Volume 1

Capítulo 13: Alfor e coleção Electi II

— Se você disse que todos os Octoniões são Praeteritum, então ela também é?

— Sim, uma Praeteritum viva e assumida.

— Assumida?

— Sim, tem mais deles vivos, mas eles se escondem… Esse cargo traz problemas.

— E as moedas?

— O Primogênito fez dezoito moedas e dividiu entre os Electi do Zodíaco. O Electi da Balança apostou ser mais forte do que os outros onze e ganhou um a um, e, como prêmio, ele pegava a moeda. Ele conquistou as dezoito moedas e nomeou-as de Libra, a moeda mais valiosa do mundo.

— Dezoito? Foi bastante… Esse libriano era poderoso.

— Sim, mas hoje é raro saber quem as possui, elas têm elementos mágicos poderosos, dizem que elas têm a essência da força mais poderosa de Arbidabliu, e quem as tiver não vai contar para ninguém.

— Você sabe de alguém que tenha?

— Tenho suspeitas, mas não tenho certeza para onde elas foram depois do libriano. Alfor terminou sua coleção, ele deve ter ficado com mais de uma, julgo que tenha ficado com três, pois ele queria ter três filhos para herdar seus pertences. Ele deve ter dado para os Octoniões também, pois faziam parte do mesmo grupo e eram melhores amigos. Em seguida, Onirdnaxela…

— O Iluminado?

— Sim, o conheceu?

— Ele é mestre do meu mestre.

— Ótimo. “O Iluminado” também foi mestre dos Octoniões… Terminando, houve alguns líderes do Grande Continente que foram presenteados com essas moedas, e o Império de Cristal deve ter algumas em seu poder.

— E Aquarium? Achei-a interessante, ela não faz parte da coleção de Alfor?

— Ela não é uma Zordrak, mas faz parte da coleção de Alfor.

— Ouvi Nycollas dizer uma vez que ela é uma chave.

— Chave?

— Sim, mas nunca vi a usarem para abrir algo.

— Interessante.

— Sim, muito! “A Relíquia” você deve conhecer.

— Relíquia?

— Isso, feita pelos três primeiros Electi, “a Relíquia”.

— Sim, Relíquia de um Sangue Espirituoso, feita para salvar o mundo de ser tomado pelo mal e morrer… Hoje em dia seria de grande ajuda.

— Verdade, mas o mal está concentrado no Império de Cristal, existe algo lá que está atrapalhando tudo… Falando neles, o Império de Cristal tem poderosos artefatos e guerreiros em seu poder.

— Soube pouco do império também, depois que destruíram a universidade não tive onde estudar História.

— Não entendi.

— Eu iria estudar Artes, História, Cultura, entre outras coisas, na universidade, pois lá foi levado todo o conhecimento do mundo, mas ela foi destruída quando eu era pequeno, nunca tive o prazer de conhecê-la.

— Entendi. O império fez isso, pois ele teme conhecimento, quanto menos souberem dele e do que tem ou pode fazer, melhor para ele.

— Mas ele não é um humano comum? O que ele tem de tão especial?

Maxmilliam aparece sem ser visto, assustando Anirak e Ray e respondendo à pergunta.

— Cristal corrompido…

— Mestre?! Você me assustou.

— Dei uma volta pelo barco para ver se estava tudo bem, chequei a rota, que está sendo supervisionada por Houri e Baltazar, e vi vocês dois aqui, aparentando um assunto longo e interessante.

— Sim, Anirak está me falando da coleção Electi, as armas Zordrak.

— Eu ouvi uma parte, e respondi à sua pergunta, sobre o que tornou o Império de Cristal tão poderoso.

— Cristal corrompido?

— Sim, o castelo foi construído numa antiga fábrica de vidro que foi aperfeiçoada por magia. O rei do Império de Cristal conseguiu de herança de seu pai e corrompeu o cristal na sua etapa final, fazendo-o ganhar características únicas: ele absolve magia, calor, é leve e, o mais importante, indestrutível, até hoje não há relatos de alguém que tenha conseguido quebrar o cristal corrompido.

— Ele fabrica, molda e corrompe para manter a forma?

— Isso, fazendo ser um material fácil de fazer e manusear, e na etapa final ele o transforma, assim ele conseguiu ganhar muito poder com isso, intimidando pequenos reinos. Armas foram forjadas para seus comandantes para torná-los invencíveis.

— Mas se o império é tão ruim, como conseguiu essa arte e como ele tem tantos seguidores e os melhores em seu comando?

Anirak responde:

— Difícil explicar o pensamento das pessoas totalmente más. Não sou um exemplo de pessoa boa, e nem má, pois já matei muitas pessoas, assassinos, ladrões, para me defender e defender o propósito em que acredito, mas eles seguem algo além da compreensão… Algo que faz sentido para eles.

Maxmilliam continua por Anirak, mas com um tom brabo:

— Sádicos, molestadores, brutos, monstros capazes de matar crianças e pessoas inocentes das formas mais abomináveis possíveis.

— E por que não os impedem?

— Controle, Ray, você já estudou isso. O império tem o maior controle sobre o Grande Continente, só a rainha tenta unir os outros líderes para subjugar com o império, mas sem sucesso, quanto mais tempo passa, mais poder e mais território ele tem.

— Encontraremos algum dos comandantes dele?

— Eu espero que não…

Anirak fala, com tristeza:

— Ian… Brent… Questtis, Ivan…

— Quem são eles?

— São os homens que fazem o trabalho sujo do império, chacinas…

Maxmilliam a interrompe:

— Poupe Ray dos detalhes das mortes, Anirak… Não vamos exceder nas informações.

— Desculpe-me… Ian Nai foi um dos Octoniões, um grande Guerreiro Praeteritum a quem, por tanta honra e habilidade, foram dadas duas espadas Zordrak usadas para exterminar os demônios na antiga guerra.

— Ele foi um dos grandes heróis?

— Sim. Hoje em dia ele é general e o mais poderoso do Império de Cristal.

— Ele mudou de lado?

— Não se sabe… Mas de alguma forma ele sucumbiu a seguir as ordens do império.

— Quantas coisas chatas nesse império, muita coisa oculta.

— Sim.

— Anirak, por favor, eu estou aproveitando esta viagem para buscar informações dos meus amigos, antes de mim teve um grupo com essa mesma missão, eles foram enviados para Libryans também e não chegaram lá. Gostaria de saber se você sabe de algo.

— Amigos?

— Sim. Sabe me dizer se você ouviu algo sobre…

Maxmilliam o interrompe:

— Ray, melhor esperar um momento com todos, assim você não repete a pergunta um a um, algum deles pode ter ouvido algo.

— Certo.

Anirak fica curiosa.

— Mesmo assim, me diga o nome deles.

— Rupert, Doug, Júlio e Meena.

Anirak pensa um pouco, mas os nomes não a lembram de nada.

— Desculpe, Ray, não ouvi falar deles.

— Tudo bem, eu vou ver com Onurb e Baltazar, talvez eles saibam de algo.

Anirak volta a olhar o horizonte e as águas, Maxmilliam se dirige para o leme, e Ray vai em direção a Onurb, que estava em pé encostado a um dos mastros de olhos fechados, como meditação. Ray se aproxima e o cumprimenta:

— Onurb, tudo bem?

Sem resposta, Ray continua, com um tom mais alto:

— Onurb! Você está bem?

Onurb se assusta e reclama:

— Não posso dormir em paz?

— Você estava dormindo? Aqui?

— E por que não? A brisa e o balançar do barco tranquilizam… De qualquer forma, o que você quer?

— Gostaria de saber se você ouviu falar algo sobre Rupert, Doug, Júlio e Meena, eles são o grupo enviado antes de mim.

— São seus amigos?

— Sim.

— Pelos nomes, não me vem nada na cabeça.

Ray demonstra insatisfação, e Maxmilliam fala alto para todos ouvirem:

— Ouçam todos, Ray está buscando informações sobre os amigos dele. Fechem os olhos, que vou fazer vocês visualizarem a imagem deles para saberem como eles são… Ray, eu preciso de sua ajuda, pense em Rupert, Doug, Júlio e Meena, lembre-se do último dia em que você os viu.

Todos fecham os olhos. Ray imagina seus amigos, e Maxmilliam, usando seu cajado e movimentos com a mão, cria uma aura que conecta a mente de Ray com a de todos, fazendo com que vejam como são os seus amigos. Todos ficam pensativos tentando lembrar se já viram algum deles. Onurb comenta:

— Essa joia azul que um desses caras tem, eu já vi.

Ray se anima.

— A Ana. Onde você a viu?

— Ana?

— Sim, é o nome da joia.

— Vocês dão nome a pedras?

— Fala logo, onde você viu?

— Um dos meus ladrões a roubou, mas ela está no clã agora, essa tal “Ana”.

— Roubou? Sabe quando?

— Não sei, menos de um mês, talvez.

— Então eles passaram por Coniuro.

Uma cozinheira se aproxima de Ray e comenta:

— Essa moça, eu a vi há alguns dias, ela estava preocupada com algo.

— Meena? A senhora a conheceu?

— Uma moça muito gentil, ela comprou comida no centro de Coniuro, eu a vi lá.

— Então realmente eles passaram por aqui. Muito obrigado, senhora.

Ray fica pensativo sobre os amigos terem passado por Coniuro, sendo que não estava na rota da missão, e Meena por estar preocupada, indicando algo que deu errado.

— Senhora, uma última coisa, a senhora sabe para onde ela foi depois e o que ela comprou de comida?

— Não sei para onde ela foi depois. Ela pediu comida comum, frutas, pães e leite.

— Obrigado.

— Por nada.

A mulher volta aos seus afazeres. Ray olha para todos esperando mais alguma informação, mas nada, ninguém demonstra saber de mais nada. O garoto faz sinal com a cabeça agradecendo a todos, que voltam aos seus afazeres.

Ray volta para perto de Onurb desanimado. Este balança a cabeça e tenta distraí-lo.

— Não desanime, Ray, estamos no início, ainda vamos conseguir mais informações. Você já ouviu falar do meu clã e da “arte da adaga”?

— Da arte sim, mas do clã, só boatos.

— Certo, mas deixe-me contar um pouco sobre mim e o clã, já que temos tempo.

O resto da tarde passa com Onurb contando sobre sua vida para Ray, os pontos bons do seu clã, a falta de oportunidade e a origem de “ladrões”, sendo uma classe pouco honrosa, mas igualitária, não prejudicando desafortunados e usando o estilo de luta para se defender e fugir.

Ele também menciona técnicas de ladrões e que todos são pessoas rápidas. Ray conta mais detalhes dos seus amigos e de seu treinamento.

Enquanto o tempo passa, Anirak continua tranquila na proa. Baltazar, Houri e Maxmilliam conversam enquanto o barco navega.

A noite chega, e Ray termina de contar sua história e começa a deixar Onurb informado da missão, resumindo tudo que soube por Anirak e Maxmilliam sobre a coleção de Alfor, o Império de Cristal, seus comandantes e o poder que o império tem.

O céu está com algumas nuvens, podendo se ver poucas estrelas e luas, a temperatura cai com o vento frio. O convés já está limpo e arrumado. A tripulação prepara a comida e as cabines para dormir, as tochas são acesas.

Ray termina de contar os detalhes da missão e do império, deixando Onurb um pouco frustrado. Ele começa a gritar para o capitão.

— Voltem! Voltem!

Sem entender, Ray questiona:

— O que houve?

Onurb fica brabo.

— Eu achava que você era louco, mas todos aqui são. Enfrentar todo o império? Como? Vocês querem morrer? Pois eu não quero.

— Calma, Onurb! Não vamos enfrentá-los, só vamos passar por eles.

— É claro! E eles vão deixar a gente passar como antigos amigos de bar… Verdade, o que eles fazem com amigos também? Matam eles!

Anirak se aproxima, preocupada.

— Por que tudo isso?

— Eu digo por quê! O único que eu ouvi falar que não morreu quando enfrentou Brent está eunuco! Hoje ele urina como mulher, e entre isso e morrer, eu prefiro morrer!

Anirak ri. Maxmilliam e Baltazar descem para o convés, e Ray tenta acalmar Onurb.

— Onurb, temos um Mestre de Magia, um Guerreiro Náutico, uma assassina e você! O melhor e mais rápido ladrão…

Anirak estranha:

— Melhor? Rápido?

Ray sussurra:

— Não atrapalha… Onurb é tão furtivo, que pode passar por todo o império, levar os itens mais valiosos deles e sair sem ser notado.

Onurb se acalma e fica um pouco orgulhoso. Maxmilliam olha para Ray e volta para o leme rindo. Baltazar faz o mesmo, mas comentando:

— Esse Ray… Vence batalhas sem usar armas.

Anirak demonstra tédio e vai para as cabines para dormir, enquanto Onurb fala com Ray.

— Certo, entendi, por isso precisam de mim, agora eu entendo a insistência da minha presença… É verdade, que bom que eu aceitei esta missão.

— Isso…

— Não se preocupe, Ray! Você pode confiar, eu vou te ajudar e ensinar como agir em situação de perigo e morte.

Ray demonstra alívio.

— Ótimo, vou gostar de aprimorar minhas habilidades.

— Eu vou dormir, amanhã falamos mais, Ray.

— Dormir? Eu achei que você já iria me ensinar.

— Amanhã. Você é muito doido por conhecimento, tem que ter paciência e um pouco de preguiça, preguiça é bom para todos.

— Mas você não vai comer?

— Eu comi à tarde enquanto você conversava na proa.

— Entendi… Então boa noite.

— Boa noite…

Ray vai para a cabine comer e logo é seguido por Maxmilliam, Baltazar e Houri. No refeitório, a tripulação está dividida em mesas separadas. Todos se servem, e Ray, Maxmilliam, Baltazar e Houri sentam a uma mesa.

Enquanto comem, Baltazar conta suas histórias para Houri. Depois de um tempo, Maxmilliam termina de comer, boceja e fala:

— Estou acostumado a dormir cedo, já vou me deitar, boa noite para vocês, e você, Ray, vê se dorme cedo hoje, você está ficando mal-acostumado e acordando tarde.

— Boa noite, Max.

— Boa noite, mestre. Pode deixar, eu já vou dormir também.

Maxmilliam cumprimenta a tripulação, agradecendo pela comida e desejando uma ótima noite a todos, e segue para seu dormitório.

Ray aproveita a oportunidade e comenta:

— A comida está ótima mesmo… Eu queria falar sobre o império…

Ao mencionar “império”, Houri fica séria e o interrompe, levantando-se da mesa.

— Já vou repousar, amanhã precisamos tentar reduzir o tempo para chegar o quanto antes ao nosso destino… Boa noite.

Baltazar termina de comer o que tinha em seu prato e no de Houri, que deixou um pedaço de carne, toma grandes goles de seu suco e, em um ar de alívio, fala com Ray:

— Não se preocupe, Ray, vivi muito nas águas de Arbidabliu, mas sou ciente do que acontece em terra firme.

— Tem ideia do que há no exército do Império de Cristal?

— Na verdade não, mas nada que meu machado não resolva.

— Meu mestre me orientou a deixar vocês cientes…

— Ray, Ray! Seu mestre conversou comigo, a única coisa que eu tenho que saber é que você está para fazer algo bom para este mundo, e a única coisa que você tem que saber é que se seu obstáculo for maior do que você, eu o cortarei até que fique pequeno e você passe.



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