Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 2: Chamado (2)

Uma chuva densa e um clima tenso eram tudo que podia ser sentido naquela manhã na pequena cidade. Era possível ver os olhos aterrorizados das pessoas que liam o jornal, e também podia-se notar a desesperança nos olhos dos policiais que estavam na cena do crime.

Leon estava na porta de entrada do inferno. Ele via todos os tipos de pessoas na frente da casa do pobre homem morto. Desde pessoas chorando, jornalistas, até policiais iniciantes vomitando e outros que gostavam de uma boa fofoca.

E tomando coragem, Leon andou em direção àquela multidão que gostaria de saber o que estava acontecendo. À frente da porta estava o delegado com uma jaqueta de couro, que certamente não lhe servia.

Seus olhos estavam turvos e seu charuto estava no final, o que fazia Leon ser a pessoa mais acolhedora e gentil possível naquele possível poço de ansiedade e desespero chamado delegado.

— Oi, cheguei o mais rápido possível. — Disse Leon.

O delegado olhou para o garoto que forçava um sorriso e suspirou.

— Você sabe que essa sua frase é bem clichê para essa cena, né?

— Hmm, talvez? — Leon colocou sua mão em seu queixo.

— Entra logo, precisa ver isso de perto. Mas já vou avisando, não está nada bonito, e dessa vez é sério.

O delegado pegou seu charuto, apagou-o e guardou-o logo em seguida no bolso de sua calça. Os dois entraram na cena e havia um pequeno rastro de sangue na entrada da casa do homem.

— Quem foi a vítima? — Perguntou Leon, preocupado.

— Um professor que aparentemente dava aulas para as crianças.

— Certo. Ele tinha alguma família?

— Sim, elas estão lá fora, chorando e desejando que tudo seja um pesadelo.

Leon ficou calado diante do último comentário e seguiu o rastro de sangue até encontrar um cheiro muito forte que irritou seu nariz. Ele olhou para a cena e de fato ela não estava bonita.

O corpo do homem estava ajoelhado e amarrado. À sua frente havia um círculo de papéis e no teto havia sangue com algum tipo de desenho. Leon se aproximou do corpo para ver mais detalhes e pôde ver seus pulsos cortados, junto de seu peito com uma marca com a letra “P” tatuada em sua carne. Havia também algum tipo de corte na cabeça do homem que não dava para entender.

Leon olhou para a cena e percebeu que havia algo errado com aquele lugar. Estava tudo muito arrumado para um assassinato. Geralmente, a vítima luta, ou estaria drogada.

— A família não vinha para a casa dele? — Perguntou Leon, preocupado.

— Não, parece que a esposa estava separada, com a guarda da criança.

— O homem tinha algum comportamento suspeito?

— Sim, ele sumia por dois dias, explicando o porquê dele não se mexer. — Disse o delegado, apontando para o corpo. — Se você observar, ele foi montado desse jeito. Dá para ver que foi feita uma cirurgia em seus braços, pernas e costas, tudo para que ele continuasse ajoelhado.

Leon mordeu os lábios e ficou um pouco nervoso. Se ele estiver certo, aquilo foi premeditado e também foi feito de propósito para chamar atenção não somente dos policiais, mas também da imprensa.

Antes mesmo de ter um momento para pensar, Leon olhou para o teto que estava pingando. Ele suspirou e percebeu que o sangue estava pingando devido à chuva. Achou estranho a goteira no local e olhou diretamente para ela, vendo um pequeno buraco nela.

Achando estranho e observando a reação do delegado, percebeu que havia algo errado. Somente ao se afastar um pouco, ele notou o desenho de corvos com sangue da vítima.

— Quero saber o porquê daquele buraco. — Disse Leon apontando para a goteira.

— Sim, também quero.

Os dois ficaram em silêncio olhando para a cena e suspiraram preocupados.

— Certo, não vamos conseguir mais nada. Temos que conferir o corpo. Me fale quando eles o tirarem daqui, eu quero saber os mínimos detalhes de sua morte. — Disse Leon, pensando no que poderia ter causado aquilo.

— Certo, eu ligo para você mais tarde. — Respondeu o delegado com preocupação em seu rosto.

Leon respirou fundo e deu as costas para a cena grotesca. Então, ele encontrou o flash de uma câmera em sua cara. Havia mais jornalistas do que o normal, e agora todos estavam ansiosos para saber o que aconteceu. Mas Leon não estava com cabeça para aquilo.

— Senhor, você pode nos dizer como está o corpo? — Perguntou um jornalista com animosidade.

— Que pergunta idiota! Saiam da frente! Estão atrapalhando a investigação! — Exclamou Leon com raiva.

Leon afastou os jornalistas com o braço, e logo todos foram empurrados para trás, quase caindo no processo. Leon tinha muitas coisas na cabeça e a principal era como alguém podia fazer algo daquele jeito com uma pessoa, ainda mais alguém inocente.

Ele se apressou para sair do lugar e pegar o táxi que ele deixou esperando no local. Por coincidência, era o mesmo motorista da noite passada, o que facilitou para ele.

— Para onde agora, senhor?

— Para o bar. Preciso tomar alguma coisa. A chuva não está ajudando em nada.

Olhando para o seu celular e percebeu o dia e também a hora. Eram exatamente 13:30, dia 13 de janeiro. Ele suspirou e lembrou do que tinha que fazer. Ele precisava encontrar alguém de sua família e dar os parabéns.

Ele foi para o bar e, no momento em que entrou, percebeu que estava vazio. Ele pensou: "Claro que está vazio, é uma segunda-feira".

Ele foi em direção ao caixa e viu o garçom sentado, lendo os jornais. Quando notou Leon, ele se levantou rapidamente e preparou um copo, com uma garrafa de cerveja. Então, deu um sorriso amigável, mas com um olhar triste.

— Dia difícil, senhor?

— Provavelmente, Otto — disse Leon, logo bebendo um gole da cerveja — e olha que isso é apenas o início do dia.

Leon sentiu sua cabeça dar uma pequena girada. Pegou os cigarros que estavam em seu bolso e os acendeu com um isqueiro de ferro antigo, herdado de seu pai. Tragou o cigarro e quando sentiu a fumaça em seus pulmões, soltou-a em um suspiro.

Enquanto olhava para o isqueiro, lembrou-se de seu pai, alguém que de fato era estranho para ele, alguém que não fazia sentido, ainda mais por ele criar um filho tão problemático que não era dele.

Leon não percebeu o tempo passar, e por isso não percebeu que tinha mais de uma garrafa de cerveja em sua frente. Mas percebeu que sua cara, em vez de estar reta, estava na mesa do bar, e com o rosto dolorido, ele abriu seus olhos e esfregou sua face, para a lentidão passar, o que não adiantou muito.

— Parece que foi um dia difícil — disse uma voz feminina.

— Sim, um dia ruim, eu acho.

— Bastante ruim lidar com isso logo na segunda? — a voz parecia estar se aproximando de seus ouvidos.

— Um pouco, eu esperava lidar com algo do tipo de repente, sei lá, durante umas três semanas?

Leon respondia automaticamente, enquanto acendia outro cigarro, vendo que o anterior estava totalmente amassado, mas percebeu estar respondendo a alguém.

Ele virou para o lado e percebeu uma mulher lá, não qualquer mulher, mas a princesa da cidade. Ele paralisou por um momento enquanto ela sorria para ele e o observava enquanto tomava o que parecia ser um suco de laranja.

— Haha, você parece um pouco atordoado, quer um pouco de suco de laranja? — disse Celina enquanto empurrava o copo para Leon.

— Eu vou aceitar — respondeu, um pouco envergonhado.

Leon pegou o copo da mulher e tomou um gole, logo vendo sua garganta queimar e sua língua ficar dormente. Ele quase cuspiu todo o líquido, soltando um barulho estranho enquanto falava e tossia ao mesmo tempo.

— Haaa, isso é tequila! Não suco de laranja!

Ele olhou para a mulher que estava gargalhando com a reação dele. Checou o relógio e agora era quatro da tarde. Ele ficou muito tempo naquele bar. Olhou para o isqueiro novamente e ficou preocupado.

Celina olhou para o comportamento de Leon e ficou curiosa.

— Então, está desse jeito pelo que aconteceu ou devido ao dia? — perguntou Celina, olhando para o rosto de Leon.

— Acho que os dois, descobrir um assassinato daquele não é legal para a ressaca, e também o dia não ajuda — respondeu Leon, com a cabeça ainda girando.

Ela olhou nos olhos dele, percebendo a tristeza. Perguntou:

— E que dia seria hoje?

— Dia da morte do meu pai.

Ela ficou em silêncio com um olhar sombrio em sua face. Respirou fundo e tomou um grande gole da bebida, olhando para ele e abaixando a cabeça.

— Me desculpe pela minha indelicadeza — ela abaixou a cabeça com receio.

Leon observou aquilo e não pôde pensar que ela realmente se desculpou com ele por uma trivialidade daquelas. Mas também não conseguia pensar no porquê de seu coração acelerar um pouco.

— Não precisa, você não sabia, e também eu não me importo tanto assim.

— Isso não é verdade! Senão você não lembraria do dia! — respondeu Celina, enquanto batia a mão na mesa.

— Haha, verdade — disse Leon um pouco envergonhado.

Ele olhou para a mulher que estava tomando metade da sua bebida, sem ela demonstrar nenhuma reação. Leon pensou se ele era fraco ou ela era muito forte ao álcool.

Ela então olhou novamente para Leon com curiosidade em seus olhos e ele já sabia o que ela iria perguntar e antecipando ele respondeu à pergunta:

— Sim, meu pai era uma boa pessoa.

Ela levantou o dedo e logo abaixou.

— Como ele era? — perguntou com um sorriso gentil no rosto.

— Bem, como qualquer pai por aí, ele tinha forte senso de proteção e ele gostava de caçar com os filhos, ele até mesmo me fez caçar um coelho, mas não tive coragem de matar o animal.

— E como é sua mãe?

— Bem, ela também se foi, mas ela se foi antes do pai, ela não gostava muito de mim, mas sabia ser atenciosa na maior parte do tempo.

Ela engoliu em seco e tentou fazer outra pergunta:

— Você tem um irmão, não é?

— Sim, Victor, também era idêntico ao seu pai, ele sempre cuidava de mim, por mais que eu fosse o mais velho, ele era muito gentil com todos, o pai falava do mundo bastante para a gente, ele sempre repetia uma frase: “Não se esqueça garoto, o mundo é grande e cruel, por isso você tem que tomar cuidado, você tem apenas uma chance, faça cada momento valer a pena”.

Leon abaixou a cabeça e respirou fundo, olhando para a tal princesa que agora estava pensando. Parecia que ela tinha muitas coisas em sua mente.

Leon não julgava ela. Era realmente muita informação para uma conversa. Ele então percebeu quando ela sorriu e olhou diretamente para os olhos dele, enquanto agarrava sua mão.

— Me diga, você me dá permissão para fazer uma coisa?

— Depende… — respondeu Leon receoso e desconfiado.

Ele olhou duvidando do que se tratava, percebendo os olhos empolgados da mulher.

— Não será nada perigoso, você poderia me acompanhar para fazer algumas compras?

— Se não for muita coisa, então sim.

Ela então se levantou e puxou Leon para a porta do bar. Ele tentou resistir e lembrou de algo importante.

— E a conta? Precisamos pagar! Eu preciso pagar! — gritou enquanto tentava puxar o seu braço para o outro lado.

— Eu já paguei a sua parte e a minha, então, venha logo!

"O quê? Por que ela faria isso para alguém desconhecido?"

Leon não podia imaginar, mas ela parecia animada por estar ao lado dele, e durante esse tempo que ela disse que iria o levar para fazer compras, ele pensou que seria para ela. Mas todo lugar que eles foram estava ligado com Leon.

De início, ela comprou roupas para Leon, todas combinando com as dela, roupas formais e pretas. Ela foi para um mercado e comprou bebidas e então, por último, ela comprou flores. Ela parou em frente do shopping onde estavam com várias sacolas.

— Me desculpe a pergunta, mas onde está seu pai? — perguntou Celina com um pouco de medo e receio.

— Ele está na montanha onde vivíamos. Se formos agora, poderemos chegar lá em apenas algumas horas, mas vamos precisar subir muitas escadas — disse Leon enquanto sorria e descobria o que ela iria fazer.

— Eu não me importo, mas e você? — perguntou Celina com um sorriso gentil e olhos cheios de determinação.

Leon sentiu um pequeno aperto em seu peito, mas um sentimento caloroso o tomou. Ele sorriu e pegou na mão de Celina.

— Vamos, claro, vou te apresentar o lugar onde morei.



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