Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 6: Quebra (1)

O silêncio às vezes pode ser ensurdecedor e Leon começou a perceber que escutar apenas barulhos que não podia identificar estava fazendo-o ficar louco. A única coisa que conseguia diferenciar era o chiado da televisão à sua frente, o barulho de sua respiração ofegante e ansiosa, sem contar às vezes que escutava o tremor de carros na rua, o que o deixava com uma pequena esperança de poder sair do local.

Ele sabia que estava em um porão ou algo parecido; o chão abaixo dele era de concreto puro e sua cadeira estava presa a ele. Suas cordas estavam firmes, mas não o suficiente para deixá-lo totalmente imobilizado.

Ele pensou que conseguiria sair em alguns dias, mas percebeu algo quando aquela mulher apareceu na televisão. Ela parecia ajustar a câmera para algo, e Leon percebeu que ela não estava sozinha; havia mais alguém ali, um homem com uma barba rala, mas Leon não conseguia enxergá-lo.

— Ó! Parece que está funcionando! Olá, querido! — Celina olhava para a câmera com um sorriso no rosto, balançando sua mão segurando uma faca. — Pelo que você percebe, eu não estou com você no momento, então isso está ao vivo! E para o show de hoje!

Ela aproximou a luz para o rosto cansado de um homem em sua meia-idade, seu corpo era gordo e tinha a pele suada, utilizava óculos e tinha uma grande entrada em seu cabelo preto curto. Leon não podia imaginar por que o delegado estava lá; ele se desesperou e tentou se agitar, mas não conseguiu gritar. Ele estava amordaçado e a única coisa que saiu de sua boca foi um infeliz gemido.

— Ah! Eu esqueci! Amor, você está sendo transmitido também! Então o delegado pode te ver assim como você pode nos ver! — disse Celina enquanto apontava com a faca para cima. Leon olhou para onde Celina estava apontando e viu uma câmera em cima da televisão, com uma espécie de luz vermelha saindo dela. Confirmado aquilo, ele ficou ainda mais apreensivo sobre o que iria acontecer.

— Então! Vamos começar! Eu trouxe nosso querido delegado aqui para revelar sobre todo o nosso passado! Então senhor delegado, você tem algo a falar? — Ela apontou a faca para a boca do delegado, que apenas ficou em silêncio e com a cabeça baixa.

— Parece que não! Então deixa que eu falo! — Ela puxou uma cadeira e ficou ao lado do delegado com um sorriso no rosto, pegando uma folha de papel do bolso de trás de sua calça jeans.

— Bem, meu pai tinha curiosidade sobre o outro lado, para ser exata, sobre fantasmas e espíritos. Ele, então, com todo o dinheiro que roubou de nosso querido avô, que Deus o tenha! — ela fez o sinal da cruz — começou o projeto Null Platina. O objetivo desse projeto era a criação de fantasmas! Sim, você não ouviu errado, criar fantasmas! Ele queria pegar pessoas vivas e transformá-las em outras coisas, coisas inteligentes, fortes, estáveis e altamente leais!

Ela então se levantou da cadeira e chutou ela.

— Meu pai também era do lado militar, infelizmente, e por isso sua primeira cobaia seria o seu filho, mas papai não teve um filho, o que o deixou nervoso e o levou a mandar sua imprestável filha! — Ela pegou a faca e apontou para a garganta do delegado.

— E aqui entra esse meu querido delegado, um dos soldados que trabalhava naquele inferno, e também um dos que fugiram de lá, como você pode ver aqui mesmo! — Ela rasgou a roupa do delegado, mostrando a tatuagem em seu peito. Leon ficou surpreso e isso desencadeou uma gargalhada de Celina.

— Não se preocupe, tem mais! Os outros canalhas também têm envolvimento: um professor que era líder das pesquisas para o desenvolvimento das crianças intelectualmente, o que também o levou a ser um grande abusador; um cientista que tinha um coração fraco para a violência, mas tinha que fazer o que tinha que ser feito e também deixou o maior fantasma ser liberto; e assim como o soldado foi covarde e fugiu de seu dever de acabar com a praga. Veja, Leon, cada um teve sua culpa nisso tudo, assim como tive a minha quando tentei me libertar daquela prisão, sem saber o que estava fazendo com a praga que iria acontecer.

Celina olhou para baixo e, como a luz não batia diretamente em seu corpo, pareceu que ela havia perdido seu rosto e ficado apenas uma escuridão profunda. Ela olhou para a câmera com um olhar triste, que fez Leon pensar que ela também não era daquele jeito totalmente, mas logo mudou de ideia com o olhar alucinado em sua face.

— Então vamos brincar, Leon! Como nos velhos tempos! Aqui temos uma grande família de mentiras! — Celina apontou para um lugar escuro, mostrando outras pessoas amarradas em cadeiras de metal. O lugar ficou finalmente iluminado, tão brilhante que Leon teve que fechar seus olhos por um momento. Ele pôde ver um grande hangar, e na frente de cada pessoa havia uma faca.

— Aqui temos uma mulher que traiu o marido por ele não estar muito presente em sua casa. — Celina apontou para a mulher que estava chorando e tentando se soltar, olhando desesperadamente para o delegado.

— Aqui temos duas crianças, que, aliás, me lembram alguém, certo Leon? Bem, eles também fazem coisas ruins, como bullying com um amiguinho apenas por ele ter uma cor diferente deles. — Celina apontou para duas crianças brancas, que pareciam idênticas, mudando apenas o sexo de cada uma.

— Certo! O jogo é o seguinte! Quem conseguir escolher para se sacrificar, deve escolher a pessoa certa! Leon será nossa plateia e ele falará se realmente valeu a pena. Então vamos começar!

Todos ficaram em silêncio, enquanto Celina estava tranquilamente sentada em uma mesa com uma garrafa de vinho. O delegado olhou para sua esposa e assim ela olhou para ele, e ele percebeu o que iria acontecer; ele apenas virou o rosto. Celina, que estava fazendo uma cara tranquila, agora ficou curiosa e se levantou.

— Parece que temos um veredito! A esposa escolheu o marido, mas que pena, pensei que ela iria pedir perdão pelos atos que fez. Mas não, ela apenas quis acabar com o mal pela raiz. Bem, parece que essa é a escolha.

Celina suspirou em desesperança e pegou sua faca, a lâmina era dourada e o cabo feito de madeira lustrada. Ela começou a caminhar em direção ao delegado, mas no momento em que chegou a ele, virou-se e foi em direção às crianças e à mulher. Ela ficou de frente para a mulher e sorriu.

— Parece que você escolheu errado. Eu disse que alguém iria morrer e precisavam fazer a escolha, mas ninguém deveria mandar na vida da outra pessoa, apenas a própria pessoa. É uma infelicidade que você escolheu a si mesma.

A mulher estremeceu e tentou se debater, mas Celina já havia preparado o golpe da faca e começou a perfurar a pele do estômago da mulher, que soltou um gemido agudo.

O delegado olhou para a esposa e lágrimas saíram de seus olhos. Celina pegou a faca e retirou do estômago da mulher, e sangue veio junto. Então, segurou a cabeça da mulher e passou a faca em sua garganta, e sangue tomou a sua face. Celina sorriu e olhou para Leon, que tremia em sua cadeira.

Leon não pôde fazer nada e apenas assistiu algo terrível. Ele olhou para o delegado e sentiu um arrepio; ele estava sorrindo calmamente.

— Leon, eu quero pedir desculpas por não conseguir fazer nada, e também por te envolver nisso. Me desculpe por não conseguir te salvar naquele tempo também — disse o delegado enquanto Celina caminhava em sua direção.

— Leon, me perdoe — ele soltou suas últimas palavras.

Celina ficou na frente do delegado, dificultando a visão de Leon. Ele pode ver o sangue saindo do delegado. Leon ficou paralisado; seu coração acelerou e suas extremidades começaram a tremer. Seu pulmão não conseguia sentir o ar entrando. E naquele momento de desespero, a televisão se apagou e Leon pode sentir alguém em sua orelha esquerda. Ele ouviu a respiração empolgada de alguém, e logo ele sentiu algo o beijar.

— Parece que surtiu algum efeito, hein?

O corpo de Leon arrepiou e ele olhou para o lado, onde Celina saía das sombras, arrastando uma cadeira junto dela. Ela se aproximou de Leon e o beijou logo saindo da sala.



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