Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 35: Apoteose.

Aidan estava completamente focado na luta; ao seu redor, apenas sombras se moviam. Ele não podia deixar de pensar que tudo o que fez desmoronou em sua frente. Aidan olhava para sua amiga de infância e se perguntava se suas memórias estavam corretas. Ele realmente era amigo dela? Ele não se lembrava de passar tanto tempo perto dela.

Alice utilizava duas adagas em suas mãos e aplicava golpes que Aidan desviava facilmente. Ele não sentia medo, não sentia nada, mas um sorriso apareceu em seu rosto. Seus olhos vidrados em Alice faziam parecer que ele gostava de lutar com ela. Quando finalmente a fez cair no chão novamente, não perdeu a oportunidade e subiu em cima dela.

Alice utilizou suas adagas para perfurar o peito de Aidan, mas nada o parou. Ele continuou a socar o rosto de Alice até ela parar de se mover. Aidan não estava pensando em seu corpo; ele estava pensando em como se livrar daquela situação. O problema era que ele não esperava uma bala atravessar seu coração.

— O quê? — disse Aidan, enquanto vomitava sangue.

Ele olhou ao redor e viu Agatha de pé em sua frente. Ao lado dela estava sua irmã, junto de um rosto que nunca pensou ver novamente: Luis. Ele estava atrás de sua irmã, segurando-a com uma arma apontada. Ao lado do doutor estava Asha, que tremia de medo e ansiedade. Aidan não podia fazer nada; seu coração havia sido atingido, e ele estava fraco. Todas as feridas demoravam demais para se curar.

— Vamos parar com a brincadeira agora, fantasma — disse Agatha em um tom ameaçador.

Alice, que estava perto de Aidan, se levantou e voltou para o lado de Victor. Ela realmente parecia apenas um robô. Aidan olhou para Camélia, que parecia totalmente perturbada. Ele percebeu que o olhar dela estava vidrado em apenas um lugar e, seguindo-o, Aidan viu o corpo de Augusto cortado e desmantelado, faltando um braço e uma perna.

— Aidan, você já está quase morto, e eu tenho a vantagem. Sua irmã não pode fazer nada, já que está fraca por ficar muito tempo dormindo. Camélia é apenas uma humana, e Asha é apenas uma criança. Admita, você já perdeu — disse Agatha, enquanto se aproximava de Aidan, ajoelhado no chão, segurando Asha pelos braços.

— Agatha, por que você está fazendo isso? Eu pensei que você não queria se tornar rainha — disse Aidan, enquanto tossia sangue.

— Sim, eu disse isso, mas parece que você se enganou em algo. Eu não quero o trono, eu quero algo mais ganancioso. Você deve ter visto o manancial, correto? Aquilo é meu verdadeiro plano, e você irá me ajudar com ele. Seu sangue e o sangue dessa criança trarão o manancial fisicamente para este mundo, e isso acabará com essa era das trevas.

Aidan olhou para os olhos de Asha e viu lágrimas caindo. Ele se culpava por aquela criança chorar daquele jeito. Ele não sabia o que fazer, mas o que poderia fazer? Estava totalmente rendido. Tudo que restava era ganhar tempo.

— O que você espera com o manancial vindo para o mundo? — perguntou Aidan, enquanto puxava Asha para os seus braços.

— Eu quero trazer o parto de uma nova era! Você já deve ter percebido como os humanos são ridículos, são fracos! Eu pretendo trazer força, mesmo que isso acabe matando algumas pessoas no processo — disse Agatha, enquanto chamava o doutor para perto.

Aidan segurou Asha em seus braços, e em sua mente, uma voz gritava para ele correr, matar. Ele olhou para trás e viu Camélia olhando para ele, paralisada. Ele então olhou para sua irmã e sorriu. Emily sabia que sorriso era aquele, o que fez ela gritar seu nome e correr para perto dele, mas Luis a segurou.

— Princesa, você poderia, por favor, me dar alguns momentos? — perguntou Aidan, sorrindo gentilmente para Agatha. Ela nunca havia visto aqueles olhos em Aidan.

— Certo, faça o que você quiser — respondeu Agatha.

Aidan olhou nos olhos de Asha e tentou confortá-la, sem sucesso.

— Me desculpe, Asha, parece que não consegui te proteger. Eu acabei também quebrando nossa promessa, irmã — disse Aidan, olhando para Asha e Emily.

Aidan olhou para Camélia e disse: — Lia, eu sei o que você está pensando, mas não tente nada. Você deve viver; era o que seu irmão queria. Mesmo que eu parta agora, saiba que te amo e sempre te amarei — disse Aidan, encarando os olhos cheios de lágrimas de Camélia.

Aidan suspirou, e em sua mente, uma voz conhecida se fez presente, dessa vez mais clara do que nunca.

— Parece que agora é o fim, moleque.

Aidan balançou a cabeça em afirmação. Olhou ao redor e viu o doutor derramando algo no chão, um líquido preto e vermelho, possivelmente parte do manancial. Aquele líquido fez algo com Aidan; parecia chamá-lo, mas ele se recusou a aceitar aquele chamado. Ele segurou Asha e a abraçou, não deixando ela ver aquela atrocidade.

— Princesa, o que irá acontecer agora? — perguntou Aidan, com um semblante sério para Agatha, que sorriu sem qualquer emoção.

— Você irá chamar o manancial e todos dentro deste lugar serão transformados em verdadeiros deuses imortais — disse Agatha.

— HAHA! — Aidan não pôde deixar de gargalhar. — Então parece que vocês estão ferrados! Eu realmente espero que aproveitem essa maldição! — disse Aidan, com um sorriso sinistro no rosto.

Ao mesmo tempo que terminou de falar, sua visão se embaçou. Ele caiu no chão junto ao corpo de Asha. Não sentia seus membros, não sentia nada, mas novamente via aquele mundo cheio de água e, ao mesmo tempo, vazio. Em sua frente, aquele homem que estava acorrentado agora estava solto. A lança em seu peito agora estava no peito de Aidan. Ele entendeu; era um reflexo o tempo todo, e isso o fez sorrir.

— Me diga, você é um dos três irmãos, certo? — perguntou Aidan para o homem que parecia com ele.

— Sim, exatamente, e você foi feito de peão por aquela princesa. Ela preparou seu corpo para aceitar o manancial, assim como aconteceu comigo há muito tempo.

Aidan viu o homem caminhar para perto dele. O mundo ao seu redor aos poucos mudou para apenas escuridão, um vazio completamente preto, deixando apenas um espelho grande em sua frente.

— Então você é o irmão mais velho. Qual é o seu nome mesmo? — perguntou Aidan, enquanto via seu corpo ser tomado por correntes.

— Meu nome era Nue, mas não se preocupe, logo você saberá de tudo, até porque eu me tornarei você — disse Nue.

— O que irá acontecer com o mundo? — perguntou Aidan.

— Você quer ver? — sugeriu Nue, apontando para o espelho.

Aidan olhou para seu reflexo, que rapidamente mudou e mostrou algo diferente. Ele estava naquele castelo novamente, via Camélia se apoiando em Emily, enquanto o chão daquele lugar se quebrava e um líquido se formava.

Aidan podia ver todos naquele lugar correndo para fora da área do castelo, que rapidamente começava a desmoronar, enquanto espinhos negros formados de rochas negras subiam do chão. Em algum momento, o céu pareceu mudar de cor. O mundo gritava enquanto aquele terreno se modificava.

O doutor estava realmente certo, o manancial era algo de outro mundo, ou talvez nem deveria existir no nosso. Tudo que aquele líquido tocava se transformava em algo distorcido. Aidan pôde ver o mundo se transformar em algo diferente. O tempo não importava, já que não existia tempo para ele. Ele não conseguia ver quantos meses, anos ou séculos haviam passado. O manancial havia dominado tudo. Aidan viu a lua acender, assim como o sol. Ele podia ver coisas saindo de dentro do manancial, coisas que não eram deste mundo. Ele pôde presenciar o nascimento de seres que só poderia classificar como deuses.

E assim, tudo que ele observava pelo espelho se quebrou. Sua visão ficou escura e Nue deu risada, parecendo se divertir.

— Finalmente! Parece que eles realmente ferraram com o mundo! O véu entre o irreal e o real não existe mais! Tudo pode existir! Fantasmas, demônios e deuses! Tudo que você pode imaginar agora pode existir! Hahaha! Olhe para isso, garoto! Esses humanos são realmente complicados!

Aidan não disse nada. Sua mente estava cansada, seu corpo estava dormente. Ele apenas podia dormir e assim fez, perante um mundo devastado e completamente corrompido. Mas havia algo que ele podia sentir, lá, no fundo, de sua consciência, de sua alma. Ele podia sentir o sangue, conseguia sentir seu sangue sendo chamado.



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