Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 33: Simulacro.

— Irmã… — disse Aidan, ele tentou tocar o rosto de Emily para testar se ainda estava sonhando, e tudo dizia o contrário.

— Estou acordada, Dan… quanto tempo se passou? — perguntou Emily enquanto se preparava para levantar.

Aidan estava tão surpreso que não conseguia falar nada. Ele apenas se levantou rapidamente e tentou ajudar sua irmã, ele estava tão preocupado que seu coração batia loucamente. Ele encarou sua irmã e ela parecia como se nunca tivesse entrado em coma, até mesmo a palidez de sua pele havia desaparecido.

— Já faz algumas semanas, talvez até mesmo dois meses — respondeu Aidan enquanto via ela se levantar sozinha.

— Eu acabei dormindo bastante — disse Emily enquanto sorria fracamente.

Aidan não sabia o que era aquele sentimento. Ele se sentia aliviado por ela acordar e, por outro lado, sentia que era sua culpa ela estar daquele jeito. Independentemente da razão, ele não conseguiu se controlar e lágrimas caíram de seus olhos. Mesmo tentando esconder, ele não conseguiu.

— Você ficou muito… tempo… dormindo… eu… — disse Aidan parando para respirar em meio às palavras.

Emily olhou para seu irmão, que havia mudado tanto nesse tempo, e o abraçou com força. Ela sentia o quanto o seu coração batia e também podia sentir o peso que ele tinha nas costas. Ela se perguntou o que ele passou até agora para mudar tanto nesse meio tempo sem eles conversarem. A única coisa que ela lembrava era de eles se encontrarem com uma garota e ela já estava em uma sala cheia de um líquido vermelho que cheirava a sangue.

Repentinamente, a porta do quarto em que eles estavam foi aberta e uma garota alegre entrou junto de uma empregada. Emily olhou para as duas pessoas e não conseguiu reconhecê-las de imediato, mas lembrou quem eram depois: a empregada a tinha ajudado a escapar e a garotinha de antes.

— Ah! Dan! É injusto você chegar primeiro! — disse Asha correndo para perto de Emily e abraçando sua cintura.

Aidan olhou para a porta e viu que muitas pessoas tinham chegado junto de Asha; seus pais também haviam vindo, sem contar Camélia, que também estava lá.

— Me desculpe, eu não me apresentei antes. Meu nome é Anna, fui uma pessoa que fez negócios com o seu irmão — disse a empregada para Emily.

— Sim, eu me lembro de você, é um prazer te conhecer — respondeu Emily.

— Emi, esses são os meus pais! E essa é a dona desse lugar, Camélia! — disse Asha apontando para cada um na sala.

— Asha, eu não sou a dona, meu irmão que é. Iremos nos apresentar direito depois, senhorita Emily — disse Camélia.

Emily olhou para Camélia e ficou um pouco preocupada, mas após ser puxada por Asha para conversar com seus pais, ela ignorou sua desconfiança.

Aidan ficou ao longe olhando para aquela cena, ele continuou a ficar emocionado. Havia um sorriso satisfeito em seu rosto, mas também havia lágrimas, o que ele não entendia o porquê.

— Olha só que coisa rara, um fantasma chorando, é a primeira vez que vejo isso — disse Camélia zombando de Aidan.

Ele apenas ignorou aquela provocação e continuou olhando para Emily, que sorria para Asha contando uma história sobre tudo que aconteceu.

— Haha… parece que você não irá ver mesmo — respondeu Aidan para Camélia.

Enquanto todos se divertiam, uma pessoa chegou, alguém que Aidan não via fazia algum tempo. A princesa havia retornado de sabe Deus onde, com um sorriso estranho no rosto, seus olhos emanavam uma aura estranha. Ela adentrou o quarto e foi diretamente para Emily. Aidan tentou pará-la, mas Camélia o segurou e balançou a cabeça dizendo para não interferir.

— Olá, senhorita Emily, seu irmão me falou muito de você. Me chamo Agatha Astville, é um prazer conhecer outro fantasma de Null Platina.

Emily olhou para aquela mulher que se apresentava como a princesa e desconfiou de tudo: como ela sabia sobre Null e também por que ela estava interessada nela?

— Sim, é uma honra, sua alteza — disse Emily enquanto abaixava a cabeça em sinal de reverência.

— Como foi dito, você é realmente parecida com seu irmão, mas você tem mais astúcia, algo bom… — disse a princesa enquanto olhava para os olhos de Emily.

— Bem, tenho negócios a tratar com Augusto, então o encontrei. Vocês todos estão de folga até lá — disse a princesa enquanto saía da sala com pressa.

Aidan lembrou de algo quando Agatha estava cumprimentando Emily: o Bispo falou que era para tomar cuidado com ela, que havia algo de errado com a princesa, mas ele nunca prestou atenção naquelas palavras. Vendo suas atitudes, ele não teria outra forma a não ser ficar de olho nela.

— Lia, você poderia me fazer um favor? — disse Aidan enquanto se aproximava do ouvido de Camélia.

— Sim, o que precisa? — respondeu Camélia.

— Preste atenção nos movimentos da princesa, estou com um mau pressentimento em relação a ela — disse Aidan. Camélia respondeu acenando com a cabeça levemente.

Depois de algum tempo e todos os ânimos se acalmarem, Aidan foi para o jardim. Era impressionante que ele preferia passar mais tempo no jardim do que dentro da mansão. Por mais que houvesse mais coisas para fazer dentro da mansão, ele ficava mais calmo perto das flores e árvores do que entre as paredes de concreto.

Em meio a essa caminhada, Aidan avistou sua irmã olhando para as flores com uma expressão vazia. Ela parecia perdida em pensamentos. Aidan se aproximou dela em silêncio, e ela percebeu sua presença. Sem olhar para ele, ela perguntou:

— O que poderia ter acontecido para você mudar tanto? — perguntou Emily enquanto pegava uma rosa em suas mãos.

— Eu não sei, talvez as circunstâncias? Ah! Se for fisicamente, eu já te contei sobre o manancial — disse Aidan meio sem jeito.

— Não, não estou falando fisicamente. Sua mente mudou, agora parece alguém diferente de quando nos encontramos. Sua esperança voltou e não foi por minha causa — disse Emily enquanto olhava para o rosto de Aidan.

Emily sabia que Aidan escondia alguma coisa. Ela viveu com aquele fantasma por tempo suficiente para saber que, sempre que ele está desviando do assunto ou virando os olhos dela, ele está escondendo algo. Ela poderia simplesmente fazê-lo falar, mas não era necessário. Do jeito que ela viu ele chegando próximo de Camélia, era óbvio o que estava acontecendo. Seu irmão nunca chegava próximo de pessoas, ele não confiava nelas, e ela duvidava que era apenas um negócio, havia algo a mais.

— Bem, eu acho que tenho uma ideia do que seja — disse Emily, enquanto encarava os olhos de Aidan que continuamente ficavam desviando para os lados.

— O que seria? — disse Aidan fingindo desentendimento.

— É uma mulher, claramente! — exclamou Emily enquanto apontava para o peito de Aidan.

Aidan sentiu seu sangue ficar quente, junto de seu rosto que ficou vermelho. Ele virou o rosto enquanto tampava sua face com as mãos.

— Olha só! Está reagindo até mesmo como um personagem de romance adolescente! — disse Emily.

— Você é muito fácil de ler, Aidan. Eu vi como você se comportava falando com a “Schöne Blume” — disse Emily debochando de Aidan.

— Eu não acho que mudei tanto assim! — disse Aidan irritado.

Emily suspirou e pegou o rosto de Aidan encarando seus olhos. Ela podia ver aquele coração frio ficar quente, e também aqueles olhos vazios ficarem com um pouco mais de esperança. Mesmo que tivesse algo a mais que ela não poderia entender o que era, era o suficiente para ela sorrir e lembrar de quando eles eram apenas gêmeos e não fantasmas.

— Você não mudou tanto, só parece que você aceitou finalmente a esperança, e não tem mais um olhar de peixe morto, haha — disse Emily enquanto soltava o rosto de Aidan.

— Bem, eu só não sei o que fazer agora… — disse Aidan respirando fundo e olhando para o céu escuro.

— Que tal viver uma vida boa e abandonar o resto? — disse Emily com uma expressão neutra.

— Eu adoraria, mas não acho que aconteceria — respondeu Aidan.

— E por que seria isso?

— Porque eu não sei se você irá me perdoar, e também estou cansado de ficar sem fazer nada sempre e deixar as coisas abandonadas — disse Aidan.

Emily olhou para o idiota que seu irmão era e suspirou. Como ele ainda não tinha certeza que ela faria qualquer coisa por ele?

— Se for assim, então só irei te perdoar se você também me perdoar por tudo que fiz ou que irei fazer — disse Emily enquanto encarava Aidan com os braços cruzados.

— Eu nunca me importei tanto com o passado — disse Aidan.

— Mentiroso… — respondeu Emily suspirando. Ela olhou para a lua e sorriu com alegria, ele continuava o mesmo irmão que ela tinha.

— Eu nunca vou abandonar você, Emily, já que você é meu mundo, o único que sobrou — Aidan levantou sua mão para um aperto de mãos.

— Eu também nunca irei te abandonar, idiota, não esqueça que a única pessoa que eu tenho é você — disse Emily, que passou das mãos de Aidan e o abraçou com força.

Os dois apreciaram o momento e apenas uma frase veio à mente dos dois, quando eles se encontravam em meio aos becos quando crianças, uma frase que repetiam muito.

— Willkommen zurück, Bruder — disse Emily.

— Willkommen zurück, Schwester — disse Aidan em seguida.

Em meio àquele momento, depois de eles se soltarem, um grande estrondo aconteceu, algo que nenhum dos dois esperava. O castelo inteiro balançou, Aidan pôde ver chamas perto da entrada e também barulhos de gritos. Ele olhou para Emily e ela já entendeu a situação.

Os dois correram para dentro do castelo, ambos tinham prioridades, e por isso cada um decidiu cuidar de algo.

— Eu vou ver Camélia — disse Aidan.

— Eu vou ver Asha e Anna, a gente se encontra depois — disse Emily.

Ambos correram em direções opostas, a mente dos dois funcionando em velocidade máxima. Eles precisariam salvar as pessoas importantes. Assim, Aidan chegou a um corredor à frente da sala de Augusto. Havia fumaça e cheiro de sangue, mas seus olhos não poderiam enganar.

No chão estava Camélia, Augusto estava em sua frente com uma espada nas mãos. Do outro lado do corredor, estava alguém que ele conhecia, mas não gostaria de acreditar nos seus olhos.

— Agatha? — disse Aidan confuso.

Estava a princesa e outras duas pessoas, o caçador e também o doutor da praga. Ela segurava uma pistola e apontava para Augusto.

— O que você está fazendo?! — gritou Aidan.



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