Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 25: Cólera repugnante.

Uma raiva nunca vista em sua face, ele sentiu o mundo vibrar, o seu punho tremia, a princesa, não teve outra visão senão, a de algo que iria acontecer, independente de sua vontade.

Ela olhava para aquele ser em sua frente e temia por sua vida, ela via aqueles olhos frios e sua face contorcida, a única coisa que ela pode fazer, era se mexer para a saída daquele lugar, ela não sabe o que aconteceu, mas nem mesmo o bispo estava se movendo, ele havia ignorado totalmente a princesa.

E assim Aidan se mexeu para perto daquele homem, que com certa empolgação gritou:

— Opa! Não está se esquecendo de algo? A vida de sua irmã está literalmente por um fio! — disse o Bispo, enquanto apontava uma pistola para Emily.

Aidan parou onde estava, e respirou fundo, ele queria o matar naquele instante, ele a pior coisa que passou por sua cabeça, era que ele poderia fazer aquilo, ele sabia que tinha tal poder, e por isso ele decidiu jogar com o Bispo, ele caminhou calmamente em sua direção.

— O que você quer? Por que está fazendo tudo isso? — perguntou Aidan enquanto encara aquela maldita máscara branca.

O bispo parou de apontar sua arma para Emily e riu um pouco, ele olhou nos olhos de Aidan e percebeu que tinha algo de estranho, ele nunca havia sentido uma aura tão forte antes, e aqueles olhos mostravam completo controle sobre a situação, isso empolgou o Bispo, que segurou sua bengala e arma com mais força.

— Irei te contar tudo, então sente-se e tome um chá comigo, o que acha? — respondeu o Bispo com certa ansiedade.

Aidan balançou a cabeça em afirmação e se sentou à mesa que estava atrás do Bispo, tal mesa deixava a vista perfeitamente paralela com Emily, assim como a gaiola abaixo dela onde Asha estava soluçando e chorando, aquilo deixou a mente de Aidan ainda mais irritada.

— Então, querido fantasma, o que achou do banquete? Ótimo, não acha?

Aidan ficou em silêncio.

— Sabia que aquele jantar, foi feito justamente para o rei e o príncipe acabar com todos os seus inimigos? Se você me perguntar quem bolou aquilo, bem, claro que fui eu! Mas não esperava que eles tentariam me matar também, haha — o bispo colocava um pouco do chá, enquanto balançava a cabeça em negação.

Aidan observou os jeitos daquele homem, ele via insanidade e sanidade em uma pessoa, Aidan suspirou de desgosto, e isso fez o Bispo dar risada novamente.

— Engraçado fantasma, que você não sabe o que está fazendo, você não sabe de nada, e mesmo assim está lutando, por quê?

Aidan decidiu falar: — Porque eu fiz uma promessa.

— Haha, você só pode estar brincando com a minha cara! Você está ajudando aquela princesa para o causa de uma promessa? Então isso significa que qualquer um que viesse a você e te pedisse ajuda e falasse que iria ajudá-lo você iria fazer? Muito inocente e burro!

O homem balançou na cadeira, ele gesticulou bastante e até mesmo tossiu um pouco, ele apontou para a irmã de Aidan e disse:

— Sabe, isso? Foi sua culpa, pois você foi desleixado, você achou que estava saindo por cima, mas subestimou seus inimigos, achou que iria ser invencível?

Aidan ficou irritado mais ainda.

— Não, eu não achei isso, aconteceu por sua culpa, não acha?

— Ah, sim, claro! Você acha que as coisas que você faz são culpa dos outros! Mas, na verdade, é sua culpa! Olhe bem, querido fantasma, você achou que agora iria apagar tudo a sua volta, isso iria realmente acontecer? Achou que era o único com tais habilidades? Não, Você está totalmente perdido, e por isso estamos conversando aqui, por isso estou fazendo isso, eu vi tanto potencial em você, mas você desperdiçou tudo! Achou que estava arrasando, mas apenas pareceu ridículo! — disse o bispo para em seguida ele se levantar após tirar sua máscara e tomar o chá, revelando uma pele negra e olhos sombrios e vazios, ele sorriu para Aidan, aquele sorriso pareceu assustador, já que estava cheio de cicatrizes em sua boca.

 Aidan se sentiu angustiado, fazendo ele bater na mesa e se levantar também.

— O que mais eu poderia fazer? Você nem tem o direito de dizer alguma coisa! — exclamou Aidan.

O homem sorriu novamente, mas gentilmente, aquilo fez Aidan dar um passo para trás.

— Saiba, que eu irei morrer, e por isso pensei em ajudar uma última vez um amigo fantasma, até porque você entrou de cabeça em uma guerra que não tem nada a ver com você.

O bispo andou para perto de Aidan e o encarou.

— Aidan, eu irei fazer você ser o melhor fantasma, e assim você irá acabar com esse maldito ciclo, irei te dizer coisas importantes, então preste atenção — disse o Bispo enquanto olhava sério para Aidan.

Os dois pareciam em seu próprio mundo, Aidan nunca havia visto aquela atmosfera antes, ele sentiu a seriedade e honestidade na voz daquele homem.

— Aidan, existe uma coisa que o rei está planejando e envolve essa Ourozina que roda em nosso sangue, parece que eles mexeram com coisas que não deveriam e estão brincando de Deus, e isso me incomoda muito, mas graças a isso eu fui alvejado, por isso irei te contar, quando acabar os seus assuntos comigo, pesquise sobre os três irmãos, isso o levará à verdade dessa organização.

Aidan ouviu atentamente o homem, e aquilo não o surpreendeu, mas agora não importava, aquele ódio em seu peito, não iria simplesmente desaparecer, e o Bispo também notou aquilo, e por isso ele se distanciou de Aidan o dando uma pistola de tambor.

— Eu gosto bastante dos antigos duelos. — disse o Bispo enquanto segurava uma pistola idêntica à de Aidan e uma adaga.

Aidan retirou seu terno e arrumou suas mangas, ele pegou a pistola, ele pegou a adaga que tinha guardado, e se preparou, o ambiente estava pesado, a respiração de ambos os lados estava ritmada, os dois olharam para o outro e em apenas um segundo de diferença os dois atiraram.

As balas acertaram os braços de ambos que seguravam as pistolas, fazendo os dois combatentes se aproximarem para uma batalha mais corpo a corpo, Aidan tentou acertar um golpe com a adaga no momento que chegou perto do Bispo, e assim o Bispo fez também, os dois estavam sincronizados, e ambos estavam pensando da melhor maneira para acabar logo com aquela luta.

O Bispo pensou rápido e olhou para a irmã de Aidan e pensou em distraí-lo, pegando distância de Aidan e mirando em Emily, Aidan não teve tempo de pensar e tentou impedir, e isso o custou uma facada em seu braço direito, Aidan havia caído em uma armadilha muito óbvia.

— Não se desconcentre da nossa luta! Nada a nossa volta importa! — Gritou o Bispo, atacando Aidan.

Naquele momento, nenhum dos dois havia percebido que alguém faltava naquela equação, ninguém havia notado que a princesa havia sumido, e com isso os dois se surpreenderam quando ouviram o barulho de um estrondo, um carro havia entrado no meio daquele salão, fazendo um buraco na parede da mansão.

O lugar em que Aidan estava era perto da entrada de carros, facilitando para que a princesa fizesse aquela ação. O Bispo e Aidan ficaram parados, olhando aquilo, sem ter ideia do que fazer, mas quando Aidan olhou quem estava com a princesa, ele não pôde deixar de se sentir um pouco aliviado. Ele havia pensado que ela estava morta, mas Anna ainda estava viva, carregando suas facas como de costume.

Aquela baixada de guarda foi paga quando o Bispo tentou acertar novamente Aidan, que estava distraído. No entanto, Aidan não deixou barato. Usando um contra-ataque, ele cortou a máscara do Bispo, fazendo-a cair ao meio.

— Isso! Vamos continuar nosso duelo! Você está quase lá! — disse o Bispo com empolgação.

A princesa sabia que precisaria de ajuda para salvar Emily e a criança, então não se deixou levar pela situação. Ela havia buscado a única pessoa em quem Aidan confiaria naquele momento de desespero. Pensando rápido, ela tentou ir diretamente para Emily, enquanto Anna corria para perto de Asha.

— Anna! Você veio! — disse Asha enquanto se agarrava às barras de ferro, sua voz parecendo mais baixa que o normal.

— Sim, mas temos que ser rápidos, então falaremos depois, ok? — Anna respondeu com toda a gentileza que poderia ter em seu rosto cheio de preocupação.

Ela usou suas facas para quebrar o cadeado da gaiola e rapidamente tirou Asha daquele lugar. Após verificar se ela estava bem, Anna olhou para Asha nos olhos.

— O que houve? O que ele fez com Emily? — perguntou Anna com apreensão.

A garota balançou a cabeça em negação e respondeu: — Eles colocaram aquele líquido vermelho nela, e depois disso ela apenas desmaiou.

Asha parecia acostumada com a Ourozina, o que preocupou ainda mais Anna, que percebeu os buracos de agulha em seus pulsos e braços.

Anna segurou Asha em seus braços e chegou perto da princesa, que já havia tirado Emily das correntes, mas ela permanecia desacordada. Anna se perguntou o que aquilo faria com a mente de Aidan. Ele não estava bem, e agora que sua irmã estava daquele jeito, como ele iria ficar? Aquela pergunta fez Anna olhar para a luta entre o Bispo e Aidan.

Os dois estavam ficando gradualmente cansados, e o Bispo estava ficando cada vez mais machucado, o que o fez recuar um pouco, dando tempo para Aidan olhar para sua irmã desacordada sendo levada pela princesa, fazendo-o sorrir de alívio.

— Você não deve confiar muito na princesa e nem no príncipe, acredite Aidan, eu já fiz isso e agora estamos aqui — disse o Bispo enquanto ofegava.

Aidan olhou para aquele Bispo e respirou fundo. Ele sabia como acabar com aquela luta. Agora que não tinham mais empecilhos, ele iria acabar com aquilo rápido. Mas sua mente o enganou; sua prepotência o fez deixar sua guarda baixa novamente.

— Eu avisei que não era para se concentrar em outros enquanto luta, querido fantasma! — disse o Bispo em tom de alerta.

O Bispo atirou para o teto, fazendo candelabros caírem e as luzes explodirem. Aquilo fez Aidan ter que correr para longe, dando espaço para o Bispo ativar um mecanismo que espalhou fogo por todo o local onde estavam. A visão do Bispo ficou turva por um momento, devido à dor que sentiu em sua perna esquerda; ele havia sido atingido, justamente quando derrubou o candelabro, o que o fez rir.

— Muito bem! Agora é o grand finale! — exclamou o Bispo.

Aidan já havia se levantado e tentou atirar contra o Bispo enquanto o mesmo se movia e tentava acertá-lo também, fazendo os dois gastarem 2 balas. Mas ambos sabiam que a adaga causaria mais dano, então se encararam, onde as duas lâminas se encontraram e fizeram um barulho agudo.

Os dois se distanciaram novamente e ficaram olhando um para o outro, prontos para outra investida. Aidan tentou atacar o Bispo com um corte vertical, enquanto o Bispo tentava um corte horizontal. Com ambos desviando, Aidan tentou atirar, mas o Bispo chutou as pernas de Aidan, fazendo-o cair no chão, permitindo ao Bispo uma investida ainda caído. No entanto, Aidan chutou o braço do Bispo, se levantou rapidamente e tentou cortar as pernas do Bispo, que deu um passo para trás, tentando recuperar seu equilíbrio.

Percebendo o momento certo, os dois miraram um no outro e atiraram. A sensação de queimação e a dor atingiram seus cérebros, fazendo Aidan cair para trás, batendo na parede e seu sangue se espalhando por ela.

Aidan sentiu seus pulmões falharem; ele olhava para o homem à sua frente, sentindo que sua vida havia acabado. Ele finalmente olhou para o seu entorno, como se os segundos começassem a se tornar minutos; as chamas tomavam o seu entorno, e a fumaça que tanto amara em sua vida agora o sufocava. Ele olhou para frente e viu o Bispo, seu rosto demonstrando dor; ele havia sido atingido em seu abdômen, assim como Aidan.

Aidan pôde ver o sorriso distorcido em seu rosto, sentindo algo desbloquear em sua mente, os pulmões que não conseguiam respirar normalmente, o campo de visão dificultado, o ambiente tinha chamas ao redor deles. Duas pessoas de pé, o Bispo apontava sua arma para Aidan, enquanto este estava machucado o suficiente para apenas desistir. Porém, ele também tinha uma última bala, e por isso mirou no Bispo e ambos dispararam, para finalmente acabar com aquela noite.

O barulho dos disparos fez uma pequena orquestra da morte; o homem que estava de pé caiu. Aidan recebeu a bala em seu ombro direito, o que o fez sentir alívio, mas sua visão estava ficando turva, e por isso ele não acreditava no que via. Ele tinha apenas momentos, e o homem que havia caído se levantou. Aidan olhou para aquilo e, em um momento de apagão, ele se levantou, mas tudo ao seu redor ficou em preto.

Ele apenas sentia algo molhado em suas mãos, seus olhos estavam escuros, seu corpo estava adormecido, ele respirava ofegante, e aquilo o fez abrir os olhos. O que viu o assustou: ele estava fora da mansão, segurava o Bispo com uma mão, enquanto a outra estava preparada para lhe dar um soco; o rosto do homem que já estava irreconhecível antes agora parecia um pedaço de carne.

Aidan sentia um peso em suas pernas; primeiramente achou que fosse o cansaço de seu corpo machucado, mas ao olhar, viu uma garota de cabelos compridos e castanhos claros, seus olhos de diferentes cores marejados. Aidan olhou para Asha agarrando seu corpo; ele se perguntou quando realmente prestara atenção naquela criança.

Ele soltou o Bispo e olhou para suas mãos cheias de sangue, ajoelhou-se e sentiu as lágrimas de Asha em seu ombro, junto de curtos soluços. Olhou para a mansão e ela estava queimando; escutou seu nome e viu a princesa vindo em sua direção, relaxando novamente e desmaiando.

Novamente, teve aquele sonho; viu um homem de olhos negros tentando enforcá-lo, ou talvez o salvando de se afogar em um grande mar de sangue. Não conseguia diferenciar, mas percebia a angústia nos olhos daquele homem, o que o fez acordar.

Olhou para o teto e pensou: “Um teto não familiar”.

Aidan respirou fundo e sentiu as mãos pesadas sobre as suas; virou-se em direção às sombras nos cantos dos olhos e viu Asha sentada no colo de Anna. As duas olharam para ele com alegria e tristeza, e em seguida um barulho veio em suas orelhas.

— Aidan! — as duas gritaram, alertando todo o lugar.

A princesa entrou pela porta com pressa e olhou para o homem cheio de curativos se levantar e correr para a cama de sua irmã. Agatha viu aquele fantasma completo derramar lágrimas, sentiu algo diferente e, com inveja e ódio, assistiu aquele homem frio sentir angústia e segurar as mãos de sua irmã com tanta força como uma criança se segurando em sua mãe.

— Aidan… — disse a princesa com voz baixa.

Aidan olhou para a mulher e viu olhos marejados; sentiu algo em seu peito e desabou novamente, sendo carregado para sua cama.

— O que houve com minha irmã? — perguntou Aidan desesperado.

— Ela está em coma desde que a resgatamos; já faz três semanas que você ficou desacordado, e ela não demonstrou nenhum sinal de que irá acordar — explicou Anna, segurando as mãos de Asha que tremiam.

— Isso significa que ela nunca… — Aidan não teve vontade de terminar suas palavras.

— Não! — Gritou Asha — Ela ainda pode acordar, Dan! Eu sei que na ilha de onde vim, eles tinham alguma coisa que poderia combater o líquido vermelho! — disse Asha, olhando para os olhos de Aidan.

— Qual ilha você está dizendo? — Aidan olhou para a princesa.

— Olha, não gostaria de dizer agora, mas tudo bem, olha temos no total quatro ilhas dominadas pela organização. Uma ilha da família Astville, que é do meu pai; a ilha da família Baskeron, que é a família do meu irmão; a família Bryville, que é das pessoas que eu te mostrei na festa; e por último a família Clifell, que é a minha família. Cada uma dessas famílias é dona de algo necessário para o reino, e por isso estão todos ligados à organização, sendo peças do rei. O que essa menina está falando é que a família que precisamos nos aliar são aqueles que descobriram a Ourozina, e existe uma lenda de que as tribos do local têm o antídoto dela, mas isso é somente uma lenda! — explicou Agatha.

Aidan ponderou o que poderia fazer, e isso trouxe esperança. Não podia deixar sua irmã e abandoná-la, confiava em Asha.

— Mas eu sei que é verdade! Foi assim que Asha sobreviveu ao líquido vermelho! — exclamou Asha com confiança e brava.

— Não vou confiar em uma garotinha que nem sabe de nada! — disse a princesa, debochando.

— Chega! — Gritou Aidan — Eu já tenho uma promessa com você, princesa. Irei para a ilha dos Bryville e farei deles nossos aliados. Dessa forma, poderei ver se há uma cura ou não para o que aconteceu com Emily. Então, cumpra sua promessa também — disse Aidan, encarando Agatha, seus olhos queimando de raiva.

A princesa não pôde falar nada; seu corpo se recusava a dizer não. Não gostava daquela sensação, e muito menos do que havia soltado para o mundo. Ela havia criado um monstro fantasma.

— Certo, mas primeiro, consiga o favor dos irmãos Bryville — disse Agatha.

Aidan balançou a cabeça em afirmação. Ele novamente tinha outro motivo para lutar. Ficou cansado e se deixou fechar os olhos. Tinha que descansar; iria para algo mais importante que sua vida. Se falhasse nessa missão, perderia provavelmente o que era mais importante para ele. Não se importava se estava sendo egoísta; faria o possível e o impossível para salvar sua irmã, mesmo que tivesse que dar sua vida.



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