Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 1: Chamado (1)

 

Os pulmões que não conseguiam respirar normalmente, o campo de visão dificultado, o ambiente tinha chamas ao redor deles. Duas pessoas de pé, uma tem uma arma, enquanto a outra está apenas machucada e esperando para que sua vida acabe. Mas a história não deveria começar por esse momento.

O dia em que tudo começou, era uma noite em que um encontro harmonioso foi planejado, mas ao invés disso, houve uma festa no bar. As pessoas estavam comemorando e brindando com seus copos cheios de cerveja. Era normal, ainda mais quando um detetive soluciona um crime em uma cidade pequena como aquela, mas algo irritava o organizador daquilo tudo: o delegado achava que a estrela da festa estava muito ofuscada.

Enquanto todos conversavam na festa de boas-vindas do novo detetive, o delegado se levantou de sua cadeira e bateu palmas, chamando a atenção de todos no momento. Ele disse:

— Eu sei que todos estão animados devido à bebida alcoólica, mas não vamos esquecer que estamos aqui devido a alguém especial, alguém que considero como um filho, mesmo não sendo meu. Eu quero que todos vocês aceitem o senhor Leon Abraham, assim como aceitaram seu irmão Victor, deixando essa baboseira para depois. Vamos beber!

Todos gritaram de emoção e o principal, que era a estrela da festa, estava apenas observando todos. Um homem alto de cabelos loiros e lisos, seus olhos afiados e azuis-escuros, com um sorriso em seu rosto de orgulho do que havia feito. Ao seu lado seu irmão, era um homem totalmente diferente, tinha cabelos pretos e olhos arredondados, seu corpo era esguio e diferente comparado com o do seu irmão, mas isso não importava para ele, já que era a inauguração de seu irmão mais velho. Ele apenas gostaria de ver todos comemorando e festejando, já o seu irmão, apenas olhava para a multidão que bebia como se não houvesse amanhã. 

Leon tentava procurar uma garota que queria ver há anos, mas sem sorte apenas achou o delegado que se aproximou.

— Está bastante confortável, moleque.

— Sim, claro, demos nossa vida nesse caso, por mais que fosse o marido que havia cometido o crime.

— O desgraçado conseguiu passar por debaixo dos nossos narizes!

— Nosso não, apenas do seu. Eu sabia desde o início, era algo bem óbvio — Leon disse ironicamente.

— Ha! Não se ache tanto, principezinho. Você só conseguiu um caso grande e sorte, só isso! Tem que ter cuidado nos próximos.

— Eu sei, mas me diga, você não acha que alguém está faltando?

— Hmm? Ah, sim, aquela garota disse que iria chegar tarde, avisou que talvez perderia toda a festa.

— Tch! Agora que eu queria esfregar na cara dela meu sucesso!

— Haha, ela realmente ficou orgulhosa de você, garoto, espero que continue assim.

O homem tomou o último gole de sua bebida e arrumou seu casaco no seu corpo.

— Já vai embora?

— Sim, tenho que tomar cuidado. Ainda preciso acordar cedo amanhã. Até porque, quem mais iria cuidar das coisas se toda a nossa brigada está bebendo cerveja como se fosse água?

— Bem, até amanhã — respondeu Leon com uma mexida de cabeça.

O homem abraçou o delegado e quando o soltou, percebeu o sorriso naquele rosto envelhecido pelo tempo e pelas experiências. Era raro aquilo acontecer. Leon sentiu um arrepio pela rara visão, mas o delegado estava realmente feliz, o garoto havia alcançado um patamar bom em sua profissão, o que o deixava orgulhoso.

O delegado se despediu e saiu do bar, e quando menos esperavam, duas mulheres entraram. Uma que chamou a atenção de todos, e a outra que estava atrás dela, chamou a atenção de Victor, que gritou seu nome.

— Ei! Alice! Vem aqui! — disse, balançando o braço no ar.

A garota que usava uma roupa casual sorriu quando olhou na direção dos dois irmãos. Ela tinha a pele morena e cabelos cacheados, seus olhos verdes chamavam atenção de todos quando ela passava, e seu sorriso encantava a todos.

— Finalmente, Alice! Nós estávamos achando que você não iria vir — disse Victor enquanto abraçava sua namorada.

— Haha! Eu não ia perder a festa do nosso pequeno detetive.

Ela virou para o homem sentado no banco do bar com um copo de whisky na mão e um cigarro na outra, fez uma reverência, e logo deu risada.

— Meus parabéns — ela fez uma reverência — Vossa majestade.

— Ah, pare com isso, vem aqui!

Os dois se abraçaram, havia passado muito tempo desde que os três estavam reunidos, e por isso eles estavam felizes ao se verem. Mas algo chamava a atenção do detetive, não algo, mas alguém, a mulher que havia entrado junto de Alice.

— Curioso sobre ela? — Victor disse notando o olhar de Leon — Não julgo, ela é a princesa da cidade desde que chegou aqui, e olha que as pessoas daqui não gostam de forasteiros.

— Interessante — disse Leon em voz baixa.

O tempo passou rápido para aqueles que haviam bebido. Já era hora de voltar para casa. O homem estava feliz, mas logo esse sentimento foi transformado em nervosismo, a tal princesa estava agora ao seu lado, e o silêncio que estava no bar o fez ficar desconfortável.

— Eu não me apresentei para você, não é? — disse a mulher quebrando o gelo entre os dois.

— Sim, eu sou Leon Abraham — disse ele enquanto se engasgava com sua bebida.

— Celina Carter, espero que nos demos bem, detetive.

— Igualmente.

Em um movimento rápido, ela puxou a cadeira para perto de Leon e o observou.

— O que foi?

— Nada, é só que você parece alguém que conheci, estranho…

— Eu nunca vi você na minha vida, me desculpe.

— Não, tudo bem, eu também tenho uma péssima memória para rostos humanos. Bem, espero que goste da cidade, assim como eu gostei.

Ela sorriu novamente para Leon, e seus olhos pareciam cheios de curiosidade. Ela se levantou e foi embora.

Leon pensou que foi um encontro estranho, ainda mais por eles não se conhecerem direito. Além disso, ele também sentiu algo que o fez duvidar de sua índole como detetive, sendo a atração extrema por ela. Leon balançou a cabeça e tomou o último gole de sua bebida. Foi embora também, tentou não se preocupar com aquilo por hoje, ele precisava encontrar o hotel onde iria ficar. Ele finalmente poderia voltar para casa. Devido à chuva forte, pediu um táxi. Quando entrou no táxi e estava quase chegando ao seu destino, o motorista perguntou:

— Você não é daqui, é? — o homem tinha uma voz áspera.

— Não, estou aqui para visitar minha família — respondeu calmamente.

O taxista desviou o olhar da estrada para encarar o forasteiro pelo espelho do carro, logo estalou a língua.

— Sabe o que dizem quando chove aqui, garoto?

O passageiro ficou um pouco confuso, já que Leon não era tão jovem comparado ao motorista, mas continuou a conversa.

— O quê?

— Que terá péssima sorte, eu sempre ouvia isso da minha mãe, e nunca me esqueci disso. Espero que você também não, já que é estrangeiro.

— Certo, irei lembrar.

O passageiro olhou pela janela do carro e pôde ver as pessoas correndo nas ruas para um lugar seguro da chuva. Leon pensava: “Espero que essa semana não chova tanto.”

Ao chegar no hotel, Leon saiu do carro e encarou o hotel à sua frente. Dirigiu-se ao local e pôde sentir os olhares das pessoas.

Chegou na recepção e o atendente olhou dos pés à cabeça do homem, fazendo Leon se sentir desconfortável.

— Você parece ser o irmão do Victor.

— Sim, meu nome…

— Não precisamos do seu nome — disse, interrompendo Leon — nós já sabemos dele.

O atendente levantou sua mão com a chave de um quarto.

— Pegue a chave e vá para o seu quarto. Fica no quarto andar, na porta 4 do corredor.

O homem suspirou e pegou as chaves. No caminho, percebeu seus vizinhos. Alguns eram pessoas ocupadas, outros tinham muito tempo livre e alguns estranhos, que o encaravam, o que o fez apressar o passo.

Seu quarto não era um dos melhores, mas era decente. Tinha um banheiro relativamente grande, com uma banheira. Seu quarto e sua cozinha eram no mesmo lugar, mas era um local satisfatório. Era perto da delegacia e também do centro da cidade.

Ele deitou em sua cama, e pôde fechar seus olhos cansados do dia, para em seguida receber uma ligação do delegado.

— O que houve? — disse, meio confuso pelo sono.

— Temos um caso muito importante — disse o delegado com uma voz meio rouca — venha rapidamente.

— Certo, já tô indo — disse Leon, se levantando enquanto olhava para a janela.



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