Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 24: Dédalo emocional.

A princesa e Aidan se viam nessa grande sala branca, ela não tinha móveis, e muito menos objetos visíveis, a luz parecia vir de todo o lugar, parecia um vazio infinito. Aidan foi o primeiro a olhar em volta para saber com o que estavam lidando, e foi assim que ele percebeu estar em uma sala feita de vidro, e a única saída era a outra porta à frente dele. Ele olhava para a princesa e sabia que algo estava errado, ela havia mencionado "mansão-labirinto".

— O que você quer dizer com "mansão-labirinto", Agatha? — Perguntou Aidan, meio apreensivo.

Ela pareceu aterrorizada, mas engoliu algo que estava preso em sua garganta.

— É literalmente o nome dessa mansão, ela foi construída na grande guerra do manancial. Ela foi feita para os inimigos não conseguirem sair, mas eu pensei que fosse apenas uma mentira contada pelo Bispo — respondeu Agatha enquanto juntava suas mãos acima do peito, sua face parecia temer tudo à sua volta.

— Certo, então não temos escolha a não ser partir para a outra porta.

Aidan olhou para a porta preta feita de madeira à sua frente e viu o número seis nela. Ele olhou para a porta que eles haviam entrado e percebeu que ela não tinha número. Então, olhou para a maçaneta e memórias vieram à sua mente, memórias que ele não se lembrava de ter, como se outra pessoa estivesse contando em sua mente.

Ele segurou a maçaneta e abriu a porta para revelar apenas outro grande corredor escuro cheio de espelhos. Ele olhou para a princesa com uma expressão catatônica e foi até ela.

— Agatha, vamos conseguir passar por isso, mas eu preciso de você para isso, entende? — Ele olhou nos olhos dela, ele sentiu algo mudar em sua expressão, ele sentiu algo mudar em sua face também. Ele olhou para o espelho e viu que seus olhos estavam vazios, ele entendeu que aquilo eram os tais “Olhos” de que ela estava falando.

Ela se levantou e seguiu atrás de Aidan. Eles ficaram perto um do outro e perceberam que aquele gigante corredor de espelhos escondia três grandes portas, todas sem números, todas idênticas. Em frente às portas havia apenas um papel pendurado.

A princesa foi à frente de Aidan e pegou o bilhete, lendo-o em voz alta:

— Escolha uma porta que te levará ao próximo pecado, escolha bem a porta, já que às 11 horas o relógio indica um problema alimentar, às 1 horas pode ser um bom horário para um chá, e às 12 horas, nem sempre acontece uma boa refeição.

Os dois se entreolharam e perceberam que teriam que resolver aquele truque. Aidan analisou a sala em que estavam, percebeu que ela era redonda, o teto era de vidro, mas o chão era feito de madeira.

Enquanto Aidan andava pela sala, Agatha olhou, por outro lado, ela pensou no que estava no texto e percebeu que ele estava dando coordenadas. Ela então olhou para como Aidan andava pela sala, parecia um ponteiro de relógio. Pensando dessa forma, ela se encaminhou para o meio da sala.

— Aidan, por favor, fique à minha direita — disse Agatha enquanto apontava para o seu lado.

Aidan seguiu a ordem e ficou ao lado dela. Ela havia pensado em como aquela sala parecia realmente um relógio, e assim ela entendeu: as portas eram as direções dos ponteiros de horas, mas algo faltava.

— Eu acho que estamos em um grande relógio, mas não sei o que o texto quer dizer — disse Agatha para Aidan.

Ele olhou para as portas e pensou sobre o que havia sido escrito; aquelas portas pareciam algo que ele havia ouvido falar sobre.

— Agatha, você já ouviu falar do problema de Monty Hall? — perguntou Aidan, meio entusiasmado.

Agatha, no mesmo momento, sorriu. Ela sabia daquilo; eles tinham que escolher a porta certa para prosseguir, e as dicas estavam no texto.

— Sim, eu sei, então a porta às 11 horas é ruim, a porta às 1 horas é boa, e a das 12 não se sabe — Agatha se aproximou das portas e Aidan a seguiu.

— Então temos que escolher a porta das 1 horas, mas se fizermos isso, iremos perder, já que ele já revelou que a das 11 horas é ruim, sobrando somente a das 12 horas — explicou Aidan se aproximando da porta do meio.

Os dois se olharam confiantes e assim abriram a porta do meio. Eles pisaram dentro e se encontraram em uma grande parede de árvores e gramas. Olharam em volta e começaram a caminhar cuidadosamente no local, apenas para perceber que estavam em um grande labirinto.

Aidan não sabia como, mas parecia conhecer aquele lugar, sabia qual lugar virar, qual curva era a verdadeira e qual era falsa.

Ele pegou as mãos de Agatha e começou a andar por aquele lugar. Ela olhou para frente e viu as costas de Aidan junto de suas mãos, que pareciam seguras. Ela sorriu, mas sentiu uma pequena pontada em seu peito, entendeu que havia se envolvido demais, e poderia se arrepender, mas seus pensamentos foram cortados.

— Então você nunca me disse sobre sua família — disse Aidan enquanto caminhava confiantemente pelo labirinto.

Agatha olhou para o rosto de Aidan e ele parecia meio envergonhado, isso a fez dar uma pequena risada.

— Bem, eu não sou exatamente uma filha legítima do rei — ela disse com naturalidade.

— O quê? — exclamou Aidan enquanto parava e olhava para o rosto de Agatha.

— Isso mesmo, eu não sou uma filha legítima. Fui tirada de minha mãe ainda criança e cresci no palácio, preparando-me para ser um fantasma devido ao meu pai, assim tornando-me princesa.

— Eu não sabia, desculpa.

— Por que está se desculpando? Isso não é informação normal de se ter. Se você soubesse, teria ficado assustado — ela riu um pouco.

— Mas e você, Aidan? Sei pouco sobre você pelos documentos, mas nada tão interessante — perguntou Agatha com curiosidade.

Os dois continuaram a andar de mãos dadas por aquele grande labirinto sem fim. Aidan foi pego de surpresa com aquele tipo de pergunta, mas não havia muita coisa para se revelar, mesmo assim, decidiu se abrir, tentar ter uma conexão.

— Bem, posso dizer que eu era muito problemático para minha irmã, que sempre cuidava de mim, mas eu gostava de ficar perto. Não que eu tivesse escolha, também, haha — ele pareceu abatido por aquilo.

— Você não sente nada em relação ao que ela fez a você?

Aidan olhou para a princesa e novamente sentiu aquela sensação nostálgica, aquela sensação de quando Celina estava perto dele e olhava em seus olhos. Não conseguia resistir àquela pergunta, não sabia se não queria resistir ou se realmente não queria.

— Eu sei o que ela fez, também sei o que ela sentiu quando fez, e por isso não ligo para isso. Mas se posso reclamar um pouco, posso dizer que fiquei bastante chateado com ela.

Aidan sorriu amargamente ao dizer aquelas palavras, mas quando olhou para o rosto de Agatha, ela também sorria.

— Não o bastante para fazer algo contra ela, certo? Que inveja eu tenho dos dois — disse Agatha enquanto mordia os lábios. 

Aidan sentiu um arrepio em sua espinha. Ele não sabia o que foi aquilo, mas antes que pudesse pensar muito, viu outra porta em sua frente. Esta tinha o número 4 estampado nela. Agatha se soltou das mãos de Aidan e caminhou para a porta, abrindo-a e revelando um quarto tão escuro que tinha apenas uma pequena lamparina. Após chegar perto, Aidan percebeu um cheiro forte de ferro. Na lamparina, havia um texto que dizia: “O sussurro é o grito mais alto da vida”.

Ele engoliu em seco e adentrou o quarto escuro. Não conseguia ver um palmo à sua frente, mesmo com a lamparina acesa no máximo. Conseguia ver apenas algumas silhuetas ao redor. Eles caminharam por alguns minutos em linha reta, e foi então que começaram a escutar barulhos como grunhidos ou respirações. Não sabiam se era sua mente pregando peças ou se havia algo ali, mas conforme mais caminhavam, mais aqueles sons pareciam se aproximar, até a princesa falar algo.

— Aidan! — Exclamou Agatha.

Aidan apenas pôde olhar na direção dela e viu um homem com a pele meio acinzentada, seus olhos estavam totalmente brancos, sua boca estava aberta e revelava dentes podres. O homem parecia alguém que estava ali por muito tempo, mas ele tinha algo em seu pescoço que brilhou quando a luz chegou a ele.

Aidan respirou fundo e o piso forte no chão fez o homem se aproximar. A princesa parecia fazer algum som, e Aidan lembrou da frase. Ele segurou a boca da princesa enquanto colocava a lamparina no chão.

Enquanto segurava a boca de Agatha, Aidan olhou ao redor. Podia ver que aquelas silhuetas não eram coisas de sua cabeça, e sim o mesmo tipo de coisa que estava à frente deles. Aidan percebeu que todos pararam. Olhou para os sapatos da princesa e começou a tirá-los, assim como os dele. A princesa, observando suas ações, acenou com a cabeça quando ele fez um gesto para ficarem quietos. Caminharam cuidadosamente pela sala preta que parecia infinita, mas sentiam que estavam subindo e às vezes descendo.

Até chegarem à frente de outra porta, esta com o número 2. Mas algo parecia errado; a maçaneta parecia estranha. Para ser exato, não havia maçaneta, apenas um buraco de chave. Os dois suspiraram ao mesmo tempo; teriam que achar aquela chave em meio àquelas coisas.

Aidan olhou para os sapatos e teve uma ideia. Pegou um de seus sapatos e o jogou para o meio da escuridão. O barulho dele caindo, seguido pelo barulho daquelas coisas, fez a princesa se assustar, mas Aidan tinha um plano e sussurrou:

— Agatha, vou tentar achar a chave. Você espera aqui e tenta ficar preparada quando eu voltar.

— O que você vai fazer?

— Eu vou chamar a atenção deles.

Aidan pegou a faca que tinha guardado e a deu para Agatha. Preparou-se e começou a caminhar na escuridão. Por algum motivo, não estava com medo; pelo contrário, parecia estar se divertindo. Não enxergava direito, mas sabia que as únicas coisas que poderiam refletir luz eram dentes ou coisas brilhantes. Assim, começou a se guiar pela pouca luz da lamparina.

Não teve que caminhar tanto; viu o pequeno brilho dourado da chave. Porém, tinha um problema: como poderia chamar a atenção daquela coisa? Fácil, só precisaria dar o sinal para Agatha. Gritou:

— Agatha, agora! Se prepare!

A criatura começou imediatamente a correr para perto de Aidan, então ele começou a correr em direção à luz. Quando chegou perto o suficiente, viu Agatha se preparando para dar o golpe, e com apenas um movimento, aquela criatura caiu no chão, fazendo mais barulho do que imaginavam, atraindo o resto de criaturas que estavam naquele lugar.

Aidan pegou rapidamente a adaga do corpo daquele homem.

— Agatha, pegue a chave e abra a porta. Eu vou segurá-los! — Exclamou Aidan.

Ela, sem perder tempo, arrancou a chave do pescoço do homem e começou a destrancar a porta. Aidan se preparou para ser atacado, mas não enxergava aquelas criaturas, o que fez ele ser pego por uma e cair no chão. Uma pulou em cima dele, enquanto as outras tentavam pegar suas pernas. Ele teve que usar força bruta para empurrá-la para longe.

Ouviu o clique da porta sendo aberta, e quando olhou para a claridade entrando naquele lugar, viu como aquelas criaturas pareciam humanas. Estavam todos cegos, mas pareciam humanos o suficiente, tirando seus movimentos animalescos. Porém, teve algo que Aidan pode notar: a presença de veias vermelhas sobre as peles cinza, assim como as suas veias ficaram quando estava tomando Ourozina.

Tentou não pensar naquilo e começou a correr para a porta, a fechando quando a atravessou, e assim chegou a uma sala com apenas um grande relógio no centro.

Agatha parecia sem fôlego, assim como Aidan, mas a imagem em sua mente daquelas pessoas não iria desaparecer tão facilmente.

— Agatha, você conhece aquelas coisas? — Aidan olhou nos olhos dela com seriedade.

— Não, eu nunca havia visto aquilo — respondeu com apreensão.

Aidan respirou fundo e pensou que só poderia acreditar nela se fosse algo que ela gostaria de falar; ele não seria enxerido o bastante. Porém, uma pergunta voou em sua cabeça: e se aquilo for o seu futuro?

Aidan respirou fundo e tentou ignorar a realidade, chegando perto do grande relógio, junto a ele, uma carta. Ele leu em voz alta:

— Quais lugares se aventuram? Quais são as horas corretas? O que foi tirado e o que foi dado?

Aidan olhou para o relógio e viu os ponteiros apontados para meia-noite. Respirou fundo, mas a princesa começou a falar:

— Você lembra dos números das portas? — Perguntou com entusiasmo.

— Sim, eram 6, 4, 2 e 1 — respondeu Aidan.

A princesa pegou os ponteiros e começou a colocá-los exatamente nos números das portas, mas nada aconteceu, o que a deixou decepcionada. Aidan olhou para os números e lembrou que havia números também nas três portas; pegou todos.

— Temos 6, 12, 4, 2 e 1, mas 12 não poderia ser. Então poderíamos pensar em um sistema de 24 horas, ficando 18, 12, 16, 14 e 13 — Aidan olhou para o bilhete deixado e pensou mais um pouco — e se formos ver o conteúdo de cada porta, na primeira porta temos a sala em branco e as três portas, que seriam os 12 seria uma adição, dando 30. As portas que tiram seriam o labirinto e a escuridão, então 16 e 14, dando 2. E agora essa porta, que seria uma soma, dando 45. Mas como sabemos, não existe 45 no relógio, então seriam 4:50.

Aidan colocou os ponteiros para o resultado, e assim viram o grande relógio se movimentar e abrir um caminho. Aidan ficou feliz por descobrir o resultado, mas o que viu em seguida tirou o sorriso de seu rosto.

Um grande salão podia ser visto, mas o que mais chamava a atenção era sua irmã, totalmente pendurada por correntes presas no teto, vestindo um vestido branco. Podia ver sangue saindo de seus pulsos, e abaixo dela, Asha presa a uma cela, com uma focinheira. Mas o pior de tudo era o homem sentado em uma mesa de chá. Aidan sentiu algo em seu peito após ver aquela cena, algo em sua mente havia despertado, e aquilo queria a morte daquele homem. Aidan não precisava mais se segurar.



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