Volume 1
Capítulo 18: Confronto (2)
Sua respiração ofegante, sua cabeça latejando, algo quente descia até suas costas. Ele abria os olhos com dificuldade, suas mãos algemadas e presas por correntes, seus pés presos por cordas em grades que o envolviam. Ele se sentia como um pássaro, aprisionado e assustado. Aidan olhava com dificuldade ao seu redor e percebia onde ele estava: acima do chão.
A sua volta, uma grande mesa redonda com alimentos ricos, pessoas sentadas em cadeiras que podiam valer muito mais que uma vida, todos com sorrisos sádicos em seus rostos. Aidan podia ver quem era cada um ali: o prefeito, o delegado, seu irmão, o dono do hospital, o dono da escola, o dono do bar, o jornalista. Todos que ele já havia encontrado estavam olhando para ele como se fosse mais um prato em um bufê.
Mas o que mais surpreendeu Aidan foi o homem em sua frente. Ele tinha uma máscara branca com detalhes em dourado, seu rosto era parecido com uma figura de um teatro. Havia um sorriso enquanto seus olhos esbanjavam tristeza. Ele encarava Aidan como uma espécie de troféu.
— Parece que finalmente acordou. Não se mexa muito, o ferimento de bala continua aberto — disse o homem com certa graça em sua voz.
O homem caminhou para frente de uma cadeira e se sentou, claramente era quem havia elaborado aquele banquete.
— Por onde eu começo? Ah sim! Onde estão minhas maneiras? Vamos nos apresentar, eu começo! — o homem se levantou energeticamente e se inclinou para frente — Meu nome é Ersteller, ou como meus amigos me chamam, Markus, ou também como “O Bispo” — o homem olhou para os olhos de Aidan — os outros acho que os conhecem bem, certo? Aqui temos o seu irmão, e Luís, ao seu lado, o jornalista, Klaus, os gêmeos que são donos da escola e do hospital, Ethan e Rafael, e o chefe do bar mais famoso da cidade, Otto — ele aponta para cada um em ordem.
Aidan encarou cada um deles, e todos pareciam indiferentes à situação. Aidan podia sorrir aliviado, eram alvos fáceis, mas uma coisa o preocupava: o tal criador que estava em sua frente, uma figura tão caótica que Aidan não conseguia ler seus sentimentos.
— Sabe, você é meu fantasma favorito, eu realmente te invejo. Ter passado por tantos passos para se tornar um fantasma não é para qualquer um, e por isso agradeço por ter me mostrado como o ser humano pode ser maleável. Sabe, eu tentei diferentes formas para ver como a vida funcionava, mas nunca chegava a uma conclusão, como você pode ver em volta, são apenas experimentos falhos!
Aidan não havia reparado devido à sua visão embaçada, mas os pilares que ele achava ter visto, na verdade, eram tubos com corpos humanos sendo preservados, todos com nomes, todos como experimentos falhos. Aidan se surpreendeu pela sala inteira ter vários corpos. Ele olhou novamente para o bispo e ele estava sentado, em silêncio, apenas observando a reação de Aidan, o que causava uma estranheza.
— Então, Aidan, muitos não conseguiram chegar onde você está, por isso quero lhe dar uma recompensa, mas você terá que sobreviver ao que virá em breve para recebê-la.
— E qual seria? — Aidan perguntou com uma voz rouca, fazendo o homem parecer surpreso.
— Ele fala! Muitos não falavam! Ha! Bem, a recompensa será a gente parar de te atrapalhar e você poderá ter a sua guerra contra a organização! — o homem exclamou com grande excitação.
Aidan arregalou os olhos.
— Você quer dizer que eu não vou ser mais filiado à organização? Não serei mais um fantasma? E não serei mais monitorado? — perguntou Aidan surpreso.
— Mas é claro que não! Hahah!! Bem, você nunca foi realmente filiado a nós, mas não podíamos matar uma espécie tão boa. Mas como você quer se voltar contra a mão que te alimentou, a gente achou um jeito de poder te matar! — respondeu o Bispo, com ironia.
O homem se levantou novamente e foi para as costas de Aidan, ele encostou em seus pés, Aidan podia sentir as luvas de couro encostando em suas canelas, o homem havia soltado as pernas de Aidan.
— Meu querido Aidan, eu quero fazer uma pergunta antes de tudo começar de verdade — disse o homem com seriedade.
O homem encarou Aidan nos olhos, era possível ver os olhos por detrás da máscara, eram olhos pretos e profundos, sem uma alma, sem um sentimento, parecia um abismo, que enquanto Aidan mais o encarava, mais ele se afundava.
— Quero lhe perguntar se acha se Deus está morto — o homem disse sem qualquer brincadeira ou emoção.
Aidan não sabia como responder, mas parecia mais uma afirmação do que uma pergunta.
— Porque se sim, então isso significa que o homem o matou, e se ele matou seu criador, isso pode fazer todos serem Deus, o que me leva a essa organização. Eu quero saber o limite da vida, Aidan, eu quero que você me mostre até onde o ser humano consegue chegar.
Aidan sorriu.
— Mas senhor, eu não sou um humano, e sim um fantasma.
O homem ficou parado encarando Aidan, parecia que ele não esperava aquela resposta, ou talvez ele tenha ficado impressionado por Aidan ainda o responder.
— Certo, bem, agora começa o verdadeiro espetáculo. Eu irei lhe propor um desafio. Você será liberto e terá que enfrentar três dos meus guarda-costas. Se você conseguir matá-los e fugir desse lugar, então você poderá fazer sua guerra contra a organização.
O Bispo tirou as algemas e correntes de Aidan e logo abriu a gaiola. Aidan claramente estava em desvantagem, ele estava machucado pela arma de Luís e estava um pouco desorientado pela batida na cabeça.
Mas sem muito tempo para pensar, o show havia começado. Três homens com mais ou menos 2 metros de altura, carregando pistolas e facas em seus cintos, começaram a cercar Aidan.
Ele respirou fundo, e seu coração começou a acelerar. Seus pensamentos estavam acelerados, o tempo ao seu redor parecia correr devagar. Aidan podia ver qual movimento iria prejudicá-lo, e por isso ele tinha um plano perfeito.
Os três homens começaram a rir, seu semblante alucinado poderia assustar qualquer um, e quando o primeiro avançou para atirar em Aidan, ele correu para cima do homem. As balas não acertaram precisamente o seu corpo, apenas de raspão. Aidan pegou a faca do cinto do homem, o único problema foi o golpe que Aidan recebeu em seu estômago, o fazendo cair no chão.
Os guardas deram risada e começaram a chegar perto do corpo caído de Aidan, e foi nesse momento que Aidan perfurou atrás do joelho que o havia golpeado. Em reflexo, o homem agachou no chão, o que levou a Aidan perfurar sua garganta e, com um chute, ele retirou a arma do homem. Agora em suas mãos, Aidan finalizou o guarda que estava sufocando em seu próprio sangue.
Outros dois miraram em Aidan e conseguiram acertar uma bala na coxa de Aidan, mas eles também foram acertados. Ambos caíram no chão.
Aproveitando isso, Aidan se esforçou e correu para cima de um que havia caído perto dele para o finalizar, mas não percebendo que o guarda apenas recebeu um tiro em seu ombro, ele foi golpeado com a coronha da pistola, o fazendo ficar um pouco desnorteado. Mas a faca em sua mão foi mais eficaz que a arma, e assim ele perfurou o guarda em sua garganta para logo atirar em sua cabeça.
O que havia caído longe agora havia se levantado e estava perto de Aidan, mas suas balas haviam acabado, e por isso ele pegou sua faca.
Aidan estava cara a cara com o guarda, um esperando uma abertura do outro, e assim ficou por alguns segundos. Mas Aidan não quis perder tempo. Ele avançou para cima do guarda e tentou perfurá-lo, mas ele havia usado seu braço para se defender, fazendo a faca de Aidan ficar presa, dando abertura para o guarda perfurar Aidan no estômago. Mas o guarda não havia percebido que Aidan ainda tinha a arma em sua mão, o que levou ele a ter sua cabeça estourada.
Para os que estavam presentes, o combate durou poucos minutos. Era impressionante que Aidan conseguiu derrubar os três guardas de elite, por mais que agora ele parecia um zumbi, cambaleando no meio daquele grande jantar.
O Bispo começou a bater palmas enquanto todos estavam quietos. Aidan não estava pensando direito devido à dor e a todos os seus ferimentos, mas as palavras do homem fizeram ele ficar alerta.
— Agora só falta você tentar escapar desse lugar — exclamou o Bispo com empolgação.
Aidan respirou fundo e começou a caminhar em direção do homem em que estava sentado perto da janela, o prefeito, era um homem gordo com óculos e cabelos lisos.
— Senhor, você pode se levantar? — perguntou Aidan.
Aidan sorriu enquanto apontava a arma para a cabeça do homem, que rapidamente se levantou. O homem sorriu para Aidan com medo, que se virou enquanto levava a cadeira para próximo da janela. Aidan olhou para fora e percebeu ser uma grande colina com muitas árvores. Parecia um lugar privado e cheio de segurança, mas Aidan não tinha muito tempo, já que a sala estava começando a ficar com mais guardas.
Em um movimento, Aidan lançou a cadeira na janela, a estilhaçando. Ele subiu no parapeito e olhou para baixo, mas não antes de encarar o Bispo. Ele sorriu.
— Espero que o senhor esteja bem entretido! É o fim dessa grande peça! — disse Aidan com certa ironia enquanto se inclinava para o Bispo.
Aidan pulou pela janela e caiu no barro daquela colina. Enquanto ele deslizava, ele sentia todo o seu corpo sendo sacudido, e todos os galhos das plantas e árvores batendo em seus machucados o faziam questionar sua decisão. Mas ele não tinha mais ninguém a quem recorrer, a não ser uma pessoa.
Aidan teve uma iluminação em sua mente. Ele lembrou da pessoa que sempre o ajudava. Ele lembrou da sua outra metade que sempre poderia ajudá-lo. Sua irmã era a única que o poderia ajudar. E junto daquele sentimento de nostalgia de quando era criança e estava machucado, ele viu outra pessoa que o ajudou. Ele viu Celine apontando para direções que ele não sabia onde eram. Sua mente cheia de dor estava vazia, e instintivamente seguia para onde Celine apontava, como uma guia em meio à escuridão.
Uma casa, um lugar que tinha suas luzes acesas mesmo de noite, um único lugar que parecia familiar para ele, uma casa na qual ele já havia visitado, mas ele não podia entrar naquele lugar pela porta da frente, e por isso que ele não sabia como ele havia chegado nas portas de trás da casa. Ele adentrou o lugar, estava escuro, então ele bateu em vários móveis antes de chegar a uma espécie de sala. Ele viu um sofá e se deitou nele. Era confortável e quente.
Ele não sabia se estava quente devido ao sangramento, ou porque ele estava com muito frio pela chuva e o barro em seu corpo, mas o sentimento era bom. Sua mente havia relaxado, seus olhos antes fechados, agora estavam abertos, e na sua frente uma pessoa idêntica a ele apareceu, ela estava com os olhos de surpresa e medo, aqueles olhos fizeram Aidan sorrir e desmaiar, ele podia dizer que ele estava em casa.