Apoteose Fantasma Brasileira

Autor(a): Alexandre Henrique


Volume 1

Capítulo 13: Cartas póstumas(3).

Um ambiente úmido e fechado, o local era parecido com uma grande escola; seu chão era de madeira com um carpete com vários símbolos com diferentes significados. Havia vários quartos e várias salas para aprendizado. Luís não sabia o que mais o impressionava, se era o quanto o lugar estava bem conservado ou que Emily estava caminhando pelo local como se fosse sua casa. Luís não lembrava de nenhum lugar daquele tipo, nem sequer conseguia imaginar alguém sair vivo daquele lugar, e por isso perguntou com curiosidade para Emily:

— Você conhece algum local que seja parecido com esse?

— Sim, bem, mais ou menos, é um pouco diferente, mas parece bastante com o laboratório e o lugar onde morri pela primeira vez — respondeu Emily com um pouco de tristeza em sua voz.

— O que você quer dizer? — perguntou Luís receoso.

— Você não entenderia… — respondeu Emily com certa rispidez.

Ela continuou em silêncio, caminhando naquele ambiente pouco iluminado e apodrecido. Luís começou a se perguntar se deveria mesmo ter levado Emily para aquele lugar, se era o certo deixá-la descobrir sobre o irmão. Mas mesmo que quisesse pensar em outra coisa naquele momento, eles se aproximaram de uma porta com várias inscrições nela.

— “O que sou?” Isso seria Aidan? — Perguntou Luís com certo medo.

— Talvez, não tenho certeza — respondeu Emily com certa curiosidade.

Eles abriram a porta e se depararam com um corredor totalmente coberto por frases como: “Quem eu sou?” Por que continuo vivo?” “Eu mereço a vida?” “Qual o meu sentido de vida?” “Matar uma pessoa é uma maneira de salvá-la?” Luís e Emily continuaram pelo corredor e perceberam chegar no ambiente que havia apenas salas brancas e lugares de pesquisas. O ambiente inteiro mudou; antes, parecendo uma escola ou um orfanato antigo, agora parecia um laboratório moderno, porém tudo foi destruído e abandonado.

Emily continuou a caminhar pelo ambiente até chegar a um quarto específico. Ele era tingido de preto e não havia nenhum meio de luz. Ela apertou suas mãos em cima de seu peito; ela sentia seus pulmões se contraírem. Ela olhava para aquela sala onde havia passado metade de sua vida; ela lembrava dos ruídos que sentiu naquele lugar.

— O que é esse lugar? — perguntou Luís.

Emily saiu do transe e olhou para Luís, que estava apreensivo tentando olhar na sala. Ela respirou fundo e apontou para o local.

— Aqui é uma das salas que fiquei quando era um fantasma, um ambiente que não podia ter contato com nada além de si — explicou, com certo nervosismo em sua voz.

Luís pareceu ficar chocado e assustado, mas ele sentia mais curiosidade sobre o ambiente que estava. Mesmo que quisesse descobrir mais, ele apenas se segurou e tentou desistir da ideia vendo o quanto Emily tinha suas mãos tremendo.

— Vamos seguir.

— Sim.

Ela se recuperou e começou novamente a andar pelo labirinto de corredores que eram brancos e desbotados. Eles caminharam bastante para chegarem novamente em uma sala solitária no fim do corredor. Ela tinha duas grandes portas de madeira. Luís sentiu um calafrio quando olhou para aquele lugar. Em cima da porta, havia uma mensagem:

“Bem-vindo ao julgamento”

Luís olhou para Emily e ela o encarou também. Os dois balançaram a cabeça e abriram a porta.

Para Emily, ela não sabia o que esperar, mas quando olhou para aquela sala, ela lembrou de memórias ruins. Ela lembrou de decisões das quais se arrependia, o lugar onde tudo começou, onde ela morreu pela primeira vez. Mas ela não podia ignorar as duas pessoas que estavam na sala: uma mulher de cabelos loiros e olhos azuis, utilizando um vestido branco que ia até o chão. Sua feição era indiferente. Atrás dela, um homem, aquele que Luís e Emily estavam procurando, um homem com um sorriso gentil no rosto, porém com um olhar frio e indiferente.

Emily caiu de joelhos no chão enquanto tapava sua boca com a mão. Luís ficou desesperado com a situação e sacou sua arma, mas o homem apontou uma arma para a cabeça da mulher no mesmo momento. 

O homem balançou a cabeça em negação enquanto o seu sorriso saía do rosto, mostrando uma expressão séria. Luís olhou para o estado de Emily e ela estava chorando. Quando ele encarou o homem, também havia lágrimas escorrendo em seu rosto. Luís sentiu algo errado acontecendo, mas em meio daquele silêncio, o homem começou a falar:

— Parece que demorei bastante para te encontrar, irmã, mas estamos finalmente juntos novamente.

Emily se levantou e caminhou para perto do homem que tinha um sorriso. Ela também estava sorrindo.

— Sim, demorou bastante, mas por que você quis me encontrar?

Enquanto ela caminhava, ela percebeu haver um vidro que separava a sala em que estava.

— Queria saber o que havia acontecido contigo. Nem um momento foi me procurar. Eu senti sua falta — disse Aidan com certa solidão tristeza.

— Não me lembrava de ti, irmão, mas não sabia que gostaria de encontrar com a mãe — disse Emily com certa dúvida.

Luís entendeu quem era aquela mulher e o quanto era importante para Emily para ela ter aquela reação, mas algo estava estranho; os dois irmãos pareciam estar deslocados.

— Irmã, eu não consigo saber o que pensa, seria porque agora é um fantasma?

Emily balançou a cabeça em negação e deu um suspiro.

— Não, irmão, agora eu não sou mais um fantasma; agora sou apenas eu, e você é você — ela fez um movimento com a mão, apontando para si e em seguida para Aidan.

O homem parecia ter levado um choque com as últimas palavras.

— Entendo, então estou sozinho no mundo, parece que minha existência realmente não tem sentido — disse Aidan com certa tristeza, seu rosto parecia abalado e pela primeira vez na conversa, seus olhos mostraram emoções.

Emily apertou os punhos e gritou para o homem com raiva após notar tal olhar.

— Você sabe que não precisa disso! Você viveu tranquilamente sem mim! Não apenas isso, mas também não somos as únicas pessoas no mundo! — Emily expressava descontentamento com o estado psicológico de seu irmão, ele não parecia aquele que ela se lembrava de ser.

— Irmã, você mudou muito nesse tempo, parece que não se importa mais com a nossa promessa — ele apontou a arma para a sua cabeça por um momento — Você diz que vivi tranquilamente? — seu rosto parecia angustiado — não, eu vivi como se algo estivesse faltando em minha mente e no meu coração, mas agora parece que o sentimento de perda realmente era porque morri de verdade — ele olhou para sua irmã em seus olhos, ele notava o sentimento dela.

— Por favor, não, não fale algo do tipo, eu sei que sofre, eu sei o que você sente, então, por favor, volte para casa — respondeu Emily com dificuldade.

— Haha, irmã, eu não tenho casa, não tenho nem mesmo um mundo agora. Devo dizer que não tenho quase nada para poder existir realmente, por isso trouxe nossa mãe. Quero que ela nos diga exatamente sobre a vida que teve, quero que lhe fale o porquê de ter nos dado para aquele homem, quero que ela fale a verdade de tudo para você — exclamou Aidan com certa ironia.

Luís ficou apreensivo e segurou mais firmemente sua arma. O homem ainda não havia mostrado nenhum sinal de desistência enquanto estava conversando, e por isso Luís pensava conseguir quebrar o vidro e atirar no homem.

— Não faça nada delegado, quero que fique parado, estou tendo uma conversa importante — disse Emily enquanto procurava uma cadeira.

Emily arrastou a cadeira para perto do vidro e se sentou. Aidan fez o mesmo e agora, a mãe, e os irmãos, estavam se encarando.

— Me diga irmão, tudo que aconteceu até agora, quero saber de você, não de sua outra vida. Quero saber o que aconteceu para chegar a esse ponto.

Aidan sorriu. Parecia algo genuíno, mas logo seu semblante ficou frio, e ele começou a contar o que aconteceu para ele achar sua irmã e mãe.



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