Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 21: Morte (2)

Um vento frio, uma tarde melancólica e cinzenta, Aidan diante de um lugar que ele sempre dizia não visitar. Ele observava os túmulos à sua frente, atrás de um simples portão de ferro. Ao seu lado, a única coisa que parecia quente era Anna, que olhava desconfiada para Aidan, segurando um buquê de flores vermelhas, rosas que sua mãe adorava. A mulher não conseguia entender o que Aidan estava pensando e, por isso, concentrou-se na missão que tinha.

— O senhor tem certeza de querer ir sozinho? — perguntou Anna.

— Sim, afinal, é apenas uma conversa sobre o passado — respondeu Aidan com frieza.

Aidan parecia cansado, mais cansado do que todas às vezes que voltou todo quebrado. Anna sabia de seus problemas com insônia e as dores de cabeça que sentia, mas não encontrava o motivo de seu tormento. Talvez ela quisesse saber mais sobre o homem que veio enfaixado em sua loja propondo um acordo ridículo.

Anna se perguntava se havia feito a escolha certa, ou até mesmo se poderia questionar-se sobre querer saber mais dele. Respirou fundo e observou seu cliente caminhar pesadamente para dentro do cemitério; suas costas pareciam pesadas, um peso que ela não podia imaginar.

Aidan caminhou pelos túmulos, cada um com datas diferentes. Alguns eram famosos e, por isso, tinham grandes construções, outros mais simples, o que exalava a vida da pessoa. Aidan propôs-se a imaginar como eram as pessoas que agora foram esquecidas e deixadas para a terra consumi-las. Ele chegou a pensar sobre o seu futuro, sobre a escuridão que sentiu quando estava desmaiado e quando havia morrido pela primeira vez.

Ele sentiu um frio, mas era aconchegante, até mesmo chamativo e encantador. Olhou para baixo e finalmente percebeu que, enquanto estava perdido em pensamentos, estava diante do túmulo de sua mãe. Lágrimas não podiam ser vistas, mas uma pequena frustração apareceu em seu rosto estoico.

Sua mente imersa não percebeu um homem ao seu lado. Ele se vestia como alguém do século passado, seus cabelos eram ruivos e seus olhos escuros. Seu semblante exalava nobreza misturada com tristeza. Ele olhou para o túmulo da mãe de Aidan e falou:

— Abandonando arrependimentos?

Aidan olhou para o homem que parecia simpatizar com seus sentimentos.

— Talvez, ou talvez quisesse apenas a cumprimentar uma última vez — respondeu Aidan.

Aidan abaixou-se e colocou as flores ao lado do túmulo. Ficou agachado por alguns segundos, para depois levantar e continuar a encarar o túmulo. Sua mente estava vazia e cheia de pensamentos, mas foi interrompida pela pergunta do homem ruivo.

— Como é ter alguém que te amou como filho?

Aidan o encarou e o homem levantou as mãos em defesa.

— Eu não tive uma família. Cresci em um orfanato, então nunca encontrei meus pais verdadeiros! — exclamou o homem com pressa.

Os dois se encararam e Aidan coçou a parte de trás da cabeça meio sem jeito.

— Não era algo ruim. Posso dizer que muitas vezes apenas ter a sua presença ao seu lado fazia o dia estar melhor, independentemente de estarmos com fome ou frio, quente... Sim, era algo quente, aquecia o coração e fazia todos esquecerem os problemas.

O homem escutou o que Aidan disse e sorriu com gentileza. Começaram a andar e o homem chamou Aidan para ir junto. Os dois caminharam entre os túmulos e viram ao longe uma capela. Estava antiga e velha, mas era um dos monumentos mais bonitos que Aidan podia ver, talvez não devido à beleza em si, mas ao significado que ela carregava. O homem sentou-se nos degraus do local e apontou para o seu lado. Aidan sentou-se ao seu lado.

— Você sabe o significado desse lugar? — perguntou o ruivo.

— Não totalmente. Apenas sei que era um orfanato.

— Está correto. Era um orfanato, para ser exato, o mesmo orfanato em que estive toda a minha vida. Sabe, nunca vi meus pais, apenas meus irmãos e irmãs. Este lugar é a única memória que não conseguiram tirar de mim. Por isso pedi para me encontrar contigo aqui, um lugar que conheço e fiz parte, diferente dos outros que apenas passei.

O homem juntou suas mãos e olhou para o céu nublado. Aidan também olhou para o céu. Sua mente, assim como as nuvens, estava nublada; ele apenas se ressentia de estar em um lugar daqueles.

— Aidan, você sabe o propósito da tua vida?

— Talvez.

— Ha! Isso é uma boa resposta. Por outro lado, eu não sei o meu, quero dizer, não encontrei o meu ainda. Me arrependo de ter abandonado a minha vida, mas parece que era apenas algo do destino. Você sabe, a organização chegou no orfanato e pegou as crianças, cada uma delas, Aidan. Eu as vi morrer em minha frente, cada alma que foi perdida devido a um homem louco e suas birras. Eu fui apenas um dos muitos que morreram e reviveram. Pior, posso dizer, mas estou vivo, o que me trouxe a sensação de ser escolhido por algo maior.

O homem respirou fundo e logo tossiu. Pegou do bolso uma seringa com um líquido vermelho, olhando para o objeto com angústia.

— Tudo para desenvolver poder militar. Tudo para ser melhor que os humanos que tanto despreza. Você acredita que várias crianças morreram para criar apenas brinquedos para o homem quebrar?

Aidan olhou para o objeto e ficou receoso. Ele nunca havia visto aquilo antes e não tinha informações sobre o que o homem estava falando. Por isso, ficou alerta para qualquer movimento.

— Você sabe da tensão econômica e política das famílias, certo? — perguntou o homem.

Aidan não conseguiu responder. Apesar de ler às vezes o jornal e ver as notícias, não conseguia se concentrar direito no mundo. Estava imerso demais tentando sobreviver. No entanto, tinha certeza de que uma guerra civil iria acontecer, e talvez a guerra que viesse desse a ele uma chance de fazer algo.

— Eu sei pouco, mas tenho certeza de que irá acontecer algo grande — respondeu Aidan.

O homem ruivo olhou para o céu e suspirou. Sorriu levemente e encarou Aidan nos olhos. Parecia sério.

— Garoto, saiba que o que está por vir irá mudar tudo. Você pode não saber, mas isso que está nas minhas mãos irá mudar o mundo. E outra coisa que tenho para te avisar, a organização está ligada a muito mais do que apenas esta cidade. As famílias sempre têm envolvimento — disse o homem com pesar em sua voz.

O homem encarou Aidan uma última vez e respirou fundo.

— Bem, não importa agora, vamos logo terminar com isso. Preciso encontrar minhas irmãs e irmãos.

O homem se levantou e tirou de seu casaco, mostrando dois socos ingleses com facas na ponta. Ele se preparou para o combate, e assim Aidan retirou seu casaco, revelando as suas facas em coldres na sua cintura e quadril.

Os dois novamente se olharam. Aidan esperou o momento certo para atacar e, quando o homem piscou, ele avançou. Tentou cortar o pescoço do homem enquanto perfurava o seu ombro, mas não teve efeito quando o mesmo se defendeu com suas lâminas. Os dois estavam testando a força um do outro, mas entenderam que nenhum dos dois tinha capacidade para aguentar aquela luta por muito tempo. Assim, uma regra indireta foi feita: quem acertasse primeiro o adversário, iria morrer.

Aidan se preparou para outra investida, mas o homem pegou novamente a seringa e aplicou em si o líquido vermelho. Seu corpo parecia doer, e suas veias estavam prestes a explodir. Seu coração acelerou e sua percepção do mundo mudou. Aidan via apenas um homem parado e encarando ele, mas a verdade era que o tempo corria diferente para os dois. Novamente, Aidan se surpreendeu. O homem que estava em sua frente a um segundo atrás, agora estava perfurando suas costas.

Aidan grunhiu pela dor repentina, mas pôde se recuperar. Viu que o homem estava com a defesa aberta e cravou sua faca em suas costas. O homem não havia movido um músculo sequer. Aidan ficou confuso, mas, após o lançar para longe de si com um chute, percebeu que o homem estava insano. Aidan sentiu raiva e atacou cegamente o homem, que apenas desviou e socou o rosto de Aidan.

O mundo a sua volta girou, sua mandíbula doía, seus olhos agora virados para o chão mostravam como sua cabeça estava tonta. Aidan não pôde respirar, ainda mais pelo chute que recebeu na boca do estômago. Foi lançado para longe, e quando finalmente pôde ver claramente, pensou em algo.

Aidan pegou suas facas arremessáveis e começou a lançá-las pelo chão do local. O homem ficou confuso, mas pareceu não se importar com a decisão desesperada de Aidan. Por isso, o atacou de frente. Aidan respirou fundo e começou a correr na direção do homem. Desviou dos seus ataques e, nos intervalos que tinha brechas, perfurava o corpo do homem com as facas deixadas no chão. Perfurou os ombros, estômago, costas, pernas, coxas e até mesmo as mãos do homem, que agora não parecia mais uma pessoa, e sim um porco-espinho.

Cansado e com sua última faca, Aidan encarou o homem que estava de pé e respirando. Respirou fundo e o atacou uma última vez, perfurando o peito do homem, que rapidamente caiu de costas nas escadas da capela.

Aidan estava cansado, sua visão embaçada, e seus pulmões quase sem ar. Sentou-se ao lado do corpo do homem quase sem vida, olhando para o céu, ofegante e tentando recuperar o fôlego.

O homem ao seu lado sorriu, uma pequena gargalhada podia ser ouvida. Olhou para Aidan e o perguntou:

— Aidan, você acha que sua vingança mudaria algo?

— Não, mas eu não me importo — respondeu Aidan com cansaço em sua voz, parecendo irritado.

— Haha, bem, espero que não se arrependa. Não deixe a culpa consumir você por inteiro. Até porque, você foi a esperança de alguém hoje…

Um último suspiro saiu da boca do homem, que agora tinha seus olhos fechados e sua boca com um sorriso em paz. Aidan pegou um cigarro e o colocou na boca, olhando para o seu relógio e percebendo que havia passado da hora planejada. Viu a empregada em sua frente, preparada com uma pistola, mas quando ela o viu fumando enquanto olhava para o céu, apenas suspirou e foi ao encontro dele.

— Senhor, se você ficar aqui, tenho certeza de que sua saúde não vai melhorar — disse Anna com ironia em sua voz.

Aidan olhou para Anna e sorriu.

— Certo, eu irei voltar para a base. Preciso ver como Asha está se saindo.

A fábrica estava iluminada mesmo durante a noite. Aidan escutou dos trabalhadores que a garota estava recuperada e treinando. Ele não pôde acreditar naquilo de início, mas ao ver como ela estava enfrentando uma das empregadas de Anna, se impressionou. Foi em direção da garota, que sorriu com alegria.

— Dan! Olha! Estou muito melhor do que da última vez!

Sua voz parecia melhor, embora ainda fosse baixa.

— Sim, posso ver o quanto melhorou, mas não é cedo demais para praticar? — indagou Aidan.

Aidan se abaixou e olhou nos olhos diferentes da menina. Ela estava determinada e alegre.

— Não se preocupe! Eu era a única que aguentava o líquido vermelho!

Aidan recebeu um choque. Não havia passado muito tempo desde que ele ouvira falar sobre o líquido e as crianças. Precisava investigar mais a fundo, mas deixou de lado seus pensamentos quando Asha pareceu um pouco confusa.

— O que houve, Asha?

— É que... eu queria perguntar se você ainda ama alguém... — disse Asha, escondendo-se com seus cabelos na frente do rosto. Sua pele branca mostrava o rubor de vergonha.

Aidan riu e a levantou em seu colo.

"Não deve fazer mal dar uma pequena visita, não é?"

— Sim, tenho a única pessoa que verdadeiramente amo em meu mundo. Você quer a ver?

— Claro! Ela adoraria uma visita.

Era tarde. Emily estava em sua casa, planejando como iria se encontrar com seu irmão novamente. Ela havia reunido muitas informações sobre a organização que poderiam ajudá-lo. Já havia pensado no que ele estava fazendo, especialmente por ter olhos e ouvidos em toda a cidade. Ela sabia que seu irmão estava eliminando todos da organização e também sabia que era escolha dele. Por isso, apenas o vigiava. Mas suas ações haviam mudado nos últimos meses, o que a fez duvidar do que o havia mudado.

Repentinamente, escutou a campainha de sua casa tocar. Era impossível ser alguém que ela conhecia, pois não estava esperando visitas. Isso a fez pegar uma adaga que guardava para emergências. Foi diretamente para a porta e olhou pelo olho mágico. Não podia acreditar no que via. Abriu a porta e viu diante dela uma garota e seu irmão, ambos sorrindo e segurando sacolas. Não sabia o que pensar até que o chamado de Aidan a trouxe de volta à realidade.

— Emi, tudo bem? — perguntou Aidan, preocupado.

— Sim, me desculpe, mas o que você está fazendo aqui? E quem é essa garota? — Emily apontou para a garota, que se colocou na frente de Aidan e ergueu as sacolas de compras.

— Meu nome é Asha! Dan disse que você seria alguém que ele gostava, e eu queria ver você, então estamos aqui!

A garota era baixa e tinha uma voz suave. Seu corpo era muito magro. Emily não pôde deixar de suspeitar de Aidan, especialmente após ver um sorriso orgulhoso em seu rosto. Emily o encarou e ele apenas sorriu inocentemente. Suspirou e saiu da frente deles.

— Entrem, vamos ver o que podemos fazer.

Aidan pegou as sacolas de Asha com uma mão e, com a outra, a conduziu para dentro da casa, onde a colocou no sofá. Emily olhava para aquela situação e sentia uma dor de cabeça surgir. Aidan não gostava de tocar nas pessoas, especialmente em estranhos. O que aquela garota tinha que fazia Aidan ignorar isso?

— Estamos preparando algo para o jantar? — Aidan perguntou para Emily, com um sorriso no rosto.

Aidan foi diretamente para a cozinha de Emily. Ela o seguiu e agarrou suas roupas.

— Espere aí! Você vai me dizer o que significa isso?

— O que quer dizer? — respondeu Aidan, confuso.

— Bem, você chegou na minha casa do nada e ainda por cima com uma criança!

— É uma longa história. A versão resumida é que a encontrei em uma das minhas missões, e ela quis ficar comigo. Além disso, como ela disse, queria te ver, por ser uma pessoa que me importo.

Emily olhou para Aidan com desconfiança, mas não era uma história tão louca assim. Ela já havia passado por coisas piores. Observou as sacolas do mercado e percebeu o que ele planejava. Estavam preparados para fazer um grande jantar.

— Certo, deixa eu te ajudar. Lembro-me de que você nunca foi bom na cozinha — disse Emily, debochando.

— O quê? Eu tinha apenas 6 anos! Como você pode dizer que eu era ruim? — exclamou Aidan.

Emily olhou para Aidan, que tinha um sorriso desconfortável. Apenas o encarou com dúvida e desgosto.

— Eu também tinha apenas 6 anos e era muito melhor do que você.

Aidan ia dizer algo, mas desistiu. Não estava com cabeça para aquela conversa. Sua cabeça doía muito, com seu queixo. Talvez a luta tivesse sido mais difícil do que ele pensava. Sua visão embaçou um pouco, fazendo-o cair para o lado e se segurar na mesa. Emily viu aquilo e correu até ele, colocando a mão em seu queixo. Ele fez uma expressão de dor. Ela estalou a língua.

— Por que toda vez que a gente se encontra você está machucado?

— Bem...

— Certo, vou colocar um curativo nisso e te dar uns analgésicos. Vá para a sala e cuide da criança.

— Ok, obrigado.

Sua cabeça estava totalmente vazia. Ele foi para a sala e se sentou no sofá. Olhou para Asha, que estava assistindo TV, um programa sobre golfinhos.

Aidan apenas piscou, mas parecia que havia pulado o tempo. Quando estava com os olhos fechados, sentiu um cheiro ótimo e escutou alguém em seu ouvido.

— Dan!

— Hm?

Ele abriu os olhos com dificuldade e viu Asha ao seu lado, sorrindo. Percebeu que faltava um dente em seu sorriso. Levantou-se e notou que a mesa estava pronta. Conforme sua cabeça se movia, percebeu que sua irmã estava segurando Asha em seu colo. Parecia que ela gostara bastante da garota. Olhou para seu corpo e viu que estava enfaixado, suas feridas haviam parado de sangrar. Quando olhou para Emily, ela fez uma cara de deboche.

— Pensei que não fosse acordar. Você sabe como deixou Asha preocupada.

— Desculpa, acho que a dor de cabeça me fez dormir.

Fazia algum tempo que Aidan havia relaxado o bastante para dormir; sua insônia e suas alucinações não o haviam atacado naquele dia. Ele se levantou e foi para a mesa. Parecia estranha, parecia familiar. Aidan se sentou e Emily e Asha logo em seguida. Talvez devido à sua cabeça, mas ele sentiu um pouco de nostalgia, o que o fez sorrir de felicidade.

Diante dele havia um prato que sua mãe fazia frequentemente. Ele podia escutar as vozes do pai elogiando a comida. Sempre gostava desse prato. Aidan mordeu os lábios de frustração, mas sua atenção foi para outro lugar. Sentiu um toque suave. Olhou para sua mão e sua irmã a estava segurando com um olhar apreensivo. Apenas balançou a cabeça em negação e colocou a primeira garfada em sua boca. Os outros fizeram o mesmo, e ainda em silêncio, todos saboreavam a comida.

O silêncio não era desconfortável; era reconfortante. Aidan suspirou em alívio. Olhou para Asha, que estava com os olhos brilhando. Por um instante, seus olhos se encontraram e ela parecia envergonhada.

— Dan, qual é o nome do prato? — perguntou Asha, envergonhada.

Emily se intrometeu no momento em que Aidan iria responder. Seus olhos estavam marejados, mas ela sorria enquanto falava.

— É käsespätzle, é um prato alemão que nossa mãe adorava fazer e nosso pai adorava comer. Tanto que teve uma vez que ficamos uma semana apenas comendo isso.

Assim como seu irmão, ela podia sentir a nostalgia. Asha olhou para os dois e sorriu, mas seus olhos estavam cheios de lágrimas. Aidan se desesperou e se levantou correndo. Emily fez o mesmo. Perguntaram ao mesmo tempo:

— Você está bem?

— Tem algum lugar doendo?

A garota olhou para os irmãos e começou a rir. Os dois não entenderam e se entreolharam. Ela se acalmou e abriu a boca:

— Vocês são realmente parecidos. São pessoas gentis. Espero que vocês nunca briguem!

Emily suspirou e Aidan também. Não aguentavam aquela situação. Não sabiam lidar com outras pessoas. Mas ver o sorriso da garota os fez se acalmarem. Voltaram para a mesa de jantar e terminaram suas refeições.

Todos estavam felizes. Emily carregou Asha para perto da TV e conversou com ela sobre os animais que ela observava na tela. Aidan lembrou da sobremesa que ele havia trazido. Pegou os pratos para todos. Sabia que sua irmã iria adorar a surpresa. Levou as sobremesas e se sentou perto das duas, oferecendo o bolo de sua infância.

— Você se lembra, irmã? — perguntou Aidan, com felicidade.

Emily se surpreendeu. Pegou o bolo e sorriu, parecia animada por vê-lo.

— Faz bastante tempo que não como esse bolo. Fico feliz que tenha trazido, Dan — disse Emily, sorrindo. Algo que fez Aidan sorrir também. Fazia tempo que não via alegria no rosto de sua irmã.

— Claro! Como eu não iria trazer isso?

Todos, após comerem a sobremesa, ficaram acordados até Asha dormir. Emily a levou para seu quarto, enquanto ela iria dormir no quarto de hóspedes. Olhou para Aidan, que estava pensativo no sofá. Ela se sentou ao seu lado e o encarou. Podia perceber as olheiras debaixo de seus olhos, lembrava de ver as cicatrizes em seus braços, podia ver todo o cansaço em seu semblante. Por isso, colocou os braços sobre ele, dando-lhe um abraço.

— Me diga, irmão, você realmente não vai desistir?

— Não posso. Se eu fizer isso, tenho certeza de que outras crianças como Asha vão sofrer.

— Eu entendo, mas e o seu sofrimento?

Aidan olhou para o rosto apreensivo e triste de sua irmã.

— Não se preocupe, contanto que você viva, eu também viverei.

— É uma promessa.

Aidan sorriu gentilmente.

— Sim, é uma promessa.

Aidan acabou dormindo, enquanto Emily se dirigia para o seu quarto. Não gostava do que estava acontecendo, mas não havia nada que pudesse fazer além de tentar salvar seu irmão de se destruir. Sabia que a única forma era acabar com a organização. Tentou não pensar muito, ainda mais que agora não era hora para isso. Apenas suspirou uma última vez naquele dia e dormiu em sua cama.

Um grande barulho despertou Aidan. Sua mente estava confusa, seu corpo doía, sentia o sangue ferver em suas veias, seus pulmões expeliam sangue. Aidan olhava em volta e ficava surpreso pelo que via. Conseguia ver sua irmã nas mãos de pessoas com roupas estranhas, um de seus olhos estavam vermelhos, a criança estava sendo presa em uma espécie de gaiola, Aidan olhou para os lados em busca de uma arma, mas ele acabou sendo jogado para longe.

— Não é correto tentar atacar meu querido fantasma — uma voz sussurrou em seu ouvido esquerdo, uma voz bela e feminina, ele sentia o seu corpo arrepiar com aquela voz.

ele olhava para a direção daquela voz e via uma mulher com um vestido longo e vermelho, ela tinha olhos vazios e negros, seus cabelos eram loiros e compridos, em sua mão tinha uma arma, e ela apontava para Aidan.

— Essa é a primeira vez que nos vemos, não é? — ela perguntou com certa ironia na voz.

Aidan olhava para a mulher e lembrava de onde ele a havia visto, ela era a princesa das grandes famílias, ela estava acima de todos naquele lugar, Aidan não pode deixar de sentir o desespero.

— Há! Parece que você já me conhece, me chamo de Agatha Astville, e vim pelo Bispo, parece que você cometeu muitos pecados, meu caro fantasma, então estou aqui para o executar — disse a princesa calmamente.

Aidan sentiu uma pequena dor em sua cabeça, ele não conseguia olhar nos olhos da princesa, ele não sabia se era devido ao seu instinto, ou por causa daquele vazio que ele via nela, ele apenas abaixou a cabeça, e dessa forma, tudo o que ele poderia ver era a escuridão.



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