha terminado de comer e já estava arrumando as coisas, segue para os dormitórios e se depara com um dormitório parecido com o do barco que o levou para Coniuro, só um pouco mais aconchegante.

Ray deita na cama, se cobre e pensa em tudo que viu e ouviu no dia, analisando o que poderia encontrar e já imaginando como evitar algumas situações perigosas caso fossem coagidos no Império de Cristal.

Nesses pensamentos, ele se preocupa, se anima, se empolga e lembra que fez novos amigos e que estão com ele para o que der e vier, o que lhe dá mais moral para seguir em frente e enfrentar o que aparecer.

Ele lembra também de seus amigos, torce para achar mais informações que leve a eles vivos. Ray fecha os olhos e aos poucos vai adormecendo até cair no sono.

A noite esfria mais, mas continua tranquila, todos conseguem dormir. O rio fica com uma correnteza mais lenta do que o normal, atrasando o grupo. Passando a noite tranquila, o sol nasce lindo, céu limpo, a temperatura aumenta, os ventos se acalmam, e o rio se acalma mais ainda.

A tripulação sempre acorda mais cedo para arrumar tudo para os viajantes, em seguida os outros vão acordando um a um e indo comer. Conversam, comem e depois se espalham pelo barco para aproveitar a viagem ou ajudar a tripulação em algo.

Nesse tempo, Ray já estava acordado, mas ficou na cama pensando em como sua vida está mudando tão rápido, mais amigos, perigos, lugares e pessoas novas. Ele pega o diário e procura mais sobre a coleção Electi, “heróis”, “anti-heróis”, e atualiza-o escrevendo as informações que Anirak e Maxmilliam falaram no dia anterior.

Ray passa a manhã e o início da tarde nisso. Chegando o meio da tarde, ele termina de atualizar o diário e de lê-lo, vendo informações de mais alguns itens Zordrak.

— Bispo: Uma espada com cabo branco, três diamantes representando os três primeiros Electi, lâmina reta com uma escrita na vertical: “Entre os céus, terras e oceanos não existirá nada acima do Criador”.

Ray fica admirado por ser uma arma que homenageia Deus e os Seus primeiros filhos.

— Chave Mestra: Uma chave maior do que uma normal, argola redonda e encantada para parecer que está enferrujada. Essa chave é o artefato mais antigo, por ter sido feita e pertencido a um dos três primeiros Electi. Ela tem o poder de abrir qualquer sistema de fechadura e tranca.

Ray acha esta perigosa em mãos erradas e continua:

— Zodíaco: Uma espada feita pelos humanos com o material Zordrak e evoluída pelo segundo círculo de Electi, talvez sendo a arma mais poderosa já criada. Foi dignada ao mais honroso e poderoso guerreiro que esteve na Guerra D.

Ray levanta, guarda o diário, sai de seu dormitório e pede para um ajudante:

— Tem como eu pegar alguma fruta?

— É claro, siga-me.

Ray segue o ajudante para um tipo de despensa com comidas e frutos. O jovem pega algumas e agradece.

— Muito obrigado, fiquei muito tempo no meu quarto e perdi o horário de comer.

— Não foi nada, seus amigos estão no convés. Se me der licença.

— É claro.

Ray percebe que perdeu o almoço também. Mesmo assim, não sentia muita fome, se satisfez com as frutas.

Segue para o convés, que estranhamente estava muito tranquilo, e fica feliz ao ver um belo dia com sol, algumas nuvens no céu, boa temperatura e seus amigos interagindo entre si, Anirak conversando com Onurb na proa, Maxmilliam bebendo e rindo com Baltazar em um dos lados do barco, a tripulação tranquila fazendo seus afazeres e Houri no outro lado do barco quieta. Ray se aproxima dela e, com lamento, diz:

— Me desculpe…

— Pelo que, Ray?

— Ontem, quando falei sobre o império, senti que deve ter lembrado algo desconfortável.

— Não foi nada, Ray, não é costume encontrar pessoas da linhagem de Adéa, e o que o império faz hoje em dia com pessoas iguais a mim não é mais segredo.

— Entendo. Meu mestre falou sobre pessoas que optam por não reproduzir e viver mais íntimas com…

— Desculpa, Ray, mas não é uma opção, nascemos assim, alguns com aspectos diferentes, porém somos como qualquer outra pessoa. Não querendo me gabar, mas somos até melhor do que outras pessoas que se intitulam normais… Só porque você gosta de verdura e eu de carne não significa que eu seja inferior, concorda?

— Concordo… Meu mestre agradece por não ter nascido dessa linhagem, mas também agradece por existir essa diversidade. Ele dizia para mim que se todos reproduzissem o mundo acabaria, pois os seres acham que são inteligentes, e na verdade não passam de animais, como qualquer outra criatura viva e em quantidade excessiva causa problema.

— Verdade. Da mesma forma que uma proliferação de um bicho se tona uma praga, os humanos, por exemplo, não fogem disso.

Ray ri:

— Me senti um ignorante agora.

Houri ri também, mas o conforta:

— Não, Ray, muitas pessoas são desinformadas, você só é um ignorante quando não aceita o óbvio que está bem na sua frente e quando não quer entender algo “novo”.

— Para uma guardiã, você tem bons pensamentos.

— Obrigada, mas o Criador fez o mundo tão belo e perfeito, não sei por que muitos tentam limitar a felicidade dizendo o que é bom e o que é ruim… Se for bom para você, sua saúde, moral, entre outras coisas, por que seria algo ruim?

— Verdade. Seu irmão também é da origem?

— Sim…

— Então ele tem aspectos femininos?

— Sim…

Ray fica um pouco desconfortável em imaginar o irmão de Houri, e ela informa:

— Ray! Nem todos dessa origem têm aspectos assim como eu e meu irmão. Baltazar, por exemplo, poderia ser um sem ao menos você saber.

Ray olha ao longe Baltazar e fica mais espantado.

Houri ri alto.

— Ray, não é algo como magia, que você terá que fazer algo contra sua vontade ou acreditar em algo que não existe. Se for da linhagem, você sentirá normal, pois somos normais, só temos rituais íntimos diferentes dos outros, pense numa “dança do acasalamento” diferente.

— Entendi… Fico mais tranquilo agora.

— Tanto é que quem é da linhagem sente outro por perto.

— Ouvi falar sobre isso, um dos meus amigos é.

— Legal! Um dos que você está buscando?

— Sim.

— Ray, eu não quero te dar falsas esperanças, mas meu irmão tem um sentido alto, ele registra quando sente outros da nossa linhagem por perto, pois tem alguns escondidos no império. Pode ser que ele tenha sentido seu amigo, se ele passou por esses arredores meu irmão deve ter algo anotado.

— Perfeito, seria de grande ajuda. Pena que eu não sou assim, para localizar meu amigo. Como eu não sou, não saberei diferenciar alguém que seja, estou certo?

Houri ri:

— Certo! Esta é a primeira vez que vejo alguém desejar ser um Ivo para ajudar um amigo.

— Qual é o problema, não seria algo normal?

Os dois riem. Houri diz:

— Verdade, você está certo… Pena que ninguém do seu grupo é, pois seria de grande ajuda esse “radar” no Grande Continente.

— Você consegue saber? Ninguém deste barco é?

— Não, ninguém, só eu.

— Então são raros mesmo.

— Sim, mas muitos acham que “nós” vamos dominar o mundo e acabar com a reprodução.

— É por isso esse ódio contra vocês?

— Sim, sendo que é impossível todo mundo ser assim. Como falei para você, são pessoas que gostam de se limitar e por isso tentam limitar a vida dos outros, cada um tem sua vida, honre-a cuidando só do que lhe é pedido.

— Verdade…

— Mudando um pouco de assunto, eu ouvi um pouco do assunto que você estava falando ontem.

— Sobre a coleção?

— Isso… Eu acho muito legais essas histórias.

— Eu li sobre mais algumas hoje mais cedo.

— E quais seriam?

— Bispo, Chave Mestra e Zodíaco.

— Conheço essas. Bispo foi uma boa espada feita em homenagem ao nosso Criador, ela foi dada a um poderoso guerreiro de fé.

— Sim, quando estudava em Pronuntio li sobre esse grande guerreiro que levou vários para a sua causa, seguidores dele e do Criador.

— Bom, uma história de motivação, mas não existe há muito tempo.

— Como assim?

— Esse “Grande Guerreiro de Fé” mudou de lado… Ele segue o Império de Cristal.

— Anirak me falou sobre o império, mas não o mencionou.

— Dhallcio seguiu uma crença oculta que existe no Império de Cristal.

— Mas a Bispo é uma homenagem ao nosso Criador, tem até uma inscrição nela…

— Uma inscrição violada… Ele mesmo riscou.

— Não acredito! Sério?

— Dhallcio assumiu uma nova crença, indo contra a do Criador, e como prova riscou a escrita da espada Bispo, ironicamente indo contra a própria inscrição que levava consigo.

— Triste…

— Muito… São essas pessoas que eu digo, Ray, mas tem outras que aceitam pessoas como Dhallcio no lugar de um “Ivo”.

— Realmente…

— Não que todos da minha origem sejam bons, tem pessoas más entre “nós” também… Mas, continuando, tem a Chave Mestra…

— Isso, li sobre ela, incrível você conseguir abrir qualquer porta.

— Sim, mas eu ouvi falar que ela pode ser usada para “abrir segredos” de pessoas.

— Incrível! Confesso que isso daria medo.

— Sim.

— Lembro que Úrsula tem uma chave mestra para abrir qualquer porta do castelo, para que não ande com muitas chaves.

— Isso, os guardas e empregados possuem chaves de áreas comuns, mas para o proprietário, a chave mestra, porém esse artefato é “A Chave Mestra”, que pode abrir qualquer porta do mundo.

— Como outros itens Zordrak, a Chave Mestra é poderosa, quem será que a possui?

— Não sei lhe dizer, Alfor já a teve em mãos, mas não tem registro para quem ele deu.

— Espero que não esteja com o “império”.

— Verdade! Seria muito perigoso.

— E a espada Zodíaco?

— Registros dela foram destruídos, dizem que foi para um guerreiro na antiga guerra.

— Será que ele ainda é vivo?

— Não sei, Ray, desculpe.

— Sem problema. Estou no começo da missão e já adquiri muito conhecimento, até terminá-la saberei de muita coisa e adquirirei muita experiência.

— Muito bom, Ray. Eu preciso ajudar o capitão na navegação, ele precisa descansar, estou revezando com ele. Mas, já que você quer adquirir experiência, eu recomendo falar com Anirak, ela sabe de teorias ótimas sobre outras classes e lutas.

— Entendi, obrigado.

— Disponha.

Houri vai para o leme e assume a direção do barco, deixando o capitão livre para descansar, pois ele retornará ao comando à noite.



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