Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 32: Exatidão.

Aidan sentia suas mãos suando. Ele havia esquecido o sentimento de uma verdadeira batalha. O caçador à sua frente começou a se preparar para o combate. Aidan não tinha nada além de um pedaço de ferro, enquanto o caçador empunhava uma espada longa.

Em um momento, o caçador avançou contra Aidan, que, em apenas alguns segundos antes de ser atingido pela lâmina, conseguiu desviar do ataque. O caçador era mais rápido que ele e conseguia ver mais brechas. Aidan nunca teve treinamento apropriado para uma luta mano a mano.

— Você parece diferente de antes, parece mais fraco e menos arrogante — disse o caçador em um tom de deboche.

— Olha, cara, eu não te conheço, e sobre seus irmãos, eu não posso fazer nada. Se eu os matei, foi devido à sobrevivência — disse Aidan, enquanto avançava para um ataque.

O caçador ficou parado no lugar. Ele apenas defendeu o ataque e encarou Aidan nos olhos.

— Não importa agora, você irá para o mesmo lugar que eles. Então, peça perdão pelas suas mortes quando chegar do outro lado — disse o caçador, enquanto rebatia o ataque de Aidan, fazendo-o recuar um pouco.

Aidan teria que pensar dois passos à frente do homem com a espada. Em apenas um golpe, ele poderia morrer facilmente. Por isso, ele tentou algo: usou a única habilidade que conhecia, seus olhos.

Aidan encarou o homem enquanto suas espadas se encontravam e, em apenas um momento, ele pôde ler os sentimentos que o homem estava tendo. Ele sentiu raiva e também medo, angústia e tristeza. Aidan sorriu e decidiu provocar aquele homem, até porque um homem com raiva não se diferencia de uma besta qualquer.

— Ei, cara, parece que você não vai conseguir salvar seus irmãos se você for tão ruim quanto eles. Até porque eles não duraram nem mesmo um segundo — disse Aidan, enquanto encarava o caçador.

O caçador sabia que era um truque. Ele sabia, mas sua mente estava cheia de pensamentos que ele não conseguia controlar. Ele pensou ser a Ourozina que Aidan havia tomado, mas seus olhos estavam com as cores normais, o que o deixou assustado com a habilidade daquele fantasma.

Aidan aproveitou a oportunidade. O único plano que ele poderia fazer era desarmar seu oponente e pegar sua espada. Ele iria fazer isso se sua atenção não fosse desviada quando escutou um barulho nada confortante.

Camélia estava caída no chão, segurando uma de suas pernas. Ela nunca pensaria que sentiria tamanha dor em sua vida. Ela encarava aquele doutor com Asha em suas mãos.

— Já é o fim para sua raça. Vocês terão que enfrentar o julgamento divino — disse o doutor.

— Por que você está fazendo isso? Não importa o quanto eu pense nisso, chamar esses deuses, não irá fazer vocês ganharem nada! — disse Camélia, levantando-se com dificuldade.

O buraco no chão começou novamente a jorrar um líquido avermelhado. Camélia, olhando para aquilo, sentiu algo em sua mente. Ela sentiu seus instintos dizendo para fugir daquele lugar. Era um ambiente que não deveria ter sido descoberto pela humanidade.

— Você diz que não ganharia nada com isso? HA! Sua pequena mente não entenderia mesmo. Saiba, garota, que no momento em que o manancial ganhar o sangue dessa menina, o paraíso chegará à Terra e, assim, o outro lado será desbloqueado. Uma nova guerra irá acontecer, um verdadeiro paraíso! — exclamou o homem com uma voz praticamente robótica.

Camélia viu ele pegar Asha e segurá-la perto da entrada do grande precipício. No momento em que ele iria jogá-la, ela agiu rápido. Mesmo que ela sentisse suas pernas implorando para ficar parada, teve que salvar aquela criança que não tinha nada a ver com aquilo.

O movimento foi rápido, mas desastroso. Ela pôde apenas empurrar a criança para longe e se segurar em algo para afastar-se do buraco. Aquilo fez ela perder o fôlego, mas o plano daquele homem insano estava sendo parado, até ela ouvir passos atrás dela.

— Olha, pequena, eu não gostaria de dar o seu sangue para o manancial, mas como você continua atrapalhando, você irá se juntar a ele — disse o doutor, enquanto apontava a arma para Camélia.

O homem encarou os olhos de Camélia e percebeu algo interessante. Havia muitas pessoas diferentes naquele mundo, pessoas como ele, que não eram humanos nem monstros. Existiam os Eivados, criaturas sem consciência, os fantasmas, pessoas com alta consciência e praticamente armas vivas, e os humanos, que estavam no fundo da pirâmide.

O doutor ficou surpreso por apenas uma humana estar ao lado de um fantasma como Aidan. Isso o fez encarar a luta que estava acontecendo. O doutor sorriu por debaixo da máscara e soltou uma pequena gargalhada.

— Você é apenas uma humana. O que você achou que iria acontecer com você quando entrasse no mundo dos fantasmas e monstros? — perguntou o doutor.

Camélia não respondeu à pergunta. Não havia resposta. Ela sabia que aquele mundo não funcionava para ela. Também sabia que seu irmão era mais apropriado para a grandeza, mas nunca foi sobre isso. Nunca foi sobre ter um lugar no mundo. Ela apenas gostaria de ter um pouco de felicidade e ver os outros orgulhosos dela.

Ela pôde apenas sorrir para aquele homem que apontava uma arma para sua cabeça. Tudo que importava era como ela se via e não como os outros a viam.

— Eu não ligo, seu merda — respondeu Camélia.

O doutor respirou e ia atirar em Camélia, mas algo apareceu em sua frente. Com a surpresa, o homem atirou por impulso, fazendo sangue jorrar em seu rosto. Um homem apareceu em sua frente, um homem com olhos vermelhos e afiados. Aquele homem, que parecia tanto com o deus que ele tanto cultuava, tinha um olhar furioso naqueles olhos, fazendo o doutor recuar um pouco. Seu subconsciente acabou confundindo aquele homem com seu deus.

Aidan, por outro lado, conseguiu parar a bala com suas mãos, mesmo que elas agora tivessem dois buracos.

— Aidan... — disse Camélia, enquanto respirava ofegante.

— Não se preocupe, eu já cuidei dele. Agora é a nossa vez de atacar.

Aidan parecia um pouco diferente. Camélia podia sentir que ele estava irritado, ou talvez triste. Mesmo vendo que ele estava sorrindo, ela conseguia perceber que seus olhos mostravam outra emoção. Em sua mente, ela se perguntou como poderia saber aquilo apenas olhando para ele. Ela não era um fantasma.

— Certo, a cobaia, cachorrinho da princesa. Eu não tenho tempo para vocês, na verdade, agora eu não tenho nem paciência. Então vamos fazer de outra forma... — disse o doutor, mas algo interrompeu sua fala, um estrondo forte ao redor deles.

Ao longe, podia-se ver algo brilhante acertar a grande parede de névoa, fazendo-a pegar fogo. Era como se uma grande parede de fogo se formasse diante de seus olhos. Isso fez todos dentro da cidade ficarem momentaneamente cegos, mas Aidan não fechou os olhos. Ele olhava para o doutor, que estava parado e totalmente com a guarda baixa.

Seu corpo se moveu primeiro. Ele iria atacar aquele homem, mas algo fez sua visão se direcionar para baixo. Sua cabeça ficou tonta, e ele pôde apenas olhar para os lados e ver que algo estava saindo de seus olhos, um líquido vermelho, mas não era sangue. E assim ele levou outra pancada na cabeça.

— Olha, eu não gostaria de fazer isso e desperdiçar tanto do manancial, mas como é você, eu acho que será um grande experimento! Haha — disse o doutor, enquanto tirava um líquido de seu jaleco branco.

Aidan pôde apenas sentir a agulha entrando em sua nuca, junto de algo que queimava suas veias. Depois de um tempo, ele não conseguia mais sentir o chão sob seus pés. Sua cabeça ficou cheia de pensamentos, e ele pôde escutar vozes. Aidan não sabia se eram pensamentos ou vozes, mas elas eram altas demais para ele, ao ponto de fazê-lo gritar.

— Calma, Aidan, respire — alguém disse em seu ouvido direito.

— Você precisa se levantar, apenas levante e acabe com ele. Você ainda pode se rastejar — outra pessoa disse.

— Tenha paciência, você irá se recuperar, apenas levante e ataque ele, ataque nosso inimigo — uma voz distorcida disse em seu ouvido esquerdo.

Todas aquelas vozes em sua cabeça o fizeram levantar. Aidan não conseguia sentir seu corpo, nem mesmo sabia que tipo de expressão tinha no rosto, mas ele podia pensar em algo, e todas as vozes se tornaram uma e disseram um comando:

— Calma, Aidan, ataque o homem e o mate.

Aidan avançou contra o doutor sem pensar em nada. O homem soltava uma risada insana e podia apenas atirar em Aidan, mas, mesmo que fizesse aquilo, nenhuma das balas causava algo em Aidan. Seu corpo simplesmente não reagia.

Vendo que iria ficar sem munição, o doutor chamou seu parceiro.

— Ei, caçador, você não deveria vingar seus irmãos? — gritou o doutor para o caçador, que estava apenas observando a luta.

No mesmo instante, o caçador parou Aidan. Ele percebeu a diferença de força que Aidan tinha naquele momento.

— Ei, seu doutor louco, o que você fez para esse desgraçado ficar assim? — perguntou o caçador, enquanto jogava Aidan para longe com um chute no estômago.

— Eu apenas dei a ele um pouco do líquido do manancial, mas não qualquer um, o mais refinado, algo que só pude pegar diretamente da verdadeira fonte! — respondeu o doutor, com êxtase.

Aidan iria continuar a avançar, mas algo segurou suas mãos, que ainda sangravam. Ele olhou para baixo e viu Asha acordada, com medo no rosto. Aidan não pôde continuar depois daquilo. O caçador, vendo a oportunidade, pegou o doutor como um boneco de pano e começou a correr do lugar.

— Ei! Ele está fugindo! Temos que pegá-lo! — disse Camélia, levantando-se rapidamente.

— Não — disse Aidan — Temos que sair desse lugar. Agora que a névoa possivelmente vai cair, temos que sair daqui.

Camélia olhou para o estado de Aidan e concordou. Eles pegaram um carro qualquer. Tiveram sorte que alguns veículos não foram afetados pela névoa. Não pensaram muito no que fazer, apenas que precisariam sair daquele lugar.

Assim que pegaram os pais de Asha, encaminharam-se para a entrada da cidade, onde havia uma pequena abertura na névoa que pegava fogo sem parar. Passaram por aquela abertura, deparando-se com um grupo de carros militares e vários homens armados.

— São os homens do meu irmão — disse Camélia, aliviada.

Aidan e os outros saíram da sucata que encontraram para ver uma figura conhecida no meio dos homens. Augusto estava caminhando na direção deles. Camélia foi a primeira a correr para a frente dele, surpreendendo-o com um abraço. Augusto, pela primeira vez, não soube o que fazer. Ele nunca havia sido abraçado por Camélia antes, mas ela também nunca havia abraçado ele antes, o que a fez se distanciar dele.

— Me desculpa... — disse Camélia, enquanto abaixava a cabeça.

— Está tudo bem — Augusto colocou a mão no ombro de Camélia com um sorriso. Ele olhou para a situação de Aidan e percebeu como seus olhos estavam vermelhos. Ele suspirou. — Vamos, vocês precisam descansar — disse Augusto, enquanto virava de costas.

Após chegarem ao castelo, foi revelado a Aidan que quem teve o plano de tacar fogo na névoa foi Augusto, já que ela parecia a Ourozina, que é extremamente inflamável, facilitando sua eliminação. Aidan não teve muito tempo para descansar; sua mente parecia um inferno, e por isso ele teve apenas uma maneira de se sentir seguro: voltar a antigos vícios.

— Parece que você realmente está nervoso — disse Camélia, enquanto se aproximava de Aidan, que estava fumando no jardim. Ao lado dele havia outros cinco ou seis cigarros já acabados.

— O que te faz pensar isso? — perguntou Aidan com um sorriso nervoso no rosto.

Ela se juntou a ele, ficando ao seu lado. Camélia encarou os olhos de Aidan e percebeu que eles realmente pareciam diferentes, mais assustadores do que os outros que ele já tinha.

— Ah, me desculpe, mas pode não olhar para os meus olhos? — disse Aidan, virando o rosto.

— Por quê? — perguntou Camélia, irritada.

— Porque você não irá gostar. Eu não consigo me controlar atualmente, então vai ser uma experiência complicada para você — respondeu Aidan, dando mais uma tragada.

Camélia suspirou, fazendo Aidan levar um pequeno susto. Ela foi para a frente dele e agarrou seu rosto, fazendo-o quase se agachar. Ela encarou seus olhos.

— Então, senhor fantasma, me diga o que eu estou sentindo? — perguntou Camélia.

Aidan engoliu em seco. Ele quis se esquivar, mas Camélia estava segurando sua cabeça, e seus olhos acabaram encontrando os dela. Ele pôde ver raiva, tristeza e outra coisa que ele não sabia o que era, mas ele tinha uma ideia do que era.

— Hmm... — resmungou Aidan.

Camélia soltou o rosto de Aidan e voltou para o lado dele. Ela olhou para a lua no céu e suspirou. Não conseguia pensar em uma forma de ajudar Aidan, exceto fazê-lo conversar com ela.

— Então, o que aconteceu? — perguntou Camélia.

— Continuo preocupado com Emily. Mesmo que ela receba o sangue de Asha e se cure, agora temos outros problemas, e eu não sei o que está acontecendo comigo também — respondeu Aidan, enquanto apagava o cigarro.

— Bem, Emily já está bem. Ela já recebeu o sangue de Asha e seus sintomas estão desaparecendo. Em relação àquele doutor, deixe isso comigo. Já sobre você, acredito que contanto que você não se perca e continue sendo você, então está tudo bem — disse Camélia, enquanto se voltava para dentro do castelo.

Aidan olhou para Camélia e seus pensamentos o fizeram ter uma dor de cabeça. Camélia o segurou rapidamente.

— Tudo bem?

— Sim, volte para dentro. Eu irei também daqui a pouco.

Camélia sabia que Aidan estava escondendo algo, mas ela não poderia simplesmente puxar a cabeça dele e fazê-lo cuspir tudo para fora. Por isso, suas ações eram a melhor coisa que ela poderia fazer. Aproveitando que ele estava caído na frente dela, ela agarrou seu colarinho e o puxou, dando um beijo. Durando apenas alguns segundos, Aidan e Camélia se distanciaram naturalmente. Aidan ficou parado até Camélia falar com ele.

— Eu irei, mas não esqueça que estou sempre aqui para você conversar, ok?

— Sim, obrigado, Lia — respondeu Aidan.

Aidan sorriu sinceramente com alegria. Ele viu Camélia andando para dentro do castelo. A fria brisa o fez escutar novamente vozes que não queria. Sua mente o fez caminhar pelo castelo. Seus passos pesados ecoavam pelos corredores, podendo fazer parecer que o local era assombrado. Seu corpo chegou à ala onde sua irmã ficava. Ele entrou no quarto dela e se sentou ao lado da cama. Ele lembrou de quando estava assim também, entre a vida e a morte, e sua irmã estava ao seu lado. Como ele não poderia fazer algo igual?

Mal ele sabia que sua mente também estava cansada, e isso o fez adormecer. Mas, como em um sonho, algo o acordou gentilmente. Em sua visão, Aidan não conseguia saber se estava sonhando ou não, mas ele sorriu. Talvez lágrimas tenham corrido de seus olhos. Aquela visão ficou gravada em sua retina, seu cérebro iria lembrar daquilo. Emily estava sentada na cama com um sorriso no rosto, enquanto o sol batia em seus cabelos longos, fazendo parecer sedas de ouro.

— Bom dia, irmão.



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