Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 19: Confronto (3)

 A tempestade abraçava a cidade, os trovões iluminavam a sala que ainda estava na escuridão, e Emily olhava para o corpo em que estava jogado em seu sofá, ela de início pensou ser um estranho, mas vendo por alguns segundos o rosto de seu irmão totalmente ensanguentado, fez ela agir rápido, ela pegou o kit de primeiros socorros e virou o corpo do irmão, ela rasgou a camisa dele e ela percebeu haver um buraco de bala em suas costas e perna, ela se apressou e retirou a cápsula, felizmente não foi fatal, e contando com a outra ferida, ele estava até bem, o que acalmou a sua mente.

Ela tentou o seu máximo para costurar todos os ferimentos que Aidan tinha, percebendo que ele tinha várias outras cicatrizes pelo corpo, sem contar com o olho faltando, que incomodava qualquer um que olhasse para o globo ocular vazio.

Demorou alguns dias para Aidan acordar, ele ficou agitado e teve alguns surtos, fazendo suas feridas se abrirem constantemente, o que fez Emily chamar um conhecido do hospital, o homem cuidou de Aidan junto de Emily por semanas.

— Olha, eu não sei como ele continua vivo — disse o médico para Emily.

— É, eu sei, ele geralmente é bastante resistente — respondeu Emily tentando não pensar muito naquilo.

— Me desculpe Emily, mas isso está além de resistência, parece que ele já está acostumado a esse tanto de dor, mas o problema de verdade não é esse!

Emily olhou para o médico que estava apreensivo, ele pegou nos ombros de Emily e a segurou.

— Você tem que tomar cuidado com ele, eu escutei um pouco o que ele falava enquanto alucinava, e parece que ele não se importa com a vida — exclamou o médico.

— É, sei disso — respondeu Emily meio sem jeito.

— Não, você não me entendeu, ele não se importa com a vida dos próximos e nem dele mesmo! É quase impossível um paciente que não se importa com a própria vida continuar agarrado a ela, por isso eu te peço para cuidar dele, é um aviso como profissional e amigo.

O homem soltou os ombros de Emily e saiu do quarto, deixando apenas os dois irmãos, a respiração forte de Aidan preenchia a sala, Emily olhava para o seu estado e ressentia as suas decisões, ela ressentia o modo como ela se reaproximou de Aidan, mas havia outro jeito de aquilo ter acontecido? Agora havia algum sentido? 

Emily se aproximou da cama do irmão e segurou a sua mão, ela sorriu quando lembrou de quando ele frequentemente ficava doente, mas se surpreendeu quando sentiu o mesmo aperto em suas mãos, ela olhou para Aidan, e ele ainda estava de olhos fechados, ela pensou:

“Parece que é ainda uma criança”

“Meu irmão, por que temos que passar por isso? Por que você tem que passar por isso? Sei o quanto você se sente solitário e angustiado, então, por que ainda continua com essa loucura?”

Emily não aguentava perder outra pessoa de sua família, ainda mais a última que havia sobrado, a única que ela poderia dizer que realmente amava, ela segurou as mãos de seu irmão mais forte, e se ajoelhou na frente da cama, ela fechou os seus olhos que estavam cansados, e sem perceber, ela adormeceu enquanto sentia o calor aconchegante em suas mãos.

“Um teto não familiar”

Aidan pensava, enquanto via um teto branco acima de sua cabeça, seu corpo estava dolorido, mas o que mais chamava atenção era o peso em suas mãos, ele olhava para a sua direita e via sua irmã dormindo, ele sorriu por um momento, ele se soltou de suas mãos, e se sentou na cama, ele respirou fundo e pensou no que iria acontecer agora, ele conseguiu o que queria, mas havia perdido muito de si no processo, havia sacrificado muito no caminho.

Ele contemplou a sua própria queda, agora, iria lutar contra o seu passado e seu futuro, não tinha nenhuma expectativa para o fim, em seu coração ele ainda sentia uma chama de vingança, algo que não iria o levar para lugar nenhum, ele olhou para o rosto dorminhoco de sua irmã, e considerou desistir, ele poderia acabar com aquilo realmente rapidamente, mas sua mente não poderia deixar aquilo acontecer, ele então percebeu que não tinha mais saída, ele havia feito muito para desistir, não é?

Sua irmã acordou e percebeu Aidan olhando para ela, de primeira ele pensou que ela iria gritar com ele, já que sua face se converteu para um rosto cheio de ressentimento, mas Aidan estava errado, ele foi abraçado por ela, ele sentia a respiração ofegante em seus ouvidos, conseguia sentir o coração acelerado de sua irmã, e também a dor que ela sentia, talvez ela sentiu não somente a dor de seu irmão, mas dela também, e por isso Aidan chorou junto de sua irmã enquanto a abraçava com força.

Após os dois se soltarem e ainda segurarem as suas mãos, ambos sentados na mesma cama, ambos pensando sobre como a vida iria ser daquele momento em diante, Emily quebrou o silêncio.

— Dan, você…

Ela não terminou a frase, ela sentiu o seu peito doer, e sabia que iria se arrepender em perguntar o que iria acontecer com ele, mas Aidan apenas sorriu e olhou para o rosto de sua irmã.

— Você sabe? Eu nunca fui um fantasma de verdade, também nunca quis ser um, nunca tive a vontade de controlar multidões, nem pessoas, muito menos governos, sempre desejei que tivéssemos uma vida boa, mas parece que não irá acontecer.

— Não, Dan, nós podemos sair dessa cidade, podemos deixar tudo para trás!

A tempestade abraçava a cidade, os trovões iluminavam a sala que ainda estava na escuridão, e Emily olhava para o corpo que estava jogado em seu sofá. De início, pensou ser um estranho, mas vendo por alguns segundos o rosto de seu irmão totalmente ensanguentado, ela agiu rápido. Pegou o kit de primeiros socorros e virou o corpo do irmão, rasgando sua camisa e percebendo um buraco de bala em suas costas e perna. Ela se apressou em retirar a cápsula, felizmente não foi fatal, e considerando a outra ferida, ele estava até bem, o que acalmou sua mente.

Ela tentou o máximo para costurar todos os ferimentos que Aidan tinha, percebendo que ele tinha várias outras cicatrizes pelo corpo, sem contar com o olho faltando, que incomodava qualquer um que olhasse para o globo ocular vazio. Demorou alguns dias para Aidan acordar. Ele ficou agitado e teve alguns surtos, fazendo suas feridas se abrirem constantemente, o que fez Emily chamar um conhecido do hospital. O homem cuidou de Aidan junto de Emily por semanas.

— Olha, eu não sei como ele continua vivo — disse o médico para Emily.

— É, eu sei, ele geralmente é bastante resistente — respondeu Emily, tentando não pensar muito naquilo.

— Me desculpe, Emily, mas isso está além de resistência. Parece que ele já está acostumado a esse tanto de dor, mas o problema de verdade não é esse!

Emily olhou para o médico, que estava apreensivo. Ele pegou nos ombros de Emily e a segurou.

— Você tem que tomar cuidado com ele. Eu escutei um pouco do que ele falava enquanto alucinava, e parece que ele não se importa com a vida — exclamou o médico.

— É, sei disso — respondeu Emily, meio sem jeito.

— Não, você não me entendeu. Ele não se importa com a vida dos próximos e nem dele mesmo! É quase impossível um paciente que não se importa com a própria vida continuar agarrado a ela. Por isso, eu te peço para cuidar dele. É um aviso como profissional e amigo.

O homem soltou os ombros de Emily e saiu do quarto, deixando apenas os dois irmãos. A respiração forte de Aidan preenchia a sala. Emily olhava para o seu estado e ressentia as suas decisões. Ela ressentia o modo como se reaproximou de Aidan, mas haveria outro jeito de aquilo ter acontecido? Agora, havia algum sentido?

Emily se aproximou da cama do irmão e segurou a sua mão. Ela sorriu quando lembrou de quando ele frequentemente ficava doente, mas se surpreendeu quando sentiu o mesmo aperto em suas mãos. Ela olhou para Aidan, que ainda estava de olhos fechados, e pensou:

“Parece que ele ainda é uma criança”.

“Meu irmão, por que temos que passar por isso? Por que você tem que passar por isso? Sei o quanto você se sente solitário e angustiado, então, por que ainda continua com essa loucura?”

Emily não aguentava perder outra pessoa de sua família, ainda mais a última que havia sobrado, a única que ela poderia dizer que realmente amava. Ela segurou as mãos de seu irmão com mais força e se ajoelhou na frente da cama. Fechou os seus olhos cansados e, sem perceber, adormeceu enquanto sentia o calor aconchegante em suas mãos.

Aidan pensava que era um teto não familiar, enquanto via um teto branco acima de sua cabeça. Seu corpo estava dolorido, mas o que mais chamava atenção era o peso em suas mãos. Ele olhava para a sua direita e via sua irmã dormindo. Sorriu por um momento, soltou suas mãos e se sentou na cama. Respirou fundo e pensou no que iria acontecer agora. Ele conseguiu o que queria, mas havia perdido muito de si no processo. Havia sacrificado muito no caminho.

Ele contemplou a sua própria queda. Agora, iria lutar contra o seu passado e seu futuro. Não tinha nenhuma expectativa para o fim. Em seu coração, ainda sentia uma chama de vingança, algo que não iria levá-lo a lugar nenhum. Olhou para o rosto dorminhoco de sua irmã e considerou desistir. Poderia acabar com aquilo realmente rapidamente, mas sua mente não poderia deixar aquilo acontecer. Percebeu então que não tinha mais saída. Havia feito muito para desistir, não é?

Sua irmã acordou e percebeu Aidan olhando para ela. De primeira, ele pensou que ela iria gritar com ele, já que sua face se converteu para um rosto cheio de ressentimento, mas Aidan estava errado. Foi abraçado por ela, sentindo a respiração ofegante em seus ouvidos e o coração acelerado de sua irmã, talvez sentindo não somente a dor de seu irmão, mas dela também. Por isso, Aidan chorou junto de sua irmã enquanto a abraçava com força.

Após os dois se soltarem e ainda segurarem as suas mãos, ambos sentados na mesma cama, ambos pensando sobre como a vida iria ser daquele momento em diante, Emily quebrou o silêncio.

— Dan, você…

Ela não terminou a frase. Sentiu o seu peito doer e sabia que iria se arrepender de perguntar o que iria acontecer com ele, mas Aidan apenas sorriu e olhou para o rosto de sua irmã.

— Você sabe? Eu nunca fui um fantasma de verdade. Também nunca quis ser um, nunca tive a vontade de controlar multidões, nem pessoas, muito menos governos. Sempre desejei que tivéssemos uma vida boa, mas parece que não irá acontecer.

— Não, Dan, nós podemos sair dessa cidade, podemos deixar tudo para trás!

Emily estava com um rosto desesperado, mas Aidan parecia tranquilo, como se já tivesse aceitado seu destino.

— Minha irmã, você sempre foi mais preciosa do que parece. Você ainda tem esperança e suportou o peso de ser um fantasma completo, como naquele dia. Eu nunca consegui proteger as pessoas, nunca consegui enfrentar o pai quando ele batia na mãe, e nunca consegui superar minha própria dor sem você. Por isso, tenho que fazer isso. Minha existência não tem propósito, não realizou nada que foi proposto.

— Não diga isso! Você sabe que isso não importa! Você sabe...

Emily começou a ficar emotiva, seus olhos ficaram vermelhos. Aidan não gostava de ver sua irmã daquele jeito por sua causa. Ele ficou de frente para ela, enxugou os olhos cheios de lágrimas dela e sorriu gentilmente.

— Nada irá me fazer parar agora. Eu tenho que terminar o que comecei. Eu acabarei com o nosso passado, e somente assim você também terá paz. Assim alcançarei a minha paz.

Emily olhou para Aidan com dor. Ela sabia o significado daquelas palavras, e isso fez o seu coração doer. Ela se sentiu imponente, mas ainda não havia desistido.

— Não importa o que faça, irmão, eu irei pará-lo. Não importa o quanto isso seja para trazer paz a nós dois. Eu não deixarei que você cometa essa ação, e eu sei que sou a única que pode pará-lo. Eu estarei aqui para te ajudar a sair desse poço que você mesmo cavou.

Emily olhou com determinação para Aidan. Ele arregalou os olhos de surpresa, mas logo sorriu pela determinação de sua irmã.

— A única forma de me parar é me matar, irmã.

— Não! Eu não farei isso. Eu encontrarei outra forma. Não adianta tentar discutir isso comigo, Aidan.

"Ela me chamou pelo nome."

Ela somente chamava Aidan pelo nome quando ela estava brava, o que fez Aidan feliz. Se ela conseguia demonstrar tantas emoções, significa que ela ainda era a mesma que ele havia conhecido, e não apenas uma casca como ele.

Repentinamente, Aidan sentiu uma pequena dor em suas costas e em seu peito. Parecia que ele estava se afogando, e rapidamente seu corpo demonstrou tal agonia, fazendo-o tossir e se inclinar para frente.

— Irmão! — Gritou Emily em desespero.

Ela se levantou e tentou pegar um pouco de água. Aidan olhou para as suas mãos e viu sangue. Encarou sua mão vermelha pelo líquido e achou irônico. Emily pegou um pano, molhou com a água e limpou sua mão. Então, entregou-lhe o copo, e Aidan viu que se não tomasse a água, ela o forçaria.

Após se recuperar um pouco mais, ele se levantou da cama e se vestiu com as roupas que Emily havia comprado para ele: uma camisa branca, um sobretudo preto e calças sociais. Ele foi para a sala de Emily e a viu esperando por ele na porta. Caminhou por ela, e ela o seguiu para fora de casa. Estava amanhecendo e o brilho era fraco, como se a escuridão finalmente estivesse sendo revelada.

Aidan abraçou sua irmã pela última vez e se virou em direção ao carro que ele havia pedido. Depois daquele dia, a cidade parecia tranquila, com apenas um detalhe: a polícia havia sido chamada devido a uma casa que estava pegando fogo, e pelo movimento de uma nova gangue nas fábricas.

Emily sabia que seu irmão finalmente estava se preparando para a guerra que iria começar. E por isso, ela também precisava se preparar para o pior que iria acontecer: o fim da grande peça que estava para começar.



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