Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 27: Elucidar.

A luz brilhou em seus olhos, um peso estranho estava em cima de seu corpo. Ele tentava respirar, mas percebeu que não conseguia. Quando abriu os olhos, viu uma pessoa em cima dele, constantemente o chamando. Ele piscou algumas vezes e, quando seus sentidos vieram à tona, sorriu um pouco.

— Bom dia, Dan! — disse Asha enquanto abraçava Aidan com força.

— Bom dia, Asha — respondeu Aidan com felicidade.

Ele se sentou na cama e viu Anna arrumando algumas malas para Asha. Respirou fundo e se levantou, carregando Asha no colo. Ele se aproximou de Anna e colocou Asha perto dela.

— Obrigado pelos remédios, eles realmente ajudaram. Fazia tempo que eu não conseguia dormir direito — disse Aidan enquanto fazia cafuné na cabeça de Asha e colocava a mão esquerda no ombro de Anna.

— Não tem de quê. Eu sabia que você não tinha descansado direito e também sabia que você iria se encontrar com alguém importante hoje — disse Anna, enquanto colocava a última peça de roupa dentro da mala.

Aidan começou a se preparar para sair e, conforme fazia isso, se perguntava para onde Asha iria, mas Anna respondeu sua pergunta.

— Ela irá para algum lugar com a Senhorita Camélia, sobre a sua família.

— Entendo. Bem, espero que ela se dê bem com Camélia — disse Aidan, enquanto lembrava do semblante daquela mulher com a luz da lua. Ela parecia estonteante e um pouco atraente demais para ele. Ele percebeu que sua mente ansiava se encontrar com ela novamente, o que ele deduziu ser apenas curiosidade e não outra coisa.

Aidan, após se preparar e colocar roupas novas e um pouco mais folgadas do que um terno, se preparou para sair do quarto, tendo a agradável surpresa de ver Camélia na frente de sua porta. Aidan sorriu para a mulher, como uma criança.

Atrás de Camélia, havia algumas empregadas que saltaram de surpresa e medo quando viram Aidan. Elas tremiam um pouco perante a presença do fantasma, mas, diferente delas, Camélia usava o véu que tampava seus olhos e a deixava tranquila perante ele.

— Podemos ficar a sós hoje? — Aidan perguntou para Camélia, percebendo os olhares de medo das empregadas.

Camélia olhou em volta e mandou as empregadas irem embora, mas elas se recusaram.

— Não podemos nos retirar, senhorita. Foi o desejo do Senhor Augusto — disse uma empregada, com as mãos tremendo enquanto encarava Aidan.

Camélia suspirou e chegou perto de Aidan, que deu um passo para trás, mas ela o alcançou e colocou suas mãos na frente dos olhos dele. Ele ficou surpreso com aquela ação, podia sentir o calor das mãos de Camélia em sua face.

— Está tudo bem, vocês podem ir embora — disse Camélia.

As empregadas saíram andando um pouco mais rápido que o normal, deixando Aidan e Camélia a sós. Aidan não desperdiçou a oportunidade para provocar Camélia por aquela ação.

— Não sabia que você gostaria de flertar assim cedo de manhã, Lia — disse Aidan, enquanto segurava as mãos de Camélia e as abaixava.

— Isso foi só para que as empregadas nos deixassem em paz. Você não gostaria de deixá-las ficarem te olhando com medo, não é? Sem contar que não é de manhã e sim de tarde! — respondeu Camélia, enquanto se virava para começar a andar pelo corredor.

Aidan seguiu logo atrás dela e começou a sorrir. Aquele jeito que Camélia tentava esconder sua vergonha era fofo para Aidan, e aquele sorriso em seu rosto o surpreendeu em como ele melhorou o seu humor após vê-la.

— O senhor fantasma parece animado esta tarde — disse Camélia com tom de deboche.

— Sim, é claro, eu vi uma bela flor logo quando acordei — respondeu Aidan, com um sorriso convencido.

Camélia não respondeu a Aidan, apenas caminhou para perto da parte onde eles teriam que ir. Aidan aceitou aquele silêncio de bom grado, até porque, como diz o ditado, "quem cala, consente".

Após pararem em frente a uma grande porta, Camélia quebrou o silêncio.

— Você estará com meu irmão hoje. Vocês irão discutir algumas coisas importantes, então, boa sorte.

— Que pena — disse Aidan, com um tom triste.

— Não tem o que fazer, ele implorou por esse encontro — disse Camélia, enquanto suspirava.

— Então, te encontro depois, Lia — disse Aidan, enquanto se curvava.

Os dois foram em direções opostas. Aidan se preparou mentalmente para encontrar outro fantasma e, assim, bateu na porta, escutando uma voz o pedindo para entrar. Quando abriu a porta, se viu em uma grande sala com grandes janelas que davam para o jardim. Aidan reparou um quadro na parede do fundo: "Saturno devorando um filho". Uma peça de arte bastante assustadora para se ter em um escritório.

Após analisar um pouco a sala, ele percebeu finalmente a figura do irmão de Camélia. Augusto estava analisando papéis e mais papéis, que não pareciam ter fim. Após perceber a presença de Aidan, ele sorriu de orelha a orelha, se levantando e correndo para perto de Aidan.

— Olá, companheiro! Finalmente podemos conversar tranquilamente! — disse Augusto, enquanto levantava suas mãos para cumprimentar Aidan.

Aidan hesitou por um momento, mas cumprimentou Augusto. Ele pegou um relógio de seu bolso e viu as horas, para então sorrir um pouco.

— Parece que teremos algum tempo, então me acompanhe para um pequeno bate-papo — disse Augusto, enquanto caminhava para a região das grandes janelas. Lá havia uma varanda, com uma mesa branca e um tabuleiro de xadrez, junto de algumas xícaras de chá.

Aidan seguiu o homem para o local que estava previamente preparado. Ele notou o tabuleiro de xadrez perfeitamente cuidado. A vista do lugar dava para o jardim, onde Asha e Camélia estavam, ambas se preparando para partir para a cidade. Isso fez Aidan ficar um pouco relaxado.

— Eu gostaria de compreender um pouco mais sobre você, Aidan. Por isso, peço uma partida, o que acha? — perguntou Augusto, enquanto apontava para o tabuleiro de xadrez.

— Você é bom jogando? — perguntou Aidan, enquanto se sentava na cadeira.

— Nem um pouco. Posso dizer que sou mediano, mas gosto de conversar enquanto jogo — respondeu Augusto, enquanto colocava um pouco de chá em sua xícara.

Aidan começou a partida de xadrez com as brancas, enquanto Augusto começou com as pretas. Aidan fez o primeiro movimento, colocando o peão em E4, e Augusto em E5. Os dois ficaram um tempo no jogo, até Augusto perceber que Aidan olhava para Camélia conversando com Asha. Isso o deixou curioso.

— Sabe, Camélia era diferente alguns anos atrás. Ela era mais fria do que hoje em dia, isso afastava todos de perto dela. Mas, conforme foi se enturmando e percebendo o lugar que tinha no mundo, ela melhorou bastante — disse Augusto, enquanto colocava um bispo perto da rainha branca.

— Ela realmente é alguém interessante. Eu gostei bastante de conversar com ela — respondeu Aidan.

O tabuleiro estava chegando ao seu final. Aidan tinha o rei em E1, cavalo em E5, bispo em C1, e Augusto tinha rei em F6, peões em H7, G7 e F5. Assim, Aidan executa o movimento bispo de C1 para G5+, levando Augusto a um xeque-mate.

— Me diga uma coisa, Aidan, você sabe algo sobre Victor Abraham? — perguntou Augusto, após tomar um gole de chá e desistir de jogar.

Aquela pergunta surpreendeu Aidan. Ele não soube o que responder. Victor era seu irmão, alguém que ele achou que nunca mais iria encontrar e também nunca pensaria em se envolver de novo. Mas ele sabia que seu irmão estava envolvido com a organização desde os pés à cabeça.

— Conheço ele, por quê? — respondeu Aidan.

— Você sabe que ele se aliou ao príncipe? E também sabe que ele foi elevado de seu posto e agora está sendo um estorvo? — perguntou Augusto, em um tom sério. Vendo que Aidan não respondeu nada, ele percebeu que ele não sabia daquilo.

— Bem, estou te dizendo que agora vai começar uma verdadeira guerra, e a única coisa que impede aqueles caras de invadirem essa ilha e matar a todos é a criação da Ourozina. Apenas nesta ilha se pode pegar o manancial e transformá-lo em Ourozina utilizável em corpo humano.

Aidan não falou nada, mas, ao ver a feição séria de Augusto, ele percebeu que agora começava a verdadeira negociação. O homem se inclinou para frente e disse para Aidan:

— Sabe que irmãos são coisas estranhas. Existe uma relação muito importante entre eles, mesmo que não sejam de sangue. E por isso, eu entendo que você queira salvar sua irmã. Por isso, eu tenho uma proposta para você.

Aidan se sentiu um pouco nervoso com aquele clima.

— Está acontecendo algo estranho na cidade e na fábrica de Ourozina, e isso poderá me fazer perder o poder sobre o manancial. E como disse anteriormente, se eu perder o poder da produção de Ourozina, aqueles caras irão invadir essa ilha e transformar tudo em uma guerra civil, o que irá afetar a sua vida também, Aidan. Então, eu pensei que você poderia ir para a cidade e parar o que estiver acontecendo lá, independentemente dos meios — disse Augusto, enquanto olhava para os olhos de Aidan.

Aidan não podia recusar aquele pedido. Ele sabia que, se recusasse, isso significaria a morte de sua irmã e possivelmente de todos à sua volta. Por isso, ele apenas balançou a cabeça silenciosamente. Ele aceitou aquela proposta, deveria cuidar daquele lugar estranho, independentemente do que tivesse que fazer.

— Sabe, eu sei que quer o antídoto da Ourozina, e ele estará em algum lugar naquela cidade com uma das antigas tribos.

Aidan suspirou e olhou para o pôr do sol mais uma vez. Eles haviam passado a tarde inteira jogando e conversando sobre coisas aleatórias. Quando chegou a hora de voltar ao seu quarto, Camélia apareceu para levar Aidan, e assim Augusto disse algo que espantou os dois:

— Aliás, Aidan, Camélia, eu quero que os dois vão à cidade, já que vocês estão se dando tão bem.

— Como? — respondeu Aidan, surpreso.

Aidan olhou para Camélia e ela estava congelada no lugar, enquanto Augusto estava sorrindo tranquilamente.



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