Volume 1

Capítulo 06: Que se inicie a Missão

No dia seguinte, o sol entra no quarto de Ray pela pequena janela. Ele vira para um lado e para o outro, se espreguiça, afasta a coberta, senta na cama e se veste com um novo conjunto de roupa que tirou de sua mochila. Ao terminar de se arrumar, alguém bate à porta.

— Ray?

Identificando a voz, Ray cumprimenta:

— Bom dia, mestre! Estou aqui, e bem.

— Ótimo. Eu já tomei café, daqui a alguns minutos vão tirar a mesa, sugiro que saia e coma um pouco.

Ray se recorda de que ia tomar café com os artistas e se espanta.

— Nossa, dormi tanto assim? Ainda tem café?

Maxmilliam, com um ar alegre, responde:

— Se seus “irmãos” Monk não acabarem com tudo, sim.

— Mestre… eu preciso ir lá.

Ray corre em direção à cabine do café, esbarrando em alguns passageiros e até em um dos Monk que passava. Chegando ao refeitório, vê que não havia quase ninguém. Na mesa principal, havia frutas, pães, tudo em pouca quantidade, pouca comida, pouca bebida.

Avistou um dos malandros que causou confusão na noite anterior e que agora o olhava de “mau gosto”. Ray está pronto para responder a uma futura provocação deles, mas é chamado à atenção por uma bela voz.

— Ray? Acordou tarde, não?

Ray não tinha reparado que em uma das mesas do canto estava Joara. Ele vai em sua direção e responde, envergonhado:

— Pior que sim, me desculpe.

— Relaxe, acordamos tarde também.

Ao reparar que ela estava sozinha, Ray a questiona:

— E onde estão os outros?

— Estão preparando as coisas para esta tarde, chegaremos à noite em Affectus.

— Entendi.

— Sente-se, Ray, eu fiquei esperando para ver se você tinha mais algumas dúvidas.

Ray senta na cadeira da frente e, olhando pelo canto do olho para os malandros, questiona Joara:

— Você sozinha aqui não foi incomodada?

— Não, seus amigos Monk de ontem sentaram comigo e com meus amigos.

— Entendi.

— Eles comem muito e são engraçados.

Os dois riem, e ela oferece:

— Mas sobraram alguns pães e leite, servido?

— Sim, obrigado.

Ray se serve com o que restava na mesa e continua a conversa.

— Achei muito legal conhecer vocês artistas, nos meus estudos sempre via a presença de “vocês” em conquistas, batalhas, guerras, sempre acompanhando a história e até escrevendo.

— Sim, é verdade, quando nós estudávamos ficamos sabendo de muitas coisas que aconteceram em Arbidabliu, muitos acontecimentos têm a presença de “artistas”, pessoas com alto nível de cultura para auxiliar em tomadas de decisão dos líderes ou até sendo os líderes.

— Incrível mesmo. E vocês terminaram seus estudos?

— Não… é difícil achar lugar hoje em dia que “forme” artistas.

— Lá era o único lugar?

— Sim, de maior proporção. Estamos viajando em todas as ilhas para buscar algum lugar que forme artistas. No Grande Continente, só os que usam armas físicas têm lugar, nossa arma é a arte, nossa ferramenta, nossa inspiração e nossa vida… Muitos não entendem que para nós um bom poema é como uma espada poderosa… Aquela batalha foi terrível…

Joara se entristece, e Ray, ao perceber, se desculpa:

— Desculpe fazer você se lembrar disso.

— Não, não é sua culpa… É que o único local para se aprender tanto era Muigelloc.

Ray também tem uma caída de ânimo ao ouvir o nome, e continua a conversa.

— Sei… a batalha da universidade.

— Sim, a queda dela pelo Império de Cristal.

— Não sabia da importância dela, é uma história que nunca me contam muito.

— Entendo… Eu… Meu grupo nem se conhecia direito, nós nos conhecemos melhor na queda da universidade, pois foi no último dia de luta que alguns estudantes ficaram para ajudar na fuga das crianças, pessoas doentes e debilitadas pela batalha.

Ray termina de comer e fica bem atento à história, sentindo um pouco de tristeza por ouvir falar da morte de inocentes, pois também perdeu seu pai nessa batalha, e fica ansioso para saber mais detalhes sobre ela, podendo descobrir mais coisas sobre a morte de seu pai. Joara continua.

— Nesse último dia, a universidade recebeu reforços de três ilhas: Aeterna, Amici Mei e…

Ray sussurra para si mesmo ao mesmo tempo que Joara fala o nome da sua cidade.

— Pronuntio…

— Mesmo com o reforço, os generais de cada cidade ajudando, tentando pacificar a batalha, o império não hesitou e ordenou que todos que estivessem naquelas terras morressem.

Ray associa que um dos generais poderia ser seu pai e questiona:

— Você viu esses generais? Lutando ou até como morreram?

— Não, eles tentaram pacificar na linha de frente, e ao mesmo tempo pediram para que nós fizéssemos a retirada dos estudantes, como uma distração para salvar quem ainda estava na universidade, mas não ajudou muito, pois fomos perseguidos até por animais do império, ou homens que viravam animais, não sei bem. Foi horrível, um massacre.

Ray lembra-se das raças e menciona:

— Sodam of Smart, criados pelo Electi “Cavalo”, eles podem adquirir vantagens de outra raça e algumas características físicas de algum animal.

— Sim, nunca tinha visto um… Conheci da pior maneira possível. Muitos de nós morreram com esse ataque-surpresa pela floresta, fomos salvos, acredito eu, por um Electi.

— Um Electi salvou vocês? Você o viu?

— Sim e não, na verdade alguma força poderosa apareceu e derrotou os que estavam nos atacando, quase ninguém o viu.

— Mas o que você viu exatamente?

— Eu vi um homem iluminado afastando todos que estavam atacando, ele curou os doentes só com sua presença e lhes deu força para continuarem a correr.

— Iluminado? Mas por que achou que foi um Electi?

— Li muito sobre muita coisa. O que ele fez com pouco esforço não corresponde com outras pessoas ou raças que conheço ou ouvi falar. Ele voltou para ajudar a universidade, mas chegou tarde, o império já tinha matado todos.

Ray e Joara ficam algum tempo em silêncio. Todos os passageiros já tinham deixado o local, e a tripulação já estava limpando tudo.

Ray continua a conversa:

— Acredito que um dos generais que tentaram ajudar a universidade era meu pai.

Joara, com um belo sorriso, o corrige:

— Então seu pai não tentou, ele fez! Se não fosse por homens iguais ao seu pai, eu não estaria aqui hoje, não só eu, como muitos que foram salvos naquela noite, como meus amigos. Como não pude agradecer meus salvadores, agradeço agora o filho de um deles… Qual era o nome dele?

Ray e Joara ficam comovidos com a situação, e ele responde:

— Ynascar W.

— Obrigada. Este será um dos nomes que meu grupo e eu carregaremos e falaremos em todos os lugares, já que nosso papel de artistas é passar a história para o mundo e registrá-la. Quem sabe um dia algum grupo se reúne e constrói uma nova universidade.

— Sim, seria ótimo. Em minha passada pelo Grande Continente verei se há mais pessoas com essa vontade.

Joara alerta:

— Ray, tome cuidado com o que encontra no Grande Continente, você disse que vai para Coniuro, lá é pacífico, mas cheio de ladrões, carregue bem suas coisas.

— Sim, tomarei cuidado, obrigado pela preocupação.

— Não por isso… Ray, eu vou ajudar meu grupo a arrumar as coisas, pois temos um dia corrido pela frente, vamos nos apresentar em várias cidades nas ilhas dos deuses, quem sabe conseguimos dinheiro o suficiente para fundar uma nova universidade.

— Legal. Se isso acontecer, me chame, que eu ajudo no que for preciso.

— É um sonho, mas vamos atrás dele, não? Não saberemos se não tentarmos.

Os dois se levantam, e, com um belo abraço, Joara se despede.

— Muito prazer em conhecê-lo, Ray, até uma próxima vez.

— Até uma próxima vez, foi um prazer conhecê-los.

Joara vai atrás de seu grupo, e Ray volta para seu quarto para arrumar seus pertences, pois já estava perto da hora de desembarcar. No quarto, ele arruma tudo em sua mochila e pega o diário em cujas páginas vazias coloca alguns dados de sua própria história, relatando a reunião que teve com Úrsula, a conversa com os artistas, o que descobriu sobre a batalha da universidade e o melhoramento de sua análise em desconhecidos.

Ray continua escrevendo enquanto anda pelo barco, anda de canto, para não atrapalhar o caminho dos outros. Chega até o convés e guarda o diário em sua mochila. Depara-se com uma bela tarde com poucas nuvens, vento refrescante e um sol radiante e um pouco ardente.

Ao observar o convés, Ray vê os onze Monk, que o cumprimentam de longe, seu mestre armado com seu cajado e com sua bolsa de viagem, preparando-se para desembarcar. Também avista uns artistas conversando com o capitão do barco e uns malandros se preparando para desembarcar. Aproxima-se de seu mestre e o questiona, enquanto o barco chega ao porto da cidade.

— Estamos chegando à cidade, qual é o segundo passo?

— Eu vou ter uma reunião com o rei de Coniuro.

— Legal, vou conhecer o rei da cidade.

— Em outro momento, você não foi convidado para esta reunião.

— Eu farei o que, então?

— Conheça a cidade enquanto fico na reunião, e me espere no hotel no centro; não vai errar, pois só tem um hotel na cidade.

— Vamos perder um dia na cidade?

— Não vamos perder, vou pegar uma identificação com o rei para que nós possamos passar pelo Império de Cristal como se fôssemos simples viajantes e mensageiros. O império é muito rigoroso e pode suspeitar e até entender mal nossas intenções se tivermos identificação de Pronuntio, ele não gosta das ilhas dos Electi.

— Entendi.

— Conheça a cidade sem sair dela. Mesmo sendo tranquila, tenha muito cuidado, há um clã de ladrões oculto ao redor da cidade.

— Certo, não precisa se preocupar.

O barco chega ao porto da cidade, e, ao descerem, Maxmilliam diz, com ânimo, para Ray:

— Bem-vindo a Coniuro!



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