Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 15: Destino (2).

O constante pingo d'água em sua cabeça fazia-o desejar ter tido outro plano, mas o que mais ele poderia pensar?

— Parece que alguém foi capturado tentando entrar no local, chefe — disse um homem estranho.

— O que ele falou até agora?

— Nada, além de procurar alguém dentro da nossa fábrica, mas ele é estranho! Ele nem mesmo reclama quando quebramos os dedos dele!

— Estranho, eu mesmo vou ver ele.

Aidan podia ouvir as pessoas falando sobre ele através da pequena sala em que estava. O local lhe trazia algumas memórias; era úmido e quente, parecia uma fábrica abandonada. Ele considerava as opções que tinha agora: talvez matar os três homens que estavam assustados por ele não gritar de dor e fugir, ou então ficar e tentar bancar um interrogatório. Aidan ficou em silêncio quando percebeu que um homem se aproximava dele. O homem era o estereótipo de um líder de gangue: terno chique, charuto na boca e um chapéu preto com uma rosa de decoração.

O homem puxou uma cadeira e sentou-se à frente de Aidan, observando-o. Quando fez contato visual com Aidan, sentiu um arrepio nas costas, como se estivesse diante da própria morte, e desviou o olhar.

— Então, por que você tentou invadir minha fábrica? — perguntou o líder.

Aidan sorriu.

— Eu queria encontrar alguém, mas como não me deixaram entrar, tive que te encontrar pessoalmente.

O chefe sentiu uma leve dor de cabeça.

— Então você simplesmente matou os guardas da fábrica e deixou-se ser pego e torturado para me ver?

— Mais ou menos isso — respondeu Aidan com certeza.

O homem encarou Aidan, surpreso, mas com um sorriso largo no rosto. Ele gargalhou alto e tirou o chapéu da cabeça, revelando a falta de cabelo.

— Haha, então como você acha que vai conseguir escapar daqui? — perguntou o líder com dúvida e ironia.

Aidan olhou em volta e deu uma risada sarcástica.

— Bem, eu simplesmente vou me soltar, então pegarei a faca da mão do seu guarda, e irei perfurar o outro guarda à sua esquerda. Assim, pegarei a arma dele e atirarei nos outros três que estão atrás de mim. Desse jeito, vou te apagar, e assim você estará na minha posição. O que acha?

O chefe olhou incrédulo para Aidan, sem saber se aquele homem estava delirando ou tirando sarro da cara dele. Mas o que o incomodava era a feição de Aidan; enquanto havia um sorriso distorcido em seus lábios, seus olhos eram frios, sem qualquer emoção.

— Certo, então, você simplesmente vai se soltar? — perguntou o líder com um pouco de ansiedade.

— Claro, até porque, eu já me soltei! — exclamou Aidan.

— O quê?

O homem não pôde ver o que aconteceu, apenas percebeu seu guarda à direita ser esfaqueado pela própria faca. O chefe caiu de costas da cadeira, vendo o outro guarda perder a arma e uma faca perfurar sua garganta. Em apenas alguns segundos, os outros três caíram com disparos, e assim, o homem viu uma arma apontada para seu rosto.

— Então, chefe, vamos conversar?

— Haha… — o homem sorriu de medo enquanto se levantava com as mãos para o alto — O que você precisa?

— Preciso me encontrar com uma mulher, com uma cicatriz de queimadura na sua mão direita — Aidan respondeu com calma.

— Ah! Sei quem ela é, me siga! — o líder disse enquanto esfregava suas mãos.

O homem era desajeitado e suava muito. Aidan achou aquilo hilário. Como alguém como ele poderia ser dono de uma gangue?

Conforme o chefe andava em direção à pessoa que Aidan procurava, o local parecia mesmo uma fábrica, mas era diferente do normal. Em vez de coisas normais, havia armas sendo preparadas, sem contar toda a droga que estava sendo embalada em pequenos pacotes. Não havia muitos trabalhadores, mas era uma grande organização, talvez uma das muitas “fazendas” que produziam e exportavam para outros. Aidan poderia usar algum dia aquele lugar.

Eles pararam na frente de uma porta. O chefe parecia estar assustado com algo, e quando encarou Aidan, abaixou sua cabeça.

— Me desculpe, não sei o que quer com essa mulher, mas nem eu consigo lidar com ela.

— Não se preocupe, não vai ser eu que lidará com ela, e sim você.

Aidan segurou o homem e o empurrou para dentro da sala. Assim que o homem atravessou a porta, barulhos de disparos se alastraram pela pequena sala. Aidan esperou os disparos pararem para apontar a arma na direção do barulho, encontrando uma mulher negra com uma pistola em sua mão. Aidan aproveitou e atirou em sua coxa, fazendo-a cair da cadeira em que estava. Um pequeno grito pôde ser ouvido, o que fez os trabalhadores pararem o serviço.

— Não se preocupem, está tudo bem, continuem o trabalho!

Todos olharam para a cara ensanguentada de Aidan e apenas continuaram a trabalhar.

— Agora, sobre você, eu acho que você desperdiçou uma chance atirando todas aquelas vezes.

— Ah! — exclamou a mulher de dor.

Aidan segurou os braços da mulher e a levantou, colocando-a na cadeira. Ele se agachou na frente dela, ainda apontando a sua arma para ela. A mulher parecia estar amedrontada e surpresa, não dizia nada, apenas segurava sua perna que agora tinha um buraco.

— Não se preocupe, eu não irei te matar ainda. Se você for útil, eu te deixo ser a líder desse lugar. O que acha? — perguntou Aidan com seriedade. A mulher olhou para Aidan, mas desviou o olhar com a dor que estava sentindo, lágrimas corriam de seus olhos. Ele sorriu com aquela expressão no rosto dela e continuou a falar — Certo, eu vim aqui para perguntar sobre uma mulher chamada Emily Albrecht, você conhece?

A mulher se soltou das mãos de Aidan e, ainda com medo, ela falou em meio a soluços:

— Ela está sendo cuidada por alguém da alta sociedade, alguém que criou os fantasmas, ele era conhecido como Doutor. Provavelmente, estão morando perto do hospital da cidade. Ela está vivendo em uma boa família e não se lembra de nada do seu passado, apenas algumas lembranças.

— Entendo — respondeu Aidan surpreso.

Aidan se levantou e pensou sobre o que iria fazer agora. Era incrível que o doutor fosse a pessoa que cuidava de sua irmã, mas ele gostava dessa ironia. Ele iria encontrar aquele que o matou e o criou, sem contar que ainda precisava procurar por sua mãe.

— Eu tentei te salvar — disse a mulher olhando para os olhos de Aidan.

— Como?

— Eu tentei te salvar, assim como fiz com sua irmã. Eu tentei achar uma boa família, mas parece que não consegui. Você se tornou vazio, sem propósito, um fantasma verdadeiro.

Olhando nos olhos vermelhos da mulher de desespero, Aidan sorriu gentilmente e se agachou.

— Não, isso não aconteceu por sua causa. Eu já era um fantasma antes mesmo de vir para esse lugar — respondeu Aidan com frieza.

A mulher deu risada.

— Então, por que sua irmã não virou uma também?

Aidan ficou irritado, mas depois sorriu sarcasticamente. Ele se levantou e olhou para a bagunça que estava o local e suas roupas. Ele suspirou e se perguntou por que as pessoas sempre escolhem a violência em vez do diálogo.

— Me passe o endereço e seu número. Quando precisar de algo, irei te ligar. Vou colocar um pessoal para cuidar de você — disse Aidan enquanto tentava limpar o sangue em seu rosto.

A mulher acenou com a cabeça e jogou a arma para longe, pegando um pequeno papel e escrevendo nele. Aidan pegou seu celular, ligando para a cafeteria.

— Olá! Como podemos ajudar? — perguntou uma funcionária.

— Preciso do seu pessoal para cuidar de alguém e para me levar a um lugar.

— Certo, o senhor precisará de alguma roupa?

— Sim, um terno preto e uma gravata vermelha podem ser a melhor escolha.

— Mais alguma coisa, senhor?

Aidan olhou para a mulher quase desmaiando e suspirou. Ele pensou:

“Bem, eu fiz essa bagunça, então, vou limpar pelo menos.”

— Chame uma ambulância e o pessoal da limpeza também. Tem uma pessoa ferida gravemente. Vou mandar o endereço para você.

— Certo! Estaremos aí em alguns minutos!

Aidan tirou o seu casaco e sua camiseta cheia de sangue e deu para a mulher. Ela ficou confusa, mas entendeu a mensagem. Ele se direcionou para fora do local e viu um carro preto estacionar. Ele caminhou até o carro, e o motorista entregou suas novas roupas, dirigindo para a casa de sua irmã.



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