Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 34: Impostura.

Aidan não conseguia respirar direito; seu peito apertava ao sentir o sangue correr rapidamente pelas veias. Ele observou o momento, analisou tudo: Camélia estava no chão, machucada e desmaiada; seu irmão Augusto, de pé, empunhava uma espada. Em sua frente, várias pessoas que Aidan reconhecia. Agatha segurava uma pistola; à esquerda dela estava o doutor da praga, e à direita, o caçador.

Ele parou de respirar por um momento para dizer palavras que não sabia se conseguiria pronunciar.

— O que você está fazendo aqui, Agatha! — gritou Aidan, surpreendendo a todos.

Augusto olhou para o estado de Aidan e respirou fundo. Ele havia resistido até aquele momento, mas com Camélia caída, não conseguiria lutar e protegê-la ao mesmo tempo. Por isso, ele teve que reagir rapidamente. Apenas Aidan poderia cuidar de um deles.

— Aidan, pegue Camélia e saia daqui. Se vocês puderem chegar à ilha dos comerciantes, conseguirão sobreviver — disse Augusto, enquanto segurava firmemente sua espada.

Aidan olhou para a princesa, que exibia apenas um olhar neutro. Ele não conseguia entender o que ela pensava, e então começou a ouvir vozes em sua mente:

— Ela o traiu. O que você acha que aconteceu?

— Mate-a! Ela traiu você e vai te matar!

— O que mais você pode fazer? O que eu posso fazer?

Aidan balançou a cabeça para tentar afastar as vozes, mas não adiantou. Contudo, ele conseguiu ouvir a voz de Augusto gritando:

— Acorda, fantasma! Você tem que sair daqui com Camélia!

Aidan piscou e se aproximou de Camélia. Ela tinha apenas um machucado no ombro, nada muito sério. Ele a segurou no colo e começou a sair dali, mas parou por um momento. Aidan olhou para Augusto e viu o nervosismo em seu corpo.

— Muito obrigado por tudo. Você foi um verdadeiro lorde — disse Aidan a Augusto, que apenas sorriu levemente, mas logo ficou sério ao avançar contra o grupo.

Augusto viu Aidan correndo dali. Ele não se importava com a própria vida, mas com a de sua irmã, que era apenas humana e a pessoa que mais importava naquele momento. Ela precisava viver, assim como o cavaleiro que ela escolheu. Augusto foi impedido de se aproximar da princesa pelo doutor, que usou o próprio braço para bloquear o corte. A princesa apenas sorriu com certa malícia no olhar.

— Você não está cansado? Sabe que não poderá fazer nada. O manancial vai explodir e se expandir em breve — disse a princesa.

— Eu não me importo. Sei que aquele homem fará algo a respeito — respondeu Augusto.

O doutor avançou contra Augusto, que cortou seu braço e o arrancou. Mesmo perdendo membros, aquele homem não parava. Parecia mais forte que antes, então Augusto pegou algo do bolso de trás: um frasco vermelho. Ele não queria usar aquilo, mas agora não importava mais. Ele tomou Ourozina e viu seus efeitos começarem.

— Você será um belo experimento, querido lorde Bryville — disse o doutor, enquanto reconectava o braço.

Enquanto Augusto e o doutor lutavam, a princesa estava preocupada com outro problema: agora havia três fantasmas verdadeiros no castelo, Aidan, Emily e Augusto. Ela poderia derrotar Augusto, mas se Emily e Aidan se juntassem, não seriam facilmente vencidos. Isso a levou a tomar uma decisão: precisava separá-los.

— Caçador, vá atrás de Aidan e daquela mulher. Se quiser, pode matá-los — ordenou Agatha.

O homem apenas assentiu e foi na mesma direção de Aidan. O castelo estava sendo atacado por todos os lados, restando apenas alguns lugares seguros para aqueles dois. Pensando assim, o caçador encontrou o local: a parte de trás da mansão, que dava para o grande jardim.

Aidan viu em sua frente aquele caçador que não deveria estar ali. As feridas de Camélia não se curariam como as dele. Aidan teve que tomar uma decisão: enfrentar ou fugir. Ele escolheu lutar. Sua mente não conseguia tomar decisões racionais, ele estava enlouquecido.

— Terei Finalmente a chance de te matar, fantasma — disse o caçador, preparando sua espada longa.

Aidan olhou para aquele homem, seus olhos vidrados nele, e atacou primeiro, mirando nas mãos do caçador para que soltasse a espada. Mas o caçador não deixou isso acontecer; com uma estocada, atravessou o estômago de Aidan. Mesmo assim, Aidan não parou, puxou a espada e socou o rosto do caçador, fazendo-o cair para trás.

Aidan segurou a espada cravada em seu estômago e, com as mãos sangrando pelo fio da lâmina, arrancou o objeto e o jogou para longe. Aidan estava fora de si. O caçador olhou para aquela cena absurda e engoliu em seco. Levantou-se e se preparou para o combate novamente.

Mesmo que o caçador fosse mais forte que Aidan fisicamente, Aidan era mais rápido. Ele conseguia desviar dos golpes e, mesmo que fosse acertado, não sentia dor. Sua mente insana não se preocupava com o dano causado a ele.

— Droga! — disse o caçador, chutando Aidan, que revidou segurando sua perna e golpeando o nariz do caçador com o cotovelo.

— Como pode um ser como você resistir? — perguntou o caçador, confuso.

— Você não sabe, não é? Ouvi dizer que você é obcecado pelo experimento Null Platina, mas não entendo por quê, já que todos estão mortos — disse Aidan, respirando fundo. Seu rosto ensanguentado dava-lhe uma aura diferente.

— O que isso importa? Eu sobrevivi graças aos meus irmãos daquele lugar, mesmo que não fossem de sangue. Ainda viemos do mesmo lugar — respondeu o caçador, recuperando-se do golpe.

— Haha

— Qual é a graça? — perguntou o caçador.

— Nada, é só que eu também sou de Null. Então você também deveria me considerar um irmão — disse Aidan, olhando para os olhos surpresos do caçador.

— Impossível! Como alguém de Null poderia ter matado Celina e também outros irmãos? — disse o caçador, avançando para socar Aidan.

Aidan sentiu-se nostálgico e surpreso ao ouvir aquele nome novamente. Era como um fantasma em sua mente, seu trauma eterno. Isso fez algo na cabeça de Aidan, que repentinamente apagou. Ele apenas podia sentir seus punhos cobertos de sangue. Tudo aconteceu em um instante. O soco do caçador foi muito fraco e a agressividade de Aidan foi tanta que deixou o caçador caído no chão.

Aidan suspirou e olhou para o castelo, que agora estava em chamas. Ele não tinha vontade de encarar aquelas chamas. Olhou para o caçador, que ainda respirava, e sorriu sarcasticamente. Pensou em como a vida era irônica.

— Eu sou Aidan Albrecht. Sou aquele que Celina estava esperando e também aquele de quem ela mais gostou. Tenho certeza de que ela te falou sobre mim. É realmente uma pena estarmos assim.

O caçador não conseguia acreditar naquelas palavras. Ele sabia que Celina havia fugido da organização e até matado alguém de alto escalão para procurar pelo rei dos fantasmas, como ela gostava de dizer, mas nunca pensou que poderia ser aquele homem. O caçador nunca havia ouvido o nome completo de Aidan. Ele pensava que era apenas uma coincidência, mas se aquele homem fosse realmente filho de Albrecht... O caçador sentiu um arrepio e olhou para o semblante de Aidan, que estava totalmente mudado. O caçador finalmente entendeu: Aidan era realmente aquele que Celina estava procurando, um fantasma completo.

— Então você é filho de Albrecht — disse o caçador.

— Sim, eu sou — respondeu Aidan, nocauteando o caçador.

Aidan não tinha tempo a perder com aquele caçador. Pegou o corpo de Camélia e se dirigiu para a saída. O hall principal parecia ter sido abandonado e todas as tropas estavam dentro da mansão, deixando a melhor rota de fuga. Mesmo que Aidan tivesse que derrotar outros soldados, seria fácil, o mesmo valia para sua irmã, que àquela altura poderia estar fora do castelo.

Aidan se apressou e correu o máximo que pôde. Mesmo machucado, ele sentiu o peso da vida de Camélia em suas mãos, e aquilo revirou seu estômago. Mas um movimento inesperado o fez sorrir.

— Onde estamos? — perguntou Camélia.

Aidan a colocou no chão e encarou seus olhos. Camélia retribuiu o olhar e viu que ele estava coberto de sangue e machucado.

— E meu irmão? — perguntou Camélia, com medo na voz.

— Me desculpe, Camélia — respondeu Aidan, olhando para baixo.

Camélia tampou a boca, sentindo que iria vomitar. Ela esqueceu a dor no ombro, mas não o rosto da pessoa que fez tudo aquilo. Aquela visão queimava em sua mente: Agatha atirando nela e em seu irmão com aquele doutor e o caçador. Camélia olhou para Aidan e percebeu que eles estavam fugindo.

— Tudo bem, iremos nos vingar disso. Precisamos sair daqui primeiro — disse Camélia.

Aidan concordou, e assim ela se levantou. Parecia um pouco debilitada, mas isso não importava naquela situação. Eles continuaram pelos corredores cheios de corpos de empregados e soldados mortos até chegarem em frente ao hall principal da mansão.

Aidan olhou para frente e, por um momento, paralisou novamente. Ele estava recebendo muitas surpresas. Via duas pessoas paradas em sua frente: uma mulher e um homem. O homem estava em uma cadeira de rodas; a mulher tinha a pele escura e olhos profundos e azuis. Ambos olharam para Aidan e sorriram. Camélia, vendo a reação de terror de Aidan, deu um passo para trás, assustada.

— Quem são eles, Aidan? — perguntou Camélia.

— Ele é meu irmão e uma amiga — respondeu Aidan com a voz tremendo.

Aidan se aproximou de Victor e Alice com cuidado; ambos pareciam desarmados, o que o deixou um pouco apreensivo.

— O que você está fazendo aqui, Victor? — disse Aidan, enquanto seu rosto se transformava em uma expressão de dor.

— Eu estou aqui por você, irmão. Finalmente, vou acabar com a peça de irmão. Desta vez, eu posso te matar — disse Victor, sorrindo gentilmente.

Aidan cerrou os punhos e gritou para seu antigo irmão:

— Você agora está se divertindo com as vidas das pessoas?

— Quem se divertia com as vidas das pessoas era você, Leon, não, Aidan. Se você não tivesse chegado na minha família, meu pai ainda estaria vivo — disse Victor, estalando os dedos para Alice.

Aidan teve apenas alguns segundos para desviar do ataque da mulher. Ele percebeu algo estranho nela: não havia emoções em seus olhos. Aidan não conseguia ler as emoções de Alice como se ela fosse apenas um boneco.

Isso deixou Aidan com raiva. Como Alice estava usando uma adaga, ele precisava fazer algo a respeito, uma forma de paralisá-la sem a matar. Ele não queria transformar a única pessoa fora daquele mundo em um monstro. Tinha certeza de que ela apenas havia sido influenciada, assim como ele no início de tudo.

Com golpes cada vez mais rápidos, Alice fazia cortes superficiais em Aidan, que se curavam rapidamente, até pararem de se curar. Aidan estava ficando sem forças. Já havia gastado muito da Ourozina em seu corpo, e isso fez com que seu corpo contra-atacasse uma investida de Alice, fazendo-a cair no chão. Aidan não estava mais controlando seu corpo direito. Havia algo de errado com ele.



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