Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 14: Destino (1).

Um dia ensolarado, um clima agradável. Aidan encontrava-se em uma cafeteria que frequentava constantemente, e graças a isso, também recebia frequentemente os olhares das pessoas. Ele podia ver ao longe as intenções das pessoas com aqueles olhos sobre ele, desde inveja até desejo. Se ele pudesse apenas sentir o que as pessoas pensavam dele pelo olhar, estaria tranquilo, mas podia escutar também, o que gerava nele um pequeno sentimento de nojo.

— Você não o acha bonito? — disse alguém.

— É claro! Mas aquele tapa-olho me assusta um pouco, sem contar aquelas cicatrizes… — respondeu outra pessoa.

— Mesmo com isso, ele parece muito bonito, não acha?

Aidan suspirou com os comentários sobre sua aparência. Ele não se importava muito com aquilo, mas às vezes incomodava sua linha de raciocínio.

— Quer que eu as mande embora, senhor? — perguntou a garçonete de cabelos castanhos e sardas no rosto, com uma boa forma e um rosto gentil, enquanto carregava um copo de café em uma bandeja.

— Não, eu vou embora logo, então não é preciso.

— Certo, irei lhe entregar a conta, gostaria de mais alguma coisa?

Aidan olhou para a mulher com um sorriso e pediu que ela se abaixasse.

— Quero procurar uma pessoa.

A garota sorriu e apontou para uma porta escrita: "Exclusivo para funcionários".

— Veremos o que conseguimos pelo senhor.

Aidan seguiu a mulher até a porta, revelando uma pequena sala com duas cadeiras, notavelmente caras comparadas às coisas que aquela cafeteria oferecia. Aidan se sentou e pegou os documentos da pessoa que ele queria encontrar. A mulher sorriu enquanto recebia os documentos, mas sua feição mudou quando os leu e viu a imagem do homem.

— Não sei o que o senhor irá fazer, mas isso não sairá barato, senhor.

— Não se preocupe, irei pagar o suficiente.

A mulher sorriu e devolveu os documentos para Aidan.

— Ele está em um pequeno condomínio, perto de uma escola infantil. Ele tem um filho e parece estar envolvido com coisas ilegais. Infelizmente, é o máximo que poderei falar, já que esse homem também é um bom cliente nosso.

Aidan sorriu. Ele não esperava que o professor maluco tivesse tantas conexões, mas era perfeito para ele. Agora ele apenas teria que procurá-lo e jogar um pequeno jogo.

— Senhor, me desculpe, mas está tudo bem?

— Como?

— Ah! Não estou tentando invadir a privacidade do cliente, mas apenas que o senhor parece diferente.

— O que quer dizer com isso?

— Bem, eu encontro todos os tipos de clientes, mas todos têm o mesmo olhar: egoísmo e ganância. Alguns têm ódio. Mas, pela primeira vez, vejo alguém como o senhor.

— E qual seria a diferença?

A mulher encarou Aidan e balançou a cabeça.

— Parece solitário e triste.

— Interessante…

— Me desculpe se te ofendi!

— Não, está tudo bem.

Aidan sorriu gentilmente para a mulher que estava assustada, a fazendo ficar um pouco tranquila. Ele achou interessante como uma profissional como ela conseguiu ver através dele. Ele achou que havia se livrado de emoções inúteis, mas parece que não. Isso o fez duvidar de sua natureza um pouco.

— Parece que sou solitário e triste, né? — disse Aidan pensativo, mas ele tentou manter sua mente focada.

Ele caminhou para o local onde poderia encontrar seu alvo e se surpreendeu quando achou um garoto brincando sozinho em um balanço. De início, Aidan não percebeu de quem o filho poderia ser, mas após verificar a localização, ele sorriu de satisfação. Um presente havia caído dos céus.

Ele se aproximou do garoto e se sentou ao balanço do lado. O garoto não comentou nada, apesar de constantemente olhar para a face de Aidan. Os dois ficaram em silêncio por um momento, até que Aidan perguntou ao menino:

— O seu pai está em casa?

— Sim, quero dizer, mais ou menos. Ele está conversando com a nossa vizinha — respondeu o garoto com certo receio.

— Ele a visita com frequência?

— Às vezes, apenas — havia tristeza em sua voz.

Aidan achou que fosse assustador para crianças graças às suas marcas no rosto, mas o garoto parecia maravilhado pelo tapa-olho.

— Senhor, como conseguiu o tapa-olho? — perguntou o garoto enquanto olhava admirado para o rosto de Aidan.

Aidan suspirou e olhou para o céu. Ele sorriu e encarou o menino.

— Ganhei tentando proteger alguém — respondeu Aidan com certa determinação e orgulho.

O garoto sorriu alegremente.

— Como um herói! Sabe, eu gostaria de me tornar um, mas meu pai sempre fala para eu desistir desse sonho — o garoto parecia cabisbaixo.

Aidan percebeu que o garoto tinha marcas em seus braços e pernas, junto de uma cicatriz em seu pescoço.

— Você sabe por que o seu pai é assim? — perguntou Aidan com cuidado.

— Não — o garoto respondeu balançando a cabeça — eu apenas sei que tenho que crescer rápido e ser o melhor de todos! — afirmou o garoto enquanto apontava para o próprio peito.

— Entendo — respondeu Aidan com certa curiosidade.

Depois de alguns minutos, um homem em sua meia-idade apareceu e caminhou em direção do garoto com pressa. O homem percebeu tarde demais o que estava acontecendo.

— Venha aqui, Greg! — o homem disse com certa pressa e receio.

O garoto se levantou e correu para perto do homem. Aidan também se levantou. Ele olhou para o homem que tinha rugas debaixo dos olhos e sorriu gentilmente.

— Não se preocupe, eu estava cuidando do Greg, falamos muito sobre a vida. Mas gostaria de conversar com o senhor — Aidan não tinha mais o olhar gentil em seu rosto, e seu sorriso parecia ameaçador.

O homem estava confuso, mas assim que olhou para o rosto de Aidan, ele começou a tremer e acabou soltando uma frase.

— Que Deus nos ajude.

O homem olhou para o filho e disse algumas palavras para o menino. O garoto se virou para Aidan e se despediu se curvando, saindo correndo em direção da casa que o homem saiu.

— Parece que iremos poder falar a sós — disse Aidan enquanto observava o garoto ir embora.

— Sim, me siga, irei lhe servir um chá — o homem disse com receio e medo.

Aidan seguiu o homem para sua casa e se sentou na mesa que havia na cozinha, ela era grande demais para apenas um pai e seu filho. Aidan olhou em volta e percebeu um retrato de uma mulher. Ela era parecida com o menino.

— Então, sua esposa faleceu? — perguntou Aidan com certa ironia.

Os ombros do homem tremeram quando ouviu aquilo.

— Sim, já faz algum tempo — respondeu o homem enquanto servia o chá.

Aidan sentiu pena daquele homem em sua frente. Ele poderia ter feito tudo certo, mas continuou perseguindo fantasmas. Realmente uma pena.

— Estou um pouco surpreso, faz tempo que não vejo um fantasma, ainda mais um fantasma completo. Ultimamente, apenas encontro defeituosos ou que não foram despertados ainda. Posso perguntar o que quer com esse professor? — perguntou o homem com medo e curiosidade, ele não parava de olhar para o rosto de Aidan.

Aidan sorriu.

— Quero que você me fale sobre Albrecht e sobre sua esposa e filha — disse Aidan sem emoção.

— Albrecht? Ah! Então você deve ser o irmão mais novo… bem, já faz um tempo. Preciso de um pouco de tempo para me lembrar — respondeu o homem com surpresa.

— Não se preocupe, não tenho pressa. Então pode levar o tempo que for para se lembrar — disse Aidan enquanto tomava um gole do chá, ele tinha um péssimo gosto.

Eles apenas ficaram alguns minutos em silêncio. Aidan estava cogitando poupar aquele homem. Ele parecia decente ao menos, retirando a parte que ele tentava recriar fantasmas e sempre falhava, os matando no processo. Aidan não pôde não suspirar, o que fez o homem se assustar um pouco e começar a falar:

— Bem, primeiro que Albrecht, mesmo sendo um fantasma defeituoso, ele sempre foi muito bem em todos os quesitos para ser um. E, se não fosse pela ordem daquele general, tenho certeza de que ele não teria quebrado. Ele acabou daquele jeito devido à morte do pelotão inteiro. Uma pena perder um espécime daquele, mesmo um malfeito.

O homem, no momento que encarou Aidan, ele sentiu um arrepio em suas costas. Aidan estava sério, sem um pingo de emoção em seu rosto. Mas o que preocupava o homem era o olhar dele, um olhar assassino. Era mais assustador que uma arma engatilhada em sua cabeça.

— Continue — Aidan falou com sua voz em um tom sem emoção.

— Certo, sobre sua esposa — o homem coçou a cabeça — ouvi falar que ela havia retornado para a sua antiga casa e que teve ajuda dos vizinhos. Agora, sobre a sua irmã, parece que ela está sendo protegida por alguém do alto escalão, então não posso dizer muito. Apenas que talvez encontre algo na gangue do sul.

— Entendo, obrigado pelo chá e a informação — Aidan disse enquanto se levantava, ele queria acabar com aquilo rapidamente.

O homem ficou por um momento ansioso e segurou o braço de Aidan com pressa.

— Por favor! Me diga, se você poderia me ajudar a criar outros fantasmas! Você sendo um fantasma completo, você pode me ajudar, certo? Eu não aguento mais essa vida! Esses animais à minha volta estão cada vez mais me perturbando. Você me entende, certo? — tinha desespero no rosto do homem.

Aidan soltou a mão do homem e o encarou. Ele sentiu nojo do humano que estava em sua frente.

— Parece que não entendeu, professor. Os fantasmas são apenas uma praga, algo feito por alguém mesquinho, achando que poderia criar algo além da raça humana, ele quis tentar ser um deus, mas falhou assim como o senhor.

— O que quer dizer? — o homem perguntou, enquanto olhava para os olhos de Aidan com medo.

— Vi o que o senhor fez com a criança. Você quer a transformar, não é? Mas você fracassou, e assim que percebeu que não ia poder ter um fantasma, você se sentiu culpado — os olhos de Aidan encaravam os olhos do homem, o homem sentia que tinha algo de errado.

— Não! Ele é alguém defeituoso! Ele não nasceu um fantasma! Sei que não sou o culpado! Como eu poderia saber? Esses animais não são iguais a você. Eu não posso negar a minha natureza. A única razão da minha existência é a criação deles! — respondeu o homem com certa culpa em sua voz, ele sentia um turbilhão de emoções em sua mente, era como se a presença de Aidan fosse o bastante para mudar a sua mente.

Aidan soltou uma pequena risada.

— Eu também não nasci um fantasma, professor. Não culpe o garoto, culpe sua falta de noção e sua ridícula habilidade. Agora que sei o que queria, eu vou embora. Se lembre, se sua existência é criar fantasmas, então sua existência não tem propósito, já que ela é apenas uma coisa nula que não existe, faça algo que mude isso — Aidan olhou uma última vez para os olhos cheios de desespero do homem e sorriu satisfeito.

Parecia que seu mundo havia sido destruído. Aidan ficou com pena do homem novamente. Uma motivação tão fraca e uma realidade tão fútil, relacionado ao orgulho, era deprimente saber que as mesmas pessoas conseguiam criar um fantasma.

Aidan saiu da casa e pôde ouvir o barulho de um corpo caindo. Ele suspirou e continuou caminhando. Ele escutou uma voz naquela noite fria, uma voz que apenas ele podia escutar.

— Está frio, não é? — perguntou Celina.

— Sim, sempre está frio — respondeu Aidan.

— Aonde irá agora? Sua mãe ou irmã?

— Preciso ver minha irmã primeiro. Minha mãe pode esperar, já que preparei algo especial para ela.

Aidan pensou no que iria fazer quando chegasse lá, e sorriu, ele decidiu fazer uma pequena visita para a gangue do sul.



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